HUMBERTO MENEGHIN
YV –
São nas aulas que você ministra sobre
Anatomia do Yoga, em alguns cursos de Formação, que a maioria das pessoas que
pretendem se formar professores de Yoga tem um contato inicial com você. Você
acha que o ensino dos conceitos que envolvem a Anatomia voltada ao Yoga é um
tema demasiadamente difícil de se transmitir aos estudantes? Quais são as
ferramentas que você usa em suas aulas, além daquele simpático esqueleto, para
que esse assunto seja absorvido pelos estudantes de uma forma eficaz onde a
didática irá facilitar a compreensão sobre a função e desempenho dos músculos,
articulações, tendões, ossos e vértebras?
CAROL
– Realmente acho anatomia um tema difícil de ser transmitido, pois são muitos
nomes complexos, e na maioria das vezes é o primeiro contato que os alunos
estão tendo com esses termos. Gosto muito de trabalhar com o “Magrela” meu
esqueleto, e também com data show, pois acredito que visualizando tudo o
que estamos falando facilita bastante a compreensão. E claro, tentar vivenciar
ao máximo o conteúdo dentro dos ásanas, para que não fique uma aula
apenas teórica.
YV –
Em termos de Brasil, você acha que a
matéria Anatomia do Yoga é transmitida nos cursos de Formação de Professores de
Yoga de uma forma que pelo menos condiz com os conceitos estabelecidos pela
ciência contrabalançados aos do Yoga; ou, esse tema ainda passa batido e não
recebe a devida atenção em algumas Formações que nos deparamos por aí?
CAROL - Lamentavelmente poucos
cursos dedicam a atenção necessária a esse tema. Acho muito difícil ensinar
como nosso corpo funciona e como mantê-lo saudável durante os ásanas em
apenas algumas horas. E quando os cursos tem o formato de finais de semana,
acho cansativo para os alunos uma imersão de um dia todo em anatomia.
YV –
Se você se re-encontrar com os alunos
e alunas que tiveram aulas sobre Anatomia do Yoga com você, muitos deles podem
se lembrar de uma forma vaga sobre alguns conceitos que foram transmitidos;
isso é natural. Na apostila do curso de Formação de Professores de Yoga de
Pedro Kupfer há muitas páginas onde o assunto Anatomia do Yoga é apresentado de
uma forma bem didática, incluindo figuras explicativas, que foi organizado por
você. Dentro deste universo, Anatomia, o que você considera o essencial a ser
transmitido aos estudantes? Será que já não está na hora de a Carol Langowski
lançar um livro sobre Anatomia do Yoga?
CAROL
– Prefiro entregar um material bem completo aos alunos, acredito que minhas aulas acabam sendo uma
introdução ao universo que é o corpo humano, então assim poderão continuar
estudando e consultando. Gosto de pensar que estou dando sementes de
conhecimento, que podem com o tempo
gerar frutos.
Quanto ao livro, é um sonho antigo. Acredito que em
algum momento irá se realizar. Como tenho um curso de uma semana toda de
Anatomia do Yoga na Montanha Encantada, a apostila que preparei já é o primeiro
passo desse projeto.
YV –
No começo de 2012, o jornal The New York Times, apresentou um artigo
escrito por William Broad, dizendo que a prática do Yoga pode danificar o corpo
do praticante, tema esse que também foi abordado no livro The Science of
Yoga: The Risks na the Rewards, escrito pelo mesmo autor. De modo geral, as
alegações do articulista abalaram a Comunidade do Yoga de tal forma que tudo
dava a entender que praticar àsanas é
muito perigoso, que pode até levar à morte. Como você vê essa alegação? No seu
ponto de vista, você acha que o autor do artigo e livro exagerou? Ou, ele tem o
seu pingo de razão? E, ainda, você pode citar algumas posturas que realmente
podem fazer muito mal a quem as pratica se não receberem a devida atenção e
cuidado? E, você acha que os props
como bloquinhos, fitas, bolsters,
cobertores, etc, hoje em dia são indispensáveis para que uma boa prática de ásanas flua corretamente bem?
CAROL
– Realmente esse assunto gerou muita polêmica. Lembro que na época expliquei
aos alunos que qualquer atividade que façamos com nosso corpo, gera alguma
sobrecarga, consequentemente risco de lesão. Por exemplo, a corrida
sobrecarrega os joelhos, o surf a lombar, o tênis sobrecarrega o
cotovelo... nem por isso iremos parar de praticar e ficar sentados assistindo
TV para não corrermos riscos.
Mas um pingo de razão existe, alguns ásanas
trabalham nos extremos das amplitudes articulares, gosto de pensar que se nos
lesionarmos praticando ásanas, foi uma armadilha do nosso Ego, pois se houver
consciência, se praticarmos Yamas e Nyamas, evitamos qualquer
risco de lesão!! Ásanas que considero perigosos são, shirsasana para
problemas na cervical, se praticado incorretamente pode gerar uma hérnia. E padmásana,
que se o praticante não tiver uma boa rotação externa de quadril, comprime seus
meniscos do joelho, causando micro lesões. E claro, nosso ego adora esses ásanas.
Mas sempre temos antídotos, como você
mencionou, podemos nos proteger muito
utilizando props. Eu pratico invertidas apenas “pindurada no morcego”
com sling (kurunta), evitando assim compressões na cervical e
enfatizando todos os benefícios do ásana.
YV – Muitos
praticantes de hora em vez se deparam com professores despreparados no ensino
de ásanas do Yoga, ou seja, que não
dispensam a devida atenção se o praticante está executando determinado ásana de uma forma que não traga algum
desconforto ao corpo. E, ainda, existem algumas escolas onde ordens são dadas
para o professor de Yoga não corrigir o ásana
que é executado de forma errada pelo praticante. Adaptações não existem. O que
você acha desta situação? O que você pode dizer àqueles que nenhum pouco ligam
para que o aluno praticante execute as posturas de uma forma correta, dentro do
seu devido conforto e segurança?
CAROL – Que difícil, nem consigo
imaginar essa situação. Acredito que um bom professor de Yoga deva ensinar
ásanas como eles devem ser. Confortáveis e estáveis, para isso há necessidade
de ajustes e adaptações. Caso contrário acredito ser uma distorção desse
ensinamento sagrado.
YV –
Uma compressão excessiva aqui, uma
torção indevida ali, um desconforto no joelho, na coluna vertebral e uma dor
insistente pela região lombar, sem falar do nervo ciático que às vezes pinça.
Como o praticante ou professor de Yoga pode ao invés de se lesionar conseguir
um certo equilíbrio no corpo para que esses distúrbios não ocorram? E, de que forma os conceitos aplicados pela Medicina
Tradicional Chinesa e da Fisioterapia em si podem contribuir para um maior
equilíbrio no corpo daquele ou daquela por que passou por um revés decorrente
de uma execução equivocada de um ou vários ásanas
que lhes trouxeram desconforto e alguma lesão?
CAROL– Usar nossa respiração como termômetro de prática é
uma boa dica. Se praticarmos de forma confortável, ouvindo nossa respiração e
nossa consciência, evitamos riscos de lesão. Segundo a Medicina Tradicional
Chinesa, qualquer doença vem de um acúmulo ou deficiência de energia, e o
trabalho que fazemos com os ásanas e pranayamas, faz com que nossa energia vital (prana)
flua pelo nosso corpo, indo de encontro ao equilíbrio do corpo e mente. Gosto sempre de lembrar que onde há comprometimento
físico, como dor, não há benefício sutil!
YV –
Você acha que a prática do Ashtanga
Vinyasa Yoga não é para qualquer um? O que acontece que muitos se lesionam
praticando as séries do Ashtanga,
enquanto outros não passam por isso, como por exemplo o Yogi David Swenson? E,
diante disso, como se processa uma leitura corporal
completa que tem por finalidade integrar um entendimento das limitações de cada
praticante?
CAROL– Na
verdade adoro a prática de Ashtanga
Vinyasa Yoga, é uma prática intensa de ásanas, então exige como pré requisito
um corpo saudável e com um bom nível de força e flexibilidade. As lesões
ocorrem quando pessoas despreparadas querem fazer o que seu corpo ainda não
consegue, ou que não tenham um bom professor para adaptar os ásanas as suas
condições. A leitura corporal é simples, se pegássemos um sedentário e
colocássemos para correr uma maratona, se lesionaria com certeza, se pegarmos
alguém que nunca praticou ásanas, sem consciência corporal, ou sem alguma
atividade física prévia, e praticar asthanga, a proporção é a mesma. Existem
muitos estilos de práticas, nenhuma delas é para todos, pois cada indivíduo é
único, e encontrará o estilo de prática que mais se familiariza.
YV –
É muito bonito quando participamos de
uma aula de Yoga onde o professor transmite alguns detalhes sobre a anatomia do
corpo, contudo, sem exageros e sem linguajar prolixo. No entanto, são raros os
professores que assim o fazem. De um modo geral a aula é dada e o quesito
anatomia não é muito destacado, apenas algumas orientações básicas. Nos Estados
Unidos notamos que alguns bons professores de Yoga prezam muito os ensinamentos
de anatomia e se você pratica com algum deles isso é bem visível. Você acha que
aqui no Brasil falta mais estudo e entendimento sobre Anatomia do Yoga por
parte de alguns dos professores e professoras? O que você acha dos cursos sobre
Anatomia do Yoga que são oferecidos on
line, pela Internet, muito comuns nos States;
são válidos?
CAROL – Acredito que o
aprofundamento no conhecimento do nosso corpo sempre será bem vindo.
Adoro estudar tendo meu corpo como meu laboratório durante as práticas e assim
se torna prazeroso compartilhar o que nos faz bem.
Quanto a cursos pela
internet, super recomendo. Temos pouquíssimo material no Brasil sobre o tema,
portanto precisamos procurar fora do país. Eu mesma já fiz um curso pela
internet com uma professora do Canadá e achei excelente. Inclusive me inspirei
a montar video aulas e trabalhar da mesma forma, para que mais pessoas possam
ter alcance a esse conhecimento.
YV –
A partir do momento que se trabalha com Anatomia do
Yoga é importante entender que o corpo físico está agregado tanto ao corpo
emocional e espiritual. Desde que os músculos, os ossos e a fisiologia do corpo
vai se integrando durante a prática, memórias e emoções muitas vezes são
trazidas à tona. Por que isso acontece e qual é a melhor forma de se integrar o
lado psicoemocional com a prática física de um modo harmônico? É verdade que
quando o corpo se alinha através do estudo de sua estrutura, também ocorre um
alinhamento da pessoa em todos os níveis?
CAROL - Ao falarmos de emoções no corpo físico, o lugar onde habitam é a fáscia muscular, que "abraça" praticamente todos os músculos do nosso corpo. Ali fica um nó energético, ao movimentarmos a musculatura; respirando de forma consciente, fazemos fluir, emoções afloram, lágrimas vem, e traumas se dissolvem. Para que essa limpeza ocorra, a respiração faz toda diferença. Se o corpo estiver bem alinhado, coluna ereta, peito aberto, inevitavelmente alinhamos nossos centros de energia, dissolvendo assim, escudos e máscaras, ouvindo mais o coração e nos conectando com uma força divina, da forma que cada um interpreta.
CAROL - Ao falarmos de emoções no corpo físico, o lugar onde habitam é a fáscia muscular, que "abraça" praticamente todos os músculos do nosso corpo. Ali fica um nó energético, ao movimentarmos a musculatura; respirando de forma consciente, fazemos fluir, emoções afloram, lágrimas vem, e traumas se dissolvem. Para que essa limpeza ocorra, a respiração faz toda diferença. Se o corpo estiver bem alinhado, coluna ereta, peito aberto, inevitavelmente alinhamos nossos centros de energia, dissolvendo assim, escudos e máscaras, ouvindo mais o coração e nos conectando com uma força divina, da forma que cada um interpreta.
YV - Há quanto tempo o Yoga está presente na sua Vida? Você já se dedicava à prática e ao estudo do Yoga desde os dias em que você estudava Fisioterapia na Puc/PR ou isso somente se iniciou a partir do momento que você participou do curso de Formação com Pedro Kupfer e Camila Reitz? Como aconteceu essa atração pelo Yoga e posteriormente pelo ensino da Anatomia voltada ao Yoga?
CAROL– Quando estava na faculdade tive meu primeiro contato com Yoga, com o Rapha, meu marido. Me formei e saimos de Curitiba para morar em Mariscal, e aí sim veio a necessidade de se aprofundar. Foi quando fomos a Floripa procurar por mais fontes, foi aí que conhecemos o Pedro Kupfer e a Camila Reitz, que se tornaram grandes amigos e professores.
CAROL– Quando estava na faculdade tive meu primeiro contato com Yoga, com o Rapha, meu marido. Me formei e saimos de Curitiba para morar em Mariscal, e aí sim veio a necessidade de se aprofundar. Foi quando fomos a Floripa procurar por mais fontes, foi aí que conhecemos o Pedro Kupfer e a Camila Reitz, que se tornaram grandes amigos e professores.
Foi durante o módulo II
do curso, quando o professor de Anatomia convidado não muito bem aceito pela turma, por não
relacionar anatomia ao Yoga, que fui convidada a estudar e ensinar Anatomia
Aplicada ao Yoga, os dois foram meus grandes incentivadores, inclusive trazendo
livros de fora para meu aperfeiçoamento.
YV –
Além de se dedicar ao estudo e ao
ensino da Anatomia do Yoga e o Yoga propriamente dito, você é esposa do Rapha,
agora é mãe da Mila e administra a Pousada Vila Boa Vida, na Praia de Mariscal,
em Bombinhas/SC. Muitos que a conhecem mais de perto sabe da sua grande
preocupação com o meio-ambiente visando preservá-lo e a sustentabilidade, além
de defender as boas causas. Você seria uma ótima vereadora em seu município.
Como seria a Carol Lamgowski vereadora em Bombinhas? Isto está em seus planos?
Ou a Política passa longe de você?
CAROL– Que engraçado,
já ouvi muitas vezes essa sugestão. No momento, pelo fato de a maternidade ser
minha prioridade, não consigo me imaginar na política, alguns anos atrás acho
que até iria gostar da idéia. Prefiro agora fazer o bem aos que estão por
perto, como se fosse plantar sementes do Yoga, sem mencionar a palavra Yoga,
somente com atitudes, tocando o coração dos funcionários, hóspedes, familiares
e quem mais nos permitir. Pois a grande beleza do Yoga está no dia-a-dia e não
somente nos ajustes emcima de um tapetinho.
CAROL MARTINS LANGOWSKI
– É
formada em fisioterapia pela PUC-PR, com especialização em Medicina Tradicional
Chinesa. Fez sua formação em Yoga com Pedro Kupfer e Camila Reitz, dá aulas de
Yoga ha dez anos em Mariscal SC, onde vive com seu marido e administra sua
Pousada (www.mariscal.com.br).
Há dez
anos vem se dedicando a estudar Anatomia aplicada ao Yoga, com o grande
objetivo de evitar lesões na prática de Yoga. Vem ministrando aulas de anatomia
nos cursos de Formação de Adrian Vilas Bôas (BA), Andrea Porto (SC), Camila
Reitz (SC), Espaço Hermógenes Curitiba (PR), Lygia Lima (SP) , Pedro Kupfer
(SC), Rô Pacheco (SC), Unipaz (PR), Marco Shultz (SC).
E agora sua maior conquista, ser Mãe da Mila, que chegou com um parto humanizado na água, de uma forma única, onde a prática de Yoga fez toda a diferença.
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