2 de dezembro de 2012

MINHA AMIGA PRATICA YOGA, EU TAMBÉM! – PARTE ONZE




HUMBERTO MENEGHIN


Terminamos o refrigerante que a Kika havia nos trazido e voltamos para o salão principal. Sem achar que isso fosse acontecer, nossos lugares estavam ocupados, ocupados por três outras mulheres, todas evidentemente acima do peso. Pedi que nos cedessem as poltronas, mas uma delas replicou dizendo que não éramos as donas e que de modo algum iriam arredar o pé de lá. Segurei-me para não rodar a baiana, até que a Simone me pegou pelo braço e apontou lá para cima, em direção à última fileira, onde havia três lugares vagos. Fomos para lá, enquanto alguém pelo microfone pronunciava “testando, testando, um, dois, três, testando”. Era Arnoldo, o servidor da Mestra Indianira Santhi Ma, que continuou dizendo: “Se organizem, se organizem, pois o tempo passa. Vocês não querem que a nossa amada Mestra abrevie ainda mais este encontro, não é?” A platéia pouco a pouco se silenciou até que do canto do palco Indianira Santhi Ma ressurgiu, ressurgiu desta vez trazendo um cachorrinho da raça shitzu em seus braços.




“Meus caros – foi dizendo Indianira Santhi Ma reocupando o trono, ainda retendo o shitzu em seus braços, enquanto seu dileto servidor ajustava-lhe o microfone – Gratidão, gratidão por todos vocês estarem aqui esta noite. Quem não agradece por algo que recebe não merece de bom grado receber o que recebeu e disso o recebido se vai mais rápido, não fica. Vocês entendem o que eu quero dizer?

Da platéia alguém perguntou qual era no nome do cachorro que Indianira Santhi Ma trazia e emendando ao seu discurso, disse: “Soraia, minha queridinha se chama Soraia. Lindinha vocês não acham? Ela nascerá humano na sua próxima vida. Animais de estimação que se parecem com gente, gente será, não tenham dúvidas.” Então, a palestrante colocou Soraia a seus pés dizendo para que ali ficasse e escutasse a suas palavras também.



“Ficaremos mais dois dias por aqui; muitos de vocês já agendaram um horário comigo, através do Arnoldo. Infelizmente não tenho mais nenhuma vaga na minha agenda; mas, para aqueles que não tiveram a sorte de comigo ter um contato mais especial, por favor não desistam; pois, pode ser que ano que vem retorne aqui nesta querida cidade que sempre me acolheu e acolhe de braços abertos.” – a Mestra pausou e tomou um gole d’água, seguindo: –“ Meus filhos, minhas filhas, a Terra está passando por um processo de transformação inevitável. Anteriormente não havia tanta poluição, tanto desmatamento. Hoje o que vemos é isso, o ser humano parece que não está nenhum pouco interessado em se redimir de seus erros, erros do passado, erros de hoje. A maioria das pessoas só está interessada em receber mais do que lhes dado é. Colhemos o que plantamos e se a colheita não parece farta isso significa que quem plantou a sementes não regou, não cuidou. Se você, como eu disse antes do intervalo ainda não conseguiu dar a volta por cima dos reveses pelo qual passou, é porque as amarras do passado ainda seguram, melhor dizendo, prendem. Aquele moço que se libertou das muletas praticando Yoga se desamarrou dos entraves que o seguravam, passou a andar e hoje está livre. Você mesmo pode se libertar de alguma coisa que ainda o prende. – A mestra silenciou enquanto rodava os olhos pela platéia para comunicar: – Acomodem-se todos vocês. Vamos fazer uma reflexão, uma meditação.




Um pequeno alvoroço se formou para que todos se colocassem em silêncio. E, Indianira Santhi Ma, continuou: “Cerrem os olhos, cerrem os olhos e relaxem. A respiração, o ar que passa pelas narinas nutrem você de prana, nutrem você de prana, nutrem você de prana ... – foi repetindo e repetindo – Os escravos foram libertos, Tiradentes  mesmo tendo os seus ideais também se libertou, tanto que na bandeira de Minas a Liberdade está prescrita. Liberte-se, liberte-se das amarras do passado, não olhe mais para trás o futuro não pertence a Deus, mas a você. Sinta-se livre, livre, livre ... Respire, perceba que o ar é abundante, não carece a ti que sempre o respira e  dele se nutre, nutre e nutre. As dádivas que você recebe na tua vida, meus diletos, é como o ar; o ar que nutre, nutre e nutre. Sinta-se você agora, perceba que está satisfeito, nutrido. Nutrido não só de prana, mas também de todas as benesses que a ti estão reservadas. As benesses da vida, do amor, do entendimento, as dádivas que de hora e vez recebemos e nem percebemos. Como um cisne branco que está num lago cujas águas parecem tranqüilas, vai flutuando, flutuando e flutuando até que nada mais precise ser feito. A Liberdade já está em ti, só basta percebê-la, tornar-se consciente... – a mestra silenciou-se por quase dez minutos e então retomou a palavra – Liberdade não se compra, não tem preço, mesmo aqueles que dizem comprá-la, na verdade continuam presos, presos nas amarras que não são da Liberdade. A Luz está acesa, esta noite já vai se avançando e o prana continua em você. Respire, respire mais profundamente e abra os olhos. Você está no caminho certo para a Consciência. Namastê!


Indianira Shanti Ma, tomou um gole d´água ao som de aplausos que ecoavam pelo salão. Depois disse: – Obrigada, nos veremos em breve. – E, a mestra retomou a shitzu no colo enquanto seu dileto servidor anunciava ao microfone: – Agora vocês podem tirar fotografias da nossa Mestra; andem logo que ela raramente abre esta oportunidade para o público. Fotografem, fotografem somente a nossa amada Mestra, fotos com ela só no apontamento para aqueles que agendaram. Andem logo, vocês tem apenas cinco minutos. Namastê!

Namastê! 

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