7 de abril de 2014

MINHA AMIGA PRATICA YOGA, EU TAMBÉM! – PARTE VINTE CINCO




HUMBERTO MENEGHIN


Logo que voltei do almoço notei um alvoroço de pessoas no andar onde trabalhava. Eram três moças e dois rapazes com cerca de duas décadas de idade e todos eles mexiam em seus smartphones enquanto uma ou outra conversava. Interrompendo-os, Marinice pediu que todos puxassem algumas cadeiras e sentassem frente à mesa que ocupava. Sentindo-se muito importante, como se desse as rédeas no escritório, mesmo sendo secretária, ela me chamou dizendo: “Essa gente: estagiários. Aprovados pela Walkiria! Bruno, quem é? Júlia, Jessica, Vanessa, Maikon?” Cada um ia se identificando. “Vocês precisam assinar um contratinho”. E, então, fiquei sabendo que a Júlia iria ser a minha estagiária.


Não fui com a cara da Júlia desde o primeiro momento que a vi, pois me passava certa rebeldia no olhar. Além disso, reprovei a forma como se vestia: Júlia usava uma blusa curta que se prendia aos ombros por alcinhas e deixava o abdômen e a região lombar à vista evidenciando a tatuagem de uma rosa. Para completar a calça de tecido branco era bem ousada. Como alguém que vai estagiar num escritório de grande porte e importância pode vir assim vestida? Ah, Júlia ainda usava sandálias plataforma.


Expliquei para ela como eram os procedimentos básicos do serviço e enquanto falava notava que Júlia não tirava os olhos da imagem da minha mestra, Indianira Shanti Ma, na tela do meu monitor, parecendo que não estava prestando a mínima atenção no que eu dizia.


Então, Julia olhou para mim perguntando: “Que mulher estranha! Quem é?” Respondi dizendo que ela estava diante da imagem da minha amada mestra, não dando maiores detalhes. De repente, ouvi Marinice berrar chamando o faz tudo do escritório: “Mizaaaeeelll, Mizaaaeeelll, Mizaaeeelll!” que logo em seguida apareceu pegou algo e se foi.







Olhando para nós, Marinice se aproximou falando: “Já mandei os outros estagiários lá para baixo. Você menina, teve a sorte de ficar aqui em cima onde é bem melhor, entendeu? Sabe aquela estória de que o estagiário é que sempre leva a culpa por qualquer erro? Presta atenção no que faz, viu! Por que a culpa pode recair em você, estagiária!” Jogou Marinice soltando uma risada audível, dando as costas, saindo de imediato.


Júlia mostrou a língua para ela, que não percebeu. E, eu ri disso. A tarde passou tão arrastada que eu não consegui dar conta de nada pois aquela estagiária tinha muita dificuldade em se concentrar em qualquer tarefa que eu passava para ela, errando muito e até mesmo esquecendo um documento num lugar pouco provável de se encontrar: perto da cafeteira, na pequena cozinha do escritório. Relapsa, desorganizada eu já estava prestes a pedir uma troca; mas, resolvi dar mais uma chance para Júlia, quem sabe amanhã ela estaria mais concentrada no serviço?


Júlia foi embora às cinco e lá da mesa que ocupava, Marinice perguntou-me em voz alta se eu queria dar uma olhada nas revistinhas da Natura e da Avon que a porteira do edifício havia deixado para as interessadas comprarem algum produto. Dispensei logo de cara, ao mesmo tempo em que via o Dr. Oriovaldo adentrar no ambiente, todo agitado, perguntando se alguém havia visto a caneta Sheaffer dele, folheada a ouro, que jurava ter deixado numa mesa perto da fotocopiadora.








Muito nervoso com a perda, Dr. Oriovaldo cujo cabelo era totalmente grisalho falou que a tal caneta Sheaffer fazia parte da sua coleção de 400 canetas. “Sou muito apegado às minhas canetas, preciso achar essa aí logo pois é muito rara, valiosa, valiosíssima ... é só pegar para usar que acontece isso! Não vou dormir direito até achar a minha caneta Sheaffer! Será que eu fui roubado? Não quero tomar providências mais drásticas!!!” disse abertamente como se acusasse alguém pelo fato.


Depois que o Dr. Oriovaldo se foi, Marinice veio até mim falando: “Foi você quem pegou a caneta Sheaffer do Dr. Oriovaldo? Eu não fui. Que mala sem alça esse homem!”


Não dei importância para o que ela disse e logo que faltavam cinco minutos para terminar a jornada, notei meu celular vibrar e então soube que a Claudinha estava me ligando. O que será que a Clauidinha queria comigo? Atendi e a Claudinha me disse que gostaria de ter uma conversa pessoal, só nós duas, depois da prática de Yoga desta noite.


Harih Om

Nenhum comentário:

Postar um comentário