SWAMI DAYANANDA
TRADUÇÃO : HUMBERTO J. MENEGHIN
publicada originalmente no www.yoga.pro.br
PARTE II - A PESSOA E A
PERSONALIDADE
PURUSA E
PRAKRTI
Em sânscrito a pessoa é chamada Purusa
[que significa "aquele que reside na cidade (o corpo)"]. É Purusa
quem representa diferentes tipos de papéis tais como o que vê, escuta, pensa, etc...
Purusa é dotado das três faculdades vinculadas chamadas prakriti, as quais
consistem:
I – a mente e os órgãos de percepção;
II – a força vital e os órgãos de ação;
III – o corpo físico.
Purusa e prakriti não são realmente
duas entidades diferentes, visto que como prakrit este não é independente, não
tem status enquanto purusa é independente de prakrit.
Prakrti tem três poderes inerentes:
I – jnanasakti ou o poder de saber/conhecer que
inclui a memória;
II – icchasakti ou o poder de desejar que inclui desejos, dúvidas, emoções e
III – kriyasakti ou o poder de agir o qual inclui habilidades, poder criativo, etc...
II – icchasakti ou o poder de desejar que inclui desejos, dúvidas, emoções e
III – kriyasakti ou o poder de agir o qual inclui habilidades, poder criativo, etc...
Purusa lida com esses três poderes
inerentes. Isso é criação.
As faculdades com que Purusa lida não
são um problema. Com o poder de conhecer, acumulamos uma boa quantidade de
conhecimento. Com o poder de desejo, o qual também é um grande poder, alguém
pode se entreter com quaisquer números de desejos e com o poder de agir,
pode-se preenchê-los.
Há uma representação de papéis
envolvida no emprego dessas três faculdades. Aquele que conhece, aquele que
deseja, aquele que faz; esses são todos papéis que pertencem a prakrti e purusa
é independente deles.
Uma pessoa, se ela tem que representar
papéis na vida, melhor entender os papéis como papéis e a pessoa como pessoa.
Um papel se torna um papel somente quando a “pessoa” se torna clara para você.
Isto é viveka jnanam, conhecimento discriminativo o qual se adquire pelo estudo
das escrituras.
Quando o discriminativo conhecimento de
purusa, eu, aquele que representa o papel e prakrti, o papel não está lá, os
papéis se tornam real e a pessoa é esquecida. B é sem dúvida A, mas quando A se
torna B, purusa se torna o papel, onde lá não resta qualquer discriminação ou
distinção entre os dois.
Quando a discriminação está lá, os
desafios dos papéis se tornam divertidos, mas quando não está lá, eles se
tornam problemas. Cada problema deixa uma certa reação. O desafio é um fato,
reação é o problema.
Se eu ajo em um desafio, eu estou
agindo em um fato e então não há um problema real. Então nós podemos
identificar dois tipos de problemas:
1 – problemas centrados em papéis ou
fatos,
2 – problemas centrados na pessoa ou no
“eu”.
Por exemplo: falta de dinheiro,
confortos, recursos é o primeiro tipo de problema e isso faz parte da criação.
Eu posso agir neles para remover a carência/necessidade. Mas se essa carência
me torna ciumento de alguém que tem dinheiro e confortos, isso é um outro tipo
de problema, o problema centrado no “eu”, que me faz sentir triste e frustrado.
Quando isso acontece, as muitas capacidades que eu tenho, tais como os poderes
de conhecer, desejar e agir, não estão disponíveis por causa da reação de
ciúmes.
Então, reações negam-me todo o poder
que eu tenho para agir nas situações para encontrar os desafios. Quando eu
reajo eu posso não ser capaz de medir certa situação, apesar dos poderes que
estão sob meu comando.
REAÇÃO É UM ACONTECIMENTO
A Reação é um acontecimento. Não
consulta seu conhecimento, condição, entendimento, cultura, idade ... qualquer
coisa. Você conquistou tudo isso na sua vida, mas quando eles não são
consultados ao responder numa certa situação, eles são tão bons quanto se não
existissem. A reação é um acontecimento, não uma ação consciente.
Veja por exemplo o caso da raiva, que é
uma reação. Você não pode conscientemente se tornar raivoso. Tente. Você pode
fingir estar com raiva: você pode levantar o tom da voz, você pode ter um olhar
severo, etc... mas você nunca será tão bom quanto uma pessoa realmente zangada.
Mesmo seu filho pequeno pode compreender que o pai está fingindo estar com
raiva.
Mas se você realmente estiver com
raiva, seu filho não estará por perto! Esta diferença é muito óbvia mesmo para
uma criança. É algo que é severo e rígido deliberadamente.; então, você sabe o
que está fazendo e porque, mas que na verdade existem outras coisas para
realmente se zangar, ficar com raiva. Então, você não está consciente do que
está fazendo.
É como aquele dedicado discípulo cujo
guru pediu para cuidar que as moscas e outros insetos não se aproximassem
enquanto o guru estivesse adormecido. Como sempre acontece, uma mosca continua
a vir e pousar sobre o nariz do guru, apesar de todos os esforços do discípulo
de mantê-la longe.
O discípulo fica tão zangado que pega
uma grande pedra e bate na mosca que está sobre o nariz do guru! A mosca morre,
mas o guru nunca mais acorda! Então, como reação a raiva/a zanga vem, todo o
seu raciocínio desaparece. Toda a sabedoria é relegada a segundo plano e aquele
que responde é no conjunto uma pessoa diferente que é controlada pela raiva ou
qualquer que seja outra emoção que assume naquele momento.
Portanto, não é possível a você
permanecer conscientemente raivoso ou com ciúmes ou frustrado ou agitado ou
triste. Tente. Então você entenderá o que é tristeza! Então, reação é sempre um
acontecimento. É mecânico.
Se eu puder ter certeza que essas
reações não se venham, isto é, não se apossam de mim, há ações e não há
problema. Mas o problema é que eu não sou capaz de me certificar disso e as reações
acontecem de qualquer jeito. Minha resolução de não reagir é mais falha do que
seguida.
REPRESENTAÇÃO DE PAPÉIS É KARMA YOGA
Este debate é para lhe dar uma
compreensão sobre o mecanismo da reação. O fato é que purusa representa o papel
e então os problemas do papel não pertencem à purusa. O fato de saber que eu
estou representando papéis, já é por si só um grande alívio. É uma grande coisa
saber que eu não sou o marido em tempo integral. Isto significa que minha vida
não é coberta por apenas por problemas de marido.
Quando eu sei que ser marido é um
papel, ser esposa é um papel, tudo o que eu tenho a fazer é representar o papel
de acordo com o roteiro. Isto, na verdade, é o que chamamos de karma Yoga.
Svakarma significa ação de acordo com o roteiro. Todo o papel tem um roteiro e
se você conscientemente seguir o roteiro, sua vida se torna karma Yoga.
A representação de papel é participação
na criação. De acordo com as escrituras, o senhor é criador e criação ao mesmo
tempo; ele é ambas, a causa eficiente e material da criação. E depois de criar
o mundo o Senhor não foi dormir; Ele está muito ativo, dinâmico como está
evidente na criação por si só.
Isvara, o Senhor em seu papel de
criador é chamado Brahma; em seu papel de protetor e sustentador é chamado
Visnu e no papel de destruidor Ele é chamado Rudra. Nós podemos ver que Ele
está constantemente representando todos esses papéis. Em todo momento existe
criação, uma vez que coisas novas nascem; em todo momento existe destruição,
uma vez que coisas velhas são destruídas para dar lugar ao novo.
E esse processo de criação e destruição
é constantemente sustentado de uma forma muito significativa para que haja
harmonia no mundo. Este momento nasce, é e se vai. Qual é o tempo envolvido
nisso? Qual a distância entre o nascimento, sustentação e morte? Então, todas
as deidades estão simultaneamente funcionando. Este é Isvara que está
representando todos os seus papéis sem esforço, com facilidade.
Então a criação é e eu sou a pessoa que
nasceu neste mundo com um corpo, mente e sentidos. Eu sou dotado com esses
poderes e então isto não significa que eu sou meramente um observador da
criação. Se eu fosse apenas um observador, teria sido me dado tão somente uma
cabeça, sem braços, pernas etc...
Então todos teriam somente cabeças e
todos e todos estariam simplesmente olhando um para os outros! Mas isso não vem
ao caso. Eu sou dotado com os poderes para conhecer, desejar e agir e recursos
que são fornecidos na criação para empregar esses poderes. Portanto, isto significa
que eu sou um participante da criação.
Participação significa representar
papéis. Purusa não participa; pois pertence à prakrit toda a participação e
toda a representação de papéis. Purusa se torna a base dos papéis que são
representados. O Purusa permanece intrinsecamente intocável; nenhum papel deixa
qualquer vestígio sobre ele. Purusa é sempre puro e todas as impurezas são nada
além de reações.
Então, representar papéis de acordo com
o roteiro é karma Yoga. Os roteiros são conhecidos por nós ou nós podemos
aprender sobre eles nas escrituras ou de alguém que sabe. Não há problema
quando se representa papéis. Há uma escolha em certos papéis e se você achar
difícil um papel com o qual se depara, você não precisa representá-lo; você
pode escolher um outro de acordo com o seu desejo preferido, mas certifique-se
que este não afeta outro.
No entanto, há muitos papéis os quais
você não tem escolha. Você nasce e então você é um filho; não há escolha. Ou um
filho nasce de você e neste caso você é um pai; de novo não há escolha. Então,
existem muitos papéis os quais você representa, nos quais você não tem nenhuma
escolha e há outros como mudar de emprego, onde você tem escolha. Na verdade,
não deveria haver um problema em qualquer papel – quanto mais difícil um papel
é, mais talentos brotam de você.
O problema não está no papel; o
problema é pensar que você é o papel. O marido não é um problema; a esposanão é
um problema; um problema é pensar que você é um marido em tempo integral ou uma
esposa em tempo integral é onde o problema está. Você deve primeiro perceber
que a representação de um papel não é um problema, mas sim as reações é que são
o problema.
REAÇÕES CRIAM
PERSONALIDADE
Agora se eu simplesmente dizer. “Não
reaja”, isso não vai funcionar porque como eu disse, reação é um acontecimento
que não lhe consulta e você pode reagir a isso com muita precaução! Veja o
seguinte diálogo com uma pessoa que me disse que não iria mais se zangar;
“Swamiji, eu não estou mais ficando
zangado nesses dias.”
“Eu não acho.”
“Eu não acho.”
“Não Swamiji, eu realmente não estou
mais ficando zangado nesses dias.”
“Eu não acho que isso seja verdade. Eu acho que você irá se zangar quando a circunstância certa aparecer.”
“Eu não acho que isso seja verdade. Eu acho que você irá se zangar quando a circunstância certa aparecer.”
“Não Swamiji, eu não me zango.”
“Eu tenho certeza que você irá se zangar.”
“Não repita mais isso!”
“Sim, você está certo.”
Eu parei com o diálogo porque eu não
quis que ele fosse mais longe. Ele estava muito consciente até certo ponto, mas
então depois ele começou a demonstrar sinais que iria estourar. Então,
simplesmente uma resolução,” Eu não reagirei”, não é suficiente porque a reação
é um acontecimento que não me consulta. Isso é imprevisível.
O problema é que cada um é uma
personalidade. O purusa, a pessoa é um simples ser, puro, belo, radiante. É
essa personalidade que cada um tem que cria problemas. A personalidade nada
mais é do que uma coleção de reações incorporadas. A personalidade que é
imprevisível; a pessoa é imprevisível porque ela não é sempre a mesma. Enquanto
representa diferentes tipos de papéis, o indivíduo acumula um número de reações
as quais não são permitidas expressá-las.
Veja essa situação: você trabalha em um
escritório e tem um patrão. Ele é como é, livre para dizer o que bem entender e
para fazer o que bem quiser. Ele pede para você cumprir uma ordem e você chega
à conclusão que não é apropriado cumpri-la. Mas, se você dizer isso, ele vai se
sentir menosprezado, pois ele tem seus problemas psicológicos e ele não quer
que os outros comentem que ele tomou uma decisão errada. Este é o seu ponto fraco
e se você insistir nisso, ele irá se enervar.
No entanto, há momentos quando você
realmente lhe diz que você é uma pessoa que você não pode fazer alguma coisa
que seja errada. E então o patrão fica zangado e lhe diz um monte de coisa. O
que você pode fazer? Você fica igualmente zangado porque também é um ser humano
com seus próprios problemas e pontos fracos.
Mas o patrão está numa posição para
descarregar toda a sua ira e você não quer que isso aconteça. Você tem que
engolir sua raiva porque você não quer perder o emprego. Você não lhe diz tudo
o que pensa, porque você quer paz interna!
Você tem que engolir a raiva e passar
por cima por razões óbvias. E para onde vai a raiva? Não vai a lugar algum. Ela
permanece lá formando o interior da sua personalidade.
Agora olhe para a sua vida. Ser pai é um problema, ser filha é um problema, ser esposa é um problema, ser mãe também é um problema. Todo papel que se representa parece ser provido com problemas. Isto não é porque a representação de um papel se tornou mais difícil nesses dias; isto ocorre porque há menos discernimento de si mesmo. Você pula de papel a papel, mas cada papel parece deixar a sua marca e confundir o outro papel.
Agora olhe para a sua vida. Ser pai é um problema, ser filha é um problema, ser esposa é um problema, ser mãe também é um problema. Todo papel que se representa parece ser provido com problemas. Isto não é porque a representação de um papel se tornou mais difícil nesses dias; isto ocorre porque há menos discernimento de si mesmo. Você pula de papel a papel, mas cada papel parece deixar a sua marca e confundir o outro papel.
Há um homem que brigou com a esposa.
Ele sai de casa e bate a porta fazendo um grande barulho, dizendo que é o
marido que ainda manda e está por lá. Mesmo que ele tenha deixado sua esposa,
há um marido que permanece porque o “marido” não era apenas um papel – o eu, a
pessoa, era também o marido. Então ele estava zangado.
Ele entra no carro abrindo a porta com
força e liga o motor mostrando que o marido ainda está por lá. O marido está lá
enquanto ele está dirigindo e até quando chega ao escritório. E isso demonstra
como um papel confunde o outro desencadeando uma seqüência de reações.
A pessoa se torna uma personalidade e
como uma personalidade, ele é estimulado pelas reações. E reações
cristalizam-se para criar uma personalidade fora da pessoa.
Todo mundo possui, desta forma, uma
personalidade consistente em reações adversas como raiva, ciúme, aversão,
frustração. Então, todo mundo é vulnerável. Há botões dentro da personalidade e
a pessoa explode no momento em que um botão é tocado.
A esposa sabe as áreas nas quais seu
marido ficará zangado. Ela até avisa as crianças para evitar pedirem certas
coisas ou criar certas situações. Todo mundo é uma personalidade previsível e
imprevisível, ao invés de ser uma pessoa.
(continua ...)Leia a AÇÃO E REAÇÃO - PARTE I em:http://yogaemvoga.blogspot.com.br/2015/08/acao-e-reacao-parte-i.html
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