HUMBERTO MENEGHIN
No meio em que vivemos existem pessoas que gostam
muito de conversar, serem ouvidas e terem companhia. Isto é bem normal aos
seres humanos; pois como sabemos os animais irracionais não falam, não precisam
ser ouvidos e não fazem conta de qualquer companhia, salvo alguns; no entanto,
quando o falar demais e o conseqüente medo de ficar só são evidentes a alguém,
isso pode denotar que essa pessoa possivelmente tenha alguma dificuldade para meditar.
Convidada a participar de um momento de relaxamento
e meditação, uma pessoa que fala em excesso provavelmente não irá consegui
aquietar a mente, salvo raras exceções, pois ainda está envolvida com problemas
corriqueiros.
Com o inato costume de falar muito onde quer que
esteja, no momento que se predispõe a tentar meditar, a mente dessa pessoa não
consegue ficar quieta e não para de passear de pensamento a pensamento, atendo
a atenção aos eventos que já passaram e aos que virão depois; jamais no momento
presente.
Focar o momento presente, mesmo que seja por pouco
tornar-se muito difícil para os tagarelas, pois muitos já estão condicionados à
tagarelice desde a tenra idade. Pode ser muito difícil para essa pessoa
calar-se, podendo achar até que está perdendo um tempo muito precioso no
caminho para aquietar a mente com o objetivo de meditar. Acha isso impossível e
que poderia muito bem estar conversando com alguém que tenha ouvidos mais do
que pacientes as suas palavras, ao invés de dispensar alguns minutos com
“meditação”, que é uma coisa só para monges ou eremitas, o que definitivamente
não é a sua praia.
No entanto, mesmo tendo consciência de que precisa
calar-se, porque lhe mandaram por e-mail um link de vídeo animado onde é mostrado que é muito possível meditar
em poucos minutos, resolve, por curiosidade, participar de um retiro; não um
retiro de silêncio, pois isso seria horrível, mas um daqueles retiros de fim de
semana onde se tem o contato com a Natureza, toma-se banhos de cachoeiras, pratica-se
Yoga, come-se muito bem e conhecem-se pessoas novas, que estão acostumadas a
meditar, pois parece que assim seria mais fácil entrar na deles e meditar.
No entanto,
essa pessoa ao invés de aproveitar o retiro para se aquietar e tentar meditar,
escrava de sua tagarelice incontrolável, continua passando longe de qualquer
concentração e meditação. Assim, acaba atrapalhando o bom andamento do
encontro, nem se apercebendo que foi muito inconveniente.
O ser humano tem dois ouvidos para ouvir e uma boca
para falar, mas mesmo assim parece que algumas pessoas tem duas bocas para
falar e meio ouvido para ouvir.
Então, o que uma pessoa falante, que ainda tem o
pavor de ficar só, pode fazer para pelo menos tentar meditar?
As pessoas que falam demais são carentes e
necessitam de atenção, assim como as pessoas que falam de menos, pois ambas não
estão no meio termo; ou seja, no equilíbrio, que é falar o necessário no
momento certo e ainda não ter qualquer receio de estar com ou sem companhia.
Para essas pessoas que falam demais e detestam
ficar sozinhas, a prática consciente do Hatha
Yoga, através de uma boa seqüência de
ásanas pode contribuir para que essa inquietação se atenue, se a essa ação
estiver determinada e se identificar.
Atuando de uma forma sutil nos aspectos físico,
mental e psíquico a prática de ásanas
aliada a respiratórios, pranayamas,
mudras e até mantras irão
auxiliar aquele ou aquela que quer centrar-se no Ser a se aquietar para
finalmente poder tentar meditar. Diferentemente de certas práticas que apenas
se compõe de ásanas, poucos pranayamas e se encerram com o
relaxamento, sem que haja uma continuidade com a meditação, o que é lamentável.
Pode, contudo, aquele ou aquela que participa de
uma prática assim, ou seja, onde o momento reservado à meditação não existe,
sentir-se mais leve, nutrida de um bem estar passageiro; mas, no primeiro
momento que voltar a abrir a boca, a verborragia será incontrolável e os
efeitos dos ásanas se diluirão como a
maré que se recolhe.
No entanto, havendo uma continuidade da prática com
a meditação, pouco a pouco, mesmo que os pensamentos que rodeiam pela mente
queiram perturbar, descentrar e o foco no fluxo respiratório parecer difícil,
perceberá que após a prática, aquela verborragia aguda que era latente parece começar
a perder força.
E, mais tarde, com o decorrer do tempo, se
dedicando às várias tentativas para meditar, começará a notar que os
pensamentos já não mais vagueiam tanto pela mente como antes, que a respiração
está mais tênue, que os assuntos mundanos e a vontade incontrolável de falar
parecem não mais atrair a sua atenção; pois, agora, o que conta mais é a
qualidade do que se fala e não a quantidade e o falar torna-se apenas sobre o
necessário, ainda que encontre pela frente alguém que goste muito de tagarelar.
Ou seja, a sua vida muda, e ficar só passa a ser um momento propício a meditar
e não mais um momento pavoroso.
Harih Om!
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