18 de setembro de 2011

ANDAM CONFUNDINDO YOGA COM PILATES E VIVE-VERSA



HUMBERTO MENEGHIN


Hoje em dia, em cada bairro de uma cidade de médio porte podemos encontrar um estabelecimento voltado à prática de Pilates. São fisioterapeutas e professores de educação física que optaram em abrir um estúdio por notarem que o oferecimento de aulas de Pilates traz um bom rendimento monetário, logicamente acompanhado pelos benefícios ao corpo que todos nós já conhecemos; são clínicas voltadas à beleza e estética que também o incorporaram como uma opção a mais de negócio e até mesmo alguns centros de Yoga que também se renderam ao Pilates e passaram oferecer aulas. No entanto, andam confundindo o Yoga com o Pilates e vice-versa.




Mas como alguém pode confundir Yoga com Pilates se ambos são práticas distintas? Mas será mesmo que são distintas? Se você notar em algumas revistas que estampam o Pilates perceberá que, comumente, alguns ásanas do Yoga não cansam de ser mostrados como posturas do Pilates; como por exemplo: o virabhadrasana, navasana, dentre outros com uma leve modificação ou até mesmo sem.




Uma senhora leiga no assunto, por pura ignorância, comenta com a amiga que a filha está praticando Yoga. Em resposta a amiga desta senhora diz de volta que achava que a filha da amiga fizesse Pilates, pois a sua filha que é amiga da filha da amiga faz Pilates com ela. Numa pequena discussão, uma teima que praticam Yoga e a outra que praticam Pilates. No fim para atenuarem a celeuma, dizem que é tudo a mesma coisa, tudo igual.






Não é bem assim. Apesar de abertamente adotar alguns ásanas do Yoga, adaptando-os, seja em mat Pilates ou no Pilates feito com o auxílio de aparelhos e grandes bolas, a prática do Pilates, que foi criado por Joseph Pilates no século anterior, atua em partes isoladas e específicas do corpo enquanto o Yoga age no corpo como um todo. A consciência corporal, o autocontrole e a respiração são trabalhados em ambos. 





No entanto, mesmo que o Pilates tenha recebido algumas influências do Hatha Yoga, ele não tem o mesmo fito desta tradição. Então uma das senhoras pode perguntar: Mas qual é a finalidade do Yoga? O que o diferencia do Pilates?

Como resposta curta e grossa, podemos simplesmente dizer a esta senhora que a finalidade do Yoga é moksha; muito embora notarmos por aí que alguns espaços e professores de Yoga preferem nem entrar neste detalhe e focar a prática apenas em ásanas; por parecer “mais viável”.

De volta à senhora, ela insiste em saber o que é moksha e ainda pergunta: Moksha não é um tipo de café que custa o olho da cara e que se bebe naquela cafeteria da mega livraria do shopping?

Tentando explicar o que significa moksha a esta senhora, buscamos um approach, uma abordagem que seja de simples entendimento. Ao pé da letra alguém poderá simplesmente dizer que moksha é libertação e parar por aí. No entanto, parando por aí, nota-se uma expressão de dúvida na face da senhora que parece disfarçar que entendeu perfeitamente o que é moksha.

Se quem explicou perceber que este ponto de interrogação ainda paira pela face desta senhora, vai mais além e buscando um exemplo lúdico continua a explicar o que é moksha.

Então, esta senhora ouve o caminhão de entrega de botijões de gás se aproximando lá fora, tocando aquela música particular. Logo ela já sabe que o gás está chegando, porque ouve a música.

Mas a música é tão chata que fica repetindo com insistência na sua cabeça. Condicionada com isso, vê que tem um botijão vazio em casa que precisa ser trocado por um cheio. Então, chama o vendedor, ele leva embora o botijão vazio e traz um novo, que dentro de alguns dias também ficará vazio e precisará ser trocado por um novo e assim vai o ciclo, um samsara, como não poderia deixar de ser também.

Mas a música do caminhão de entrega de botijões de gás ainda ficou na cabeça e não quer sair de jeito algum e isto a irrita tanto... continua irritar, irritar e irritar que se sente nervosa, limitada, e responde com rispidez aos outros, encontrando-se presa, inadequada, estressada; mas depois ela já se esqueceu do caminhão de entrega de gás, já se esqueceu daquela música chata e condicionante, mas ainda se sente presa em irritação e nervosismo.

Então é dito a esta senhora para que busque se auto conscientizar daquilo que a deixa e a deixou irritada. Ela começa a perceber que foi a música do caminhão de entrega de botijões de gás que ajudou a provocar tudo isso, que a deixou irritada, nervosa, ríspida com os outros. Então, surgiu um estalo, uma descoberta, uma conscientização, seguida pela decisão de não se deixar abater por algo que veio e já se foi, de se libertar da irritação daquela inadequação limitada que lhe tomou conta por algumas horas.

Moksha, em resumo, é libertar-se de alguma coisa significante ou não que possa trazer algum tipo de inadequação, limitação. No entanto, desta base temos que moksha é a liberação do ciclo de renascimento e da morte.

Aliando-se o yogi à prática, ao estudo das escrituras, à busca do conhecimento, à meditação e a uma vida lídima, libertando-se dos condicionamentos e das limitações que lhe são apresentados pela jornada e dos altos e baixos do samsara, estará galgando o caminho que o levará à liberação final. E por isso mesmo que o Yoga e o Pilates são bem distintos. Não há o que confundir, mas nada impede que o praticante de Pilates também se liberte. Moksha é acessível a todos.

Harih Om!

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