26 de janeiro de 2013

VEGAS: UM DOS LUGARES MENOS INDICADOS PARA UM YOGI



HUMBERTO MENEGHIN
fotos pelo autor

Um dos lugares menos indicados neste planeta para quem está em busca do autoconhecimento e do crescimento espiritual provindos dos momentos que se vive e dos estudos que se absorve tanto do Yoga e do Vedanta é a cidade de Las Vegas, Nevada, Estados Unidos. Sem querer desmerecer essa luminosa e extravagante cidade, Vegas é um lugar que convida ao jogo persistente e a outros elementos que são considerados nocivos aos órgãos dos sentidos. Como diz o ditado, “nem tudo o que reluz é ouro”; no entanto, construída em meio ao deserto e preparada exclusivamente para entreter os humanos, Las Vegas, que significa Campinas, assim mesmo, atrai e continuará atraindo com o seu brilho luminoso, todos aqueles que se predispõem a visitá-la.







Cercada por inúmeros grandes casinos-hotéis-resorts, a rua principal de Vegas, a Las Vegas Boulevard ou simplesmente Strip, seja o momento que for sempre está apinhada por gente, com exceção às primeiras horas da manhã. Pelas calçadas, embalados por hits musicais dos anos oitenta ou atuais, os transeuntes são muitas vezes abordados por xicanos que oferecem cartões de garotas que podem estar disponíveis em qualquer lugar dentro de vinte minutos (é o que dizem as camisetas laranjas que vestem).




Incitados a irem para dentro dos casinos para tentar a sorte nas mesas de roleta, bacará, vinte um ou nos caça-níqueis que não param de tintilarem um som peculiar por todo ambiente ou para cometerem o pecado da gula num dos fartos buffets; quem por lá passa nota a oferta abundante de bebida e a fumaça exalada dos cigarros dos jogadores e jogadoras, que na verdade só estão lá devido à necessidade de suprir uma carência, nutrindo a ilusória vontade de vencer e ganhar uma boa quantia no jogo. Isso, contudo, pode acontecer, mas na maioria das vezes não acontece.










Em contrapartida, como um bálsamo de Luz, contribuindo para diluir essa vibração que desorienta a consciência, existe um templo/santuário Budista, próximo a um outro templo que é romano, em pleno jardim do Caesar Palace,. Um pequeno lugar onde uma estátua significativa cercada por flores e incensos convidam a oração e que transmite aos que por lá passam e sentem, uma gota de paz em meio a uma cidade que incita ao desequilíbrio dos sentidos.










Outro ponto favorável e que pode salvar um pouco a imagem dessa cidade perante os olhos de quem se dedica ao Yoga, é a grande fonte de águas dançantes em frente ao Bellagio, que de meia em meia hora, por cerca de nove minutos, apresenta um espetáculo contemplativo ao som de músicas agradáveis, o que anula qualquer ruído do trânsito que corre pela avenida em frente.










Mesmo contando com cerca de seis ou sete apresentações do Cirque du Soleil, onde a maioria dos artistas raramente deixam de apresentar um ásana ou outro em seus números, nenhum estúdio ou espaço de Yoga tem lugar garantido na Strip; contudo, talvez quem sabe, algum professor ou professora ofereça aulas particulares num dos caríssimos spas dos casinos.






Para a população que vive e trabalha num lugar tão agitado e festivo como Vegas, que habita bairros afastados, a cidade conta com alguns poucos espaços e estúdios possibilitando a prática de ásanas do Yoga para aqueles que desejam diluir a energia inapropriada que a toda hora absorvem dos ambientes nocivos que precisam conviver.

E para aqueles que praticam Yoga ou estudam seus textos e as escrituras védicas e que passam por Vegas apenas para conhecê-la ou lá vivem por pura necessidade, nada impede que possam construir seu oásis, um lugar fora da agitação, que seja fisicamente favorável à reflexão e à prática.




Do reverso, apesar dos pesares, sabemos que nem mesmo uma cidade aparentemente convidativa a reflexão e ao estudo, como Rishikesh, na Índia, também não está imune a lugares, pessoas e vícios nocivos. Então, na verdade, quem faz o ambiente é o próprio Yogi, onde quer que seja, por entre os néons de Vegas ou na beira do Ganges, que de sobremaneira não terão o poder de interferir de forma desfavorável naquele que está sinceramente comprometido com o seu sadhana.  

Harih Om!

2 comentários:

  1. Uma vez meu guru me perguntou sobre experiências transcendentais que eu pudesse ter tido antes de iniciar meu estudo formal de yoga.

    Disse a ele que quando era adolescente eu subia uma montanha que ficava perto de onde eu morava e apenas observava o horizonte costeiro. Naquela ocasião eu já vivia no Litoral Norte de São Paulo, onde paisagens exuberantes são comuns. Eu não sei o que eu experimentava era yoga -- inclusive porque naquela época eu sequer imaginava que isso existia.

    Depois desse relato meu guru disse: «Puxa, mas que... merda.»

    Gurus também falam palavrão. Felizmente eu nunca tive problemas com isso, mas naquele momento -- iniciante que era -- fiquei um pouco atônito com isso. Então ele explicou algo próximo do que você colocou em seu último parágrafo: nãa se trata de inebriar-se com uma paisagem exterior; também não se trata de criar uma paisagem interior; trata-se de transcender toda e qualquer paisagem (lembrando que transcender implica incluir, abranger).

    Eu acredito que o título teria ficado melhor se em lugar de «yogi» fosse «estudante de yoga». Como você mesmo indicou no final, para o yogi verdadeiro aqui ou lá são um só lugar.

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