1 de abril de 2013

YOGA EM VOGA ENTREVISTA – GUSTAVO SCHIMMING



HUMBERTO MENEGHIN


YV Fisioterapia e Educação Física são os cursos que você se graduou na Universidade e posteriormente você se dedicou ao estudo e a prática do Pilates para também o Yoga se fazer presente na sua vida. Como aconteceu essa transição no sentido de o Yoga, o Vedanta e o Sânscrito ocuparem um lugar importante e significativo em seu caminho? O que o levou a eles? Incentivo por parte de alguém ou foi uma escolha que se apresentou a você de uma forma natural?

GUSTAVO – Desde a morte do meu pai em 2001 comecei a questionar o sentido da palavra "Deus", comecei a entrar em contato com o maior numero de informação possível que apresentasse os temas religião e espiritualidade. Somando a esta busca, meu grande interesse por atividades físicas levaram-me a prática do Yoga como mais uma forma de me exercitar. O maior objetivo com o Yoga, neste período, era deixar o corpo físico mais forte e resistente. Desde então comecei a morar fora do país ainda como uma forma, apesar de inconsciente, de compreender "Deus". Estava exercendo o livre arbítrio me deixando guiar pela liberdade de expressão que tomou conta da minha vida. Após alguns anos morando fora e continuamente lendo sobre espiritualidade, a visão que se estabeleceu sobre "Deus" naturalmente ampliou-se.


Em um determinado ponto da minha vida, fui impedido de seguir morando fora. Neste momento parei para pensar no que faria a partir dali. Na época estava praticando Yoga intensamente, e em um desses dias, ainda resolvendo o que faria da vida, subitamente, após uma prática, me veio a ideia de ir para Índia. Perguntei na recepção do local onde praticava, se alguém poderia me indicar algum lugar para ir praticar Yoga na Índia. A recepcionista me apontou um professor e fui falar com ele. O professor me passou o link do local para onde ele estava indo. Chegando em casa entrei no link e imediatamente preenchi o formulário para fazer os cursos oferecidos no 'Ashram', e alguns dias depois já tinha comprado a passagem aérea.

O que não tinha percebido, e não prestei a devida atenção naquele momento, foi que o "curso" que tinha me inscrito não era sobre 'Yogasana' (posturas físicas) como havia imaginado ao inscrever-me, eram "cursos" (camps) de Vedanta, mas só fui me dar conta já lá no 'Ashram', na Índia. Inicialmente não entendi do que se tratava, mas aos poucos, a partir do momento em que ia compreendendo, a sensação que dava era a de um reencontro, um enorme reencontro. Uma sensação de que tinha encontrado algo que nem sabia estar buscando, e que ao mesmo tempo já conhecia tanto, tomou conta de mim. Foi amor ao primeiro contato, tudo o que estava sendo falado era como se já viesse escutando há muito tempo. A apreciação, a admiração, o respeito, o valor, a identificação, que existia em mim em relação ao ensinamento transmitido, era maior do que qualquer outra coisa que tivesse entrado em contato até o momento.

Tinha ido para Índia para ficar um período de 2 semanas e acabei ficando 3 meses. Estudei muito sobre Yoga, quer dizer, Vedanta. Ao final dos 'camps' de Vedanta e com a certeza de que tinha encontrado algo com o que trabalhar, aprender e ensinar, fiz a primeira formação em Yoga, Iyengar Yoga, onde, além de técnicas de 'asana', 'pranayama' e etc, tive o primeiro contato com o alfabeto 'devanagari', da língua sânscrito.

Retornei ao Brasil em abril de 2007 e comecei a dar aulas no Rio de Janeiro. Continuei os estudos de Vedanta e sânscrito no Vidya Mandir. Em 2008 fiz mais uma formação, dessa vez, no Brasil mesmo.  




 YV – Algumas pessoas confundem Pilates com Yoga e vice-versa. Até que ponto o Pilates pode ser um aliado daquelas pessoas que também se dedicam a pratica de ásanas do Yoga? Você acha que se alguém somente se dedicar ao Pilates e de modo algum praticar Yoga, mas paralelamente se esforçar para apurar o seu lado espiritual e até mesmo buscar conhecimento no estudo das escrituras e do Vedanta também pode colher os mesmos benefícios de quem está absolutamente mergulhado no Yoga? Será que o Pilates anda atraindo muitas pessoas que poderiam estar praticando ásanas do Yoga ou isso não condiz com a realidade dos fatos?

GUSTAVO – O Pilates foi desenvolvido por uma pessoa que era envolvida com a atividade física, esporte, artes marciais e circenses, dança, e que trabalhou como enfermeiro. Então, era alguém que conhecia muito a respeito do corpo e do movimento deste, e consequentemente, sobre consciência respiratória e sua correlação com o movimento do corpo. Assim como os 'yogasana', o Pilates é um método que desenvolve muita consciência corporal, a percepção das diferentes partes do corpo, suas funções e sensações. Trabalha ampliando a coordenação, equilíbrio, força, resistência muscular localizada, flexibilidade e etc (valências físicas). É uma opção excelente como prática complementar. O que pode ser feito, é aplicar a consciência corporal adquirida na prática do Pilates, na prática de 'yogasana', e aplicar a atitude de Yoga, na prática do Pilates.

 O Pilates, assim como qualquer outra atividade física, se for praticado como uma forma de aplicar, vivenciar o que foi aprendido no estudo do Vedanta, se for praticada com uma atitude de autoconhecimento, os frutos também serão colhidos.

Para avaliar se uma prática atrai mais ou menos pessoas do que a outra, é necessário, primeiramente, definir realmente o que se entende por 'yogasana' e o que é o Pilates, para então avaliarmos se são comparáveis de fato. Se virmos as duas práticas apenas como atividades físicas, sim, elas irão compartilhar do mesmo público.  



YV – Você é do Rio de Janeiro e atualmente vive em Florianópolis/SC e nas horas de lazer se dedica ao Surf. Muitos praticantes de Yoga e até mesmo alguns professores adoram surfar. Todo surfista é um yogi em potencial ou essa premissa não condiz com a realidade dos fatos? De que maneira a prática de ásanas pode contribuir para ajudar na performance daquele que surfa? O ato de surfar pode ser considerado uma meditação em movimento? Como você vê a moda de se praticar ásanas sobre a prancha SUP?

GUSTAVO – De algum ponto de vista, todos os surfistas, todas as pessoas são 'yogis' em potencial. Se, por exemplo, o surfista age com não-violência dentro do mar, em uma determinada situação, naquele instante, ele foi um 'yogi'. A prática de 'yogasana', como dito anteriormente, também pode desenvolver as valências físicas e a consciência corporal. E como o surfista, assim como qualquer praticante de outra modalidade esportiva, precisa deste desenvolvimento para melhorar seu desempenho, podemos dizer que quanto mais prática, melhor será a performance.




Se a palavra 'meditação' for vista como um momento de plenitude, podemos dizer que surfar torna-se uma meditação a partir do momento em que surfista (Consciência testemunha), onda (objeto de percepção) e a identidade entre eles (conhecimento) tornam-se um só. O momento que mais representa esta "meditação" é quando o surfista está dentro da onda, em uma manobra chamada de 'tubo'.

Yoga é uma atitude que temos enquanto agimos, uma atitude presente quando fazemos nossas ações, então pode ser praticado em qualquer lugar, em qualquer época, a qualquer momento. Existe toda uma tradição e todo um ensinamento que deve ser respeitado. Praticar 'yogasana' envolve todo um ritual, admiração, postura, atitude e respeito, no qual o objetivo é libertar-se, conhecer-se. O foco é o 'Eu', 'Quem sou eu?', 'O que quero realmente conquistar nessa vida?'.

YV – De toda a sua bagagem cultural, que engloba estudos, especializações, experiências, vivências e práticas aqui e no exterior, você percorre o Brasil e já percorreu alguns países ministrando workshops sobre temas muitos úteis àqueles que se interessam pelo estudo e a prática do Yoga. Dentre os cursos/workshops que você nos brinda estão: “Anatomia e Cinesiologia aplicadas ao Hatha Yoga” e “AHIMSA (não-violencia) – Uma abordagem Anatômica e Biomecânica do Hatha-Yoga”. Por que você escolheu esses temas para serem compartilhados com as pessoas que se interessam pelo Yoga além do tapetinho? Qual é a melhor maneira de o praticante desenvolver a consciência e a percepção corporal no sentido de evitar lesões durante a prática de ásanas? Para os leigos, por favor, defina o que é Cinesiologia, Biomecânica e Propriocepção.  Já o convidaram para gravar um DVD sobre seus workshops?

GUSTAVO – Desde sempre estou envolvido com as atividades físicas em geral, isto me deu a bagagem prática do movimento corporal, da respiração, da inter-relação entre elas, e da inter-relação movimento, respiração e emoção/sentimentos. Este grande envolvimento trouxe lesões, seus tratamentos e suas prevenções que, mais adiante, colaboraram muito para que eu compreendesse a parte teórica, durante minha formação e especialização, quando me foi apresentada.  Ao entrar em contato com o Yoga/Vedanta, tive a oportunidade de me conhecer mais, e com isso reconhecer certos padrões de pensamento, de movimento, de comportamento, e que muitas vezes foram a causa de minhas lesões. O Yoga me trouxe outro ponto de vista, outra forma de ver a vida, de me relacionar com ela, uma forma menos "violenta", mais consciente, mais objetiva Então, escolhi os temas que mais tenho conhecimento teórico-prático para que, por meio destes, possa fazer com que haja a compreensão do que vem a ser o Yoga. Para que, através do físico, possa se compreender o sutil. É a melhor ferramenta que me foi dada para transmissão do conhecimento. A melhor maneira de evitar lesões é, primeiro, saber o que de fato significa Yoga, segundo, estudar a teoria sobre o corpo humano (livros, cursos, etc) e, terceiro, aplicar a teoria na prática.

Cinesiologia é o estudo do movimento. Desenvolveu-se a partir da fascinação dos seres humanos pelo movimento animal. Combina teorias e princípios de anatomia, fisiologia, física, mecânica, matemática, psicologia e antropologia.

Biomecânica é a aplicação da mecânica, ciência que estuda o movimento e o repouso dos corpos, no corpo humano vivo.

Propriocepção é como se fosse um sexto sentido, é determinada por receptores de movimento, responsáveis por respostas locomotoras e posturais. Dão a localização do corpo no espaço e preparam o corpo de acordo com a demanda de movimento específico.

 Em 2010, na Índia e em Portugal, quando ministrei os cursos, me perguntaram se gostaria de gravar o workshop, mas não o fiz.








YV Você acha que aqui no Brasil há uma carência de professores comprometidos e especializados em Anatomia voltada ao Yoga? Ou esse assunto ainda não merece a devida atenção em algumas Formações para Professores de Yoga que nos deparamos por aí? 

GUSTAVO – Existe uma carência de professores com embasamento, que possam realmente direcionar uma prática com um mínimo de segurança para evitar lesões. Uma importante questão é como avaliar e quem são aqueles que poderiam julgar o quão apto e preparado estariam os instrutores. É importante também que nós estejamos conscientes da responsabilidade, das consequências que uma prática de 'yogasanas', pode trazer para o corpo de um indivíduo. Quanto mais conhecimento, neste caso, anatômico, um instrutor adquirir, mais ciente estará da responsabilidade que acompanha o papel de professor.

A anatomia, assim como a fisiologia humana e a cinesiologia, são disciplinas que merecem tanta atenção quanto quaisquer outras associadas ao Yoga. Penso que existe outra carência em paralelo, e que, se resolvida, poderia suprir um pouco a falta de embasamento anatômico. É a falta de compreensão a respeito do que é Yoga, do que significa 'ahimsa'.




YV – Em 2012, o The New York Times, publicou um artigo escrito por William J. Broad, cujo assunto também foi abordado em seu livro The Science of Yoga, onde ele sustenta que a prática do Yoga danifica o corpo do praticante e que em alguns casos pode até causar a morte. Essas alegações abalaram a Comunidade do Yoga.  Na sua opinião, você acha que Broad exagerou? Ou ele tem, de certa forma, um pouco de razão?

GUSTAVO – Este artigo deveria ser lido por todos aqueles que, de uma forma ou outra, tem alguma ligação com o Yoga. Dizer que a prática do Yoga danifica o corpo não é um fato, sabendo que Yoga é uma atitude por trás das nossas ações, uma atitude ética e moral que rege nossas ações. Esta atitude envolve o princípio da não-violência que, abrangendo o cuidado com o corpo físico, deveria estar presente. A falta de cuidado, desconsiderando minhas limitações físicas prévias e possíveis lesões decorrentes de uma prática de negligência, isto sim, deve ter uma atenção especial.  Não é o Yoga que danifica o corpo, e sim, a atitude com a qual este é praticado.


YV – Além de ser professor de Yoga e fisioterapeuta, você é professor de Educação Física e foi aprovado em um concurdo público da Prefeitura de Lajes/SC para ministrar aulas de Educação Física voltadas a Programas Sociais. De que modo esta ação tem influenciado de forma positiva e produtiva na vida dos alunos que tem o privilégio de tê-lo como professor? Há uma pitada de Yoga nas aulas?

GUSTAVO – O concurso que prestei em Lajes/SC foi feito em uma época que tinha decidido morar em Urubici/SC. O resultado positivo saiu em paralelo com a decisão de voltar a morar em Florianópolis/SC. Então, não cheguei a assumir o cargo. Todo e qualquer trabalho que realizo tem uma pitada de Yoga.

YV – Tanto o praticante que é idoso quanto a criança, além dos que tem alguma limitação na saúde, merecem atenção redobrada durante uma prática de Yoga; no entanto, alguns professores não dispensam a devida atenção. No seu ponto de vista, quais os cuidados essenciais que um professor de Yoga deve aplicar para que esses praticantes possam desfrutar do momento da prática sem que seus corpos sejam exigidos em demasiado?

GUSTAVO – Entendendo uma prática de Yoga como uma prática de 'Yogasana', o cuidado essencial é a aplicação de 'ahimsa', a não violência. No caso dos idosos é importante fazer o aprofundamento teórico das consequências do tempo sobre o corpo humano. O corpo de um idoso é, em geral, naturalmente mais frágil, então, a prática deve ser direcionada para manutenção da qualidade de vida e sempre dentro da limitação física de cada indivíduo. Para as crianças devemos manter o foco no desenvolvimento de valores éticos e morais. Sobre a parte de 'Yogasanas', demonstrar as posturas sem exigir que devam ser feitas como fazemos. Deixá-las livres para se expressar e sempre que virmos que existe algum exagero, alguma ação que possa acarretar lesões ou desvios posturais futuros, orientá-las a fazer diferente.




YV – Gloria Arieira, Swami Dayananda Saraswati são os professores que você escolheu para aprimorar o conhecimento de Vedanta e Sânscrito. Como você vê a sua evolução como estudante? O que mudou na sua vida a partir do momento que o conhecimento Védico começou a aflorar em você? Quais as escrituras ou texto de Vedanta que o inspiram, por considerá-los importante, e que não podem ser deixados de fora do estudo daquele que se inicia?

GUSTAVO – A evolução de um estudante está diretamente ligada ao tempo despendido e ao compromisso com o conhecimento estudado. Assumi um compromisso com o conhecimento Védico no sentido de me manter sempre o estudando, o transmitindo, e em contato com o guru. O conhecimento Védico tem um valor incomensurável na minha vida pessoal, foi um divisor de águas. A atitude com a qual faço as ações, o ponto de vista do qual enxergo a vida, a maneira como interpreto as situações que se apresentam, como me relaciono, como tomo as decisões, como faço as escolhas, como ensino, como faço uso do livre arbítrio, tudo mudou, ampliou.  Este conhecimento me apresentou o valor dos valores. Todas as escrituras de Vedanta e textos relacionados carregam a mesma mensagem abordada de maneiras diferentes. O Vedanta é inspirador, realizador e, principalmente, libertador. Não existem textos a serem deixados de fora, pois todos transmitem em essência a mesma verdade. A coluna central deste conhecimento se encontra nas Upanishads, e os textos mais indicados para iniciar seu estudo são Tattvabodha, Atmabodha  e Bhagavad Gita.

'Ekam sadvipra bahudha vadanti' (Rig Veda)
 
A Verdade é Uma; os sábios A chamam de diferentes maneiras.




YV – Com qual ou quais Deuses Hindus você sente que tem uma afinidade especial? Já aconteceu alguma situação em relação a um Deus ou Deusa do Hinduismo que lhe trouxe uma resposta significativa?

GUSTAVO – Os Deuses Hindus, cada um deles, carrega uma série de significados. 
 A deidade Ganesh pode representar a capacidade de transpor obstáculos, nos remete a nossa própria capacidade de transpor obstáculos na vida; Shiva representa o poder de destruição, o poder que temos de destruir tudo que leve ao desvio do objetivo traçado. A afinidade por Ganesh e Shiva é mais presente neste momento de vida, pois trazem a ideia da manutenção do caminho independente dos obstáculos que se apresentam, e o constante foco que destrói qualquer pensamento que desvie do caminho escolhido. Ao mantrar para Ganesh e/ou Shiva entro mais uma vez em contato com o compromisso que assumi. É um momento onde renovo o voto, o voto de viver consciente.    

YV – Como você vê a prática do Yoga no Brasil? Será que existem poucos praticantes para muitos professores? Ou o brasileiro, na sua grande maioria, ainda não despertou o devido e o real interesse pelo Yoga? E, qual é a boa dica de Gustavo Schimming para que o caminho do Yoga seja percorrido sem que haja vontade de se retornar à estaca zero?

GUSTAVO – Em geral, não só no Brasil como também fora dele onde tive a oportunidade de praticar e ensinar, o Yoga é apresentado como ginástica ou uma forma de relaxar e apaziguar a mente. O "boom" do Yoga em nosso país está relacionado a este ponto de vista. A maioria daqueles que tiveram contato com o Yoga conhece apenas esta visão. Vejo que aumentou o numero de professores que conhecem o Yoga de fato, aquele apresentado pelas escrituras, pelas Upanishad, pela Bhagavad Gita, pelo Yoga Sutras de Patanjali. E com isso aumenta consequentemente o numero de praticantes conscientes do Yoga. Existe uma ordem maior que rege o todo. O despertar e o interesse vêm no seu devido tempo, para tudo na vida. A dica é manter o conhecimento presente o máximo de tempo possível ao agirmos, fazer com que a atitude de Yoga abranja todas as áreas da nossa vida. Om.






SURFOPANISHAD


GUSTAVO SCHIMMING
artigo publicado originalmente na revista Yoga Journal Brasil e também no site http://www.yoga.pro.br

Num secret spot, um surfista velhinho se prepara na areia para surfar no seu pranchão. Algum tempo depois aparece um rapaz com sua pranchinha, rápida e moderna. O jovem assiste, pasmado, aos exercícios e movimentos que o ancião está fazendo para se aquecer.
Ao terminar, o velhinho senta de pernas cruzadas e fecha os olhos. O rapaz se aproxima curioso, senta-se ao lado dele e espera ansioso para fazer perguntas e conversar. Assim que o ancião abre os olhos, o jovem inicia um diálogo:
- Quem é você? - Indaga o rapaz.
- Sou Consciência - Disse o ancião.
- Porque está demorando tanto para entrar no mar?
- Apenas fluo, deixando o tempo passar naturalmente, sem ansiar para que ele passe mais depressa, sem me apegar e querer que ele ande mais devagar.
- Entendo, mas vamos surfar?
- Três são as possibilidades: surfar, não surfar, ou surfar de modo diferente...
Ambos entram no mar. Remando em direção às ondas, o rapaz pergunta:
- Como estará o surf?
- Quatro podem ser os resultados chegando lá: pode ser que as condições de surf estejam exatamente como esperamos, pode ser que estejam melhores do que imaginamos, pode ser que estejam piores, e pode ser que aconteça algo totalmente diferente do nosso plano de surfar. Independente desse resultado, mantenha a atitude de aceitação grata. Veja o mar e esta oportunidade de surfar, como presentes.
De repente, sobe uma série gigante e o rapaz, desesperado, pergunta:
- Você não tem medo de morrer?
- O medo da morte vem da identificação com o corpo, é ele quem morre. O Ser não morre. E aliás, veja a situação como ela é: ainda estamos no canal, meu jovem.
Logo depois, o rapaz pega uma onda e ao retornar diz:
- Estava perfeita, mas acabou muito rápido. Você não fica chateado com isso?
- Isso acontece sempre: é assim como qualquer outra experiência do mundo das dualidades: começa, acontece e acaba.
O rapaz, indignado, deixa passar muitas ondas a espera daquela mais perfeita que pensa sempre estar vindo. Muito tempo se passa, o ancião pega várias ondas e, ao retornar de uma delas, o rapaz fala:
- Não consigo escolher corretamente a minha onda: o que devo fazer?
- Quando temos a capacidade de escolher, existem coisas que nos atraem e outras que buscamos evitar. Esta é uma das qualidades responsável por nossos conflitos interiores e destes, surge o sofrimento. Pare de sofrer por um resultado futuro se pode ter um agora, no presente momento.
- Como você pode enxergar as coisas dessa forma tão sabia se você não é um monge, nem está num mosteiro?
- Espiritualidade e vida cotidiana são totalmente compatíveis. Partindo deste ponto de vista, surfo para compreender as leis naturais que regem a existência e para renovar o voto de viver consciente. Assim podemos viver uma vida feliz e livre de conflitos.
Neste mesmo momento, o ancião se despede do rapaz e pega uma bela onda. 
Exercendo a consciência testemunha, podemos observar a nossa paisagem mental: somos o autor, a estória e os personagens.
Essa inspiração veio após ouvir as esclarecedoras palavras de meu professor. Boas ondas! 
Om tat sat!

GUSTAVO SCHIMMING – Graduado em Fisioterapia e Educação Física, com especialização em Yoga e Pilates.Ministra cursos/workshops sobre Anatomia, Fisiologia Humana, Cinesiologia, Biomecânica e Meditação, no Brasil e exterior. Coordena a parte de Anatomia, Fisiologia Humana, Cinesiologia e Biomecânica em cursos de formação para professores de Yoga em Florianópolis-SC e Joinville-SC. Ministra aulas de Yoga no Centro do Ser, aulas de Pilates no Lagoa Iate Clube, aulas particulares de Treinamento Funcional e Surf; em Florianópolis-SC.Criador do blog REXPIRE. http://rexpire.blogspot.com.br/

2 comentários:

  1. Grande Gustavo, sensacional! Quem não sabe aprende e quem entende quer mais... (estou entre os primeiros, mas também quero mais).

    Obrigado por compartilhar o conhecimento e a experiência.

    Abs
    Saulo

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  2. Muito bacana sua entrevista querido, parabéns! (y)

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