14 de dezembro de 2012

MANTRAR PARA CONSAGRAR O ALIMENTO: UMA AÇÃO MAIS DO QUE NECESSÁRIA



HUMBERTO MENEGHIN


No ocidente, consagrar o alimento que se consome parece não ser um hábito assim tão comum. Raramente vemos por aí, seja nas casas ou em restaurantes, alguém agradecer ou realizar um mantra em relação ao alimento que está à mesa para ser apreciado, pois isso parece não fazer parte do hábito da maioria das pessoas.




O alimento que vem da terra e até mesmo os que são industrializados possuem em si a energia que irá alimentar aqueles que os consomem, mesmo que em muitos deles haja a presença de elementos químicos que possam ser prejudiciais ao organismo humano.

Do preparo à mesa, esse alimento entra em contato com muitas pessoas, desde entregadores, feirantes, empregados de supermercados, cozinheiras, etc. E, aí que mora o perigo; pois cada um deles deixa a sua energia impregnada sobre os alimentos que passaram por várias mãos, os quais logicamente poderão ser higienizados no caso das hortaliças e cereais. No entanto, só isso não basta.




Tome o exemplo daquela cozinheira que está insatisfeita com o salário que recebe da patroa, como será a energia da comida que ela prepara? E aquele cozinheiro que não está de bem com a vida e mesmo assim prepara inúmeras refeições num restaurante? Apesar de aparentemente saborosas, as refeições desses dois podem não ter a mesma essência de quando são preparadas por alguém com o humor mais equilibrado.

O mesmo pode acontecer com aquela dona de casa que aprecia assistir programas de televisão onde a violência e assuntos inapropriados são exibidos, enquanto prepara o jantar para a família. Que tipo de energia seu alimento vai conter? E se ela também não estiver no seu melhor dia, de mal com a vida?

Sem contar, ainda, aquelas pessoas que chegam a um restaurante self-service e ao se servirem pelo bufet derramam sobre o alimento uma conversação inapropriada revertida de reclamações, queixas e arrogância. Não contaminam os alimentos essas pessoas? Podem nem perceber, achar que não tem nada de mais falar o que bem entendem e reclamar o que podem enquanto se servem; sem contar aqueles que falam ao celular e que agem do mesmo modo, tudo se espalha sobre os alimentos que estão ali passíveis para serem servidos aos clientes do restaurante.

Os protestantes agradecem à mesa pelos alimentos que comem às refeições. Os hindus e alguns praticantes de Yoga, mantram. Alguns o fazem em voz alta, outros silenciosamente.




Especificamente no caso dos Hindus e alguns praticantes de Yoga, existe um mantra para consagrar o alimento, ou seja, energizar, trazer um fluído benéfico e positivo àquele que irá se alimentar, neutralizar aquela energia inapropriada despejada sobre ele por quem os preparou, vendeu ou até mesmo se serviu em um bufet.

Esse é o mantra:


brahmārpaam Brahma havih brahmāgnau brahmaāhutam |
brahmaiva tena gantavyam brahmakarma samādhinā ||
śri gurubhyo namah || harih Om. || Bh.G. IV:24 ||


Traduzindo, este mantra assim o é:


Para [o homem que se libertou de seus condicionamentos], o ato de fazer a oferenda a Brahman, a oblação é Brahman. Por Brahman é oferecido no fogo que é Brahman. Brahman é o objetivo a ser alcançado por aquele que percebe Brahman em sua ações. Saudações aos mestres.
Harih Om.




Curiosamente esse mantra está previsto na Bhagavad Gítá, mais especificamente no shloka 24, do quarto capítulo, em que Krishna fala a Árjuna sobre Jñána Yoga, o Yoga do conhecimento; onde se pode inferir que não existe qualquer ligação com comida. Então, por que o utilizam para consagrar o alimento?

Segundo consta, interpretando o shloka 24 num sentido mais abrangente, esse verso se refere ao ritual do fogo védico, isto é, yajña. E, dessa forma, todas as ações acabam por serem interpretadas como oferendas a Brahman.

Consoante elucidação de Krishna, quem faz a ação, ou seja, o autor, a ação propriamente dita e o resultado que dela decorre são todas manifestações diferentes de Brahman. Dessa forma, esse ato se reveste de libertação, pois não vai criar vínculos kármicos e acaba por ser purificado como uma oferenda a Brahman.




Assim, esse mantra também se aplica ao ato da alimentação e é utilizado principalmente na Índia para consagrar o alimento, que na verdade é uma oferenda ao fogo digestivo.

No entanto, pelo fato do ritual do fogo fazer menção à alimentação, esse fogo digestivo tem o papel de purificar e reconhecer Brahman em todos os elementos. Destarte, a alimentação em si, deixa de ser aquele ato que é considerado fisiológico, automático e profano e então se transforma numa ação que unicamente nos leva à união com Brahman, que é o Absoluto.

Harih Om!

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