20 de fevereiro de 2014

MINHA AMIGA PRATICA YOGA, EU TAMBÉM! – PARTE VINTE TRÊS






HUMBERTO MENEGHIN


Acordei no meio de um sonho onde uma voz repetia com insistência: “Ir para Índia, ir para Índia atingir muitos samadhis na Terra mãe! Se iluminar na Índia, atingir muitos samadhis na Terra mãe! Na Terra Mãe ... Na Terra Mãe ...” e me veio à mente a figura da Lili, a professora de Yoga comendo hambúrguer na lanchonete, falando que levaria um grupo de pessoas para Índia no final do ano, insistindo que fossemos com ela. Não sei! Mas, quando ia para o escritório lembrei que a minha mestra Indianira Shanti Ma me tinha feito o mesmo convite: “Você tem que passar uns dias no ashram que eu vou abrir lá na Índia.” Meu Deus! Isso é um sinal! Só pode ser um sinal! Um sinal aberto para eu ir para Índia!


Logo que cheguei ao escritório, Marinice, uma das secretárias, e Alice Walda conversavam algo que eu não conseguia escutar e quando notaram a minha presença pararam imediatamente de conversar. Quebrando o gelo, Marinice me perguntou: “Você assistiu a novela ontem?” Disse que não, que tinha ido ao Yoga. Marinice soltou uma risada audível dizendo de volta: “Ih, tá ficando Zen agora, é?


Não liguei para o que ela disse e fui para a minha mesa que estava completamente abarrotada de trabalho, ao mesmo tempo em que Alice Walda deixava a mini cozinha com uma xícara de café numa das mãos, seguindo para a outra sala.


Enquanto isso, aquela secretária, a Marinice, cujo penteado do cabelo era tipo dos anos oitenta e que se sentava numa mesa próxima à janela a uns cinco metros de onde eu estava, olhava para mim como se vigiasse os meus movimentos. De repente ela chamou alguém num tom de voz bem alto, berrando: – “Mizaaaeeellll! Mizaaaeeellll! Mizaaaeeellll!


Mizael era o faz tudo do escritório, o que levava e trazia as coisas e ainda saia pela cidade para buscar e entregar algum documento ou encomenda. Era muitíssimo requisitado por todos sendo alguém que se fosse perguntado poderia contar particularidades sobre certas pessoas do escritório que nem Cristo saberia dizer.


Logo que chegou ao pé da mesa de Marinice, ela entregou muitos envelopes e alguns pacotes para o “boy” e ainda pediu para que ele pagasse uma conta pessoal para ela. E, quando o faz tudo se foi, Marinice aumentou o ar condicionado, foi até a mini cozinha, pegou um cafezinho e logo veio até a minha mesa, dizendo:






– Valkiria foi para São Paulo, hoje, levando a japa a tiracolo ... a Mitiko,  sem hora certa para voltarem. O Paulo Roberto responde por tudo hoje, viu? – e, me olhando bem nos olhos falou: – A Claudinha acabou de pedir prorrogação da licença saúde ... até agora não consegui entender o que que a sua amiga tem. Depressão? Vou ver se descubro ... – e, após beber um pouco de café, continuou: – Mas, vou te contar uma coisa, uma coisa que você precisa saber, querida ... – e, chegando mais perto de mim, diminuindo o tom da voz, quase cochichando, revelou: – Toma cuidado com a Alice Walda, viu, leva e trás ela, viu! Você sabia que a dita cuja está querendo pegar o seu lugar? Trabalhar aqui em cima? Nossa, mas que calor! Esse ar condicionado não tá dando conta .... – finalizou Marinice se retirando sem esperar qualquer resposta ao que havia plantado.


Será? Será mesmo que a Alice Walda, aquela gordinha tão solícita e fashion queria mesmo o meu lugar? Então, uma sensação de medo acompanhada por uma angústia híbrida começou a tomar conta de mim, a me dominar, a me deixar insegura e até mais cansada antes mesmo de começar a trabalhar. 






Liguei o computador e ouvi o telefone tocar lá na mesa onde Marinice estava e enquanto ela atendia, minha mente enxergou algo que eu não havia percebido antes: estava ali uma bruxa, uma bruxa trajando roupa preta, com um chapéu pontudo e uma vassoura ao seu lado.


Harih Om

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