HUMBERTO MENEGHIN
Antes que Lili, a nova professora de Yoga que se
parece com um dos personagens de “Os Simpsons” abrisse a boca para iniciar a
prática, a porta da sala se abriu e uma mulher loura, extremamente charmosa, sexy e siliconada apareceu trazendo um mat preto
a tiracolo que foi estendido justamente no espaço à minha frente. Colocando-se
sobre ele, ajustando o top da cor
salmão e a yoga pant negra colada no
corpo a “menina” disse um “oi” geral, ainda dizendo: “99 dólares, Lululemon, comprada em LA”. Lili
perguntou o nome da moça e com um sorriso alvo ela respondeu: “Amanda, sou
professora de Inglês na SummerWinter
e também trabalho na Unicamp.
Que fresca! Essa moça surgiu do nada e parecia que
estava conquistando a simpatia de todos com muita rapidez, especialmente da ala
masculina presente naquela sala. Então, aquela professora que não estava me
inspirando muita confiança, tomou as rédeas dizendo: “Praticar Yoga é tudo.
Yoga é Vida. Pratico há anos e sou imensamente agradecida a tudo. Vocês que
estão aqui para praticarem comigo vão notar que minha linha apresenta certas
nuances que talvez vocês possam não terem tido com o seu professor anterior que
foi para Índia sem data para voltar. E, nem sei se voltará.”
E, olhando um a um que estavam presentes naquela
sala, focando-os individualmente em silêncio, Lili, parou por um momento,
fechou os olhos, pediu que uníssemos as mãos frente o peito e começou a entoar
um OM muito longo e sonoro que foi acompanhado por todos nós; mas, o OM parecia
não terminar, pois era OM atrás de OM, uma vibração contínua que talvez somente
após cinco minutos parou, enquanto todos permaneceram em silêncio.
De repente, desse mesmo silêncio que eu poderia
dizer não ser total, pois o OM ainda continuava a ecoar na minha cabeça, Lili
disse de uma forma brusca: “Objetivem o samadhi,
samadhi é tudo; tudo vem do samadhi e vai para o samadhi. Samadhi
já! Esta noite vocês vão ter samadhi,
samadhi comigo aqui nessa prática. Eu
não ensino o samadhi, você encontra o
samadhi, Prontos para o samadhi? Prontos? Bora lá! Bora, meu
povo! Em pé todos! Vamos! Poder nisso! Saúdem o Sol, quero ver essas saudações
com vigor, presença, nem preciso mostrar pois vocês já sabem fazer. Você aí
mais rápido, respira, faz o ujjay,
vai, uhuhu; mais ânimo nisso querida.
Vai, Vai vai, uhuhu! Quero ver raça
nisso, se não tiver raça não vai ter samadhi.
Vai querida, você está muito mole.” – dizia Lili enquanto andava de um lado
para o outro da sala.
Então, ela se colocou em seu lugar pedindo que
todos parassem e fizessem qualquer postura que viesse á cabeça.
O tal do Edson e a Soraia, aquele casal do Sul,
começaram a se exibir em nauli. A
Neuzinha tentava pegar os pés fazendo um pashimotanásana,
Amanda loura já se alinhava numa kapotásana
invejável enquanto exibia um sorriso “colgate”; o Paulo Roberto resolveu fazer
uma invertida, a Claudinha ficou em balásana
e lá para o fim da sala Simone se embalava num gato sem miar. E eu fiz a ponte.
Depois Lili nos conduziu em mais algumas poucas posturas e então disse:
“Os minutos passam, daqui a pouco a aula vai acabar
e eu quero contar nos dedos quantos atingiram o samadhi esta noite. Parem, parem todos e observem o que sentem.
Deitem em shavásana! – falou Lili em
um tom berrado de voz – Relaxem. Relaxem e vejam o corpo de cima, como se
estivessem sobrevoando esta sala. E você vê seu corpo lá em baixo sobre o
tapetinho...
E, após alguns minutos, talvez dez, Lili
abruptamente berrou: “Agora se levantem, cruzem as pernas. Não se encostem à
parede. A parede é fria, prejudica o caminho para o samadhi. Respira fundo, respira fundo, expira, expira, vai vai
buscando o samadhi, um samadhi que vem e vai e volta quando
você quiser. Samadhi, samadhi, aparece agora que eu te chamo!
Anda! Vai samadhi, entra no samadhi criatura!”
Harih Om!
Nenhum comentário:
Postar um comentário