HUMBERTO MENEGHIN
YV – Foi em 1990 que você teve o primeiro contato com o
Yoga, quando começou a praticar em Campinas/SP, no momento em que cursava
Comunicação Social na Puccamp. Com certeza você não poderia sequer imaginar,
naquela época, que a sua vida profissional tomaria outro rumo, que o jornalismo
seria deixado de lado para você se dedicar integralmente ao Yoga. Essa decisão
foi difícil de ser tomada? Ou o Jornalismo parou de correr nas suas veias? Não
daria para conciliar as duas vocações?
LU – Isso mesmo, Humberto. Estava na penúltimo ano da
faculdade quando fiz minha primeira aula de Yoga da vida. E adorei! A sensação
foi a de se sentir em casa. Na época, estava bem entusiasmada com a carreira de
jornalismo que teria pela frente. E assim se passaram 15 anos até o trabalho de
jornalista ser trocado pelo de professora de Yoga. Não foi uma decisão difícil.
Costumo maturar minhas decisões, e quando comecei a dar aulas já estava
bastante envolvida com o Yoga como um caminho de vida. A minha intenção nunca
foi a de conciliar as duas profissões. Eventualmente, faço algum trabalho
jornalístico, que não interfira na minha rotina de aulas. O jornalismo não
deixou de correr nas veias. Eu adorava o que fazia, predominantemente, a reportagem
televisiva. Mas a rotina de trabalho era bastante estressante, cansativa e,
especialmente, não me permitia manejar o meu tempo como eu quisesse. E isso não
estava legal. Não era mais a forma como eu queria viver. Na época, as
circunstâncias me facilitaram essa transição.
YV – A Luciana Guerin que apresentava um programa da
tarde na extinta TV Thati de Campinas e que posteriormente trabalhou como
repórter na TV Cultura em São Paulo e ainda no programa Alternativa Saúde da
GNT, acha que nos meios de comunicação, em especial na TV, há espaço suficiente
para se divulgar temas que tratam sobre o Yoga e o Autoconhecimento ou esses
assuntos estão bem longe do interesse da mídia e da grande massa? E, se
houvesse um pouco mais de interesse, qual seria a forma adequada para essa
divulgação?
LU – Poderia haver mais espaço nos meios de
comunicação. No caso da televisão, onde sempre trabalhei, tudo é rápido e, com
exceções, superficial. O que é notícia agora daqui a cinco minutos vira notícia
velha. O repórter, muitas vezes, tem um tempo pré-determinado para discorrer
sobre o tema. Assim como tem pouco tempo pra se preparar, se aprofundar no
assunto. O que complica ainda mais as coisas. Não raro vejo a somatória
entrevistadores + entrevistados despreparados resultar num desperdício do tempo
e do espaço que dispõe, quando o tema em pauta é o autoconhecimento. E sabemos
que o autoconhecimento é um processo, não acontece ao se escutar meia dúzia de
frases feitas. Quanto ao Yoga, em particular, o aspecto físico da prática, os
ásanas como “ginástica exótica”, infelizmente, prevalece. E tudo o mais que o
Yoga propõe, em termos de visão e valores de vida, são ignorados. Qual seria a
forma mais adequada de divulgar esses temas? Talvez tentando entender mais a
fundo o assunto e escolhendo as fontes-entrevistados de forma criteriosa.
YV – Nos Estados Unidos a mídia ligada à propagação de
produtos para a prática do Yoga é bem marcante. Compra-se e vende-se de tudo o
que se possa imaginar e por lá parece que o número de praticantes de ásanas do Yoga e simpatizantes aumenta
cada vez mais. Por um lado isso pode ser até válido. No entanto, você acha que
o número de pessoas que realmente se interessam pelo Yoga para buscar
Autoconhecimento ainda é bem pouco, tanto lá como por aqui? E, ainda, você acha
que meditar e se dedicar ao estudo do Vedanta é fundamental para o professor e
o praticante que se interessa pelo Yoga que vai além dos ásanas?
LU – Sei de cenário de consumo relacionado ao Yoga nos
EUA, mas como você mesmo disse, isso parece contribuir – obviamente, além de
mais grana no bolso dos fabricantes de tais produtos- somente para gerar apenas
mais praticantes de ásanas”. E isso não significa praticar Yoga. É claro que
devem existir muitas pessoas interessadas no autoconhecimento, mas a maioria,
talvez não esteja. Trazendo para nossa realidade, no meu entorno, nas minhas
experiências, lamentavelmente vejo que a busca pelo autoconhecimento ainda é
uma escolha de poucos. Parece ser algo que as pessoas nem saibam que seja
possível, que isso exista. E continuam insistindo em encontrar paz, plenitude e
felicidade em situações e objetos que nunca poderão proporcionar isso, a não
ser de forma momentânea e ilusória. Quando apresentadas ao caminho do
autoconhecimento, consideram algo complexo, abstrato, de difícil entendimento.
Desistem antes mesmo de começar. Uma pena.
No meu caminho, o Yoga veio primeiro que o Vedanta.
Acho que pra muita gente é assim. Hoje, os dois tem igual importância nos meus
estudos. E sou grata por ter tido acesso a esse conhecimento, a essa forma de
transmissão de conhecimento da realidade, sobre a minha verdadeira natureza, o
mundo e a criação. Invariavelmente, quando leio ou escuto esse ensinamento, é
como se ele caísse como uma luva para o momento que estou vivendo. É sempre uma
luz que ilumina o cenário geral. Ver que há uma ordem em tudo. Compreender que
tudo está bem do jeito que é. Que tudo é exatamente do jeito que tem que ser.
Que tudo é para o meu bem, ainda que na hora dos perrengues eu não consiga
enxergar isso. Enfim, respondendo a sua pergunta, sem dúvida acho que o
professor e o praticante de Yoga só tem a ganhar ao se dedicar a prática da
meditação e ao estudo do Vedanta.
YV – Quais são as fontes do seu Autoconhecimento?
Dentre as escrituras que você leu, estudou e refletiu, qual ou quais delas você
mais aprecia? Alguma em especial a tocou profundamente a ponto de ter
contribuído de uma forma positiva para que um condicionamento que a limitava
fosse diluído?
LU –Todas as escrituras as quais tive acesso, de um
maneira ou outra, sempre foram enriquecedoras de conhecimento. Assim como todas
as práticas de Yoga que fiz até hoje sempre foram boas. Aprendizado, sempre. A
possibilidade de ver a si mesmo, em termos de corpo, mente e emoções de uma
forma mais clara, objetiva e compassiva. O mesmo vale para a relação com os
outros e as circunstâncias de vida. Atualmente, estou estudando a Bhagavad Gita
através das aulas gravadas da professora Gloria Arieira, por quem tenho
profundo respeito e admiração. Esse estudo, assim como outros que já fiz de
textos de Vedanta, sempre me colocam no prumo, pra falar de uma forma bem
direta. Fazem com que eu enxergue a minha existência com uma maior amplitude de
visão, assim como a lidar com as dificuldades com mais temperança e
objetividade. Já fiz um estudo mais breve da Bhagavad Gita, cerca de 2 anos
atrás. Este ano iniciei um estudo mais extenso. São 140 cds com cerca de uma
hora de gravação cada. Estou na metade do estudo.
YV – Além de ter participado de várias Formações em
Yoga, dentre elas com os professores Pedro Kupfer, Kalidas
Nuyken e Regina Ehlers, em 2009, você morou em Buenos Aires, onde também
praticou sob a supervisão da professora-sênior de Iyengar Yoga, Marina
Chaselon. Como essas formações e práticas contribuíram para você se tornar a
professora de Yoga que é hoje?
LU – O contato com o Pedro
Kupfer, desde sempre, me instigou a aprofundar o meu conhecimento sobre o Yoga.
O que me levou, através dos ensinamentos dele, a ter bem clara a visão de que o
Yoga vai muito além os ásanas, valorizando assim aspectos menos populares,
porém não mesmo importantes do Yoga. Como por exemplo, os yamas e nyamas, que
são o alicerce do Yoga, e consistem em 10 recomendações do que deve ser feito e
o que deve ser evitado a fim de organizar a nossa prática, o caminho do
autoconhecimento, as relações, enfim a vida. Com a Regina Ehlers, eu conheci o
Ashtanga Vinyasa Yoga, tendo a sorte de praticar com uma professora sensível e
responsável na hora de fazer os ajustes no aluno, um aspecto marcante dessa
prática. Com o Kálidas Nuyken eu aprendi muito sobre ásanas, através do Iyengar
Yoga. Detalhes sobre montar e se aprofundar na postura. Uma sintonia fina da
biomecânica do ásana. Conhecimento que me é extremamente útil para dar aulas, lidar
com os diferentes corpos e condições físicas. Já a Maria Chaselon me trouxe a
experiência de fazer uma prática de Iyengar mais solta, menos rígida, usando na
medida certa, desde o meu ponto de vista, a quantidade de orientações que o
professor dá a o aluno em busca do alinhamento.
YV – Há cerca de um ano você abriu o próprio espaço de
Yoga, na Vila Madalena, em São Paulo/SP, o Sitaram
Yoga. O que a levou a escolher esse nome e qual é a missão do Sitaram Yoga? Por enquanto, somente você
é quem ministra aulas no espaço ou há outros professores? E, o que você diz
para o aluno ou a aluna que vai praticar Yoga pela primeira vez no Sitaram? As aulas oferecidas são somente
de Iyengar Yoga?
LU – Os mantras para o
casal Sita e Rama sempre me emocionaram muito. Tanto pelo paradigma dos amantes
que superam as dificuldades, como por representarem o caminho alinhado com o
Dharma, e ainda com relação ao aspecto da união entre o ser individual (jiva) e
a sua essência (atma). Isso tudo me levou a escolher o nome Sitaram para o meu Espaço.
Não existe uma missão, mas o intuito de
compartilhar com os alunos as minhas experiências com o Yoga, de forma
acolhedora e compassiva. Por enquanto, somente eu ministro as aulas, que se
baseiam nos princípios do Iyengar Yoga. Acho que utilização de props- como os
cintos, blocos e cobertores- torna a prática mais confortável e,
principalmente, democrática, permitindo que cada um execute os ásanas de acordo
com as suas possibilidades. O que digo para o aluno que vem pela primeira é que
faça a prática com atenção, evitando comparações com a pessoa ao lado. E que
mais importante do que os ásanas que ela faz é o estado no qual ela entra ao
fazer as posturas, de uma maior atentividade e consciência.
YV – Cada praticante tem um corpo diferente. Uns são
mais flexíveis, outros menos, outros ainda tem dores nas costas, nos joelhos e
até mesmo alguma limitação no movimento, na saúde. Como a prática do Iyengar
Yoga pode auxiliar os praticantes a desenvolverem uma consciência corporal que
os permita se sentirem renovados e quem sabe livres de suas limitações físicas?
LU - Na minha experiência com Iyengar Yoga, vejo que ao
detalhar o caminho para o praticante entrar, permanecer e sair da postura, isso
faz com que ele descubra, se dê conta de partes do corpo até então
desconhecidas. E a consciência do corpo é uma porta de entrada que pode te
levar a consciência do seu Ser mais profundo, da sua essência. Usamos a
trajetória que vai do denso para o sutil. Reforço a minha opinião de que a
utilização dos props permite que a pessoa faça a sua prática com conforto,
segurança e dentro das suas possibilidades, respeitando a sua condição física. Além disso, a consciência que você direciona para o corpo durante
a prática, focando a atenção aos detalhes dos movimentos e das ações para
executar o ásana, isso faz com que você crie presença no agora, te traz para o
tempo presente, evitando que sua mente passeie tanto no passado quanto no
futuro. Isso serve como um treino para manter a consciência naquilo que você
está fazendo. O que, idealmente, deveria acontecer em todos os momentos da
nossa vida.
YV – Se você se encontrasse com o Iyengar o que você
diria a ele?
LU – Primeiramente, o saudaria e o agradeceria por sua
dedicação em investigar, experimentar e criar meios para tornar os ásanas
possíveis de serem executados por qualquer um. Aproveitaria também para
perguntar a sua opinião sobre a forma como o Iyengar Yoga vem sendo disseminado
pelo mundo. Se não estaria havendo um foco demasiado nos ásanas, não sobrando
espaço para aspectos mais sutis do Hatha Yoga como os pranayamas e a meditação,
por exemplo.
YV – Ashtanga Yoga, “never more”? Ou você
ainda pratica de vez em quando?
LU – “Never more” eu não diria. O Ashtanga foi
super importante num determinado período da minha vida. Me trouxe, em termos da
relação com o corpo, energia e disposição, exatamente o que eu precisava
naquele momento. Sabe que recentemente, depois de anos, resolvi fazer, durante
alguns dias, a primeira série de Ashtanga. Foi interessante reviver a sensação
forte de energia que o ritmo dessa prática te traz. Mas confesso que fiz
algumas adaptações, como por exemplo, fazer o sarvangasana e o halasana com
cobertores embaixo dos ombros e cinto nos cotovelos.
YV – Na prática pessoal seja do professor de Yoga ou do
praticante, a tendência é repetir os ásanas
que se gosta mais de executar. Na sua prática pessoal você tem um ásana preferido? E, você costuma
adicionar uma nova postura a cada prática para investigá-la com maior
profundidade?
LU – Sim, é
preciso ficar atento a isso quando se pratica sozinho. A tendência é ficar na
zona de conforto. Penso sempre sobre isso, e tento me propor a praticar os
ásanas que me exigem mais. De uma maneira geral, as flexões para a frente são
posturas cuja execução e permanência acontecem para mim de forma fácil. E, por
isso mesmo, por gostar delas, tenho que ficar atenta pra não cair no exagero
nesse grupo de ásanas. De tempos em tempos trago para minha prática aquelas
posturas que não me saem tão facilmente, que exigem de mim mais esforço,
perseverança e paciência até se tornarem mais fluidas e confortáveis.
YV – O que a inspira a continuar a sua trajetória pelo
caminho do Yoga? Você acha que há muitas pessoas que param no meio, desistem da
jornada e nunca mais querem ouvir falar sobre Yoga? Por que isso acontece?
LU –
Sim, conheço pessoas que algum momento da sua vida se encantaram com o Yoga e
depois se desconectaram totalmente. Não sei, talvez a pessoa não tenha
encontrado no Yoga o que ela buscava ou tenha achado difícil colocar em prática
o que o Yoga propõe, como deixar de agir de forma condicionada, fazer escolhas
conscientes, viver de forma mais simples, questionar padrões de comportamentos
que com um pouquinho de discernimento se mostram claramente prejudiciais. Eu,
realmente, encontrei no Yoga e no Vedanta as respostas que busco. Estou
absolutamente satisfeita com esses meios de conhecimento que me levam a
conhecer e compreender a verdade sobre mim mesma.E muito grata por tudo o que aprendi e tenho tido a oportunidade de vivenciar a partir desse olhar.
LUCIANA
GUERIN
Em busca do entendimento sobre o meu
propósito de vida, encontrei no Yoga o caminho para o autoconhecimento, para me
libertar dos condicionamentos e ter uma vida mais plena, feliz e em
paz. Conheci o Yoga em 1990, aos 20 anos, quando cursava a Faculdade de
Jornalismo em Campinas, interior de São Paulo. Paralelamente à carreira de jornalista,
o Yoga se tornou um caminho de transformação. Trouxe mais luz, consciência,
vitalidade e contentamento. Interessada em aprofundar os meus
conhecimentos, fiz cursos com diversos professores. Entre eles, Pedro Kupfer,
com quem, além de participar de vários workshops, fiz a Formação Para
Professores e uma viagem de estudos para a Índia, em 2005. Também estudei
com Camila Reitz, Marco Schultz, Renato Turla, Laurent Dauzou, Faeq
Biria, Maria Jesús Lorrio Castro, Gustavo Ponce, entre outros.
Pratiquei Ashtanga Vinyasa Yoga com Regina Ehlers. Com ela, fiz ainda o
Curso de Formação Para Professores, em 2005. Com Kálidas Nuyken, pratiquei
regularmente Iyengar Yoga e frequentei, em 2006, 2007 e 2010 o Curso de
Formação Para Professores. Em 2009, morei em Buenos Aires, na Argentina,
onde pratiquei um ano com a professora Sênior de Iyengar Yoga, Marina Chaselon.
Após 15 anos de atuação na área jornalística, em 2006 passei a me dedicar
exclusivamente ao Yoga, estudando e ensinando. Desde então, tenho sentido imensa
realização e alegria em compartilhar as minhas experiências com o Yoga. Há
cerca de um ano abri meu próprio Espaço de Yoga, o Sitaram Yoga, que fica na
Vila Madalena, em São Paulo.
www.sitaramyoga.com.br
facebook: Sitaram Yoga Luciana Guerin
http://sitaramyoga.wordpress.com/
https://www.facebook.com/SitaramYoga?fref=ts
As FOTOS dos ásanas foram feitas por Luis Esnal e Claudia Tavares; agradecimentos, ficaram ótimas!
http://sitaramyoga.wordpress.com/
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As FOTOS dos ásanas foram feitas por Luis Esnal e Claudia Tavares; agradecimentos, ficaram ótimas!
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