HUMBERTO MENEGHIN
Foi no meio da tarde que o escritório todo parou
para comemorar o “niver” da Claudinha, mas logo cedo quando a vi já dei o meu
presente: uma roupa específica para prática de Yoga feita por uma marca conhecida
que prefiro nem mencionar o nome para que não comecem achar que paguei muito
caro. Mas paguei bem caro sim, confesso; a Claudinha adorou! Pudera, ela merece
pois sempre está me dando uma boa carona!
Na hora de cantarem os parabéns, percebi que muita
gente que estava presente, estava lá só por estar, pois alguns deles sei que
não simpatizam com a Claudinha e nem comigo. Mas, isso não importa. O que
importa é que o bolo trufado com damasco e cobertura de chocolate estava lindo
e muito soberbo. Foi eu mesma quem o encomendou na melhor confeitaria da
cidade, mas é claro que o numerário para pagar o bolo da Claudinha não saiu
totalmente do meu bolso e sim da caixinha que fazemos mensalmente para custear
aniversários e outras comemorações.
Mesmo tendo gente que não gosta de mim e da
Claudinha lá no escritório, a minha amiga até que ganhou bons presentes; mas
nenhum se compara ao que lhe dei e com certeza a Claudinha irá usar a sua roupa
nova, daqui a pouco, na prática de Yoga que iremos participar.
Como boa amiga, a melhor que a Claudinha poderia
ter, ajudei-a com os presentes e resolvemos colocá-los todos no porta-malas do
seu carro para não sermos surpreendidas com um episódio mal intencionado.
Quando chegamos ao espaço de Yoga, percebemos que
as luzes do ambiente estavam mais fracas, com muitas velas acesas. Perguntamos
à recepcionista se estava faltando luz e ela nos disse que as velas espalhadas
pelo espaço faziam parte da comemoração Diwali,
o festival das luzes, que marca a celebração do ano novo para os hindus.
Em um dos cantos da sala, vi um altar com a imagem
de uma “Santa Indiana”, ladeada por flores, incensos, frutas, algumas moedas,
um pequeno jarro, uma estatueta de um menino com a cabeça de elefante e até
sementes. Em uma pequena mesa ao lado do altar havia alguns docinhos. Sem
esperar vimos uma mão pegar um dos doces e então notamos a presença da Simone
por lá.
“Parabéns, minha linda”, disse a nossa colega de
prática dando um beijinho na Claudinha, seguido por um abraço até que demorado.
Então, descobrimos que a Simone soube do aniversário da minha amiga por uma
lista de aniversariantes do mês que estava afixada no mural lá do espaço.
“Vocês não querem uma prasada?”
Ofereceu Simone após ter abraçado a Claudinha. “Prasada? Mas o que seria pradasa?”
Me perguntei.
Então, a Simone explicou que após as cerimônias festivas de caráter hinduísta é costume se compartilhar a prasada, um alimento que foi oferecido a Deus e que é distribuído
como dádiva aos presentes. Ainda, completou que devemos receber o que nos é
dado sem escolher; pois isso significa que nós estamos dispostos a aceitar, da
mesma maneira, tudo o que vem de Deus, pois tudo nos é dado para o nosso
próprio aprendizado.
Aceitamos a prasada,
os docinhos, que a Simone nos ofereceu que também poderia ter sido uma fruta ou
qualquer outro alimento que tivesse sido oferecido a Deus. Depois, a Simone,
que parecia muito versada em rituais hinduístas nos perguntou se sabíamos quem
era aquela deidade maravilhosa presente em um porta retratos de médio porte
junto ao altar.
“Deve ser uma Santa Indiana.” disse eu.
“Desconfio que seja uma daquelas Deusas que eles
veneram.” falou a Claudinha.
Com um meio sorriso, passando a língua pelos lábios
lembrando alguém que ocupa um cargo de destaque no poder público, Simone nos
disse que aquela Deusa era Lakshmi, a
Deusa da Riqueza, da prosperidade, da boa fortuna; uma Devi muito feminina que é muito cultuada pelos hindus durante o
festival das luzes, o Diwali. “Nossa!
Como é que a Simone pode ser tão versada neste tipo de assunto que eu e a
Claudinha ainda ignoramos?”
Ela nos explicou: “Pois é, minhas lindas, quando eu
morei e estudei em Londres, fiz um curso extracurricular sobre Hinduísmo. Se
vocês quiserem a força e a energia feminina de Lakshmi nas suas vidas, façam este mantra: Om Sri Maha Lakshmyai
Namah, diariamente,
por cento e oito vezes. Depois me contem. E esse menino com cabeça de elefante
é Ganesha, outra hora falo dele,
Então, eu e a Claudinha
pedimos para a Simone anotar o tal mantra num pedaço de papel. Será mesmo que
este mantra surte seu efeito? Será que os nossos caminhos irão se abrir se
fizermos este mantra para Lakshmi?
Quando ela terminou de
anotar o mantra em dois post its
amarelos e nos entregou, corremos para nos trocar e seguimos para a sala de
prática, pois já estávamos em cima da hora. E lá tive uma boa surpresa: o meu
querido professor havia voltado! Ah! A Claudinha fez trinta anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário