HUMBERTO MENEGHIN
fotos pelo autor
Encontrar uma multidão de sadhus reunidos a espera de um prato de
comida não é uma coisa muito comum para aqueles que são do ocidente. No
entanto, quando se está na Índia e se tem a oportunidade de presenciar essa
reunião até mais de uma vez, isso deixa de ser novidade e se torna um momento
para reflexão.
Trajando roupas em tons de laranja e
muitos deles até caprichando no visual, os sadhus
que vivem pelos lados de Rishikesh vieram alimentar-se da boa comida
oferecida pelo Ashram do Swami Dayananda Saraswati.
Como um gesto nobre, não deixando de
também ser um ato de caridade, todos os renunciantes que regularmente
comparecem ao ashram se colocam em
baixo de uma grande tenda, sentados e enfileirados, enquanto voluntários passam
a servi-los.
Inevitavelmente os curiosos que por lá estão observam a cena e fotografam. Mas, até que ponto e válido alimentar um
grupo de pessoas que vive por ai sem beira e nem eira, os quais a maioria deles
pressupõem-se viverem o papel de renunciante?
Renunciante é aquele que deixou tudo na
vida para viver com o minimo possível, ou melhor, recebendo ajuda alheia para
sobreviver. Aqueles que dão algo para os que dispensaram o conforto da vida
para se dedicar a busca espiritual profunda, ou nem tanto assim, na verdade,
sem distinção praticam o karma Yoga.
Doadores que de modo algum questionam o
fim da ação, mas que por vezes podem ser surpreendidos por alguma observância
que não combina bem com o propósito daquele que na verdade diz ter renunciado,
como por exemplo, notar que certos sadhus
até celulares possuem. Então, será que poderíamos considerá–los totalmente renunciantes?
A grande maioria talvez não seja, mas para
quem oferta a bandhara, o alimento que nutre os sadhus, sejam possuidores de celulares ou não, não se faz necessário questionar se os que por lá estão realmente
vivem uma vida de renúncia; pois o que mais vale, naquele momento, é a intenção
de sinceramente ajudá-los com o alimento de uma boa refeição.
Em complemento a este gesto, apos a bandhara notas de cem rupias são distribuídas
a todos aqueles que almoçaram, mediante um controle que consiste na devolução
pelo sadhu de um papel antes lhe
entregue, que na verdade é uma espécie de recibo que presumivelmente visa a não repetição desta ação.
Alimentar o próximo seja sadhu ou não, sem receber qualquer tipo
de retribuição é uma tradição que na Índia perdura nos tempos e assim
continuará. No entanto, viável consignar que mesmo que um swami possa na sua essência ser considerado um sadhu, um sadhu não é um swami. E olha que existem swamis e swamis.
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