29 de junho de 2021

POR QUE O MANTRA SOME?



HUMBERTO J. MENEGHIN


Dito como instrumento do pensamento, o mantra seja de origem Hindu, Budista, Cabalístico ou de outra vertente espiritual ou não, incluindo até números criados pelo russo Grabovoy, é algo que o praticante vai repetir de forma contínua em tom de voz moderado, sussurrando ou mentalmente. Om Namah Shivaya é um mantra fácil que comumente é transmitido àqueles que praticam Yoga e querem se dedicar ao ajapa japa; no entanto, no decorrer da prática diária, ao longo do tempo, o (a) praticante nota que num momento inesperado o mantra some; desaparece da mente. E, então, por que isso acontece?

 

Com o objetivo de disciplinar a atividade consciente através da vocalização sonora, quem começa a repetir um mantra, como por exemplo, Om Namah Shivaya com intuito de aquietar-se e bem lá no fundo também querer desenvolver atividades psíquicas, extrassensoriais, percebe que a concentração começa a ser desenvolvida.

 

Alguns fazem o uso de um japa mala composto com 108 contas de rudráskas; outros usam as falanges dos dedos para contar as repetições e outros mais não ligam para isso e somente vão repetindo o mantra não se importando com a quantidade que vocalizam. 

 



No entanto, muitos dos que buscam a disciplina rígida de repetir diariamente 108 vezes um mantra podem se entediar e logo desistirem do sadhana; e, para que isso não ocorra, começar a vocalizar o mantra poucas vezes pode ser mais viável no sentido de se estabilizar no hábito.

 

Levante a mão quem vocaliza o Gayatri por 108 vezes todos os dias, ao amanhecer? Não seria mais produtivo começar vocalizar o Gayatri com três repetições diárias e ao longo do tempo ir acrescentando mais outro ciclo?

 

Uma praticante deseja entender: Como assim o mantra some, se eu estou repetindo, repetindo e repetindo continuamente com a minha voz?

Sim. O mantra está lá na sonoridade da sua voz, mas você está concentrada no som e na essência do que vocaliza ou está com a mente voltada a alguma coisa que não foi resolvida ontem ou o que irá fazer daqui a pouco com a grande quantidade de trabalho que vai se deparar no home office?

Então, se a atenção não está no mantra, podemos dizer que apesar de as cordas vocais estarem vocalizando-o, a mente não está acompanhando e então você não está presente.

 



Por outro lado, aquele (a) praticante que já algum tempo vocaliza um mantra, o Om Namah Shivaya, mentalmente, observando a sua boa postura diante da prática, usando um japa mala, a falange dos dedos para contar as repetições ou não, começa a perceber que num dado momento os espaços entre as palavras que compõe o mantra começam a se alargarem, aparecendo um silêncio entre elas, mesmo que lá  na rua escapamentos descontrolados das motocicletas dos entregadores de comida possam ser escutados e irritar qualquer um.

 

Percebendo os espaços silenciosos que aparecem, seguindo-se, então, de um slow motion na repetição mental do mantra: om ... naa ... mah ... Shiii... vaaayaaa, o(a) praticante chega à conclusão de que a concentração está desenvolvida e por um determinado momento Dyana apareceu: a meditação.

 

No entanto, o mantra também pode desaparecer da sua mente, quando apesar de repeti-lo, pensamentos e cobranças externas resolvem surgir, como mencionado acima; ou também quando alguém subitamente entra no local onde você está tentando meditar e diz alguma coisa, interrompendo; provocando aquela sensação de que você foi acordado (a) de um sono profundo.

 

O mantra também desaparece quando outro mantra se sobrepõe; ou seja, você está repetindo mentalmente Om Namah Shivaya e então Om Gam Ganapataye Namah aparece não se sabe de onde. Ou, ainda, você está prestes a dizer mentalmente um mantra, começa e pelo caminho nota que, na verdade, é outro mantra que veio e não aquele que você planejava repetir.

 

Num belo dia enquanto está indo para o trabalho, caso esteja exercendo suas atividades profissionais de forma presencial, sem qualquer motivo, cânticos realizados em um Kirtam surgem na mente, algo que você nem esperava que fosse acontecer.

 

No caso do Kirtam, uma boa explicação para o surgimento inesperado dos mantras é que certas pessoas de seu grupo de estudo podem estar realizando os cânticos e enviando boas energias ao grupo, o que é muito bom, pois você captou e percebe que está na vibração.

 



Mas, a Fulana de Tal está participando de um Vrata, por um ano, repetindo um mantra que a professora Glória Arieira divulgou para as pessoas fazerem e percebe que mesmo esquecendo-se de vocalizar o mantra, a energia das pessoas que se dedicam com disciplina ao sadhana é captada e então do nada, sem esperar, a praticante pega a onda do mantra e vai.

 

O mantra pode desaparecer momentaneamente; no entanto, isso não significa que ele se foi, mas sim que está no cérebro, bem presente, lá naquele caminho neural que é trilhado por você e que já foi trilhado por muitos outros desde os tempos mais remotos.

 Harih Om!

HUMBERTO J. MENEGHIN
é praticante e professor de Yoga em Campinas/São Paulo, Brazil. Tem Formação em Yoga com Pedro Kupfer e estuda Vedanta com Glória Arieira. 

Especializou-sem em Yoga Terapia Hormonal para a Menopausa e Problemas Hormonais com Dinah Rodrigues e também Yoga Terapia Hormonal para Diabetes e Hormônios Masculinos. 

Para o site www.yoga.pro.br escreveu vários artigos e traduziu textos sobre Vedanta de autoria de Sri Swami Dayananda Saraswati com quem já teve o privilégio de estudar nos Vedanta Camps em Rishikesh-Índia

Participou do Teacher Training de Ashtanga Vinyasa Yoga – Primeira Série – com David Swenson, em Austin, Texas, USA. 

Foi colunista do website da revista Yoga Journal Brasil.  

 estudou e praticou com professores de Yoga americanos em 6 conferências da Yoga Journal Live New York. Edita e escreve para o blog Yogaemvoga. 

MARQUE PRÁTICAS & WORKSHOPS DE YOGA: humbertomeneghin@yahoo.com.br

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