SWAMI DAYANANDA
TRADUÇÃO : HUMBERTO MENEGHIN
publicada originalmente na revista YOGA JOURNAL BRASIL
ilustração: Gustavo Peres
Atman, o
Ser, é definido como sat cit ananda.
Na definição destas três palavras, sat é
geralmente traduzida como existência, cit
como consciência, ananda como
bem-aventurança, felicidade. É óbvio que estas três palavras não são adjetivos
de atman (alma, princípio
auto-organizador do ser), pois atman
é revelado pelo shastra destas três
palavras. Se elas são adjetivas, há muitos atman-substantivos
entre os quais um se destaca com os atributos especiais de sat cit ananda. Se nós dissermos: “Aqui está um lírio, grande, azul
e perfumado”, todos os três adjetivos distinguem o lírio dos outros lírios sem
esses atributos.
O que eu sou
é automanifesto, mas essa existência é a que é limitada no tempo? Se for, atman, o eu, é como qualquer outro
objeto. Tem de se tornar manifesto. Cada objeto torna-se manifesto para o Ser.
A existência do Ser é manifesta. Mas, para quem é que isso se torna manifesto?
Tem de ser manifesto apenas para o Ser. Quando a existência do Ser é manifesto
para o Ser, ele é entendido como automanifesto.
Na verdade, o shastra apresenta atman como satyam, a
existência do Ser e tudo o mais, incluindo o sujeito que conhece, como alguém
cuja existência é traçada a partir da existência de atman. Este atman
autoexistente tem de ser automanifesto. Caso contrário, não há nenhuma maneira
de se reconhecer a existência do Ser. Portanto, esta natureza automanifesta é o
que está indicado pela segunda palavra, consciência, cit. Em sendo todo o conhecimento manifesto, então há a presença da
consciência.
O atman automanifesto está na forma de
consciência que se revela. A natureza de sat
é a consciência e a natureza da consciência é sat. A terceira palavra, ananda,
deve ter a mesma condição que sat e cit, uma vez que é uma palavra que
revela a natureza (svarupa) de atman. Se sat não pode ser substituído por um pensamento, muito menos cit pode ser substituído; como ananda pode ser, alguma vez, substituído
por uma condição da mente?
Se ananda é traduzido como ilimitado (ananta), não há possibilidade de ser
substituído a qualquer momento. Se for bem-aventurança, tem o seu oposto,
infelicidade, que a substitui. Então, esta palavra ananda realmente causou muita confusão nas mentes dos buscadores,
bem como nas dos professores (acaryas).
Sukha (felicidade) e duhkha (tristeza) são opostas. Quando uma é, a outra não é. Quando
estou feliz, não estou triste e quando estou triste eu não estou feliz. Mas a
verdade é que o Ser que é sat e cit sustenta todas as condições da mente
(vrtti), como a água sustenta cada
onda. Se a condição da mente é agradável ou desagradável, ela é sustentada não
apenas por sat cit, mas também ananda, porque sat cit é ananda.
A razão pela
qual há tanta insistência na experiência do Ser é que aquele Ser é tido como
uma experiência especial de bem-aventurança. Mesmo se houver uma experiência especial
de felicidade, como é que alguém reconhece que é a felicidade do atman?
Na verdade,
o shastra é muito claro, pois toda
experiência de felicidade nada mais é do que uma condição da mente (antahkarana) que não se opõe ao
ilimitado de atman. A experiência
comum desta felicidade revela que a situação sujeito-objeto não se opõe ao
ilimitado, à totalidade do atman. O
não reconhecimento deste fato compromete uma pessoa a buscar tal experiência
(de felicidade), quantas vezes e pelo tempo que ele ou ela pode tê-lo, o que é
a vida de samsara. O shastra cessa essa busca revelando que
o atman que alguém está buscando é a
própria pessoa.
Ananda nunca é substituído por qualquer condição da
mente, porque é a natureza (svarupa)
do atman, como sat e cit. Uma condição infeliz da mente é sustentada pela
consciência a qual é sat. Se isso for
verdade, é ananda que sustenta a
condição infeliz, bem como a condição feliz.
Om Tat Sat!
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