HUMBERTO MENEGHIN
YV – Fisioterapia e Educação Física são os
cursos que você se graduou na Universidade e posteriormente você se dedicou ao
estudo e a prática do Pilates para também o Yoga se fazer presente na sua vida.
Como aconteceu essa transição no sentido de o Yoga, o Vedanta e o Sânscrito
ocuparem um lugar importante e significativo em seu caminho? O que o levou a
eles? Incentivo por parte de alguém ou foi uma escolha que se apresentou a você
de uma forma natural?
GUSTAVO
– Desde a morte do meu pai em 2001 comecei a questionar o sentido da palavra
"Deus", comecei a entrar em contato com o maior numero de informação
possível que apresentasse os temas religião e espiritualidade. Somando a esta
busca, meu grande interesse por atividades físicas levaram-me a prática do Yoga
como mais uma forma de me exercitar. O maior objetivo com o Yoga, neste
período, era deixar o corpo físico mais forte e resistente. Desde então comecei
a morar fora do país ainda como uma forma, apesar de inconsciente, de
compreender "Deus". Estava exercendo o livre arbítrio me deixando
guiar pela liberdade de expressão que tomou conta da minha vida. Após alguns
anos morando fora e continuamente lendo sobre espiritualidade, a visão que se
estabeleceu sobre "Deus" naturalmente ampliou-se.
Em um determinado ponto da minha vida, fui impedido
de seguir morando fora. Neste momento parei para pensar no que faria a partir
dali. Na época estava praticando Yoga intensamente, e em um desses dias, ainda
resolvendo o que faria da vida, subitamente, após uma prática, me veio a ideia
de ir para Índia. Perguntei na recepção do local onde praticava, se alguém
poderia me indicar algum lugar para ir praticar Yoga na Índia. A recepcionista
me apontou um professor e fui falar com ele. O professor me passou o link do local para onde ele estava indo.
Chegando em casa entrei no link e
imediatamente preenchi o formulário para fazer os cursos oferecidos no 'Ashram', e alguns dias depois já tinha
comprado a passagem aérea.
O que não tinha percebido, e não prestei a devida
atenção naquele momento, foi que o "curso" que tinha me inscrito não
era sobre 'Yogasana' (posturas físicas) como havia imaginado ao inscrever-me,
eram "cursos" (camps) de Vedanta, mas só fui me dar conta já lá no
'Ashram', na Índia. Inicialmente não entendi do que se tratava, mas aos poucos,
a partir do momento em que ia compreendendo, a sensação que dava era a de um
reencontro, um enorme reencontro. Uma sensação de que tinha encontrado algo que
nem sabia estar buscando, e que ao mesmo tempo já conhecia tanto, tomou conta
de mim. Foi amor ao primeiro contato, tudo o que estava sendo falado era como
se já viesse escutando há muito tempo. A apreciação, a admiração, o respeito, o
valor, a identificação, que existia em mim em relação ao ensinamento
transmitido, era maior do que qualquer outra coisa que tivesse entrado em
contato até o momento.
Tinha ido para Índia para ficar um período de 2
semanas e acabei ficando 3 meses. Estudei muito sobre Yoga, quer dizer,
Vedanta. Ao final dos 'camps' de
Vedanta e com a certeza de que tinha encontrado algo com o que trabalhar,
aprender e ensinar, fiz a primeira formação em Yoga, Iyengar Yoga, onde, além
de técnicas de 'asana', 'pranayama' e etc, tive o primeiro
contato com o alfabeto 'devanagari', da língua sânscrito.
Retornei ao Brasil em abril de 2007 e comecei a dar
aulas no Rio de Janeiro. Continuei os estudos de Vedanta e sânscrito no Vidya Mandir. Em 2008 fiz mais uma
formação, dessa vez, no Brasil mesmo.
YV – Algumas pessoas confundem Pilates com Yoga e
vice-versa. Até que ponto o Pilates pode ser um aliado daquelas pessoas que
também se dedicam a pratica de ásanas
do Yoga? Você acha que se alguém somente se dedicar ao Pilates e de modo algum
praticar Yoga, mas paralelamente se esforçar para apurar o seu lado espiritual
e até mesmo buscar conhecimento no estudo das escrituras e do Vedanta também
pode colher os mesmos benefícios de quem está absolutamente mergulhado no Yoga?
Será que o Pilates anda atraindo muitas pessoas que poderiam estar praticando ásanas do Yoga ou isso não condiz com a
realidade dos fatos?
GUSTAVO
– O Pilates foi desenvolvido por uma pessoa que era envolvida com a atividade
física, esporte, artes marciais e circenses, dança, e que trabalhou como enfermeiro.
Então, era alguém que conhecia muito a respeito do corpo e do movimento deste,
e consequentemente, sobre consciência respiratória e sua correlação com o
movimento do corpo. Assim como os 'yogasana',
o Pilates é um método que desenvolve muita consciência corporal, a percepção
das diferentes partes do corpo, suas funções e sensações. Trabalha ampliando a
coordenação, equilíbrio, força, resistência muscular localizada, flexibilidade
e etc (valências físicas). É uma opção excelente como prática complementar. O
que pode ser feito, é aplicar a consciência corporal adquirida na prática do
Pilates, na prática de 'yogasana', e
aplicar a atitude de Yoga, na prática do Pilates.
O Pilates,
assim como qualquer outra atividade física, se for praticado como uma forma de
aplicar, vivenciar o que foi aprendido no estudo do Vedanta, se for praticada
com uma atitude de autoconhecimento, os frutos também serão colhidos.
Para avaliar se uma prática atrai mais ou menos
pessoas do que a outra, é necessário, primeiramente, definir realmente o que se
entende por 'yogasana' e o que é o
Pilates, para então avaliarmos se são comparáveis de fato. Se virmos as duas
práticas apenas como atividades físicas, sim, elas irão compartilhar do mesmo
público.
YV – Você é do Rio de Janeiro e atualmente
vive em Florianópolis/SC e nas horas de lazer se dedica ao Surf. Muitos praticantes de Yoga e até mesmo alguns professores
adoram surfar. Todo surfista é um yogi
em potencial ou essa premissa não condiz com a realidade dos fatos? De que maneira
a prática de ásanas pode contribuir
para ajudar na performance daquele
que surfa? O ato de surfar pode ser considerado uma meditação em movimento?
Como você vê a moda de se praticar ásanas
sobre a prancha SUP?
GUSTAVO
– De algum ponto de vista, todos os surfistas, todas as pessoas são 'yogis' em potencial. Se, por exemplo, o
surfista age com não-violência dentro do mar, em uma determinada situação,
naquele instante, ele foi um 'yogi'.
A prática de 'yogasana', como dito anteriormente, também pode desenvolver as
valências físicas e a consciência corporal. E como o surfista, assim como
qualquer praticante de outra modalidade esportiva, precisa deste
desenvolvimento para melhorar seu desempenho, podemos dizer que quanto mais
prática, melhor será a performance.
Se a palavra 'meditação' for vista como um momento
de plenitude, podemos dizer que surfar torna-se uma meditação a partir do
momento em que surfista (Consciência testemunha), onda (objeto de percepção) e
a identidade entre eles (conhecimento) tornam-se um só. O momento que mais
representa esta "meditação" é quando o surfista está dentro da onda,
em uma manobra chamada de 'tubo'.
Yoga é uma atitude que temos enquanto agimos, uma
atitude presente quando fazemos nossas ações, então pode ser praticado em
qualquer lugar, em qualquer época, a qualquer momento. Existe toda uma tradição
e todo um ensinamento que deve ser respeitado. Praticar 'yogasana' envolve todo um ritual, admiração, postura, atitude e
respeito, no qual o objetivo é libertar-se, conhecer-se. O foco é o 'Eu', 'Quem
sou eu?', 'O que quero realmente conquistar nessa vida?'.
YV – De toda a sua bagagem cultural, que
engloba estudos, especializações, experiências, vivências e práticas aqui e no
exterior, você percorre o Brasil e já percorreu alguns países ministrando workshops sobre temas muitos úteis
àqueles que se interessam pelo estudo e a prática do Yoga. Dentre os cursos/workshops que você nos brinda estão: “Anatomia e Cinesiologia aplicadas
ao Hatha Yoga” e “AHIMSA
(não-violencia) – Uma abordagem Anatômica e Biomecânica do Hatha-Yoga”. Por que
você escolheu esses temas para serem compartilhados com as pessoas que se
interessam pelo Yoga além do tapetinho? Qual é a melhor maneira de o praticante
desenvolver a consciência e a percepção corporal no sentido de evitar lesões
durante a prática de ásanas? Para os
leigos, por favor, defina o que é Cinesiologia, Biomecânica e Propriocepção. Já o convidaram para gravar um DVD sobre seus workshops?
GUSTAVO
– Desde sempre estou envolvido com as atividades físicas em geral, isto me deu
a bagagem prática do movimento corporal, da respiração, da inter-relação entre
elas, e da inter-relação movimento, respiração e emoção/sentimentos. Este
grande envolvimento trouxe lesões, seus tratamentos e suas prevenções que, mais
adiante, colaboraram muito para que eu compreendesse a parte teórica, durante
minha formação e especialização, quando me foi apresentada. Ao entrar em contato com o Yoga/Vedanta,
tive a oportunidade de me conhecer mais, e com isso reconhecer certos padrões
de pensamento, de movimento, de comportamento, e que muitas vezes foram a causa
de minhas lesões. O Yoga me trouxe outro ponto de vista, outra forma de ver a
vida, de me relacionar com ela, uma forma menos "violenta", mais consciente,
mais objetiva Então, escolhi os temas que mais tenho conhecimento
teórico-prático para que, por meio destes, possa fazer com que haja a
compreensão do que vem a ser o Yoga. Para que, através do físico, possa se
compreender o sutil. É a melhor ferramenta que me foi dada para transmissão do
conhecimento. A melhor maneira de evitar lesões é, primeiro, saber o que de
fato significa Yoga, segundo, estudar a teoria sobre o corpo humano (livros,
cursos, etc) e, terceiro, aplicar a teoria na prática.
Cinesiologia é o estudo do movimento. Desenvolveu-se a partir da fascinação dos
seres humanos pelo movimento animal. Combina teorias e princípios de anatomia,
fisiologia, física, mecânica, matemática, psicologia e antropologia.
Biomecânica é a aplicação da mecânica, ciência que estuda o movimento e o repouso
dos corpos, no corpo humano vivo.
Propriocepção é como se fosse um sexto sentido, é determinada por receptores de
movimento, responsáveis por respostas locomotoras e posturais. Dão a
localização do corpo no espaço e preparam o corpo de acordo com a demanda de
movimento específico.
Em 2010, na
Índia e em Portugal, quando ministrei os cursos, me perguntaram se gostaria de
gravar o workshop, mas não o fiz.
YV – Você acha que aqui no Brasil há uma carência de professores
comprometidos e especializados em Anatomia voltada ao Yoga? Ou esse assunto
ainda não merece a devida atenção em algumas Formações para Professores de Yoga
que nos deparamos por aí?
GUSTAVO
– Existe uma carência de professores com embasamento, que possam realmente
direcionar uma prática com um mínimo de segurança para evitar lesões. Uma
importante questão é como avaliar e quem são aqueles que poderiam julgar o quão
apto e preparado estariam os instrutores. É importante também que nós estejamos
conscientes da responsabilidade, das consequências que uma prática de 'yogasanas', pode trazer para o corpo de
um indivíduo. Quanto mais conhecimento, neste caso, anatômico, um instrutor
adquirir, mais ciente estará da responsabilidade que acompanha o papel de
professor.
A anatomia, assim como a fisiologia humana e a
cinesiologia, são disciplinas que merecem tanta atenção quanto quaisquer outras
associadas ao Yoga. Penso que existe outra carência em paralelo, e que, se
resolvida, poderia suprir um pouco a falta de embasamento anatômico. É a falta
de compreensão a respeito do que é Yoga, do que significa 'ahimsa'.
YV – Em 2012, o The New York Times, publicou um artigo
escrito por William J. Broad, cujo assunto também foi abordado em seu livro The Science of Yoga, onde ele sustenta
que a prática do Yoga danifica o corpo do praticante e que em alguns casos pode
até causar a morte. Essas alegações abalaram a Comunidade do Yoga. Na sua opinião, você acha que Broad
exagerou? Ou ele tem, de certa forma, um pouco de razão?
GUSTAVO
– Este artigo deveria ser lido por todos aqueles que, de uma forma ou outra,
tem alguma ligação com o Yoga. Dizer que a prática do Yoga danifica o corpo não
é um fato, sabendo que Yoga é uma atitude por trás das nossas ações, uma
atitude ética e moral que rege nossas ações. Esta atitude envolve o princípio
da não-violência que, abrangendo o cuidado com o corpo físico, deveria estar
presente. A falta de cuidado, desconsiderando minhas limitações físicas prévias
e possíveis lesões decorrentes de uma prática de negligência, isto sim, deve
ter uma atenção especial. Não é o Yoga
que danifica o corpo, e sim, a atitude com a qual este é praticado.
YV – Além de ser professor de Yoga e
fisioterapeuta, você é professor de Educação Física e foi aprovado em um
concurdo público da Prefeitura de Lajes/SC para ministrar aulas de Educação
Física voltadas a Programas Sociais. De que modo esta ação tem influenciado de
forma positiva e produtiva na vida dos alunos que tem o privilégio de tê-lo
como professor? Há uma pitada de Yoga nas aulas?
GUSTAVO – O concurso que prestei em Lajes/SC
foi feito em uma época que tinha decidido morar em Urubici/SC. O resultado
positivo saiu em paralelo com a decisão de voltar a morar em Florianópolis/SC.
Então, não cheguei a assumir o cargo. Todo e qualquer trabalho que realizo tem
uma pitada de Yoga.
YV – Tanto o
praticante que é idoso quanto a criança, além dos que tem alguma limitação na
saúde, merecem atenção redobrada durante uma prática de Yoga; no entanto,
alguns professores não dispensam a devida atenção. No seu ponto de vista, quais
os cuidados essenciais que um professor de Yoga deve aplicar para que esses
praticantes possam desfrutar do momento da prática sem que seus corpos sejam
exigidos em demasiado?
GUSTAVO – Entendendo uma prática de Yoga como
uma prática de 'Yogasana', o cuidado
essencial é a aplicação de 'ahimsa',
a não violência. No caso dos idosos é importante fazer o aprofundamento teórico
das consequências do tempo sobre o corpo humano. O corpo de um idoso é, em
geral, naturalmente mais frágil, então, a prática deve ser direcionada para
manutenção da qualidade de vida e sempre dentro da limitação física de cada
indivíduo. Para as crianças devemos manter o foco no desenvolvimento de valores
éticos e morais. Sobre a parte de 'Yogasanas',
demonstrar as posturas sem exigir que devam ser feitas como fazemos. Deixá-las
livres para se expressar e sempre que virmos que existe algum exagero, alguma
ação que possa acarretar lesões ou desvios posturais futuros, orientá-las a
fazer diferente.
YV – Gloria Arieira, Swami Dayananda Saraswati
são os professores que você escolheu para aprimorar o conhecimento de Vedanta e
Sânscrito. Como você vê a sua evolução como estudante? O que mudou na sua vida
a partir do momento que o conhecimento Védico começou a aflorar em você? Quais
as escrituras ou texto de Vedanta que o inspiram, por considerá-los importante,
e que não podem ser deixados de fora do estudo daquele que se inicia?
GUSTAVO
– A evolução de um estudante está diretamente ligada ao tempo despendido e ao
compromisso com o conhecimento estudado. Assumi um compromisso com o
conhecimento Védico no sentido de me manter sempre o estudando, o transmitindo,
e em contato com o guru. O
conhecimento Védico tem um valor incomensurável na minha vida pessoal, foi um
divisor de águas. A atitude com a qual faço as ações, o ponto de vista do qual
enxergo a vida, a maneira como interpreto as situações que se apresentam, como
me relaciono, como tomo as decisões, como faço as escolhas, como ensino, como
faço uso do livre arbítrio, tudo mudou, ampliou. Este conhecimento me apresentou o valor dos valores. Todas as
escrituras de Vedanta e textos relacionados carregam a mesma mensagem abordada
de maneiras diferentes. O Vedanta é inspirador, realizador e, principalmente,
libertador. Não existem textos a serem deixados de fora, pois todos transmitem
em essência a mesma verdade. A coluna central deste conhecimento se encontra
nas Upanishads, e os textos mais
indicados para iniciar seu estudo são Tattvabodha,
Atmabodha e Bhagavad Gita.
'Ekam
sadvipra bahudha vadanti' (Rig
Veda)
A Verdade é Uma; os sábios A chamam de diferentes
maneiras.
YV – Com qual
ou quais Deuses Hindus você sente que tem uma afinidade especial? Já aconteceu
alguma situação em relação a um Deus ou Deusa do Hinduismo que lhe trouxe uma
resposta significativa?
GUSTAVO
– Os Deuses Hindus, cada um deles, carrega uma série de significados.
A deidade Ganesh pode representar a capacidade de
transpor obstáculos, nos remete a nossa própria capacidade de transpor
obstáculos na vida; Shiva representa
o poder de destruição, o poder que temos de destruir tudo que leve ao desvio do
objetivo traçado. A afinidade por Ganesh
e Shiva é mais presente neste momento
de vida, pois trazem a ideia da manutenção do caminho independente dos
obstáculos que se apresentam, e o constante foco que destrói qualquer
pensamento que desvie do caminho escolhido. Ao mantrar para Ganesh e/ou Shiva entro mais uma vez em contato com o compromisso que assumi. É
um momento onde renovo o voto, o voto de viver consciente.
YV – Como você
vê a prática do Yoga no Brasil? Será que existem poucos praticantes para muitos
professores? Ou o brasileiro, na sua grande maioria, ainda não despertou o
devido e o real interesse pelo Yoga? E, qual é a boa dica de Gustavo Schimming para que o caminho do Yoga seja
percorrido sem que haja vontade de se retornar à estaca zero?
GUSTAVO
– Em geral, não só no Brasil como também fora dele onde tive a oportunidade de
praticar e ensinar, o Yoga é apresentado como ginástica ou uma forma de relaxar
e apaziguar a mente. O "boom"
do Yoga em nosso país está relacionado a este ponto de vista. A maioria
daqueles que tiveram contato com o Yoga conhece apenas esta visão. Vejo que
aumentou o numero de professores que conhecem o Yoga de fato, aquele
apresentado pelas escrituras, pelas Upanishad,
pela Bhagavad Gita, pelo Yoga Sutras
de Patanjali. E com isso aumenta consequentemente o numero de praticantes
conscientes do Yoga. Existe uma ordem maior que rege o todo. O despertar e o
interesse vêm no seu devido tempo, para tudo na vida. A dica é manter o
conhecimento presente o máximo de tempo possível ao agirmos, fazer com que a
atitude de Yoga abranja todas as áreas da nossa vida. Om.
SURFOPANISHAD
GUSTAVO SCHIMMING
artigo publicado originalmente na revista Yoga Journal Brasil e também no site http://www.yoga.pro.br
artigo publicado originalmente na revista Yoga Journal Brasil e também no site http://www.yoga.pro.br
Num secret spot, um
surfista velhinho se prepara na areia para surfar no seu pranchão. Algum tempo
depois aparece um rapaz com sua pranchinha, rápida e moderna. O jovem assiste,
pasmado, aos exercícios e movimentos que o ancião está fazendo para se aquecer.
Ao terminar, o velhinho senta de pernas
cruzadas e fecha os olhos. O rapaz se aproxima curioso, senta-se ao lado dele e
espera ansioso para fazer perguntas e conversar. Assim que o ancião abre os
olhos, o jovem inicia um diálogo:
- Quem é
você? - Indaga o rapaz.
- Sou
Consciência - Disse o ancião.
- Porque está
demorando tanto para entrar no mar?
- Apenas
fluo, deixando o tempo passar naturalmente, sem ansiar para que ele passe mais
depressa, sem me apegar e querer que ele ande mais devagar.
- Entendo,
mas vamos surfar?
- Três são as
possibilidades: surfar, não surfar, ou surfar de modo diferente...
Ambos entram
no mar. Remando em direção às ondas, o rapaz pergunta:
- Como estará
o surf?
- Quatro
podem ser os resultados chegando lá: pode ser que as condições de surf estejam
exatamente como esperamos, pode ser que estejam melhores do que imaginamos,
pode ser que estejam piores, e pode ser que aconteça algo totalmente diferente
do nosso plano de surfar. Independente desse resultado, mantenha a atitude de
aceitação grata. Veja o mar e esta oportunidade de surfar, como presentes.
De repente,
sobe uma série gigante e o rapaz, desesperado, pergunta:
- Você não
tem medo de morrer?
- O medo da
morte vem da identificação com o corpo, é ele quem morre. O Ser não morre. E
aliás, veja a situação como ela é: ainda estamos no canal, meu jovem.
Logo depois,
o rapaz pega uma onda e ao retornar diz:
- Estava
perfeita, mas acabou muito rápido. Você não fica chateado com isso?
- Isso
acontece sempre: é assim como qualquer outra experiência do mundo das
dualidades: começa, acontece e acaba.
O rapaz,
indignado, deixa passar muitas ondas a espera daquela mais perfeita que pensa
sempre estar vindo. Muito tempo se passa, o ancião pega várias ondas e, ao
retornar de uma delas, o rapaz fala:
- Não consigo
escolher corretamente a minha onda: o que devo fazer?
- Quando
temos a capacidade de escolher, existem coisas que nos atraem e outras que
buscamos evitar. Esta é uma das qualidades responsável por nossos conflitos
interiores e destes, surge o sofrimento. Pare de sofrer por um resultado futuro
se pode ter um agora, no presente momento.
- Como você
pode enxergar as coisas dessa forma tão sabia se você não é um monge, nem está
num mosteiro?
-
Espiritualidade e vida cotidiana são totalmente compatíveis. Partindo deste
ponto de vista, surfo para compreender as leis naturais que regem a existência
e para renovar o voto de viver consciente. Assim podemos viver uma vida feliz e
livre de conflitos.
Neste mesmo momento, o ancião se
despede do rapaz e pega uma bela onda.
Exercendo a consciência testemunha,
podemos observar a nossa paisagem mental: somos o autor, a estória e os
personagens.
Essa inspiração veio após ouvir as
esclarecedoras palavras de meu professor. Boas ondas!
Om tat sat!
GUSTAVO
SCHIMMING – Graduado em
Fisioterapia e Educação Física, com especialização em Yoga e Pilates.Ministra
cursos/workshops sobre Anatomia,
Fisiologia Humana, Cinesiologia, Biomecânica e Meditação, no Brasil e exterior.
Coordena a parte de Anatomia, Fisiologia Humana, Cinesiologia e Biomecânica em
cursos de formação para professores de Yoga em Florianópolis-SC e Joinville-SC.
Ministra aulas de Yoga no Centro do Ser, aulas de Pilates no Lagoa Iate Clube,
aulas particulares de Treinamento Funcional e Surf; em Florianópolis-SC.Criador do blog REXPIRE. http://rexpire.blogspot.com.br/
Grande Gustavo, sensacional! Quem não sabe aprende e quem entende quer mais... (estou entre os primeiros, mas também quero mais).
ResponderExcluirObrigado por compartilhar o conhecimento e a experiência.
Abs
Saulo
Muito bacana sua entrevista querido, parabéns! (y)
ResponderExcluir