HUMBERTO MENEGHIN
Paulo Roberto encostou-se à mesa oposta a minha,
cruzou os braços e me olhando diretamente disse: “Precisamos da sua ajuda em um
trabalho inacabado. Walquiria quer conquistar mais clientes e me sugeriu que
você cuidasse do projeto que a Claudia estava administrando...” Fiquei
intrigada com isso. Será que a Claudinha não estava dando conta e então
resolveram me passar esse “projeto”? Continuando, ele revelou: “A Cláudia vai
tirar uma licença para tratar da saúde ...” A Claudinha tirando licença para
tratar da saúde? Eu não sabia disso! O que será que aconteceu?
Sem mais enrolação, Paulo Roberto falou para eu
subir e me inteirar de tudo sobre o “projeto”. Mas, antes disso, aproveitei
para lhe pedir para sair meia hora mais cedo.
Movimentando a cabeça de modo afirmativo, ele
concordou com o meu pedido e eu lhe disse que reporia essa meia hora no dia
seguinte. Sim. Hoje o dia do meu encontro com a minha mestra querida, Indianira
Shanti Ma; no hotel onde ela está hospedada, no final da tarde. Já está tudo
acertado, estou muito ansiosa, mesmo que a doação obrigatória tenha sido muito
salgada pra mim, R$ 450,00!
Subi e logo notei que a mesa da Claudinha estava
vaga. Computador desligado, cadeira encostada, nada por cima da mesa. De um
canto, Miriam Mitiko apareceu usualmente trajando roupa preta, desembrulhando
um chocolate fino. Me ofereceu um pedaço; eu aceitei pois era importado, suíço.
Emendando uma degustação rápida do chocolate a um
copo de água, Miriam Mitiko apontou uma prateleira abarrotada com pastas e
documentos, dizendo que tudo aquilo fazia parte do “projeto” e que Walkiria
estava pedindo muita urgência.
“Você vai ter que levar trabalho para casa, abolir
seus finais de semana, entrar mais cedo e ficar até mais tarde. Eu já me
acostumei com isso. É o jeito da Walkiria trabalhar.” Me informou Miriam
Mitiko.
“Como?!” Me perguntei. “Uma bomba para mim que
ninguém quer pegar!” A japonesa deu as costas sem falar mais nada e sumiu do
ambiente.
Ouvi uma das secretárias se aproximar e me contar
que a linha ali era dura e que não adiantava amolecer. Então, perguntei sobre a
Claudinha, o que tinha acontecido com ela por ter pedido uma licença saúde.
De volta a Marinice me disse: “Pressão, muita
pressão. Por um fio ela não se demitiu. Parece que ela está com um quisto no
ovário, sei lá, ouvi dizer...” Disse Marinice se afastando rápido para a sua
mesa, sem falar mais nada, pois o telefone tocava.
Passei a tarde toda mexendo naquela prateleira
abarrotada, tentando buscar um fio da meada. Sem perceber, notei que já estava
na hora de eu ir para o meu encontro com a minha mestra; mas, quando me virei,
dei de cara com Walkiria, me olhando com superioridade.
Ela me disse: “Venha até a minha sala. Preciso
falar com você.” Olhei no meu relógio, pensando em lhe dizer que já estava de
saída, mas aboli isso e acompanhei Walkiria até a sala dela.
Desta vez, sem qualquer chá, ela começou a
discorrer sobre o projeto, num palavreado difícil e demorado. Os minutos começaram
a passar rápido e agora faltavam apenas quinze minutos para o meu encontro
agendado com a minha mestra!
E Walkiria continuou a falar, dizia que contava
comigo, que eu era inteligente, uma boa funcionária, que daria conta do serviço
como ninguém... E continuou falando e falando... e eu sem jeito de ir embora.
Perderia os R$ 450,00, já pagos se não comparecesse ao encontro com a minha
mestra como o Arnoldo havia me advertido.
Por um milagre, faltando cinco minutos para o
encontro acontecer, a mulher me liberou e eu saí correndo para me encontrar com
a minha amada mestra, Indianira Shanti Ma!
Harih Om!
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