HUMBERTO J. MENEGHIN
YV – Já faz alguns anos que você deixou a
cidade de São Paulo para morar “no mato”, ou seja, em seu sítio em Salesópolis/SP.
Muitos podem achar que morar longe do meio urbano, hoje em dia, é um
sacrifício. Como você conseguiu se adaptar tão bem à vida no campo? Há mais
“prós” do que “contras” em viver reclusa, afastada da agitação de uma grande
cidade?
TEREZA – Minha adaptação foi tão
rápida e tão perfeita que parece que eu nasci para viver no campo! Rsrsrs. Foi todo um processo. Fomos
(meu marido e eu) construindo um paraíso, devagar, tijolo por tijolo, pedra
sobre pedra, e quando percebemos, tínhamos feito um paraíso, onde ficávamos
apenas aos fins de semana. Cinco dias no inferno e dois no paraíso. Algo estava
errado nesta equação... Resolvemos trocar! Mas de cara, percebemos que São Paulo fazia parte do passado e a única coisa que nos
faltava, de fato, eram os amigos e a família.
No entanto, quando morávamos
em SP, mal tínhamos tempo para ver os amigos e a família... A cidade consome
todo nosso tempo e acabamos convivendo mais com as pessoas com quem
trabalhamos. Então resolvemos apostar na
qualidade dos encontros e passamos a convidar os amigos pra virem para cá e
temos tido encontros muito valiosos!
YV – Sustentabilidade, alimentação orgânica,
integração com o meio ambiente e o ser humano sem que haja maiores danos, Saúde
e Paz é o que a maioria das pessoas almejam para si, em suas vidas; no entanto,
muitas vezes esses valores e ações deixam de ser compartilhados e colocados em
prática. Na sua opinião, o que cada um poderia fazer para que isso, pouco a
pouco, se torne algo natural e indispensável?
TEREZA – Colocar em prática!
Precisamos sair da zona de conforto o tempo todo. Ser como o atleta cujo objetivo
é superar a si mesmo, a cada treino, a cada prova. Fazer o que deve ser feito
sempre. Fazer a nossa parte. E para conseguirmos agir em benefício do coletivo,
precisamos compreender que não adianta
nada eu ter muitos bens se a pessoa ao meu lado não tem o suficiente para viver
dignamente.
A pessoa ao lado sou eu.
Logo, devo fazer por ela o que eu gostaria que fizessem comigo. A matemática é
muito simples: ação e reação. Como diz o Dalai Lama, ajudar o outro nem que
seja por egoísmo! kkkkk
YV – Em nossas vidas assumimos vários papéis,
particularmente, no que concerne a você, a Tereza Freire é professora de Yoga,
Atriz, Escritora e uma locutora com a voz muitíssima agradável que transmite
grande credibilidade nas mensagens que propaga seja num filme comercial ou
apresentação. Você acha que saber viver cada um desses papeis sem que haja
confusão é, na verdade, um bom ensinamento que o Vedanta nos presenteia? Quais
outras ferramentas, além do estudo Védico as pessoas de um modo geral poderiam
fazer bom uso para se autoconhecer?
TEREZA – Só o Vedanta salva!!!!
Hahahaha!!! Sim, o Vedanta me abriu os
olhos. Me fez compreender que eu não preciso buscar nada fora de mim, não
preciso conquistar nada, nem provar nada para ninguém porque eu já sou toda a
felicidade que estou buscando! Bingo! Revelação! Quando ouvi isso pela primeira vez, foi como um clarão na minha vida!
Pensei: quero mais! Preciso ouvir mais sobre isso!
E comecei a escutar as Upanishads
e a Gita com a Profa. Gloria Arieira e praticamente obriguei meu professor
Pedro Kupfer a fazer um modulo 3 depois da formação de dois anos para que
pudéssemos seguir estudando Vedanta.!!!
Seja qual for o caminho que cada um encontrar, penso que a chave da felicidade é o autoconhecimento
na forma de estudo, prática e meditação.
YV – Já faz alguns anos que você concluiu a
sua Formação em Yoga e com o passar do tempo, o que de mais importante você
destaca, agora, do que foi aprendido e continua se aprendendo e o que está se
colocando na prática?
TEREZA
– Que viver é o maior milagre de todos. O maior ensinamento é viver o momento presente. Se conseguíssemos
esquecer o passado e o futuro e viver apenas o agora, tenho certeza que
seríamos muito mais tranqüilos.
YV – Você está ministrando práticas de Yoga
para cerca de vinte e cinco pessoas numa Escola de Dança em sua comunidade e
pelo que sabemos a maioria nunca havia praticado antes e, então, você os está
pegando do “zero”. Como está sendo as suas aulas introdutórias à prática e ao
estudo de Yoga para esses seus novos (as) alunos (as)?
TEREZA – Nunca aprendi tanto e nunca dei aulas tão completas. Depois de dois
anos no mato, tentando aprender sobre a terra e suas estações, decidi que
estava na hora de interagir com a cidade que fica a 5 Km do sitio e está sendo
uma experiência incrível porque apesar de ouvirem e lerem muito sobre Yoga,
nunca tinha havido uma turma aberta em uma academia.
Dou aula numa sala de ballet de tabuas corridas com vista para as
montanhas. Tenho uma turma grande, mas homogênea. Apesar de cada um ter um
histórico físico/corporal, todos eram iniciantes no Yoga. Minha
responsabilidade foi muito grande, mas acredito
que estou conseguindo passar o conhecimento que me foi passado de acordo com a
realidade das pessoas de uma cidade de dez mil habitantes.
YV – As redes sociais já fazem parte da vida
de todos, hoje em dia; no entanto, infelizmente muitos se excedem nisso e a
comunicação tête-à-tête acaba por se
tornar uma coisa quase rara. Sim, há muitos pontos positivos na comunicação
digital, mas será que os negativos estão prevalecendo mais do que os positivos?
O que fazer para alguém deixar de ser prisioneiro de um aparato digital?
TEREZA
– Acabo de passar por uma situação interessante: a Vivo cortou minha
internet móvel porque eu excedi meu plano. O fato é que tive que ficar uma semana sem internet no celular e aqui em casa não
temos wifi, ou seja, usamos apenas o 3G. Foi uma semana bem instrutiva.
Li
muito mais, plantei muito mais, cozinhei mais, até namorei mais!!! Ou seja, o que parece uma grande liberdade, pode ser
uma grande prisão. Na ânsia de usufruir de tudo que a internet nos oferece,
acabamos escapando de nós mesmos e dos
nossos entes queridos. Obrigada, Vivo!!!
kkkk
YV – A Índia está mais próxima de si do que
se pensa ou ela está ali na Ásia, no subcontinente para que um dia seja
novamente visitada por você?
TEREZA
– A índia dos ensinamentos está dentro de mim o tempo todo. A Índia pais é
mais um lugar entre tantos que já visitei e quero voltar outras vezes.
YV – “Om
Gam Ganapataye Namah” é um dos muitos mantras que se faz à Ganesha, o Deus
Hindu, removedor de obstáculos. Quais obstáculos você acha que Ganesha deveria
urgentemente remover da humanidade?
TEREZA – Intolerância, ignorância,
ganância!!! Vivemos em um pais onde um jogador de futebol é
milionário e um professor ganha salário mínimo. Pais de paradoxos e
incoerências.Nosso preconceito não é racial e sim, social. O rico pode tudo,
compra tudo, até a inocência em um tribunal. Ser pobre e de cor negra no Brasil
é uma das coisas mais arriscadas do mundo.
YV – Projetos fazem parte da vida de
quaisquer pessoas. Muitos deles são colocados na prática e acabam por
acontecer. Quais são os projetos que você vai fazer acontecer de verdade?
TEREZA
– Viver cada dia como se fosse o
último! Esse é o meu maior projeto.
De resto, quero escrever muitos livros, plantar muitas florestas e
compartilhar uma vida saudável e sustentável com as pessoas que eu amo e com
quem quiser uma vida simples, saudável e
sem violência.
Namaste.
LEIA A
PRIMEIRA ENTREVISTA DE TEREZA FREIRE A ESTE BLOG EM:
amo-T! <3
ResponderExcluirBeijos, Gre