25 de junho de 2014

MINHA AMIGA PRATICA YOGA, EU TAMBÉM! – PARTE 27




HUMBERTO MENEGHIN


Após um OM sonoro que parecia não acabar mais, Lili exibiu seu melhor sorriso dizendo: “Lindeza ouvir um OM sincero vindo do fundo do coração, essa vibração secular faz mágica, sabia? Um mestre Hinduísta dos Himalaias costumava entoar dentro da caverna que vivia e curiosamente após anos uma rocha dentro dessa mesma caverna moldou o OM. Mágico isso, né? Essa caverna, esse OM, vamos meditar lá dentro, vocês comigo, reviveremos a sintonia desse mestre amadinho, privilégio exclusivo de quem for comigo pra Índia na viagem que eu estou organizando. Falem com a Tati da Cambuí Travel Trips Viagens. Reservem seus lugares. Amooo! ...” parou por um momento notando Neuzinha entrar atrasada. Repreendendo-a, Lili soltou: “Mas isso são horas, minha linda! Não tolero atrasos aqui na minha sangha, viu? Será que eu vou ter que puxar a sua orelha para que isso não aconteça mais?” Sem jeito, Neuzinha devolveu: “Desculpa, professora. Tive um imprevisto.” Levantando-se, Lili aproximou-se de Neuzinha e lhe deu um abraço: “Tá perdoada, meu anjo. Vai lá, estenda seu tapetinho pra gente continuar a aula. Mas, depois, conversaremos no final, entendeu?”


Neuzinha retardatária pegou o espaço ao meu lado e Lili nos levou a fazer vinyasas misturados a Suryas que logo já começaram a me cansar. Andando de um lado para o outro da sala com um smartphone em punho, aquela professora de Yoga ia tirando várias fotos de quem estava lá praticando para dizer: “Mandei, mandei ... agora vocês estão no meu Instagram, #YogaLiliBombando e no Face! Curtam. Curtam horrores!”








A prática prosseguiu até que fluída, mas eu não estava me sentindo bem com o jeito como Lili conduzia a aula, pois, muitas vezes quando ela pegava alguém fazendo alguma postura de forma incorreta, repreendia bruscamente, corrigindo, para em seguida falar uma palavra “carinhosa” tipo: “Assim que a tia gosta, meu amor”. “Agora sim, linda!” “Vai pra Índia comigo, confirmado! Amei, viu? Verinha, fala comigo depois; tá arrasando hoje, Santa !”


Posturas para cá e para lá, eu tentava imaginar como estaria sendo a prática com aquele novo professor, Nando, na sala ao lado, onde os dissidentes desta estavam praticando. Será que ele estava sendo melhor que a Lili? Vou perguntar depois para o Paulo Roberto. Então, ouvi a professora dizer: “Momento shavásna, meus amores! Deitem-se, aconcheguem-se. Se dormirem, não ronquem, entenderam?”


E Lili colocou uma das músicas da Enya; mas, o som estava tão alto que buscar qualquer tipo de relaxamento daquele jeito não estava dando. Então, ouvi alguém dizer para que ela diminuísse o volume; mas, ao invés disso, Lili simplesmente eliminou a trilha sonora e começou a falar num tom médio de voz: “Soltem-se, percebam o Ser latente, soltem-se. Aquele Ser que busca a paz, que se regozija com a beleza que a cada um pertence.”


Minutos passavam arrastando-se e de repente a ouvi dizer: “Agora acordem, o shavásana está bom, mas levantem-se, meu povo, levantem-se que nós vamos meditar. Vamos, vamos lá, a pamonha não é de Piracicaba como estão dizendo aí fora no caminhão que passa. Ninguém quer comer essa droga de  pamonha agora! – berrava Lili janela a fora. –“Silêncio, gente! Saiam daqui que vocês estão perturbando a minha sangha!”


Acomodamos para meditar, mas ainda podíamos ouvir a gravação contínua da voz de uma mulher num autofalante de um veículo que passava na rua em frente, anunciando a venda das pamonhas de Piracicaba, fresquinhas, quentinhas, feitas do puro creme de milho verde... as pamonhas de Piracicaba, Piracicabaaaa!!!


Harih Om

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