HUMBERTO MENEGHIN
No ocidente, consagrar o
alimento que se consome parece não ser um hábito assim tão comum. Raramente
vemos por aí, seja nas casas ou em restaurantes, alguém agradecer ou realizar
um mantra em relação ao alimento que está à mesa para ser apreciado, pois isso
parece não fazer parte do hábito da maioria das pessoas.
O alimento que vem da
terra e até mesmo os que são industrializados possuem em si a energia que irá
alimentar aqueles que os consomem, mesmo que em muitos deles haja a presença de
elementos químicos que possam ser prejudiciais ao organismo humano.
Do preparo à mesa, esse
alimento entra em contato com muitas pessoas, desde entregadores, feirantes,
empregados de supermercados, cozinheiras, etc. E, aí que mora o perigo; pois
cada um deles deixa a sua energia impregnada sobre os alimentos que passaram
por várias mãos, os quais logicamente poderão ser higienizados no caso das
hortaliças e cereais. No entanto, só isso não basta.
Tome o exemplo daquela
cozinheira que está insatisfeita com o salário que recebe da patroa, como será
a energia da comida que ela prepara? E aquele cozinheiro que não está de bem
com a vida e mesmo assim prepara inúmeras refeições num restaurante? Apesar de
aparentemente saborosas, as refeições desses dois podem não ter a mesma
essência de quando são preparadas por alguém com o humor mais equilibrado.
O mesmo pode acontecer
com aquela dona de casa que aprecia assistir programas de televisão onde a
violência e assuntos inapropriados são exibidos, enquanto prepara o jantar para
a família. Que tipo de energia seu alimento vai conter? E se ela também não
estiver no seu melhor dia, de mal com a vida?
Sem contar, ainda,
aquelas pessoas que chegam a um restaurante self-service e ao se
servirem pelo bufet derramam sobre o alimento uma conversação
inapropriada revertida de reclamações, queixas e arrogância. Não contaminam os
alimentos essas pessoas? Podem nem perceber, achar que não tem nada de mais
falar o que bem entendem e reclamar o que podem enquanto se servem; sem contar
aqueles que falam ao celular e que agem do mesmo modo, tudo se espalha sobre os
alimentos que estão ali passíveis para serem servidos aos clientes do
restaurante.
Os protestantes
agradecem à mesa pelos alimentos que comem às refeições. Os hindus e alguns
praticantes de Yoga, mantram. Alguns o fazem em voz alta, outros
silenciosamente.
Especificamente no caso
dos Hindus e alguns praticantes de Yoga, existe um mantra para consagrar o
alimento, ou seja, energizar, trazer um fluído benéfico e positivo àquele que
irá se alimentar, neutralizar aquela energia inapropriada despejada sobre ele
por quem os preparou, vendeu ou até mesmo se serviu em um bufet.
Esse é o mantra:
brahmārpaṇam Brahma havih brahmāgnau brahmaṇāhutam |
brahmaiva
tena gantavyam brahmakarma samādhinā ||
śri
gurubhyo namah || harih Om. || Bh.G. IV:24 ||
Traduzindo, este mantra assim o é:
Para [o homem que se libertou de seus
condicionamentos], o ato de fazer a oferenda a Brahman, a oblação é Brahman.
Por Brahman é oferecido no fogo que é
Brahman. Brahman é o objetivo a ser alcançado por aquele que percebe Brahman em sua ações. Saudações aos
mestres.
Harih
Om.
Curiosamente esse mantra está previsto na Bhagavad Gítá, mais
especificamente no shloka 24, do quarto capítulo, em que Krishna fala a
Árjuna sobre Jñána Yoga, o Yoga do conhecimento; onde se pode
inferir que não existe qualquer ligação com comida. Então, por que o utilizam
para consagrar o alimento?
Segundo consta, interpretando o shloka 24
num sentido mais abrangente, esse verso se refere ao ritual do fogo védico,
isto é, yajña. E, dessa forma, todas as ações acabam por serem
interpretadas como oferendas a Brahman.
Consoante elucidação de Krishna, quem faz a ação, ou seja, o autor, a ação propriamente
dita e o resultado que dela decorre são todas manifestações diferentes de Brahman.
Dessa forma, esse ato se reveste de libertação, pois não vai criar vínculos
kármicos e acaba por ser purificado como uma oferenda a Brahman.
Assim, esse mantra também se aplica ao ato
da alimentação e é utilizado principalmente na Índia para consagrar o alimento,
que na verdade é uma oferenda ao fogo digestivo.
No entanto, pelo fato do ritual do fogo fazer
menção à alimentação, esse fogo digestivo tem o papel de purificar e reconhecer
Brahman em todos os elementos. Destarte, a alimentação em si, deixa de
ser aquele ato que é considerado fisiológico, automático e profano e então se
transforma numa ação que unicamente nos leva à união com Brahman, que é
o Absoluto.
Harih Om!
Namastê!!!!!!!!!!
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