HUMBERTO MENEGHIN
Tomar uma decisão que muda o rumo da vida
de forma radical, muitas vezes pode ser uma faca de dois gumes. Mas, para
aqueles que não fogem a essa regra, jogar tudo para o alto, abrindo mão de uma
carreira profissional e até mesmo de um relacionamento amoroso e ir para a
Índia por seis meses ou mais para “estudar Yoga”, pode parecer inaceitável aos
olhos dos familiares, das pessoas mais próximas e daqueles que se encontra pelo
caminho. Muitos podem dizer que “você vai se estrepar”, que não deve ir e “onde
já se viu largar uma carreira profissional e ir para Índia! ?”... “Você já
passou dos trinta!”
Pois é, aquele ou aquela que age dessa
forma existem. Largam tudo porque se encantaram pelo Yoga, ou melhor, pela
prática de ásanas e então, além de se
desvincularem temporariamente da família e de outros relacionamentos, decidem
ir para Índia, após venderem o carro e entregar as chaves do apartamento que
locava.
Mas,
será que não daria para conciliar a paixão pelo Yoga por aqui mesmo, sem abrir
mão dos compromissos e das responsabilidades? Ou, na verdade quem assim decidiu está num processo de
fuga? Um processo de fugir da vida rotineira, das pessoas que perderam a graça,
das dificuldades que não quer enfrentar, de tudo mais. E, indo para Índia, tudo
será diferente.
X
fez isso. X abandonou tudo e foi para Índia participar de dois cursos onde a prática de ásanas era intensa, num deles até
espartana. E, X deparou-se com um
cenário bem diferente do que estava acostumado, pois no “ashram-escola” X teve que dividir alojamento com
outros alunos desconhecidos, alimentar-se de refeições simples, acordar bem
cedo e praticar muito. E assim foi por
um mês.
Matriculado noutro curso, X recebeu o certificado deste primeiro e
partiu para uma cidade grande do Sul, onde a situação mudou de figura. Se
instalou numa guest house onde tinha
seu próprio quarto e cujo custo não era alto; e, assim passava o dia todo na
escola especializada em Yogaterapia.
Terminado este curso onde também recebeu
um certificado, X pegou a sua
prancha de surfe e bagagem e foi para Delhi, por avião. Depois desceu para
Rishikesh, “by bus”. Lá chegando, percebeu
que havia perdido os dois certificados dos cursos que havia participado. Que
coisa!
Em Rishikesh, com um dia de atraso, X foi ter o seu primeiro contato com
Vedanta participando de um curso que ocorria apenas numa semana, ministrado
por um Swami conhecido mundialmente por sua sabedoria, pois haviam lhe
recomendado no Brasil para não perder essa oportunidade.
X teve a sorte de compartilhar com alguém
do seu país, um bom alojamento muito melhor daqueles por onde havia estado. No
entanto, o assunto Vedanta parecia não lhe ser muito atraente, mesmo que seu
inglês fosse fluente em relação ao entendimento, pois havia morado nos Estados
Unidos.
E X
foi comparecendo às palestras, raramente saia do ashram e até ficaria mais se pudesse; no entanto, isso não seria
possível, pois teria que encontrar outro lugar para ficar um mês mais para
poder explorar a região e quem sabe participar de mais algum outro curso.
Aquele
ou aquela que abandona tudo para se aventurar nas lides do Yoga seja com o
objetivo de participar de cursos de formações no Subcontinente, viajar sem rumo
e saborear a diferença cultural pode tanto se dar bem como não. No caso de X, entusiasmado que estava, essa “peregrinação” a seu jeito parece
ter sido muito proveitosa, pois de uma forma e outra estava abrindo mão de seu
conforto no país de origem e vivendo apenas daquilo que consigo trazia,
desapegando-se.
No entanto, quando a epopéia acabar nas
proximidades da data em que o visto de seis meses vencer, após ter feito muitas
andanças pelo Subcontinente e surfado, o retorno à realidade ocidental poderá
ser dura.
Poderá, contudo contar com a família e
até mesmo reaver o antigo emprego ou querer se enveredar ainda mais nas lides
do Yoga, participando de algum curso de formação para professores de Yoga aqui
mesmo no Brasil e ainda procurar espaços para dar aulas de Yoga e, então cairá
na realidade de que por aqui parece que, salvo alguns lugares, não pagam bem um
professor de Yoga como deveriam, que toda a despesa que teve na sua trajetória
Índia pode ter valido muito como experiência de vida, mas esse retorno
financeiro talvez não lhe seja devolvido.
Pois bem X, procure ter uma carreira que o mantenha, mesmo que não seja um
mar de rosas e paralelamente ocupe-se com o Yoga como uma segunda opção. A não
ser que pelo caminho tenha a boa sorte de encontrar muitos alunos-praticantes
que sejam comprometidos, que levam o Yoga a sério, que querem ter aulas com
você e que lhe paguem bem e em dia. E, lembre-se de recolher a contribuição
previdenciária ao INSS para que a aposentadoria se garanta.
Harih
Om!
Mais sobre este assunto em :
http://yogaemvoga.blogspot.com.br/2011/03/eles-largaram-tudo-pelo-yoga.html
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