HUMBERTO MENEGHIN
YV – Como sabemos você começou a praticar Yoga
quando estava na faculdade estudando Filosofia Oriental e sua professora
sugeriu que você deveria tentar Ashtanga Yoga e, felizmente, você
encontrou o seu caminho e agora você é um ashtangi e um professor de
Ashtanga Yoga também. Se você não tivesse seguido o conselho de sua professora,
o que você estaria fazendo? Que tipo de ocupação você teria? Você acha que sua
vida teria sido a mesma? Algum arrependimento em seu caminho do Yoga ou tudo
foi do jeito que você pensou como deveria ser?
CLAYTON – Se
eu não tivesse seguido o conselho da minha professora para tentar Ashtanga
Yoga, estou certo de que eu teria encontrado o coração do Yoga,
independentemente do seu nome ou forma. Sem arrependimentos, tudo é perfeito e
o que eu preciso saber aparece no seu tempo.
YV – Antes de ir a fundo na prática e estudos de
Ashtanga, você teve aulas de Hatha Yoga e estudou Iyengar também. Que tipo de
contribuição essas práticas lhe deram para que agora você possa reconhecê-las
como uma base para prática e ensino do Ashtanga Yoga?
CLAYTON – Eu
tive uma boa consciência da mente-corpo que veio dos esportes e o Yoga de
Iyengar que realmente me fez tomar mais consciência do meu alinhamento. As
aulas de Hatha que eu segui me apresentaram ao aspecto espiritual do Yoga.
Antes de encontrar o Yoga, eu tive uma infância cheia de lembranças
relacionadas a estados mentais e corporais relacionados Yoga e muito tempo
sozinho. Quando fiz 20 anos, eu estava exposto ao movimento de espiritualide New
Age no norte da Califórnia e eu sabia disso.
YV – Então, quando temos o nosso primeiro contato
com Ashtanga há certos ásanas (posturas) que nos mostram difíceis
de fazer e talvez nós pensamos: "Eu nunca vou conseguir". Nesse
sentido, quais foram as posturas mais chatas e difíceis das séries do Ashtanga
Yoga que você estudou, trabalhou e praticou e que agora você está se saindo
muito bem? Qual é o bom segredo para lidar com algumas posturas que parecem
"impossíveis"? Seria bom ser magro para as séries do Ashtanga?
CLAYTON – As
posturas de meio Lotus como os marichasanas foram um pouco desconcertantes e
confusas. Lembro-me xingando Richard Freeman durante sua 1ª Série em VHS porque
o Marichasana B foi um pouco demais para mim, a primeira vista. Demorou apenas
algumas semanas de prática consistente para que eu já fosse capaz de fazer as
posturas mais difíceis da primeira série. Algumas posturas você precisa praticar
mais e mais, antes de você entender como chegar nelas e fazê-las. Os
ingredientes mágicos são paciência e consistência. Uma postura na terceira
série tinha literalmente levou-me um ano inteiro para conquistá-la. No meu 36º
aniversário, eu finalmente fui capaz de fazê-la corretamente com um sorriso e
um toque de humildade.
YV – Procurando por um verdadeiro professor de
Ashtanga Yoga, você ouviu falar sobre Pattabhy Jois e trabalhando como garçom,
economizou dinheiro, vendeu sua 1,967 VW camper van e foi para a Índia,
em 1996/1997, por um período de tempo indeterminado. Em Mysore, você teve a
grande chance para praticar e estudar Ashtanga com Guruji no "velho
Shala" e anos mais tarde com Sharath, em Laxnipuran. Quais são as
boas lembranças que você tem ao praticar com Pattabhy Jois naquela época?
CLAYTON – Guruji
estava sempre sorrindo. Quando ele tinha alunos ocidentais com maus hábitos e
grandes egos, ele gritava com eles muito alto. Mas você podia sentir que não
havia raiva verdadeira em sua voz, ele estava apenas tentando ser o guru e
acordá-los.
Tinhamos festas, kirtans e encontros ao por do sol
no telhado do lendário Cauvery Lodge, grandes almoços no Metropolitan
Hotel e muita diversão na piscina do hotel Southern Star.
Ao pôr do sol, bandos de morcegos pretos tão
grandes como galinhas voavam sobre o telhado do nosso hotel. Cães selvagens
vinham atrás da gente enquanto caminhamos para shala do Guruji às
4:00 am, cavalos selvagens também percorriam as ruas. Não havia telefones
celulares, nem muitas motos, sem internet, quase nenhum carro. A Índia era
bastante diferente em 1996.
YV – A Cultura, as pessoas e o modo de vida na
Índia é completamente diferente da dos Estados Unidos, você ficou muito doente
lá. Alguma vez você pensou em desistir de tudo e voltar para casa, apesar de
todo o estudo e a prática de Ashtanga Yoga que você teve?
CLAYTON – Não,
eu nunca quis ir embora mais cedo do que a minha data de saída. Algumas vezes
quando visito Mysore, estou pronto para partir quando o meu mês de prática termina,
das outras vezes, eu gostaria de poder ter ficado mais.
YV – Guruji não está mais entre nós, mas ele ainda
é uma lenda pois que muitos estudantes gostariam de ter praticado e estudado
com ele. Hoje em dia, o seu neto Sharath está em seu lugar a fazendo o mesmo;
Enquanto isso muitos professores certificados de Ashtanga Yoga estão
pelo mundo dando treinamentos de ensino como você faz o que é uma grande
oportunidade para os alunos a aprenderem e praticarem Ashtanga. Mas
também temos um lugar de Yoga de marca chamado "Jois Yoga". Muitas
pessoas não se importam com isso, mas outros, como alguns professores
tradicionais de Ashtanga Yoga não gostaram dessa idéia e são contra este
negócio de Yoga. Qual é o seu ponto de vista sobre esta situação? Não estaria o
Ashtanga Yoga perdendo a sua essência?
CLAYTON –
Eu me sinto que Sharath está levando as coisas a uma boa direção. Ele está
autorizando e certificando muitos estudantes e está sendo generoso e amável de
uma forma geral. Isso ajuda a manter os alunos e professores envolvidos na suas
práticas e ensino. Eu realmente não siga muito Jois Yoga e eu tento
ficar fora disso.
Eu
não estou, realmente, fazendo tantos treinamentos nos dias de hoje. Se a
tradição e a essência do Ashtanga está viva isso deve por estar num
contexto de uma forma moderna, tangível. Não podemos ignorar o fato de que é
2015 e que o Yoga tem ganhou grande popularidade em todo o mundo. O que podemos
fazer para o Ashtanga não perder a sua essência é repassar os
ensinamentos como os aprendemos enquanto cuidamos do aluno que está bem na
nossa frente na forma como se apresenta.
YV – Greensufi era um amigo próximo e um guru com
quem você teve a grande sorte para entrar em contato e aprender. Quem foi
Greensufi? Quais foram os assuntos que ele lhe ensinou que você pode dizer: eu
sou muito grato por isso? Você se considera um guru ou você é apenas um bom
amigo daquelas pessoas que admira e praticam e estudam com você? E sobre alguns
falsos gurus que às vezes encontramos por ai? Você acha que é possível
reconhecê-los? Há algumas pistas?
CLAYTON – Greensufi
era um personagem misterioso que apenas algumas pessoas tiveram o privilégio de
conhecer. Ele nasceu na Índia e viveu muitos anos nos Estados Unidos. Ele me
ensinou sobre como escutar, sobre trabalho, meditação e o que significava ser
um verdadeiro amigo.
Eu sou um professor de alguns alunos. Guru é uma
grande palavra. Eu sou um estudante experiente de yoga com vários anos de
experiência de ensino, é isso.
Greensufi costumava dizer: "Os professores
falsos atraem estudantes falsos".
Alunos com potencial deveriam perguntar-se: é a
linhagem ou o professor que eu estou observando que realmente está interessado
em me curar ou ajudar-me a elevar a minha consciência em direção ao infinito e
guiar-me para a minha própria libertação?
YV – A Ciência do Yoga é um livro escrito por
William J. Broad e ele também publicou um artigo no The New York Times,
em 2012, dizendo que o Yoga pode danificar, destruir o seu corpo. Você acha
Broad tem suas boas razões para sustentar esta premissa? Quando uma postura
realmente poderia danificar o corpo de um praticante? Ou esta opção não existe?
CLAYTON – Talvez
Broad tenha praticado sem um professor qualificado para orientá-lo
adequadamente, infelizmente. O praticante machuca o corpo - não a postura. Uma
postura pode machucar o corpo quando o praticante força na postura. Não é sábio
para forçar demais na postura quando há dor ou calor excessivo e nas
articulações. Algumas pessoas praticam e ensinam Yoga como se fosse um esporte.
Os alunos geralmente não se machucam se eles estão sentindo o corpo e se
movendo para a postura com consciência.
YV – Observando-se tradição, alguns professores de Ashtanga
Yoga não praticam durante as fases de Lua Nova e Lua Cheia. Outros não se
importam com isso e continuam a praticar. Você mantém essa recomendação ou você
simplesmente segue a sua prática regular todas as manhãs, a exceção das
segundas-feiras e sábados?
CLAYTON – É
legal descansar nos dias de Luas (nova/cheia). Nesses dias, eu tento fazer uma
prática mais interna do que ásana.
YV – Sabemos que além do Ashtanga você faz
kirtans, cantando e tocando um violão. Há uma vibração especial que vem quando
você se entre num Kirtan? Que Deuses ou Deusas hindus você pode sentir uma boa
conexão e qual mantra maioria gosta quando você canta?
CLAYTON – Muitas
vezes penso na Consciência Suprema e tento ser um com Ela na minha prática. Com
Bhakti, eu fui levado em direção a diferentes Deuses ao longo dos anos. Eu
tenho uma admiração especial por Shiva, Hanuman, Jesus, o Sol, a Deusa em todas
as suas formas e da Mãe Terra.
YV–Você foi o fundador do "Green Path Yoga
Studio" em San Francisco - Califórnia, mas agora você passa a maior parte
de seu tempo nas Filipinas dando aulas de Ashtanga Yoga, retiros e uma
formação de professores em Bali. Além disso, você vai a Europa para ministrar workshops.
O que faz as Filipinas um lugar especial para praticar e viver uma vida de
Yoga? Você deixou seu coração em San Francisco? Parte do seu coração ainda está
no Brasil? Quando você vai voltar para nos ver, ensinar e praticar?
CLAYTON– As
Filipinas são surpreendentemente bela com praias e pessoas amáveis. Eu vivo e
ensino em Hong Kong agora. Eu não volta para San Francisco já faz algum
tempo.Sim, um pedaço do meu coração ainda está no Brasil. Eu viajava para lá
todos os anos por um período de 10 anos seguidos. Eu conheci, entrei em contato
com muitas almas bonitas, a quem ensinei, ao longo dos anos. Eu tenho
lembranças e fotos de conferências, workshops, maha kirtans,
praias e retiros surpreendentes. Esses anos que viajei para o Brasil foram uma
época de ouro da minha vida. Agora, eu estou gostando de viver na Ásia e eu vou
voltar para visitar e ensinar no Brasil, algum dia, em breve. Realmente, me
sinto emocionado quando ouço as pessoas me pedirem para voltar.
Obrigado – que Deus abençoe -
Namaste,
Clayton.
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Leia esta entrevista no original em Inglês em:
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