HUMBERTO MENEGHIN
A primeira coisa que a Keilane fez ao
entrar no apartamento foi deixar a mala com rodinhas de lado, retirar chapéu
azul que compunha o uniforme de comissária de bordo para finalmente se
descalçar dos sapatos. Curiosa por me ver ali sentada no sofá ao lado do
Júnior, tomando sopa numa xícara grande, Keilane me enviou um sorriso alvo e
após sermos apresentadas falou que eu seria muito bem vinda para morar com
eles. A Keilane me pareceu simpática,
fui imediatamente com a cara dela. Sim, ela era muito bonita, loura, olhos
azuis com um rabo de cavalo prendendo o cabelo. Então, fiquei sabendo que ela
fazia Pilates.
Educadamente Keilane nos pediu licença,
arrastou a mala com rodinhas pelo corredor coberto por tacos e de onde estava
vi que ela entrou num dos quartos. A campainha da porta tocou sem que
esperássemos, os olhos do Júnior brilharam; ele se levantou e ainda levando a
grande xícara consigo foi ver quem poderia ser.
A porta do apartamento se abriu e uma pequena
manada de cachorros correu para dentro. Todos branquinhos, fofinhos, peludinhos,
bem cuidados, cheirosos, rodeando pela sala latindo, cheirando meus pés subindo
pelas poltronas.
Então, conheci a Ruth, a dona dos cinco
cachorrinhos bem tratados, aliás eu já tinha visto essa mulher passeando com
esses mesmos cinco cachorrinhos pelas ruas do Cambuí. “Estou fazendo um book para os pets da Ruth. Está dando um trabalho! Eles não param quietos!” –
comunicou Junior, enquanto a Ruth entregava-lhe um cheque. “Está pré-datado,
Júnior; pra começo de mês, quando receber minha aposentadoria.”
Como ainda não tinha sido apresentada
para a Ruth, ela tomou liberdade dizendo: “Conheço você de algum lugar. Você
trabalha no Instituto Agronômico? Na Unicamp?” Disse que não, que trabalhava
com a Claudinha no escritório e nos interrompendo, Júnior disse que eu iria
morar com eles.
Ruth disse que vivia no apartamento ao lado e que esperava que seus “filhinhos” não me incomodassem quando latissem. Sorri, dizendo que gostava de cachorros. Dizendo que nos iríamos nos dar bem, a Ruth reuniu seus pets e foi embora.
Voltando-me para o Júnior, notei que ele
segurava com firmeza nas mãos o cheque que a Ruth havia lhe passado, enquanto
diminuía os olhos e esboçava um leve sorriso para dizer: “Veio em boa hora.
Ainda vou ser famoso, muito famoso.”– disse se levantando, me dando as costas, indo
para a cozinha, enquanto eu via Keilane sair de seu quarto com uma toalha
branca enrolada por todo o seu corpo e o cabelo louro totalmente solto, enquanto
a Claudinha já saia.
Então, percebi Junior parado entre o
batente da porta da cozinha, olhando diretamente para mim. Exibindo um leve
sorriso, como se fosse de um gato, Junior me disse: “Não atrasamos o
condomínio, pagamos todas as contas em dia. Temos uma caixinha para despesas
extras. De vez em quando A KeiKei traz umas iguarias pra gente, uns snacks, coisa e tal. Hoje estou de
folga, mas amanhã que é sábado a loja vai ferver, minha comissão vai ser boa,
aliás costuma ser; sou eu quem vende mais lá na loja ... quero você como minha
cliente. Roupa nova incrementa o visual. Você precisa dar um upgrade em você, Linda! – e indo para
próximo da porta de entrada, Junior pegou a correspondência tardia que alguém
havia acabado de colocar por baixo: – “Só contas, contas e mais contas. Juro
por Deus que eu não vou ter condições esse mês ... Estou no vermelho, vou ter
que pedir um help da KeiKei de novo.
É tão chato! Detesto isso! Será que você poderia me dar uma ajudinha?”
Sensibilizada com isso, não pude dizer
não e então fiz um cheque e emprestei quinhentos reais para o Júnior, que
prometeu me pagar de volta em pouco dias.”
Harih
Om!
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