HUMBERTO MENEGHIN
YV – Muitos sabem que você percorreu algumas cidades do mundo se apresentando como aqualouca e posteriormente passou uma temporada trabalhando em Hong Kong. Nesta época você já sentia a necessidade de se dedicar a algo especial na vida, que ainda não sabia o que poderia ser, para se tornar uma pessoa mais centrada e consciente de si?
EDGY – Sim, algo que tocasse a alma. Nessa época eu já estudava tarot e astrologia, e era difícil para mim ter acesso a material de qualidade a um preço justo; a internet não existia ainda, rsrsrs. Em Hong Kong fiz amizade com uma professora de yoga, que por acaso também era taróloga e astróloga, porém como as aulas aconteciam na mesma hora dos shows nunca pude prestigiá-la. Ainda somos amigas e “trocamos muitas figurinhas” à distância.
YV – Então, você acha que o tarô, a astrologia, a numerologia e os cristais abriram caminho para você se interessar pelo Yoga? Como, onde e com quem foi a sua primeira prática? E, você se apaixonou por um ásana em particular?
EDGY –Eu diria que, de certa forma, sim! Mas definitivamente foi o esporte que me levou até o yoga. Me lembro de estar saindo de um treino de saltos ornamentais (já treinei tanta coisa...) e parar com minhas amigas na frente do ginásio onde as aulas eram ministradas pela professora Celeste. Como só havia senhoras, eu na minha “burra” adolescência disse para minhas amigas (veja só) -que “Yoga era para velhinhas (no bom sentido da palavra)!!! E vários anos depois foi a mesma Yoga que começou a integrar meus treinamentos... e aí eu digo que tudo acontece na hora que tem que ser.
Minha primeira aula foi com a professora Mônica (que também é professora de dança indiana) na academia, porque na verdade a primeira prática foi em casa! Abri uma revista que explicava algumas posturas, mas faltou algo...claro!! (agora eu sei por que, rsrsrs). Um ásana em particular? Não ... o que me tocou foram os pranayamas e a meditação.
YV – Na sua trajetória como praticante de ásanas do Yoga, decidiu se aprofundar e participar de alguns cursos para formação de professores. Um deles aconteceu na cidade de Juiz de Fora-MG e posteriormente você participou da formação de professores de Yoga com o Pedro Kupfer. De que forma esses dois cursos contribuíram para a sua formação como professora? E, o que você destaca de especial em cada um deles?
EDGY –Ótima pergunta! A primeira formação eu era crua, ou se fôssemos fazer uma analogia, seria uma pedra bruta nunca lapidada! Vou usar uma frase que muitos conhecem: “fazia ásanas, não Yoga”, e é bem por aí mesmo ... aprendi muito mais sobre ter humildade e baixar a crista, a fazer do simples o mais bacana. Quando decidi que faria a formação com o Pedro, buscava algo mais profundo, e eu estava em outro momento pessoal, a maternidade, que muda o foco total da mulher (pelo menos foi assim comigo)... o mais interessante foi a forma que esta formação aconteceu, pois o primeiro módulo foi feito ao longo de um ano inteiro, espacei dois anos e no segundo módulo me “retirei” um mês inteiro em Mariscal, longe de filho, casa, marido (na época). O Pedro é um professor com muita bagagem, muito culto e estudioso, e que apresenta o yoga conforme a tradição. Frisa também que temos que respeitar o corpo com o qual nascemos, com suas limitações anatômicas principalmente, além de nos lembrar que yoga não é espetáculo!!
YV – Você também se especializou em ministrar aulas de Yoga para crianças e adolescentes com Maurício Salem, na Yoga Educ e aulas para gestantes, na ABPY. Qual é o segredo para fazer com que os pequenos e os jovens se despertem e se interessem pelo Yoga? E para as gestantes, em que sentido a prática pode ajudá-las durante a espera de um novo Ser?
EDGY – O Maurício é outro professor iluminado! Eu ainda estou no “beabá” com as crianças... este ano tive a oportunidade de trabalhar em duas escolas diferentes, com propostas diferentes; antes era uma coisa mais isolada, tipo filhos de alunas ... é um desafio, crianças brincam o tempo todo e tem que ser com essa linguagem mesmo, lúdica, e embutindo os valores junto. Dá pra se divertir, mas nem tanto para não fugir do controle. Já com os adolescentes eu sinto como se o professor fosse aquele amigo mais velho que dá bons conselhos.
As aulas para gestantes são especiais, só pelo fato de você estar lá, muitas vezes ajudando aquela mulher a ser mulher, entende?! A vida está muito corrida, mulheres exercendo papéis que antes eram apenas masculinos, desconectadas do feminino, sem tempo de escutar o seu próprio coração batendo imagine o de outro ser que está dentro dela mesma? Claro que há uma grande parcela de mulheres conscientes do seu corpo e de cada transformação que ele passa para gerar uma nova vida, e que não praticam apenas para aliviar a dor nas costas ... o mais especial é quando surge aquela aluna que pratica com você bem antes do bebê existir, e durante 9 meses você contribui de alguma forma para a gestação (meses especiais), depois quando o bebê nasce e você o encontra ele sorri e te reconhece, claro, escutou sua voz o tempo todo!!!! São trabalhos gratificantes para o coração e para a alma!
YV – Você é paulistana, mas vive no Rio de janeiro já há alguns anos, é torcedora do Flamengo e ninguém diz que é de São Paulo devido ao seu característico sotaque carioca. Por que ocorreu essa transformação de paulistana para carioca da gema? E, no seu ponto de vista praticar e dar aulas de Yoga em terras cariocas é muito diferente do que numa cidade como São Paulo? Ou, não importa o lugar? E, ainda, qual é a realidade do professor ou professora de Yoga no Brasil sob o seu ponto de vista? Você acha que a categoria não é devidamente valorizada como deveria ser?
EDGY – Sempre me senti carioca apesar de ter nascido em Sampa, hahaha. O Rio de Janeiro foi a cidade que escolhi para morar. Vivi aqui durante minha adolescência, e foi muito marcante. Quando voltei do exterior o natural seria voltar pro local de origem, mas tinha alguma coisa que não batia, e era o fato de, aqui no Rio, eu poder desfrutar de uma vida ao ar livre, quase sempre em contato com a natureza. Eu vejo algumas diferenças sim entre dar aulas em cidades diferentes (SP/RJ), mas cabe dizer que o estilo de vida do professor também poderá influenciá-lo. Agora, cá entre nós, o público de Sampa leva a vida mais a sério, mas também eles não tem praia (brincadeirinha). No verão aqui no Rio há uma certa baixa, inclusive alunos deixam de ir à prática para aplaudir o pôr-do-sol, sério, rsrsrs
Nossa categoria é valorizada em alguns lugares, como estúdios específicos para prática de Yoga, e ao mesmo tempo desvalorizada em outros, como por exemplo, academias. Estou falando sobre questões financeiras e até o respeito que um profissional merece. Sim, você pode me perguntar: mas todas as academias? Há exceções, estou falando de um modo geral e por experiência própria ... outro fator que acredito pontuar aqui é, Yoga não é prioridade para muita gente, e nem todos estão interessados em se conhecer melhor...
YV – No Yoga sabemos que existem muitas subdivisões, determinados nichos que se dizem unidos, mas na verdade estão bem separados. Se formos parar um pouco para refletir, em alguns deles, o fim é o mesmo, moksha. No entanto, certos grupos que dizem praticar Yoga se desvirtuam desse propósito. Alguma vez você já se deparou com pessoas que insistiam para que você seguisse um preceito que não condiz com a sua realidade e com o que o verdadeiro Yoga nos apresenta?
YV – Paralelamente ao Yoga, você adora correr e já participou de maratonas e vários circuitos aqui e no exterior. Até que ponto a prática do Yoga pode auxiliar um atleta em seu treino? Não estaria a prática sendo adotada apenas como mais um tipo de alongamento eficaz? E, você acredita realmente que alguns esportistas podem se interessar a fundo pelo Yoga a ponto de se dedicarem ao estudo das escrituras ou a maioria se estaciona na execução de ásanas?
EDGY –Yoga auxilia a trazer mais foco, além do que já é sabido sobre os benefícios nos músculos, articulações e etc. Estar presente no momento presente, eis a grande sentença e que “na hora do vamô vê” é o que fica valendo. Auxilia inclusive o atleta aprender a ter humildade e escutar, de verdade, o que seu corpo diz. Atletas se acham super-heróis, e por conta da busca por tempos/performances melhores, sacrificam o seu corpo, muitas vezes colocando mais do que um campeonato em risco. Infelizmente alguns atletas só enxergam como um “alongamento mais profundo”. Acredito sim que o Yoga possa inspirar um atleta a seguir o estudo e te digo aqui que minha vida foi tocada nesse sentido...
YV – Edgy Pegoretti numa fila imensa de banco ou dentro de um ônibus lotado onde algumas pessoas não têm a mínima civilidade e consideração; Edgy deixa pitta aflorar ou busca um salvaguarda para atenuar a situação que traz desconforto? Quais são as suas opções? Rodar a baiana está entre uma delas?
EDGY –Depende se estou com fome ou não (não queira ver um Pitta desequilibrado com fome, e como diz uma amiga nossa, se for mulher com TPM, hahaha). Falando sério, esta sua pergunta é meu treino diário, juro. Eu não consigo ficar quieta e/ou calada diante de uma mulher grávida ou idosos em pé, quando tem alguém fingindo que dorme para não ceder o lugar, ou como já aconteceu diversas vezes, lixo jogado pela janela do ônibus, ou esquecido no banco do mesmo ... claro que a forma como você aborda este “quase cidadão” influencia, mas quando este “quase” cidadão é mal educado, nem adianta! E o metrô que no horário do rush tem um vagão exclusivo (não é preferencial) para mulheres ... tem mais homem por metro quadrado do que outra coisa. E eles ainda vão sentados ... mas as mulheres não falam nada, fico indignada! Se eu for contar o que acontece esta entrevista não termina. Ando mais atenta para que rodar a baiana seja a última opção. O pior são os idosos, a maioria (não todos)– que me perdoem aqueles que se por ventura se ofenderam – esqueceu os bons modos em casa. Quer coisa pior do que ver um idoso invadir (quase nunca pedem licença ou esperam você terminar) o espaço do supermercado destinado às suas compras e colocar várias bandejas de carne praticamente em cima da sua comida?! Arghhh haja controle, juro!!!
YV – Como cidadã que deseja um mundo melhor para si e para os demais, quais são as medidas necessárias que os governantes e as autoridades deveriam tomar para que o caos que de hora em vez se instala numa cidade como Rio, possa ser diluído? E nesse ínterim, como você acha que os preceitos do Yoga poderiam ser aplicados? Você é filiada ao Partido Verde?
EDGY –Difícil ... o grande problema está na falta de educação e falta de cidadania e civilidade das pessoas, seja no trânsito, na ciclovia, nas calçadas. E o Rio de Janeiro cada vez mais recebe turistas vindos de outras cidades do Brasil e do exterior. Acredito que o governo poderia investir mais em propagandas educativas, tipo fornecer cartilhas mesmo, que “Educação Moral e Cívica” voltasse a fazer parte da grade curricular, pintar o caminho que tem que ser seguido na rua não funciona. Como dizem, fazer doer no bolso, criar multas! Já reparou como os pedestres não atravessam a faixa? Eles andam a 10metros dela, e depois reclamam quando são atropelados. E os maus ciclistas que andam na contramão do fluxo dos carros e ainda por cima atropelam pedestres? Uma coisa que a prática do Yoga dá é essa consciência de estar fazendo (ou procurando fazer) o que é correto. E respeitando o direito do outro.
Não sou filiada a nenhum partido, porém simpatizo com aqueles políticos cujas propostas visam à sustentabilidade e o respeito ao ser humano.
YV – A devoção a algumas deidades hindus é demonstrada claramente por aqueles que se dedicam, se aprofundam e estudam Yoga e Vedanta. Você é devota de alguma Deusa ou Deus Hindu? E, você acha que há alguma relação peculiar entre São Jorge - Ogum e Shiva? Indo mais longe, meditar “remove montanhas?”
EDGY –Estamos em pleno Navaratri, e sim, sou devota de alguns deuses hindus, Hanuman é um deles. Nunca tinha parado pra pensar nessa relação, mas eu particularmente não associo Shiva a São Jorge, podem até ter aspectos semelhantes, não sei ... meditar remove os obstáculos que te impedem de chegar/estar no topo da montanha!
YV – É natural que no dia a dia desejamos ver nossas metas e objetivos se concretizarem. O que a yogini Edgy Pergoretti almeja na vida pessoal e no caminho do Yoga?
Eu continuo buscando o equilíbrio, aprendendo mais sobre quem eu sou para que eu possa me tornar uma pessoa melhor, principalmente para aqueles que no dia-a-dia estão comigo. Afinal de contas, são eles que te conhecem de verdade, e que poderão reconhecer seu amadurecimento. No caminho do Yoga ainda tenho muito chão pela frente, estou só no comecinho rsrsrs, mas que eu possa inspirar outras pessoas, daí a importância de cada atitude, pois temos que dar o exemplo. Ser um pai, uma mãe tem isso também, de estar atento, está provado que a criança aprende o que é visto feito em casa.
EDGY PEGORETTI
Voltou a praticar Ashtanga Vinyasa Yoga depois de 5 anos; dá aulas de Hatha Yoga no Saraswati Studio de Yoga do Leblon (3as e 5as, 12h30 às 13h30) e no Espaço Ananda de Copacabana (6as às 19hs) , além de personal. Dá aulas para qualquer público, seja este crianças, adolescentes, gestantes ou idosos. Leio tarot, runas, faço mapas numerológicos e harmonização com cristais (casa/pessoa).Gosto de viajar, de estudar mitologia e fotografar a natureza por aí. Aprendo muito com os alunos e, principalmente, com meu filho de sete anos.
Já pratiquei yoga com a Edy há algum tempo e fiquei muito feliz quando ela retornou ao Ananda. Suas aulas são dinâmicas, criativas e ela está sempre orientando e esclarecendo sobre os ásanas e outros aspectos do yoga. Adorei sua entrevista e a oportunidade de conhece-la melhor.
ResponderExcluirRegina (aluna do Ananda)
gostaria de conversar com a EDGY PEGORETTI pelo facebook, vocês poderiam me passar?
ResponderExcluirmeu nome é luciene, tambem pratico yoga e gostaria de alguns ensinamentos, para vocês me adicionar tem aqui e facebook do meu filho: carlosnery06@hotmail.com
e tambem gosto de astrologia, e tudo mais.
eu espero ter contato com a EDGY PEGORETTI pelo facebook, e gostaria de saber que é o guru dela tambem