HUMBERTO MENEGHIN
Uma das boas receitas
que encontramos no Yoga para atenuar a exacerbação do ego está no Surya
Namaskar. Pode ser surreal dizer a alguém que ao se dedicar à execução de ásanas
que compõem a seqüência da Saudação ao Sol possa auxiliá-lo a se descentrar
do ego; no entanto, se formos analisar todos os movimentos e toda a
concentração e intenção do praticante ao saudar o Sol, iremos notar que um dos
bons efeitos que esta prática nos devolve, além dos efeitos no físico, é a
possibilidade de nos descentrar do ego, ou seja, abrandá-lo e nos tornarmos
mais conscientes, enquanto se aquieta as emoções, a mente, os pensamentos e
sobretudo o manipura chakra.
Elevando os braços ao
alto enquanto vem uma respiração consciente, o praticante vivifica a imagem do
Sol lá em cima, a sua frente. O único, que mais brilha nesta galáxia, que bem
poderia ter o seu “ego” altamente inflado, mas, pelo contrário, distribui vida,
energia e esperança a todos desde os primórdios dos tempos, sem nada cobrar ou
sem exigir qualquer tipo de atenção ou apreço.
Ao exalar a cabeça e os braços vem abaixo em direção à Terra, começando o
praticante humildar-se. Em uma inspiração mais leve, as mãos se firmam ao solo,
pernas e pés vão para trás e o corpo todo se prostra ao chão em uma atitude de
reverência àquele que nutre e fortalece.
O Sol brilha, alguns em
devoção a Savitri, o Deus Védico do Sol, deixam o corpo todo, inclusive
a testa, tocar a Terra, imbuídos em gratidão. Por algum momento ali ficam,
entregues àquele que brilha, faz crescer as plantas, energiza e dá vida sem
nada cobrar e sem anunciar a todos que somente ele é quem é capaz de fazer isso
e que o faz quando bem entende.
Outra inspiração e a
fronte se eleva da terra, para um pouco mais o peito se abrir e o Ser se
expandir. Nova inspiração, o corpo pelo quadril se eleva, a cabeça se abaixa e
o praticante até pode se sentir como se fosse o melhor amigo do homem, que no
estágio evolutivo que se encontra, não sabe o que ego significa e tampouco nele
irá se centrar.
Alguns outros, com o
propósito de melhor se entregar ao Sol se tornam uma criança e assim mais se
humildam, se recolhendo como se fossem um ser que está ainda no ventre materno.
Testa à Terra e o Ser se estabiliza, deixa de ser aquele que pede a atenção de
todos e que quer roubar a cena nos momentos menos propícios.
Uma inspiração surge e
aquele que com o coração e força de vontade pratica a saudação ao Sol ressurge
da Terra e se eleva, cheio de gratidão para aquele que tantas dádivas, vida e
ensinamento nos traz.
As mãos em prece se unem junto ao coração e a luz do Sol está ali, no alto,
refletindo no corpo, mesmo que algumas nuvens, vez ou outra, possam encobri-lo.
E, o praticante, imbuído
em gratidão e simplicidade, após flexões e extensões, reinicia um novo ciclo
que irá ajudá-lo ainda mais a se descentrar do ego.
Harih OM!
Nenhum comentário:
Postar um comentário