HUMBERTO MENEGHIN
fotos pelo autor
Um dos lugares menos indicados neste planeta para
quem está em busca do autoconhecimento e do crescimento espiritual provindos
dos momentos que se vive e dos estudos que se absorve tanto do Yoga e do Vedanta
é a cidade de Las Vegas, Nevada, Estados Unidos. Sem querer desmerecer essa
luminosa e extravagante cidade, Vegas é um lugar que convida ao jogo
persistente e a outros elementos que são considerados nocivos aos órgãos dos
sentidos. Como diz o ditado, “nem tudo o que reluz é ouro”; no entanto,
construída em meio ao deserto e preparada exclusivamente para entreter os
humanos, Las Vegas, que significa Campinas, assim mesmo, atrai e continuará
atraindo com o seu brilho luminoso, todos aqueles que se predispõem a
visitá-la.
Cercada por inúmeros grandes casinos-hotéis-resorts, a rua principal de Vegas, a Las
Vegas Boulevard ou simplesmente Strip, seja o momento que for sempre
está apinhada por gente, com exceção às primeiras horas da manhã. Pelas
calçadas, embalados por hits musicais
dos anos oitenta ou atuais, os transeuntes são muitas vezes abordados por xicanos que oferecem cartões de garotas
que podem estar disponíveis em qualquer lugar dentro de vinte minutos (é o que
dizem as camisetas laranjas que vestem).
Incitados a irem para dentro dos casinos para
tentar a sorte nas mesas de roleta, bacará, vinte um ou nos caça-níqueis que
não param de tintilarem um som peculiar por todo ambiente ou para cometerem o
pecado da gula num dos fartos buffets;
quem por lá passa nota a oferta abundante de bebida e a fumaça exalada dos
cigarros dos jogadores e jogadoras, que na verdade só estão lá devido à
necessidade de suprir uma carência, nutrindo a ilusória vontade de vencer e
ganhar uma boa quantia no jogo. Isso, contudo, pode acontecer, mas na maioria
das vezes não acontece.
Em contrapartida, como um bálsamo de Luz,
contribuindo para diluir essa vibração que desorienta a consciência, existe um
templo/santuário Budista, próximo a um outro templo que é romano, em pleno
jardim do Caesar Palace,. Um pequeno
lugar onde uma estátua significativa cercada por flores e incensos convidam a
oração e que transmite aos que por lá passam e sentem, uma gota de paz em meio
a uma cidade que incita ao desequilíbrio dos sentidos.
Outro ponto favorável e que pode salvar um pouco a
imagem dessa cidade perante os olhos de quem se dedica ao Yoga, é a grande
fonte de águas dançantes em frente ao Bellagio,
que de meia em meia hora, por cerca de nove minutos, apresenta um espetáculo
contemplativo ao som de músicas agradáveis, o que anula qualquer ruído do
trânsito que corre pela avenida em frente.
Mesmo contando com cerca de seis ou sete
apresentações do Cirque du Soleil,
onde a maioria dos artistas raramente deixam de apresentar um ásana ou outro em seus números, nenhum
estúdio ou espaço de Yoga tem lugar garantido na Strip; contudo, talvez quem sabe, algum professor ou professora
ofereça aulas particulares num dos caríssimos spas dos casinos.
Para a população que vive e trabalha num lugar tão
agitado e festivo como Vegas, que habita bairros afastados, a cidade conta com
alguns poucos espaços e estúdios possibilitando a prática de ásanas do Yoga para aqueles que desejam
diluir a energia inapropriada que a toda hora absorvem dos ambientes nocivos
que precisam conviver.
E para aqueles que praticam Yoga ou estudam seus
textos e as escrituras védicas e que passam por Vegas apenas para conhecê-la ou
lá vivem por pura necessidade, nada impede que possam construir seu oásis, um
lugar fora da agitação, que seja fisicamente favorável à reflexão e à prática.
Do reverso, apesar dos pesares, sabemos que nem
mesmo uma cidade aparentemente convidativa a reflexão e ao estudo, como
Rishikesh, na Índia, também não está imune a lugares, pessoas e vícios nocivos.
Então, na verdade, quem faz o ambiente é o próprio Yogi, onde quer que seja,
por entre os néons de Vegas ou na beira do Ganges, que de sobremaneira não
terão o poder de interferir de forma desfavorável naquele que está sinceramente
comprometido com o seu sadhana.
Harih Om!
Uma vez meu guru me perguntou sobre experiências transcendentais que eu pudesse ter tido antes de iniciar meu estudo formal de yoga.
ResponderExcluirDisse a ele que quando era adolescente eu subia uma montanha que ficava perto de onde eu morava e apenas observava o horizonte costeiro. Naquela ocasião eu já vivia no Litoral Norte de São Paulo, onde paisagens exuberantes são comuns. Eu não sei o que eu experimentava era yoga -- inclusive porque naquela época eu sequer imaginava que isso existia.
Depois desse relato meu guru disse: «Puxa, mas que... merda.»
Gurus também falam palavrão. Felizmente eu nunca tive problemas com isso, mas naquele momento -- iniciante que era -- fiquei um pouco atônito com isso. Então ele explicou algo próximo do que você colocou em seu último parágrafo: nãa se trata de inebriar-se com uma paisagem exterior; também não se trata de criar uma paisagem interior; trata-se de transcender toda e qualquer paisagem (lembrando que transcender implica incluir, abranger).
Eu acredito que o título teria ficado melhor se em lugar de «yogi» fosse «estudante de yoga». Como você mesmo indicou no final, para o yogi verdadeiro aqui ou lá são um só lugar.
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