HUMBERTO MENEGHIN
Realizar uma palestra sobre um determinado assunto, seja qual for, demanda por parte do palestrante um certo background, ou seja, um conhecimento específico e concreto sobre o tema em questão, acompanhado de uma preparação prévia e um planejamento pessoal de como a palestra irá transcorrer.
Em um primeiro momento, além de se ter um tema específico e interessante que vai ser abordado pelo palestrante, o público alvo para quem a palestra foi preparada e dirigida também é um outro ponto importante; bem como o local onde a palestra vai ser realizada, que deve ser adequado e confortável.
Não é necessário que o palestrante faça um curso de oratória para começar a palestrar, mas nada impede que o faça com alguém que realmente conheça as boas técnicas de como discorrer sobre um tema e também como se apresentar perante àqueles que ouvem.
Nas lides do Yoga é muito comum nos depararmos com inúmeras palestras que são oferecidas, sejam gratuitas ou não, que abordam diversos temas; tais quais, temas ligados ao Vedanta, à cultura Hindu, ao Ayruveda, à meditação e ao Yoga propriamente dito, etc. No entanto, alguns que se enveredam em oferecer essas palestras podem ainda não estar bem preparados para tanto.
Você pode identificar um bom palestrante se este não se prender de forma intensa ao power point ou àquelas transparências usadas em retroprojetores. Caso você se depare com um palestrante que é muito apegado a essas facilidades, reflita um pouco se ele ou ela seria capaz de dizer o que diz sem a ajuda da tecnologia. Imagine o/a palestrante apresentar o tema em questão, sem o uso destas facilidades. Pois é, pode ser que naturalmente se desvencilhem destes aparelhos, mas pode ser que não.
O uso do power point e de transparências deve ser comedido, não abusado; como por exemplo para trazer em evidência a imagem de músculos e vértebras do esqueleto humano se a palestra for relacionada à anatomia do Yoga; gráficos e outras ilustrações e conceitos indispensáveis para o entendimento. Claro que a apresentação de um tema pelo power point pode ser visivelmente mais interessante, mas pode encobrir abertamente a ignorância e a insegurança que ainda paira sobre o palestrante. Se o assunto abordado for Vedanda, que naturalmente é passado de ouvido a ouvido, o parampara de ensinamento, a palestra desta forma por si só não irá surtir o efeito desejado, tornando-se apenas uma mera e ilustrativa pincelada sobre o tema.
Ainda, existem palestrantes que se utilizam do power point ou retro projeções, apenas para vender o seu peixe; ou seja promover o seu negócio e produto e quem é dado a freqüentar boas palestras, que são bem elaboradas, na hora identificará o intuito do evento e até poderá deixar o recinto.
Ainda, há palestrantes que são muito inseguros e inexperientes, que necessitam se unir a outros mais para conduzir e desenvolver o tema a ser abordado. É natural que nas primeiras palestras, quem se predisponha a isso, deixe-se abater pelo medo e nervosismo diante de um grande público e precise de um suporte; mas, mesmo assim é um começo e deste ponto para frente o palestrante poderá seguir o seu dharma neste caminho ou abandoná-lo de vez.
O bom palestrante é aquele que bem se prepara e conhece praticamente tudo sobre o tema a ser abordado. É estudioso incansável, elabora um esquema pessoal e didático; tem empatia e carisma; não engana. Raramente faz uso do power point e da retro projeção; logicamente leva consigo as suas anotações e esporadicamente destaca alguns pontos principais em uma lousa branca ou papel grande escrevendo com aqueles pincéis atômicos e conseqüentemente a palestra transcorre bem.
O palestrante olha no olho, na medida do possível, a quem está falando. Tem um imenso prazer em transmitir o conhecimento que lhe foi passado por outros grandes sábios. O palestrante valioso sempre está disponível para esclarecer quaisquer dúvidas, sabendo perfeitamente quando é a hora de encerrar o assunto sem ser mal educado, evitando deixar o tema entediante e a palestra chata e desinteressante.
Claro que durante uma palestra alguns dos ouvintes podem abertamente cair em sono. Mas, por que isso acontece? O sono vem devido à fisiologia de cada um. Uma pessoa pode ter tido um dia muito cansativo e uma outra pode ter tido uma refeição muito pesada ou até mesmo ter tomado um remédio que lhe causou sono; e ainda o tema em si é desestimulante, desinteressante e redundante. No entanto, o palestrante percebendo que alguns dos que o ouvem em sono caem, poderá pedir um intervalo para que no retorno os que dormiam estejam mais despertos.
Infelizmente nas lides do Yoga temos alguns palestrantes que ainda não estão bem preparados para apresentar um tema específico seja numa palestra ou workshop. Podem até achar que estão com a bola toda porque a audiência aparentemente adorou a exposição e muitos tem simpatia por sua pessoa; mas, a alguns outros poucos não enganam, pois estes identificam claramente a sobreposição dos temas, “o copia e cola” e a falta de traquejo para abordar o assunto.
Alguns palestrantes que são de outra nacionalidade, que não falam a língua local, necessitam de um bom tradutor; possivelmente um tradutor que também tenha um certo conhecimento sobre o tema. Se o tema abordado for Vedanta, que tenha um bom conhecimento sobre Vedanta. No entanto, alguns Swamis e Swaminis e outros expoentes que vem ao Brasil para palestrar em conferências, workshops, não estão salvaguardados por um bom tradutor, o que prejudica em demasiado o transcurso da palestra. Ainda, em certos casos, até se pode notar que alguns tradutores parecem manipular o palestrante estrangeiro como se fosse um ventríloquo, diminuindo sensivelmente a autenticidade da mensagem.
Quanto à dicção e o tom de voz que o palestrante usa nas palestras, este deve ser agradável. Mesmo que a voz de quem palestra não seja a voz de um locutor de rádio, se ela for clara e de bom entendimento é o que vale. E, se houver a necessidade de microfone que seja usado. Ainda, vale lembrar, que a maneira de se vestir também deve ser apropriada ao tipo da apresentação, pedindo discrição de um modo geral seja qual for o estilo adotado.
Há alguns tipos interessantes de palestrantes que podemos encontrar por aí, como por exemplo:
O político – é aquele palestrante que no fundo se utiliza da palestra para se promover e ver a sua popularidade e conceitos aumentados. Gesticula muito com as mãos para demonstrar que fez um curso de oratória conceituado. Naturalmente sabe colocar as palavras certas e até apresentar o tema, mas o intuito da palestra é meramente a promoção pessoal e o engrandecimento do ego.
A menininha – usando uma linguagem infantil e vocabulário específico, acha que todos que estão lá são crianças e assim age fazendo gracejos e maneirimos de garotinha. Pode até prender a atenção e tirar risos da audiência e quem sabe transmitir a mensagem; mas, no entanto, o que transmite na maioria das vezes não é profundo.
A apresentadora – é aquela ou aquele que não para de se movimentar de um lado para o outro. É muito agitada, nervosa, pode até se confundir durante o tema e parece que no fim tudo acaba em pizza. Talvez deixe uma pendência, sem que o tema seja concluído satisfatoriamente. Chove no molhado.
O vendedor – com o disfarce de estar palestrando sobre um tema interessante, no fundo seu objetivo principal é vender o seu peixe. Este tipo faz uso massivo do power point.
As amigas – três ou mais amigas que se unem, na verdade para tricotar. Naturalmente uma delas se destaca por saber mais sobre o tema e as outras são meras coadjuvantes que estão lá para dar um apoio e servirem como estepe para quando a palestrante que sabe mais se entediar.
O vaidoso – gosta que os holofotes estejam voltados todos para a sua pessoa, a palestra pode ser boa; no entanto, às vezes sai fora da linha condutora principal e floreia o tema com acontecimentos e experiências pessoais. Pode ser carismático, paquerar as garotas durante a sua fala, mas engana que sabe o que expõe.
O fanático – somente aquele assunto ou filosofia que propaga é o que importa, pois é o seu foco primordial. Fora disso, nada mais lhe apetece, não é digno de se tomar conhecimento, pois lhe dói aos ouvidos. Na verdade, alimenta certos preconceitos por temas, pessoas ou assuntos que considera baixos e desinteressantes para ele. Pode transmitir fielmente o tema, mas nele está muito arraigado. Pode ser prolixo demais. Se outrem colocar uma indagação ou um questionamento que saia de seu trajeto pré definido de saber, fica muito irado e rebate com outra questão que possa atingir pessoalmente quem lhe fez a pergunta.
A tia – pode lembrar uma boa professora escolar e didaticamente consegue passar o que pretende. Com exemplos lúdicos consegue levar a audiência a um entendimento eficaz do conhecimento. Não faz uso da tecnologia para facilitar a sua vida de palestrante, o máximo que pode fazer uso é de anotações pessoais, livros, bem como a lousa e o pincel atômico. Transmite muito bem o que pretende. Com a tia, não se nota o tempo passar e a palestra é bem agradável e muito proveitosa.
O piadista – se calca em piadas para prender o interesse do público ao tema da palestra, esta é uma boa técnica; desde que os momentos de humor sejam apenas para descontrair. Na maioria das vezes, este tipo passa uma boa mensagem no que se propõe a palestrar, mas humor em excesso pode se tornar inoportuno.
Ainda, pode haver um tipo de palestrante que reúna, ao mesmo tempo, algumas das características acima descritas em cada um. No entanto, desenvolver o palestrante o seu estilo próprio e modelar um palestrante que admira é válido; mas, deve-se evitar cloná-lo.
Independendo se o palestrante seja um dos descritos acima ou não, o que vale mais é a mensagem final; isto é, se realmente as pessoas se sentiram tocadas e mais enriquecidas com o que foi transmitido, com conhecimento adquirido. E, mesmo que o tempo passe, ainda possam se lembrar de alguns conceitos daquilo que foi transmitido.
Quando dizem que a palestra bombou, procure saber a opinião de mais duas ou três pessoas para lhe dizerem o que acharam. Pois algumas das vezes a palestra pode não ter bombado, mesmo que digam que bombou.
No entanto, sabendo que cada tema, que cada palestra e que cada público é diferente um do outro, eles não deixam de ser únicos e especiais. As palavras revelam.
Harih OM!
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