HUMBERTO MENEGHIN
Terminamos o refrigerante que a Kika havia nos
trazido e voltamos para o salão principal. Sem achar que isso fosse acontecer,
nossos lugares estavam ocupados, ocupados por três outras mulheres, todas evidentemente
acima do peso. Pedi que nos cedessem as poltronas, mas uma delas replicou
dizendo que não éramos as donas e que de modo algum iriam arredar o pé de lá.
Segurei-me para não rodar a baiana, até que a Simone me pegou pelo braço e
apontou lá para cima, em direção à última fileira, onde havia três lugares
vagos. Fomos para lá, enquanto alguém pelo microfone pronunciava “testando,
testando, um, dois, três, testando”. Era Arnoldo, o servidor da Mestra
Indianira Santhi Ma, que continuou dizendo: “Se organizem, se organizem, pois o
tempo passa. Vocês não querem que a nossa amada Mestra abrevie ainda mais este
encontro, não é?” A platéia pouco a pouco se silenciou até que do canto do
palco Indianira Santhi Ma ressurgiu, ressurgiu desta vez trazendo um cachorrinho
da raça shitzu em seus braços.
“Meus caros – foi dizendo Indianira Santhi Ma
reocupando o trono, ainda retendo o shitzu
em seus braços, enquanto seu dileto servidor ajustava-lhe o microfone –
Gratidão, gratidão por todos vocês estarem aqui esta noite. Quem não agradece
por algo que recebe não merece de bom grado receber o que recebeu e disso o
recebido se vai mais rápido, não fica. Vocês entendem o que eu quero dizer?
Da platéia alguém perguntou qual era no nome do
cachorro que Indianira Santhi Ma trazia e emendando ao seu discurso, disse:
“Soraia, minha queridinha se chama Soraia. Lindinha vocês não acham? Ela
nascerá humano na sua próxima vida. Animais de estimação que se parecem com
gente, gente será, não tenham dúvidas.” Então, a palestrante colocou Soraia a
seus pés dizendo para que ali ficasse e escutasse a suas palavras também.
“Ficaremos mais dois dias por aqui; muitos de vocês
já agendaram um horário comigo, através do Arnoldo. Infelizmente não tenho mais
nenhuma vaga na minha agenda; mas, para aqueles que não tiveram a sorte de
comigo ter um contato mais especial, por favor não desistam; pois, pode ser que
ano que vem retorne aqui nesta querida cidade que sempre me acolheu e acolhe de
braços abertos.” – a Mestra pausou e tomou um gole d’água, seguindo: –“ Meus
filhos, minhas filhas, a Terra está passando por um processo de transformação
inevitável. Anteriormente não havia tanta poluição, tanto desmatamento. Hoje o
que vemos é isso, o ser humano parece que não está nenhum pouco interessado em
se redimir de seus erros, erros do passado, erros de hoje. A maioria das
pessoas só está interessada em receber mais do que lhes dado é. Colhemos o que
plantamos e se a colheita não parece farta isso significa que quem plantou a
sementes não regou, não cuidou. Se você, como eu disse antes do intervalo ainda
não conseguiu dar a volta por cima dos reveses pelo qual passou, é porque as
amarras do passado ainda seguram, melhor dizendo, prendem. Aquele moço que se
libertou das muletas praticando Yoga se desamarrou dos entraves que o
seguravam, passou a andar e hoje está livre. Você mesmo pode se libertar de
alguma coisa que ainda o prende. – A mestra silenciou enquanto rodava os olhos
pela platéia para comunicar: – Acomodem-se todos vocês. Vamos fazer uma reflexão,
uma meditação.
Um pequeno alvoroço se formou para que todos se
colocassem em silêncio. E, Indianira Santhi Ma, continuou: “Cerrem os olhos,
cerrem os olhos e relaxem. A respiração, o ar que passa pelas narinas nutrem
você de prana, nutrem você de prana, nutrem você de prana ... – foi repetindo e
repetindo – Os escravos foram libertos, Tiradentes mesmo tendo os seus ideais também se libertou, tanto que na
bandeira de Minas a Liberdade está prescrita. Liberte-se, liberte-se das
amarras do passado, não olhe mais para trás o futuro não pertence a Deus, mas a
você. Sinta-se livre, livre, livre ... Respire, perceba que o ar é abundante,
não carece a ti que sempre o respira e
dele se nutre, nutre e nutre. As dádivas que você recebe na tua vida,
meus diletos, é como o ar; o ar que nutre, nutre e nutre. Sinta-se você agora,
perceba que está satisfeito, nutrido. Nutrido não só de prana, mas também de
todas as benesses que a ti estão reservadas. As benesses da vida, do amor, do
entendimento, as dádivas que de hora e vez recebemos e nem percebemos. Como um
cisne branco que está num lago cujas águas parecem tranqüilas, vai flutuando,
flutuando e flutuando até que nada mais precise ser feito. A Liberdade já está
em ti, só basta percebê-la, tornar-se consciente... – a mestra silenciou-se por
quase dez minutos e então retomou a palavra – Liberdade não se compra, não tem
preço, mesmo aqueles que dizem comprá-la, na verdade continuam presos, presos
nas amarras que não são da Liberdade. A Luz está acesa, esta noite já vai se
avançando e o prana continua em você. Respire, respire mais profundamente e
abra os olhos. Você está no caminho certo para a Consciência. Namastê!
Indianira Shanti Ma, tomou um gole d´água ao som de
aplausos que ecoavam pelo salão. Depois disse: – Obrigada, nos veremos em
breve. – E, a mestra retomou a shitzu
no colo enquanto seu dileto servidor anunciava ao microfone: – Agora vocês
podem tirar fotografias da nossa Mestra; andem logo que ela raramente abre esta
oportunidade para o público. Fotografem, fotografem somente a nossa amada
Mestra, fotos com ela só no apontamento para aqueles que agendaram. Andem logo,
vocês tem apenas cinco minutos. Namastê!
Namastê!
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