HUMBERTO MENEGHIN
Logo que voltei do almoço notei um
alvoroço de pessoas no andar onde trabalhava. Eram três moças e dois rapazes
com cerca de duas décadas de idade e todos eles mexiam em seus smartphones enquanto uma ou outra
conversava. Interrompendo-os, Marinice pediu que todos puxassem algumas
cadeiras e sentassem frente à mesa que ocupava. Sentindo-se muito importante,
como se desse as rédeas no escritório, mesmo sendo secretária, ela me chamou
dizendo: “Essa gente: estagiários. Aprovados pela Walkiria! Bruno, quem é?
Júlia, Jessica, Vanessa, Maikon?” Cada um ia se identificando. “Vocês precisam
assinar um contratinho”. E, então,
fiquei sabendo que a Júlia iria ser a minha estagiária.
Não fui com a cara da Júlia desde o
primeiro momento que a vi, pois me passava certa rebeldia no olhar. Além disso,
reprovei a forma como se vestia: Júlia usava uma blusa curta que se prendia aos
ombros por alcinhas e deixava o abdômen e a região lombar à vista evidenciando a
tatuagem de uma rosa. Para completar a calça de tecido branco era bem ousada.
Como alguém que vai estagiar num escritório de grande porte e importância pode
vir assim vestida? Ah, Júlia ainda usava sandálias plataforma.
Expliquei para ela como eram os procedimentos
básicos do serviço e enquanto falava notava que Júlia não tirava os olhos da
imagem da minha mestra, Indianira Shanti Ma, na tela do meu monitor, parecendo
que não estava prestando a mínima atenção no que eu dizia.
Então, Julia olhou para mim perguntando: “Que
mulher estranha! Quem é?” Respondi dizendo que ela estava diante da imagem da
minha amada mestra, não dando maiores detalhes. De repente, ouvi Marinice
berrar chamando o faz tudo do escritório: “Mizaaaeeelll, Mizaaaeeelll, Mizaaeeelll!”
que logo em seguida apareceu pegou algo e se foi.
Olhando para nós, Marinice se aproximou
falando: “Já mandei os outros estagiários lá para baixo. Você menina, teve a sorte
de ficar aqui em cima onde é bem melhor, entendeu? Sabe aquela estória de que o
estagiário é que sempre leva a culpa por qualquer erro? Presta atenção no que
faz, viu! Por que a culpa pode recair em você, estagiária!” Jogou Marinice soltando
uma risada audível, dando as costas, saindo de imediato.
Júlia mostrou a língua para ela, que não percebeu.
E, eu ri disso. A tarde passou tão arrastada que eu não consegui dar conta de
nada pois aquela estagiária tinha muita dificuldade em se concentrar em
qualquer tarefa que eu passava para ela, errando muito e até mesmo esquecendo
um documento num lugar pouco provável de se encontrar: perto da cafeteira, na
pequena cozinha do escritório. Relapsa, desorganizada eu já estava prestes a pedir
uma troca; mas, resolvi dar mais uma chance para Júlia, quem sabe amanhã ela
estaria mais concentrada no serviço?
Júlia foi embora às cinco e lá da mesa
que ocupava, Marinice perguntou-me em voz alta se eu queria dar uma olhada nas
revistinhas da Natura e da Avon que a porteira do edifício havia deixado para
as interessadas comprarem algum produto. Dispensei logo de cara, ao mesmo tempo
em que via o Dr. Oriovaldo adentrar no ambiente, todo agitado, perguntando se
alguém havia visto a caneta Sheaffer
dele, folheada a ouro, que jurava ter deixado numa mesa perto da fotocopiadora.
Muito nervoso com a perda, Dr. Oriovaldo
cujo cabelo era totalmente grisalho falou que a tal caneta Sheaffer fazia parte da sua coleção de 400 canetas. “Sou muito
apegado às minhas canetas, preciso achar essa aí logo pois é muito rara, valiosa,
valiosíssima ... é só pegar para usar que acontece isso! Não vou dormir direito
até achar a minha caneta Sheaffer!
Será que eu fui roubado? Não quero tomar providências mais drásticas!!!” disse
abertamente como se acusasse alguém pelo fato.
Depois que o Dr. Oriovaldo se foi, Marinice
veio até mim falando: “Foi você quem pegou a caneta Sheaffer do Dr. Oriovaldo? Eu não fui. Que mala sem alça esse
homem!”
Não dei importância para o que ela disse
e logo que faltavam cinco minutos para terminar a jornada, notei meu celular
vibrar e então soube que a Claudinha estava me ligando. O que será que a
Clauidinha queria comigo? Atendi e a Claudinha me disse que gostaria de ter uma
conversa pessoal, só nós duas, depois da prática de Yoga desta noite.
Harih
Om!
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