HUMBERTO MENEGHIN
Acordei no meio de um sonho onde uma voz
repetia com insistência: “Ir para Índia, ir para Índia atingir muitos samadhis na Terra mãe! Se iluminar na
Índia, atingir muitos samadhis na
Terra mãe! Na Terra Mãe ... Na Terra Mãe ...” e me veio à mente a figura da Lili,
a professora de Yoga comendo hambúrguer na
lanchonete, falando que levaria um grupo de pessoas para Índia no final do ano,
insistindo que fossemos com ela. Não sei! Mas, quando ia para o escritório
lembrei que a minha mestra Indianira Shanti Ma me tinha feito o mesmo convite:
“Você tem que passar uns dias no ashram
que eu vou abrir lá na Índia.” Meu Deus! Isso é um sinal! Só pode ser um sinal!
Um sinal aberto para eu ir para Índia!
Logo que cheguei ao escritório, Marinice,
uma das secretárias, e Alice Walda conversavam algo que eu não conseguia escutar
e quando notaram a minha presença pararam imediatamente de conversar. Quebrando
o gelo, Marinice me perguntou: “Você assistiu a novela ontem?” Disse que não,
que tinha ido ao Yoga. Marinice soltou uma risada audível dizendo de volta: “Ih,
tá ficando Zen agora, é?
Não liguei para o que ela disse e fui
para a minha mesa que estava completamente abarrotada de trabalho, ao mesmo
tempo em que Alice
Walda deixava a mini cozinha com uma xícara de café numa das
mãos, seguindo para a outra sala.
Enquanto isso, aquela secretária, a
Marinice, cujo penteado do cabelo era tipo dos anos oitenta e que se sentava numa
mesa próxima à janela a uns cinco metros de onde eu estava, olhava para mim
como se vigiasse os meus movimentos. De repente ela chamou alguém num tom de voz
bem alto, berrando: – “Mizaaaeeellll! Mizaaaeeellll! Mizaaaeeellll!
Mizael era o faz tudo do escritório, o
que levava e trazia as coisas e ainda saia pela cidade para buscar e entregar
algum documento ou encomenda. Era muitíssimo requisitado por todos sendo alguém
que se fosse perguntado poderia contar particularidades sobre certas pessoas do
escritório que nem Cristo saberia dizer.
Logo que chegou ao pé da mesa de
Marinice, ela entregou muitos envelopes e alguns pacotes para o “boy” e ainda pediu para que ele pagasse
uma conta pessoal para ela. E, quando o faz tudo se foi, Marinice aumentou o ar
condicionado, foi até a mini cozinha, pegou um cafezinho e logo veio até a
minha mesa, dizendo:
– Valkiria foi para São Paulo, hoje, levando
a japa a tiracolo ... a Mitiko, sem hora
certa para voltarem. O Paulo Roberto responde por tudo hoje, viu? – e, me
olhando bem nos olhos falou: – A Claudinha acabou de pedir prorrogação da
licença saúde ... até agora não consegui entender o que que a sua amiga tem.
Depressão? Vou ver se descubro ... – e, após beber um pouco de café, continuou:
– Mas, vou te contar uma coisa, uma coisa que você precisa saber, querida ... –
e, chegando mais perto de mim, diminuindo o tom da voz, quase cochichando,
revelou: – Toma cuidado com a Alice Walda, viu, leva e trás ela, viu! Você
sabia que a dita cuja está querendo pegar o seu lugar? Trabalhar aqui em cima? Nossa,
mas que calor! Esse ar condicionado não tá dando conta .... – finalizou
Marinice se retirando sem esperar qualquer resposta ao que havia plantado.
Será? Será mesmo que a Alice Walda,
aquela gordinha tão solícita e fashion
queria mesmo o meu lugar? Então, uma sensação de medo acompanhada por uma angústia
híbrida começou a tomar conta de mim, a me dominar, a me deixar insegura e até
mais cansada antes mesmo de começar a trabalhar.
Liguei o computador e ouvi o telefone
tocar lá na mesa onde Marinice estava e enquanto ela atendia, minha mente enxergou
algo que eu não havia percebido antes: estava ali uma bruxa, uma bruxa trajando
roupa preta, com um chapéu pontudo e uma vassoura ao seu lado.
Harih
Om!
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