HUMBERTO MENEGHIN
Ficaram sabendo lá no escritório que eu também
estou praticando Yoga com a Claudinha. Andam dizendo que agora eu estou Zen,
diferente; que o meu estilo mudou, que pareço mais calma e menos dispersa. O Dárcio,
que trabalha na mesma estação de trabalho que eu vive me mandando e-mails engraçadinhos e aquelas
correntes que detesto; mas uma dessas mensagens que ele me mandou hoje eu não
gostei nenhum pouco: consistia em imagens mostrando homens bêbados jogados as
traças, colocados em supostas posturas do Yoga e ao lado de cada imagem o ásana correspondente. Parece que todo
mundo gosta dessas coisas toscas e desse humor barato e sarcástico que acaba
sendo de puro mau gosto, pode isso!
Meu colega escolheu a pessoa errada para mandar
esse spam; detestei. No cafezinho
falei com a Claudinha sobre isso e ela me disse que também tinha recebido o
mesmo e-mail que o Dárcio mandou pra
mim, mas que decidiu ignorar, nem dar atenção a baixaria que estavam propagando
sobre o Yoga.
Mas a gota d’água foi quando o Dárcio perguntou se
nós iríamos tomar um porre essa noite! A Claudinha se afastou e nem deu ouvidos
ao Dárcio, mas eu não fiquei quieta. Falei para ele que estavam deturpando o
Yoga com aquelas imagens, que o Yoga não é nada disso, que ninguém se embebeda
para praticar e que ele deveria experimentar fazer uma prática ao invés de
ficar divulgando essa piada de mau gosto. Afastei-me do Dárcio e durante todo o
restante do dia não falei mais com ele.
Mas, no fim do dia, quando estava pegando as minhas
coisas para ir para o Yoga com a Claudinha, ele quis puxar conversa comigo, mas
acabei sendo monossilábica. Durante o trajeto até o espaço de Yoga, resolvi nem
tocar mais nesse assunto com a Claudinha e me centrei no momento presente.
Chegando lá no Yoga, soubemos que o meu professor teve um contratempo e que
naquela noite iríamos ter aula com uma professora substituta que se chamava
Tarciana. Poxa vida! Estava contando tanto com a aula do meu professor, ele é
tão bom! Será que essa professora substituta iria dar conta do recado?
“Ela é boa. É ashtangueira.Já
morou na Índia.” Foi o que disse uma voz chegando por trás de mim que logo
reconheci: era a Simone, que com um sorriso entre os lábios deixou dois
beijinhos em mim e na Claudinha, pois parecia já ter se curado da gripe. Mas o
que seria uma professora ashtangueira?
Continuando a conversa, Simone disse que a linha de
prática dessa professora era o Ashtanga
Vinyasa Yoga, com seqüências bem dinâmicas de ásanas e que a sua forma atual foi desenvolvida em Mysore, Índia
por Pattabhi Jois.
Fiquei pasmada com a informação que a Simone nos
passou, parecia que ela era bem “macaca velha” em matéria de Yoga. Então,
ficamos sabendo, por acaso, que a Simone teria recebido um convite para
trabalhar no Canadá, em Toronto; mas que ainda não sabia se iria aceitar ou
não, pois achava o Canadá um país muito frio.
Nos trocamos e fomos direto para sala de prática,
adiantadas em cinco minutos desta vez. Por lá nos deparamos com uma mulher na
faixa dos trinta, bastante magra, plantando bananeira justamente no lugar onde
meu professor costuma ficar para dar as aulas.
Notei de imediato que as unhas dos pés dessa
balzaquiana estavam pintados em esmalte da cor Pink, bem cintilante. Percebendo a nossa presença, a praticante que
presumi ser a professora asthangueira,
nos disse para ficarmos a vontade. Pois bem, nos acomodamos enquanto os outros
praticantes tomavam seus devidos lugares na sala. Então, sem que esperássemos,
a professora substituta baixou as pernas e desfez a invertida que tinha feito,
ficando deitada sobre o mat por
talvez um minuto. Por fim se colocou em padmásana,
se apresentando e dizendo que estava lá para dar a aula da noite no lugar do
nosso professor, porque ele havia tido um contratempo.
A aula começou com a professora Tarciana entoando o
mantra OM em cinco fôlegos e depois ela começou a fazer um pranayama polarizado. Terminados os ciclos, ela pediu para que nos
levantássemos e iniciássemos uma seqüência dinâmica de ásanas bem fluidos.
A aula transcorreu bem. Realmente essa professora ashtangueira
deu conta do recado, mas achei que a aula foi mais dinâmica e ela puxou muito
nos ásanas. Logicamente,
continuo preferindo praticar com o meu professor mesmo. Ele é insubstituível!
Terminado o momento meditativo, ela nos convidou a
entoar por três vezes, um mantra que era novo para mim. Este o mantra, que
significa: “Que todos os seres em todos os lugares sejam felizes. OM, Paz, Paz,
Paz.”
Loka samasta sukhino bavantu
OM, shanti, shanti, shanti!
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