HUMBERTO MENEGHIN
Hoje em dia, em cada bairro de uma cidade de médio porte
podemos encontrar um estabelecimento voltado à prática de Pilates. São
fisioterapeutas e professores de educação física que optaram em abrir um estúdio
por notarem que o oferecimento de aulas de Pilates traz um bom rendimento
monetário, logicamente acompanhado pelos benefícios ao corpo que todos nós já
conhecemos; são clínicas voltadas à beleza e estética que também o incorporaram
como uma opção a mais de negócio e até mesmo alguns centros de Yoga que também
se renderam ao Pilates e passaram oferecer aulas. No entanto, andam confundindo
o Yoga com o Pilates e vice-versa.
Mas como alguém pode confundir Yoga com Pilates se
ambos são práticas distintas? Mas será mesmo que são distintas? Se você notar em algumas revistas que estampam o
Pilates perceberá que, comumente, alguns ásanas
do Yoga não cansam de ser mostrados como posturas do Pilates; como por
exemplo: o virabhadrasana, navasana, dentre outros com uma leve
modificação ou até mesmo sem.
Uma senhora leiga no assunto, por pura ignorância,
comenta com a amiga que a filha está praticando Yoga. Em resposta a amiga desta
senhora diz de volta que achava que a filha da amiga fizesse Pilates, pois a
sua filha que é amiga da filha da amiga faz Pilates com ela. Numa pequena
discussão, uma teima que praticam Yoga e a outra que praticam Pilates. No fim
para atenuarem a celeuma, dizem que é tudo a mesma coisa, tudo igual.
Não
é bem assim. Apesar de abertamente adotar alguns ásanas do Yoga, adaptando-os, seja em mat Pilates ou no Pilates feito com o auxílio de aparelhos e
grandes bolas, a prática do Pilates, que foi criado por Joseph Pilates no
século anterior, atua em partes isoladas e específicas do corpo enquanto o Yoga
age no corpo como um todo. A consciência corporal, o autocontrole e a
respiração são trabalhados em ambos.
No entanto, mesmo que o Pilates tenha
recebido algumas influências do Hatha Yoga, ele não tem o mesmo fito desta
tradição. Então uma das senhoras pode perguntar: Mas qual é a finalidade do
Yoga? O que o diferencia do Pilates?
Como resposta curta e grossa, podemos simplesmente
dizer a esta senhora que a finalidade do Yoga é moksha; muito embora notarmos por aí que alguns espaços e
professores de Yoga preferem nem entrar neste detalhe e focar a prática apenas
em ásanas; por parecer “mais viável”.
De volta à senhora, ela insiste em saber o que é moksha e ainda pergunta: Moksha não é um tipo de café que custa o
olho da cara e que se bebe naquela cafeteria da mega livraria do shopping?
Tentando explicar o que significa moksha a esta senhora, buscamos um approach, uma abordagem que seja de
simples entendimento. Ao pé da letra alguém poderá simplesmente dizer que moksha é libertação e parar por aí. No
entanto, parando por aí, nota-se uma expressão de dúvida na face da senhora que
parece disfarçar que entendeu perfeitamente o que é moksha.
Se quem explicou perceber que este ponto de
interrogação ainda paira pela face desta senhora, vai mais além e buscando um
exemplo lúdico continua a explicar o que é moksha.
Então, esta senhora ouve o caminhão de entrega de
botijões de gás se aproximando lá fora, tocando aquela música particular. Logo
ela já sabe que o gás está chegando, porque ouve a música.
Mas a música é tão chata que fica repetindo com
insistência na sua cabeça. Condicionada com isso, vê que tem um botijão vazio
em casa que precisa ser trocado por um cheio. Então, chama o vendedor, ele leva
embora o botijão vazio e traz um novo, que dentro de alguns dias também ficará
vazio e precisará ser trocado por um novo e assim vai o ciclo, um samsara, como não poderia deixar de ser
também.
Mas a música do caminhão de entrega de botijões de
gás ainda ficou na cabeça e não quer sair de jeito algum e isto a irrita
tanto... continua irritar, irritar e irritar que se sente nervosa, limitada, e
responde com rispidez aos outros, encontrando-se presa, inadequada, estressada;
mas depois ela já se esqueceu do caminhão de entrega de gás, já se esqueceu
daquela música chata e condicionante, mas ainda se sente presa em irritação e
nervosismo.
Então é dito a esta senhora para que busque se auto
conscientizar daquilo que a deixa e a deixou irritada. Ela começa a perceber
que foi a música do caminhão de entrega de botijões de gás que ajudou a
provocar tudo isso, que a deixou irritada, nervosa, ríspida com os outros.
Então, surgiu um estalo, uma descoberta, uma conscientização, seguida pela
decisão de não se deixar abater por algo que veio e já se foi, de se libertar da
irritação daquela inadequação limitada que lhe tomou conta por algumas horas.
Moksha, em resumo, é libertar-se de alguma coisa
significante ou não que possa trazer algum tipo de inadequação, limitação. No
entanto, desta base temos que moksha
é a liberação do ciclo de renascimento e da morte.
Aliando-se o yogi à prática, ao estudo das
escrituras, à busca do conhecimento, à meditação e a uma vida lídima,
libertando-se dos condicionamentos e das limitações que lhe são apresentados
pela jornada e dos altos e baixos do samsara,
estará galgando o caminho que o levará à liberação final. E por isso mesmo que
o Yoga e o Pilates são bem distintos. Não há o que confundir, mas nada impede
que o praticante de Pilates também se liberte. Moksha é acessível a todos.
E o povo paga o dobro do preço por algo que é genérico!
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