HUMBERTO MENEGHIN
artigo publicado originalmente no www.yoga.pro.br
Permanecer sentado com as pernas cruzadas, os pés apoiados sobre
as coxas opostas e as plantas voltadas para cima, os calcanhares próximos ao
osso púbico, mantendo a coluna ereta e as mãos sobre os joelhos, que idealmente
tocam o solo, pode ser algo bem interessante de se ver, bem como parece algo importante para
se fazer no Yoga. Entretanto, muitos não conseguem ainda perceber o que há por
trás dessa polêmica posição chamada padmásana, a postura do lótus.
O padmásana não é tão bem simples assim de se
executar como alguns possam achar. Partindo-se do princípio de que cada corpo é
único e distinto dos demais, sabemos que, dependendo da mobilidade do quadril,
algumas pessoas podem cruzar as pernas e sentar em padmásana com a maior facilidade, enquanto que
essa ação pode ser difícil, forçada ou até mesmo impossível para outros corpos
com menos flexibilidade.
É natural o praticante querer se firmar como yogi, não só sentando em padmásana,
mas ainda executando outras posturas ditas “avançadas”. No entanto, é conveniente parar para analisarmos se a forma em que
fazemos a posição do lótus é 100% sadia.
Um sinal de falta de alinhamento ou falta de mobilidade no quadril
nesta posição sentada é aquele formato de “sanfona” que se apresenta na altura
dos tornozelos, nas laterais internas dos pés. Nesse “efeito sanfona”, a pele
está enrugada, sem contar aquele incômodo que pode aparecer pelos joelhos. Faça a postura e observe se, por ventura,
esse é seu caso.
Talvez, para alguns, essa pele enrugada nas partes internas dos
tornozelos não se apresente, pois do corpo do praticante se encaixou
corretamente ao ásana. Para outros, essa “sanfona” é mais que evidente,
nos dando a pista de que o padmásana assim executado pode trazer eventuais
problemas para os joelhos do praticante.
Os problemas que podem se
apresentar neste caso são a compressão indesejável dos meniscos mediais, e o
estiramento desnecessário e lesivo dos ligamentos externos dos tornozelos. Se os tornozelos internos
estiverem comprimidos, isso significa que as partes externas deles estarão, por
sua vez, forçadas numa posição de instabilidade.
Sabemos que ligamentos e tendões não devem ser
alongados, pois eles têm um fator de elasticidade de apenas 4%. Uma
permanência excessiva numa posição forçada desse jeito poderá resultar em perda
da instabilidade dessas estruturas articulares e numa lesão posterior, que pode
acontecer, por exemplo, quando a pessoa anda num terreno irregular ou com um
calçado inadequado e torce o tornozelo.
Uma das boas alternativas ao padmásana é o sukhásana,
onde os joelhos não sofrem tanto, já que não há compressão dos meniscos
mediais, nem dos tornozelos, sendo considerado um fácil e confortável ásana para aqueles que buscam o estado de
meditação.
Mesmo assim, adaptações são recomendáveis, como o uso de almofadas, cunhas ou blocos de espuma densa para apoiar o joelho para que não fique em contato com o chão, que corresponde ao pé que fica por cima.
Mesmo assim, adaptações são recomendáveis, como o uso de almofadas, cunhas ou blocos de espuma densa para apoiar o joelho para que não fique em contato com o chão, que corresponde ao pé que fica por cima.
No meio do caminho entre a
postura do lótus e a postura fácil, temos o meio lótus, ardha padmásana, onde apenas um dos pés fica
apoiado sobre a coxa oposta, com a planta voltada para cima e o calcanhar
próximo ao osso púbico, enquanto que o outro pé fica por baixo, com o dorso
apoiado no chão. Mesmo nesse caso, observe se o efeito sanfona aparece no
tornozelo do pé que fica por cima, sendo que se isso vier ocorrer, pense na
possibilidade de se adaptar.
Para aqueles que não sentirem muita estabilidade neste ásana, recomenda-se
mantê-lo por breves períodos, evitando permanências muito prolongadas. Isso
exclui, obviamente, o uso desta postura nas práticas longas de pranayama ou meditação.
Sabemos que os indianos por hábito, costume ou por falta de
cadeiras sentam com facilidade no chão, o que não acontece por aqui. Mesmo que aquele palestrante que veio do
Oriente fique por horas a fio em padmásana,
sem demonstrar qualquer incômodo, não existe a mínima necessidade de você
querer imitá-lo, pois o que verdadeiramente importa é nos sentirmos firmes
e confortáveis em qualquer assento que adotarmos.
Ainda que alguém afirmar que
para se tornar um sábio você deve sentar por longos períodos em padmásana e que isso é apenas uma questão de
prática, tome cuidado, pois essa atitude pode ser apenas sinal de certa ignorância em
relação à necessidade de respeitar os limites biológicos de cada corpo e aos
potenciais efeitos negativos do ásana.
Harih Om!
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