1 de fevereiro de 2011

MANDALAS DA MANHÃ



HUMBERTO MENEGHIN


Quando o dia amanhece, numa cidadezinha do sul da Índia, a dona da casa vai para porta de entrada e pelo chão começa a desenhar uma mandala. Parece fora do comum, mas esse ritual se repete todas as manhãs, dia após dia, no momento em que o Sol nasce no horizonte.

Conhecidas essas mandalas, por kolam, no estado de Tamil Nadu, por poovidai ou pookalam, em Kerala, Rangoli em Gujarat e no Rajastão como manndana, dentre outros nomes adotados pela Índia, as mandalas são feitas com farinha de arroz e têm como propósito principal atrair prosperidade ao lar e aos moradores.


Confeccionadas a partir de linhas curvas que passam por entre vários pontos previamente colocados, o desenho da mandala vai, pouco a pouco, se construindo acompanhado por um mantra contínuo que a dona da casa faz com a forte convicção de que a Deusa Lakshmi venha e traga todas as bençãos e a prosperidade necessárias ao lar e aos familiares. 


Curvas, linhas, motivos florais e novos padrões surgem e o desenho da mandala desponta aos olhos dos que passam, enquanto a luz e o brilho da manhã banham a entrada da casa.









O dia chega, a cidade acorda, alguns moradores parecem nem se importarem com os muitos kolams que encontram pela frente, pois por cima deles passam, desmanchando todo o trabalho, toda arte e toda dedicação de quem as fez. Mas, na verdade, isso não é o mais importante; pois sabem que esse ritual tão comum entre os hinduístas se completou quando a mandala terminou.








No entanto, o Kolam feito de farinha de arroz, além de continuar a manter a sua essência e intenção principais, paralelamente traz um efeito secundário que é o de alimentar todos os insetos que estão em busca de alimento. Pois, somente assim, depois de satisfeitos deixarão de entrar no lar da família que o construiu.


Então, para que a prosperidade e abundância plenas trazidas por Lakshmi cheguem e fluam pelos lares de qualquer família onde esses kolams são fielmente construídos dia a dia, a sua essência deve ser dividida também entre os insetos, que recebem a prosperidade através do benefício inesperado do alimento.



Todos sabemos que a prosperidade quando chega traz uma certa dose de felicidade momentânea àqueles que são contemplados. 


No entanto, manter-se equânime tanto neste momento quanto em outro de não prosperidade também faz parte do crescimento do Ser, que de ciclo em ciclo, de kolam a kolam, continuará a receber, na hora certa, todas as bênçãos necessárias trazidas por Lakshmi.

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