HUMBERTO J. MENEGHIN
“Aí! A
Carol Leite taí! ”– disse Lili – “Mas, quem é a Carol Leite? ”– perguntei
enquanto íamos para a prática da manhã. “Nossa! Você não sabe quem é a Carol Leite?
” Perguntou Lili. E não deixando que eu respondesse, logo foi dizendo: “Carol
Leite, mestra em meditação, tem canal bombando no YouTube. Amoooo!”
Chegamos
atrasadas à prática de Yoga que o Tércio Natércio Couto estava ministrando no
salão principal do mosteiro. Foi difícil
achar um lugar para estendermos os tapetinhos, mas logo o Nenê apareceu e foi
nos acomodando num canto próximo à parede, mais à frente.
A Claudinha e a Simone estavam bem a nossa
direita, com os olhos fechados, concentradas nas palavras que o Tércio
Natércio Couto dizia, enquanto a Silmara, aquela que conduziu a meditação pela
madrugada, emitia umas notas num acordeão.
Lili me deu uma leve cotovelada, dizendo em
voz baixa: “Ela alí, a Carol”. Então, percebi que ela estava
bem próxima, quase vizinha de onde estávamos, um pouco mais a frente.
A Carol
Leite, uma moça até que alta, na faixa dos trinta, usando um shorts jeans desbotado e desfiado e um top lilás. O cabelo estava solto,
cabelão mesmo.
Então, percebi uma mão
sobre o meu ombro direito, voltei-me para trás e logo soube quem era: o Wilson!
Um sujeito pegajoso que havia trabalhado comigo há tanto tempo, que jamais
poderia imaginar que fosse encontrá-lo num retiro como aquele. Ele me enviou um
namastê, eu um sorriso sem graça ouvindo ele dizer que depois conversaríamos.
Tércio
Natércio Couto parece que olhava diretamente para nós, incomodado por termos
conversado. Então, ele começou a dizer: “
O Yoga não tem fim, o Ser está embutido em você, na pessoa que está ao seu
lado, na irmã que está preparando a nossa comida, naquele que recolhe o lixo. Hoje em dia, despreza-se o pedinte, aquele
que pede esmola, uma ajuda e dá-se mais atenção ao seu bicho de estimação.
E aquela que está no ponto de ônibus, quem faz essa reflexão. ” –Silenciou para
depois continuar: “Balásana, a
criança abandonada. Aterrem-se na
balásana para humildarem-se, comunidade amada!!! Respirem deixem o cachorro
de estimação ir surgindo dentro de ti .... A Luz do Ser vai desfazendo as
amarras do Ser, diluindo toda a blindagem que tu carregas dentro de ti...”
E, a prática
foi prosseguindo enquanto Tércio transitava por entre nós no salão, ajustando
praticamente todos nas posturas, com o auxílio da Silmara e do Nenê. Então, chegou
a hora do relaxamento. Todos deitados ouvindo as palavras de Tércio seguido
pelo som que Silmara fazia com o acordeão. Desapareci, me senti muito relaxada
e ausente. Acho que dormi, então quando me dei conta, todos já estavam falando
alto, se agitando de um lado para o outro para eu notar o Tércio dizer ao
microfone: “ A querida Carol Leite está
conosco, que honra enorme, Carol amada!!!! Voltamos às nove, minhas amadas,
meus amados!”
“É a impermanência! A impermanência! ” – Ouvi
Wilson, dizer atrás de mim; lembro que ele sempre dizia essa
palavra para mim no tempo em que trabalhávamos juntos, que ele era budista ...
que tinha compilado um livro tão confuso que havia me dado para ler ... sobre
budismo, mas era muito chato e incompreensível!
Então,
percebi que a Claudinha, a Simone e a Lili tinham cercado a Carol Leite fazendo
vários selfies com ela. Pela minha
esquerda, a Gaby Ruiva surgiu dizendo,
de repente: “O ontem está dentro do amanhã e o amanhã está dentro do ontem! ”
Harih Om!
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