HUMBERTO MENEGHIN
Lili nem parecia ter notado a nossa
presença, pois continuava absorta numa conversação ao celular repetindo várias
vezes a palavra “entendi” e quando não dizia isso comia o hambúrguer que segurava com a outra mão. Como se demorasse um pouco para nos
reconhecer, mesmo tendo acabado de nos dar uma prática de Yoga, Lili, abriu um
sorriso contendo ainda pequenos pedaços de
hambúrguer entre alguns dos dentes, fechou o celular e disse: “Fazem Yoga,
mas não dispensam o fast food?
Simone segurando uma bandeja farta disse
de volta: “Pensei que você fosse vegetariana?” E, pegando a bolsa que estava
sobre a mesa encostada à janela, Lili respondeu: “Nem aqui, nem na China. Não
vivo sem um bom churrasco todo fim de semana. Amo muito tudo isso! Entenderam?”
“Mas você é professora de Yoga, a maioria
dos professores e até alguns praticantes são vegetarianos.” – falou Kika
segurando um pequeno pacote de batatas fritas numa das mãos.
“Ih, não estou nessa, bebo, como carne,
pinto e bordo. E será mesmo que toda essa gente que se diz vegetariano, da Paz
não fazem o mesmo que eu faço ou até pior? Já me contaram cada uma de arrepiar...
Não ponho as minhas mãos no fogo por ninguém.” – e colocando o dedo indicador
embaixo da pálpebra direita ainda disse: – “Este é amigo deste, entenderam?” –
referindo-se aos olhos. – “Final do ano vou pra Índia, planejo levar um grupo
comigo; o grupo Samadhi da professora
Lili. Já estou em contato com uma agência de viagens organizadora. Quero que
vocês três viagem comigo, vocês são da Yoga, minhas lindas, tem samadhi no sangue. E, é de gente assim
que eu gosto. Vocês aproveitaram bem a minha aula, alguns não gostaram, mas sei
que vocês duas adoraram. Entendeu?”
Já havia passado das dez, Lili apontou o
indicador para nós e ainda falou:
“O homem nasceu puro, desde o momento que
abriu os olhos e mesclou-se com a humanidade a ambição, a licenciosidade
mundana, guerras e outras coisas mais fizeram com que ele se tornasse
descontente, insatisfeito com a sua vida. Muitos recorreram às coisas frugais,
prazeres transitórios que nem sempre o preencheram. A sabedoria que nós
buscamos já está em nós mesmos, entenderam? A Luz que brilha no nosso interior,
já vem brilhando há muito tempo. O yogi é um Ser especial, eu sou uma yogini,
tenho sabedoria de sobra para compartilhar com vocês que tem um lugarzinho
garantido no fundo do meu coração. Lindas, preciso ir, que peninha! Adoro vocês
e as vejo na minha próxima prática. Pensem sobre a Índia, vamos nos iluminar na
Índia, atingir muitos samadhis na
Terra mãe!”
Harih
Om!
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