15 de maio de 2014

FELICIDADE: ENTENDA O CONCEITO YÓGUICO ANANDA




SWAMI DAYANANDA
TRADUÇÃO : HUMBERTO MENEGHIN
publicada originalmente na revista YOGA JOURNAL BRASIL
ilustração: Gustavo Peres


Atman, o Ser, é definido como sat cit ananda. Na definição destas três palavras, sat é geralmente traduzida como existência, cit como consciência, ananda como bem-aventurança, felicidade. É óbvio que estas três palavras não são adjetivos de atman (alma, princípio auto-organizador do ser), pois atman é revelado pelo shastra destas três palavras. Se elas são adjetivas, há muitos atman-substantivos entre os quais um se destaca com os atributos especiais de sat cit ananda. Se nós dissermos: “Aqui está um lírio, grande, azul e perfumado”, todos os três adjetivos distinguem o lírio dos outros lírios sem esses atributos.


O que eu sou é automanifesto, mas essa existência é a que é limitada no tempo? Se for, atman, o eu, é como qualquer outro objeto. Tem de se tornar manifesto. Cada objeto torna-se ma­nifesto para o Ser. A existência do Ser é manifesta. Mas, para quem é que isso se torna manifesto? Tem de ser manifesto apenas para o Ser. Quando a existência do Ser é manifesto para o Ser, ele é entendido como automanifesto. 


Na verdade, o shastra apresenta atman como satyam, a existência do Ser e tudo o mais, incluindo o sujeito que conhece, como alguém cuja existência é traçada a partir da existência de atman. Este atman autoexistente tem de ser automanifesto. Caso contrário, não há nenhuma maneira de se reconhecer a existência do Ser. Portanto, esta natureza automanifesta é o que está indicado pela segunda palavra, consciência, cit. Em sendo todo o conhecimento manifesto, então há a presença da consciência.


O atman automanifesto está na forma de cons­ciência que se revela. A natureza de sat é a consciência e a natureza da consciência é sat. A terceira palavra, ananda, deve ter a mesma condição que sat e cit, uma vez que é uma palavra que revela a natureza (svarupa) de atman. Se sat não pode ser substituído por um pensamento, muito menos cit pode ser substituído; como ananda pode ser, alguma vez, substituído por uma condição da mente?


Se ananda é traduzido como ilimitado (ananta), não há possibilidade de ser substituído a qualquer momento. Se for bem-aventurança, tem o seu oposto, infelicidade, que a substitui. Então, esta palavra ananda realmente causou mui­ta confusão nas mentes dos buscadores, bem como nas dos professores (acaryas).


Sukha (felicidade) e duhkha (tristeza) são opostas. Quando uma é, a outra não é. Quando estou feliz, não estou triste e quando estou triste eu não estou feliz. Mas a verdade é que o Ser que é sat e cit sustenta todas as condições da mente (vrtti), como a água sustenta cada onda. Se a condição da mente é agradável ou desagradável, ela é sustentada não ape­nas por sat cit, mas também ananda, porque sat cit é ananda.


A razão pela qual há tanta insistência na experiência do Ser é que aquele Ser é tido como uma experiência especial de bem-aventurança. Mesmo se houver uma experiência es­pecial de felicidade, como é que alguém reconhece que é a felicidade do atman?


Na verdade, o shastra é muito claro, pois toda experiência de felicidade nada mais é do que uma condição da mente (an­tahkarana) que não se opõe ao ilimitado de atman. A experiên­cia comum desta felicidade revela que a situação sujeito-objeto não se opõe ao ilimitado, à totalidade do atman. O não reco­nhecimento deste fato compromete uma pessoa a buscar tal experiência (de felicidade), quantas vezes e pelo tempo que ele ou ela pode tê-lo, o que é a vida de samsara. O shastra cessa essa busca revelando que o atman que alguém está buscando é a pró­pria pessoa.


Ananda nunca é substituído por qualquer condição da mente, porque é a natureza (sva­rupa) do atman, como sat e cit. Uma condição infeliz da mente é sustentada pela consciência a qual é sat. Se isso for verdade, é ananda que sustenta a condição infeliz, bem como a con­dição feliz.


Om Tat Sat!

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