1 de janeiro de 2014

O CONHECIMENTO LIBERTA, A IGNORÂNCIA ESCRAVIZA?





HUMBERTO MENEGHIN


“Só o conhecimento te liberta, a ignorância te escraviza”, é a frase que estava escrita em um post it, amassado, da cor amarela, encontrado no fundo do bolso de uma poltrona de avião.  Mas, o que levou alguém deixar essa mensagem nesse post it dentro do bolso de uma poltrona de avião para depois ser encontrada por um outro alguém que estuda Vedanta? Geralmente quando se viaja de avião é mais fácil depositar lixo no bolso da poltrona da frente do que vasculhar para encontrar algo, a não ser para pegar a revista de bordo ou por curiosidade dar uma olhada naquele cartão da aeronave que mostra quando foi feita a revisão e onde estão as saídas de emergências. No entanto, indo mais a fundo, foi encontrado esse post it amassado que por curiosidade foi aberto, vindo à tona a mensagem sincronizada.






Não é preciso ser ignorante para saber que quando alguém adquire conhecimento sobre algo que antes era obscuro e trazia dúvida ocorre, como consequência, a dissipação da ignorância sobre aquilo que era desconhecido.

Quando se ganha a primeira bicicleta, geralmente a criança não sabe andar com ela; então, aos poucos através dos órgãos dos sentidos ela vai tomando conhecimento do mecanismo daquele veículo de duas rodas que também é usado por outras crianças com aparente facilidade e mesmo que nas primeiras pedaladas caia, levanta-se e continua tentando até conseguir o equilíbrio pleno e o poder andar com a bicicleta de um lado para o outro sem cair.




Nesse caso, para a criança, o não saber andar de bicicleta era uma ação permeada pela ignorância; no entanto, a partir do momento que essa ignorância passou a ser dirimida através da ação de aprender a andar de bicicleta, esse conhecimento libertou o pequeno ciclista, ou seja, a criança passou a não se sentir mais aprisionada, limitada, nem ceifada em sua liberdade por não saber andar de bicicleta.

Outro exemplo é quando viajamos para um lugar desconhecido, um país distante como a Austrália. Mesmo que o viajante já tenha visto inúmeras fotos e filmes sobre a Austrália, ele não conhece o país na sua realidade; ou seja, o país Austrália ainda é para o viajante “desconhecido”, eivado de ignorância, longe, muito distante.






Então, esse viajante vai para a Austrália, chega a Sidney, pensando até que é a capital do país.  No entanto, ao passo que a ignorância quanto a esse novo pais vai diminuindo, nota que as pessoas falam um inglês carregado, meio caipira, também muito trabalhoso de se compreender mesmo para quem fala com fluência a língua inglesa e ainda passa a saber que a capital é Camberra.

Adicionado a isso, outras coisas mais que não tinha conhecimento começam a ser reveladas:  os veículos andam na mão inglesa, boa parte dos australianos se mostram simpáticos e amigáveis, além de grandes consumidores de bebidas alcoólicas e que em Ayers RockUluru, tem muito mosquito.







Aos poucos, mesmo com a grande diferença de horas, o país Austrália em si, deixou de ser desconhecido e de fazer parte do rol de ignorância do viajante, pois este fazendo pleno uso de seus órgãos do sentido, como a visão, audição, paladar, olfato e tato, por lá tomou o conhecimento necessário quanto ao que antes era apenas conhecido superficialmente através de informações e imagens.

O mesmo ainda acontece quando um novo ásana é apresentado ao praticante durante uma aula de Yoga. Primeiro o professor ou professora demonstra como construir a postura, falando sobre seus benefícios e interferência anatômica no físico e assim o vendo os praticantes passam a imitá-lo.






De uma forma paralela todos parecem executar o novo ásana perfeitamente, mas como cada um é diferente do outro há certas peculiaridades. Uns o fazem com facilidade, outros nem tanto, mas ao final sabem que o ásana que antes era totalmente desconhecido agora não o é e poderá ser repetido várias vezes sem que haja qualquer ignorância quanto a sua execução.

Várias situações dentre as que foram citadas e outras mais vão se apresentando pela vida continuamente, as quais possibilitam o mumukshu, aquele que busca a liberação, saber como tirar proveito de cada evento para se liberar daquilo que o limita.

No entanto, esse mesmo mumukshu quer realizar seus desejos e ser feliz; seja aprendendo a andar de bicicleta, viajando pela a Austrália ou até executando um novo ásana; mas, na maioria das vezes alguns desses desejos não são realizados e por certos momentos não há felicidade e a limitação continua presente e a ignorância também. Dedicando-se ao estudo das escrituras, aquele que busca a liberação começa a perceber que o papel do Vedanta é revelar o Ser.

Através de palavras bem colocadas, o professor qualificado ao ensino de Vedanta vai revelando ao estudante, pouco a pouco, que além de ser dotado de consciência, ele precisa se reconhecer como alguém completo em si mesmo.






Como todo ser humano, ele é imperfeito e constantemente se vê escravizado por seus desejos. No entanto, mesmo que os desejos que nutre sejam mutáveis, ou seja, se modificam durante a vida, nota que são diferentes de uma pessoa para a outra; contudo, há um desejo ardente que é constante, universal e inato a todos: o desejo de ser feliz.

Felicidades transitórias sempre acontecem de quando em quando, mas aquele que busca o conhecimento da verdade, que se sente limitado, não quer apenas vivenciar felicidades bipartidas, mas sim aquela felicidade plena, onde não haja qualquer tipo de limitação.

Parcialmente compreendendo que para dissipar a ignorância que o impede de conhecer a si mesmo, se dedica ao estudo de Vedanta, necessariamente com um professor ou professora qualificada no tema, pois que, somente ele ou ela saberá através da devida colocação das palavras transmitir a sabedoria que tem por fim precípuo o conhecimento do Ser.

Assim, no seu devido tempo, o conhecimento adquirido do professor irá contribuir para libertar de uma forma contínua aquele que por ora se sente aprisionado e escravizado pela ignorância. E como um gêiser que está prestes a eclodir das entranhas da terra descobrirá que o Ser já é livre; no entanto, só lhe resta compreender isso.


Harih Om!


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