HUMBERTO J. MENEGHIN
YV – Com o decorrer do
tempo, a prática de ásanas naturalmente se aprimora e se modifica tanto
para alguns praticantes como para certos professores, salvo exceções. Há alguns
anos você se dedicava em executar algumas posturas aparentemente “difíceis” que
até poderia considerá-las indispensáveis. No entanto, hoje em dia, algumas
delas perderam a graça e até podem não estar sendo praticadas por você e outras
mais permaneceram e estão melhores do que antes. Quais são esses ásanas que
se foram ou são praticados só de vez em quando e os que ainda permanecem na sua
prática pessoal e nas aulas que ministra? Executar ásanas simples,
tradicionais e dedicar-se ao processo de concentração e meditação é o que
mais vale?
JULIANA – Passei por muitas mudanças
na prática, algumas vezes por questões de saúde e agora por estar envelhecendo
mesmo. Acho que podemos acompanhar aquilo que é natural de existir. Enquanto
você é jovem, tem mais disposição, pode ser mais ousado em experimentar
possibilidade de posturas, sendo que isso também tem o lado negativo, que é,
talvez, provocar lesões que irão te acompanhar por toda vida, porque muitas
vezes a ousadia é acompanhada do descuido e da falta de bom senso do aluno ou
do professor.
Como instrutora, acabo exigindo de mim mesma uma certa
disciplina em preservar as conquistas físicas que adquiri com o tempo, em
me desafiar em alguns movimentos, com cautela, sempre levando em conta as
minhas limitações, mas nunca paro de buscar especializações, já fiz cursos de
aerial yoga, por exemplo, faço aulas de neopilates, estudo de fáscias, neurofisologia, tudo que envolve corpo me encanta, gosto
de aprender sempre mais.
Acho que é importante que os alunos compreendam essa valorização do corpo
como instrumento para se viver bem, sem vaidade exagerada, sabendo que o corpo
é um meio, não um fim em si mesmo e que tenham curiosidade em saber mais, mesmo
que tudo mude o tempo todo, afinal eles serão instrutores de hatha yoga também.
Acho que por esse ponto de vista, a
postura que sempre me acompanhou é a postura de aluna. Nunca deixei de ser
aluna, aprendiz, discípula. Nunca paro de estudar. Ainda mais quando se trata
de Yoga, porque posso falar Yoga e entenderem, ásanas, ou ásana e pranayama, mas uma vida de Yoga mesmo, é uma vida de dedicação, de devoção, de
constante aprendizado em como se relacionar com os outros, com o mundo,
como lidar com a vida como é.
A base desse estudo contínuo é o Vedanta, que proporciona essa visão
clara do que importa ou não. A postura é relativamente importante. A
atitude supera a importância da técnica. Então, se torna fundamental saber por que
eu faço, qual objetivo, o que quero ganhar com isso, etc. Isso muda tudo. Então para resumir, ásana que nunca falta é savasana, claro! (risos) Tenho, por
obrigação, ensinar todas as posturas que acho saudáveis e todas as técnicas de
Hatha Yoga que os alunos vão utilizar depois, já que trabalho com formação para
instrutores. Mas nem faço tudo que ensino. E acho que dedicar-se ao autoconhecimento é o único caminho significativo, a
concentração e meditação são preparações. São meios, ferramentas para purificar
a mente e deixá-la livre para o que importa que é saber quem sou eu.
YV – Ainda em ásanas, você
divulgou em uma rede social uma imagem sua em Garudásana, a postura da
Águia. Essa Águia que está em você permite-se voar para onde? Um vôo mais
curto, breve, quem sabe pode ser bem mais proveitoso do que um vôo a longa
distância? O dorso do seu pé consegue acomodar-se corretamente pela panturrilha
quando em Garudásana? Para o
praticante que ainda não consegue alçar bons vôos na prática, o que você pode
dizer? Ou, isso não é tão importante assim?
JULIANA – A foto da águia foi por
conta do livro “A águia e a galinha” do teólogo Leonardo Boff, de quem sou fã. Traz
uma reflexão profunda acerca da natureza humana. Acho que único vôo que vale a pena voar é o de ir em busca de Si mesmo,
até realizar que, aquilo que você deseja encontrar, já te pertence. Esse é um
vôo que vale o esforço, acho que, na verdade, é um plano de retorno, retornar ao que se É. A postura em si é desafiadora, cortei a parte de baixo da imagem
para focar no pássaro que estava passando e eu até acho que era um urubu, não
posso romantizar a realidade, mas serviu lindamente ao propósito da foto,
afinal sem preconceitos com o urubu, né?
Posso até fazer a postura
completa sim, mas um dos meus joelhos não gosta. Então, meu garudásana é mais suave,
sem esse enroscar do pé. Acho que é comum ter altos e baixos na prática, como
em tudo na vida. Tudo vai depender dos seus objetivos, se for ter uma prática
perfeita, vai ter que se dedicar e se esforçar para isso, se deseja uma mente
mais clara, a mesma coisa, dedicação e esforço.
A regra é sempre a mesma para
qualquer coisa que desejamos. Até o
momento em que você se dá conta de que não precisa voar tanto e pode ficar no
seu ninho, tranquilamente. Mas acho que é super útil para a vida yogi essa
disciplina e força de vontade em se aprimorar, seja em posturas, em sânscrito,
em mantras, o que quer que seja.
Não existe nada que se
conquiste facilmente, dedicação e
esforço fazem uma mente firme. Tentar conquistar uma postura, traz a
sensação de recompensa, aprender um mantra, entender e compreender sânscrito,
tudo isso só faz bem a você mesmo, só você ganha com isso. Isso serve para
tudo, se você decide fazer boas ações, aprimorar seus relacionamentos,
exercitar comunicação não violenta, tornar-se vegetariano, qualquer ação que escolha se dedicar, obterá um resultado, mesmo que
não seja o esperado, faz com que você cresça, amadureça, então acho
importante sim, desejar mais.
YV – Valor dos Valores é um
livro que você está estudando; absolutamente, visto que tem compartilhado
como dedicação o que lê e assimila, o que é muito válido e legal da sua parte
no sentido de trazer mais ensinamento para quem acompanha você tanto em aulas e
nas redes sociais. No entanto, aplicar os valores contidos na obra de Swami
Dayananda, para alguns pode ser “trabalhoso”, “complicado” em vista do dia a
dia que as pessoas levam. Então, Juliana Araujo, como começar a colocar em
prática esses valores sem que ocorra uma ou outra interrupção no trajeto de
quem quer se Autoconhecer? Ainda, fulano de tal leu, diz que estudou e até
ensina sobre esses Valores. No entanto, na
sua vida pessoal não os aplica e até se sucumbe a valores contrários ao bom
senso. Isso faz parte do processo evolutivo porque ele é humano, tem suas
imperfeições e quando mais maduro estiver quem sabe poderá adotá-los?
JULIANA – Não é fácil para ninguém
mudar hábitos. Nós percebemos isso das maneiras mais simples no dia-a-dia. Se,
em casa você muda seus pratos de lugar, durante muitos dias ainda, você irá
buscar os pratos no mesmo lugar de antigamente. Você pode pensar: De novo? Como
não me lembro que mudei os pratos? Isso é a mente automática, condicionada. Ela
funciona assim para tudo. Nas nossas escolhas diárias, do que comer, como se
vestir, o que assistir, como agir, etc. A minha professora, Sônia Novaes, com
quem estudei alguns textos, uma vez disse que alguns valores são como riquezas ou ornamentos. Uma riqueza dessas
que você não perde nunca, não paga impostos ou precisa declarar no IR. Quem
desfruta da riqueza? Você, claro.
Então, quando você percebe
que existe algo de muito valor, um valor sem igual, que te tornará rico,
você não vai querer? Aí, entra de novo
aquela equação do esforço e da dedicação, porque sem isso, não é possível
conquistar esses valores. Ninguém nasce com isso, é conquista diária. É
trabalhoso mesmo, é complicado, árduo, mas isso não é desculpa para não tentar.
É complicado todo dia cuidar do corpo, por exemplo, tomar banho, escovar
dentes, lavar os cabelos e tem que fazer isso sempre, está limpo, logo,
está sujo, também alimentar e logo tem fome de novo, isso requer esforço.
Cuidar da casa, dos filhos, do trabalho, tudo mais. Você não desiste, pelo
óbvio, que quer viver bem e sentir-se bem. Se podemos fazer isso, podemos fazer
o que quisermos, mas é claro, que preciso reconhecer o quanto ser uma pessoa
pacífica, por exemplo, faz bem para mim por conquistar paz em relação as minhas
atitudes comigo e com os outros, oferecendo o tipo de comportamento que espero
que tenham comigo.
É no dia-a-dia mesmo que vejo o resultado de assimilar um valor, é no cuidado comigo, com os
meus familiares, com os amigos, no trabalho. O dia-a-dia não atrapalha em nada,
a rotina é onde o aprendizado acontece, é a vida como é, e nela que devo buscar
esse aprimoramento da mente que prepara para o autoconhecimento. Para iniciar sem interrupção o essencial é
primeiro desenvolver a capacidade de se desapegar dos antigos padrões da mente
emocional. Por exemplo, por uma grande insegurança, minto dizendo que
possuo mais capacidades do que realmente tenho. Preciso me desapegar dessa
pessoa que é insegura, ter capacidade de mostrar quem realmente sou e acolher
essa pessoa limitada que sou. Como faço
isso? Usando a mente racional, a insegurança nasce de onde? De uma comparação?
De necessidade de aplauso?
Assim, investigando chego a
conclusão de que não existe possibilidade de relaxamento, de paz, quando não
contribuo para ser aquilo que sou. Gero constante conflito de comparação,
de sustentar uma mentira, de parecer algo que não sou. Então, agora decido ser um professor de
Yoga, estudante de Vedanta para me sentir “melhor” e saio falando sobre os
valores, ensinando e assim, pensarão que possuo essas qualidades.
Voltamos ao mesmo problema,
enquanto não houver uma mudança de atitude. Yoga é sobre atitude, na prática,
na vida, prepara a mente para o autoconhecimento. Usei esse exemplo para
responder a questão do processo evolutivo que você mencionou. Porque não é tão
simples essa etapa, abrir mão de tudo aquilo que foi construído em relação a
sua personalidade, mesmo que seja algo que traga sofrimento, nos mantém
confortáveis com o conhecido.
Então, é claro que comportamentos não adequados a vida yogi existe em muitos
praticantes e professores. Ainda mais nessa era em que vivemos onde tudo que é
errado é visto com certo! Difícil seguir o Dharma, onde todos os exemplos que temos na sociedade é o Adharma como nobre. Para adquirir essa
capacidade do desapego, só se existir a capacidade de escolher com
discernimento. Você entendendo como funciona, vendo os resultados das suas
atitudes, pode muito bem concluir que o
melhor caminho é manter o esforço em conquistar essas valores. Você conquista a
maestria de lidar com a emoção e a mente. Quer coisa melhor?
YV – Uma pessoa que nunca
praticou ásanas e sequer sabe do que trata o Yoga ficou sabendo através
de um website paulistano nacionalmente importante, que “fazer
Yoga”, durante a pandemia de 2020, teve um aumento considerável de pessoas
interessadas, a maioria iniciantes; e, resolveu fazer também. No seu ponto de
vista, começar a praticar desta forma é válido? Ou, tem seus pontos que não
são positivos, em vista de o (a) professor (a) não estar fisicamente
presente quando um aluno que nunca praticou antes se inicia na prática? Ou, com
um bom jogo de cintura, quem está do outro lado do aplicativo pode conduzir de
bom grado uma aula de ásanas para iniciantes e quem sabe
posteriormente este aluno ou aluna dê continuidade e pratique presencialmente?
JULIANA – Estamos vivendo uma fase
onde acredito que podemos nos adaptar
aquilo que esta sendo oferecido. É questão de segurança que nos mantenhamos
isolados. Então, neste momento que as pessoas sentem medo, estão preocupadas, acho que é obrigação da (o) professor/a
ensinar quando ela (e) tem capacidade para isso, quando vive uma vida de
Yoga e sabe que dentro dessa tradição temos ferramentas poderosas para aliviar
o sofrimento.
Sigo ensinando e tenho dado aulas abertas para quem quer conhecer, pois acho que existem
inúmeras maneiras de ensinar sem precisar colocar as pessoas em risco, acho uma oportunidade incrível para os
professores saírem dos seus padrões de comportamento pré estabelecidos de
sala de aula, aprender a se comunicar melhor, sem tocar os alunos, ensinar Yoga
de verdade, sem ficar nas sequências montadas de aula, explorar aulas com menos
movimentos e variações e mais contemplação e silêncio.
Desafio para muitos professores que tem hábitos de praticar junto
com os alunos, que tem preferência por práticas mais intensas, que acham que
prática é colocar as pessoas num alinhamento que dizem ser correto. Claro que aula presencial é muito superior,
não dá para se comparar. Mas se você conhece Yoga mesmo, saberá ensinar muito
bem, sem prejuízo para você e nem para seu aluno. Então, acho que é válido começar a praticar na
hora que chega o desejo. Estudo a muitos anos on line com minha professora da Índia e com a Glória Arieira também
e acho que a distância não impede que o ensino seja maravilhoso.
YV – Tem uma pessoa que está
muito na dúvida se começa a praticar Yoga, apesar de estar tentada, porque
ouviu dizer ou leu em algum lugar que nas aulas tem cânticos de mantras a
Deuses Hindus e que para ela Deus é um só e não tem essa de ter vários
Deuses e então essa pessoa acha que Yoga é um tipo de religião, algo
Hindu. O que você poderia dizer a essa pessoa no sentido de desmistificar os
conceitos que tem sobre Yoga achando que se trata de religião? Ou, no
fundinho Yoga é religião mesmo e quem quiser seguir que siga e quem não quiser
que pratique as posturas terapêuticas e uma meditaçãozinha “mindfulness”
para se desestressar e deixar de ser ansioso?
JULIANA – É muito raro ser professor
e não ouvir essa pergunta de alguém que não esteja morrendo de medo de colocar
à prova tudo aquilo que acredita. E, então eu me lembro de uma mesa
redonda onde o teólogo Leonardo Boff, pergunta ao Dalai Lama, qual é a melhor religião,
e a resposta que só um sábio pode dar foi, "a
melhor religião é a que te faz melhor". Se Yoga se propõe a oferecer
ferramentas para aprimoramento do ser humano, então, é religião.
E se você é uma pessoa com
inclinação religiosa, você verá o Yoga como religião, ou pode, ainda, entender
mais amplamente ao que se propõe Yoga e ser um muçulmano yogi, um cristão yogi,
etc.. Agora em essência, Yoga está mais
para ciência do que para religiosidade. Absolutamente tudo que é oferecido
como instrumento nesse caminho independe de crença, e é em sua grande maioria,
experimentado e comprovado pelo praticante.
Não existe um céu, um
paraíso, existe aqui e agora e este é o melhor lugar que podemos estar. Alguns
textos mencionam svarga (céu) como um
lugar, mas nada diferente daqui. É um lugar de passagem, onde você pode desejar
ir, mas o objetivo é conseguir fazer o céu aqui. Nem ser deva (divino) nessa visão é interessante. O melhor mesmo é a oportunidade de ser humano. O que confunde muito
e, confesso que eu também me sentia atordoada com isso, é o fato de existir
diversas manifestações (deuses) que nada mais são do que representações
simbólicas que contém características próprias, qualidades e defeitos, toda uma
vida construída e cheia de significados.
As
divindades são apresentadas em histórias contadas nos puranas de como foram
criados, o que gostavam de comer, como viviam e suas habilidades e
dificuldades. Nos identificamos com esses seres. E temos um objeto, uma forma
para a mente compreender o invisível. Sabemos
que não existe uma criança que o próprio pai arranca sua cabeça e coloca a
cabeça de um elefante no lugar para que ele retorne a vida, mas essas
histórias nos trazem reflexões em valores essenciais da vida.
A relação que desenvolvo com as divindades, nos rituais, como uma
oferenda, servem para que eu crie uma relação com o poder invisível que tudo
governa.
Falando em poder invisível, parece que estou mistificando, mas vamos usar um
exemplo simples. Se eu tenho fome e decido que não vou comer, que vou controlar
isso e não sentirei mais fome, é possível que eu consiga isso? Por um tempo,
talvez, mas a força invisível que tudo governa, governa seu corpo também e
chegará uma hora que você vai comer, por mais que não queira comer. Esse é o
exemplo do poder invisível que governa seu corpo e que está presente em tudo.
Na oferenda, estou desenvolvendo um tipo de mente que recebe e acolhe as coisas
como são. Quando escolho fazer uma puja para Ganesha, escolho por ele ser
reconhecido como tendo o ‘poder’, a capacidade de eliminar
obstáculos. Vamos entender, será que é Ganesha que faz isso? Que
magicamente elimina os obstáculos da minha vida? Só porque fiz uns mantras? E o
obstáculo que eu imagino é real? Sou eu que faço o esforço da puja, do mantra, de acordar cedo, tudo
isso. Estou lidando comigo mesmo e minhas tendências naturais, de desistir, de
auto sabotagem, de achar que o problema são os outros, pedindo a Ganesha que
elimine essas pessoas terríveis do meu caminho, porque eu não sei lidar com
elas.
O obstáculo sou eu mesmo, sempre, com meu entendimento limitado e
muitas vezes fazendo barganha na puja
também. Te
dou uma maça e quero paz. Compreender que não existe obstáculo que não seja eu
mesmo, é um processo, por isso passamos anos nos dedicando ao estudo e as
orações. Essa ação é o impulso que nos fará arregaçar as mangas e ir atrás
daquilo desejamos e para isso, precisamos de força, disciplina, perseverança, e
ainda, confiança, todas conquistas complicadas, daí, você pede que essa força
invisível que governa o resultado das ações esteja do seu lado, para que o
resultado seja o esperado. E se não for,
que você aceite. Afinal, fez tudo que podia, segue em paz e com a vida leve.
Tudo isso depende de clareza, entendimento. Não existe uma divindade, anjo ou
poder que virá me tirar da condição que me encontro, sou eu mesmo que faço isso
através da sabedoria, não da crença.
Muitas pessoas não se
identificam com Yoga como um todo por ignorância, por não conhecer, ou
por achar que uma fatia da tradição já é o suficiente e, ainda, o
facilmente digerível para as pessoas, mais fácil de ser ensinado, mais fácil de
ser vendido.
Como não estamos livres de
agir, somos seres fazedores, que façamos
ações melhores, usando o seu tempo para reflexão, fazendo uma oração, uma puja, mantrando, rezando ao invés de
pensar mal de alguém, de poluir a mente com medos, inseguranças, culpas,
raiva, preguiça, entre outras coisas.
Divindade é ferramenta, assim como meditação. Meditação serve para
refletir, nada mais.
YV – Discorrer sobre os
ensinamentos do Yoga Sutra de Patanjali denota muita dedicação a quem se
propõe a transmitir o ensinamento. Restringir a essência desse estudo
apenas em Yamas e Nyamas e mais alguns outros pontos de certa importância é
válido em vista do estudo do Sutra levar muito tempo? E, então, a
semente está plantada e caberá ao aluno florescer?
JULIANA – Acho que numa vida yogi, estudo de Yoga Sutra leva no máximo um ano,
ou um ano e meio, o que é bem pouco, relacionado ao tempo de vida de
uma pessoa, sendo que, Yoga Sutra já é bem resumido, se nos limitarmos a
ensinar só duas partes do sádhana
(prática), acho que é como querer que alguém sinta o gosto de bolo de banana,
quando você só ofereceu a farinha para que ela coma, sem ter misturado todos os
outros ingredientes, sem ter levado ao forno, sem ter o bolo.
Mas, se a pessoa ficar curiosa com o gosto do bolo de banana que
você falou, ela vai buscar a receita, vai se dedicar e fazer um bolo ela mesma. Então, acho que plantada a
semente, se a terra é boa, se receberá água da fonte (ter um excelente
professor), como será cuidada e podada, pode florescer e dar frutos.
É parte da nossa vida de professor, direcionar os alunos para quem
pode ensinar mais, aqueles que nos ensinaram. Se um (a)
professor(a) pode ensinar com propriedade somente yamas e nyamas, está
ótimo. É bom reconhecer também nossas limitações. Podemos estudar mais de
20 anos e mesmo assim não ter a capacidade de ensinar com clareza. Podemos
saber, mas não ter a capacidade de transmitir.
YV – Em 2015, você
esteve novamente na Índia, retornou à Rishikesh para mais vivências e
estudos sobre Yoga e Vedanta. O que seus olhos e ouvidos viram e ouviram
nesse retorno que anteriormente não tinha sido visto, ouvido ou percebido?
Na beira do Ganga, com uma lamparina/Luz a ser oferecida em puja, numa
canoinha, qual sentimento, emoção e desejo de sua parte vai com ela?
JULIANA – Esse foi um ano bem
especial, por várias razões, estava mudando de vida, de cidade, tinha acabado
de lidar com uma fase complicada de saúde, estava querendo me separar e também
porque pude ficar muito tempo no ashram.
E, claro, as aulas que sempre foram
incríveis, pareciam ainda melhores.
Aquela sensação de que o
professor está falando para você na sala, parece
que ele conhece a sua situação em particular, ele até escolhe o texto para você
estava muito presente. E claro, essa sensação é a mesma em cada um dos
alunos, porque os sofrimentos não são muito diferentes. O ensino sempre é o
mesmo, não tem novidade, como ele mesmo falava. Muda o texto, o tema principal
ainda é o Eu. Então, como era de se esperar, nessa turbulência que estava
vivendo, esse ensino vindo de alguém com absoluta clareza é muita benção.
Meu olhar era de profunda
contemplação da vida mesmo, da existência daquele professor, da
oportunidade de conhecê-lo. Confesso que
até 2015, não era fã da puja, não entendia muito tudo aquilo, precisei de
um estudo mais profundo para compreender o valor disso. Então, quando fazia essas oferendas no rio, pagava
a um pujare para mantrar por mim,
pela família, e ficava viajando na sensação daquilo que ouvia ou fazia. Não me
recordo quais eram os desejos daquela época, mas é bem possível que seja isso que
tenho agora, né? Voltei ainda mais um
vez, 2018 para estudar com Swami Tattvavidananda. Acho que a cada ida, se
confirma mais o desejo dessa vida, porque prova ao que me dedico.
YV – O que você vê em um
lago com águas paradas? A sua imagem, o reflexo da Luz do Sol, uma leve
ondulação, o fundo porque a água do lago está límpida e transparente ou nada?
Ficar parada olhando para um lago é algo que está ali para qualquer um ou é
para poucos?
JULIANA – Pergunta bem cheia de
significados, né? Num lago de águas
paradas vejo um lago de águas paradas (resposta super zen hahaha). Essa foi
brincadeira! Provavelmente, pegaria meu
celular para tirar uma foto. Tudo vai depender se tiver vento, ondulações,
se estiver sol e ele refletir, verei o reflexo, se a água for limpa ou não.
Como analogia para a mente, constante movimento, só ondulações. Acho que para poucos é
entender que o lago é lago, acolher o lago como é, independente das mudanças,
manter a atitude “de boas”com o impermanente. A maioria é reativo ao lago,
olhando o lago como um grande problema a ser eliminado, não se maravilhando com
isso.
YV – O Sadhu dos dias atuais é
mais feliz se tiver um smartphone ou se viver isolado em uma caverna nas
montanhas onde o silêncio impera a maior parte do tempo? Om Namah Shivaya ou
Om Gam Ganapataye Namah?
JULIANA – Acho que renunciante tem
dom para renúncia. Algo como um desejo ardente mesmo, não uma idéia romantizada
do que seja isso. Não sente mesmo necessidade de nada, pode ter um iphone, mas não
depende dele. E são poucos com essa capacidade, de andar por aí sem
conforto, sem possuir nada, sem ter no que se amparar. Por isso, nós todos somos yogis que levam vida comum, vida de Karma Yoga, onde você pode se dedicar
aos estudos, ao Dharma, sem
necessidade de renúncia. A vida é uma escola, ter família, filhos,
trabalho, tudo isso é um grande treino. Acho que nesse momento de pandemia, OM
Namah Shivaya, mas sempre, Om Gam
Ganapataye Namah!
Trabalho como coordenadora da
Formação em Yoga da Humaniversidade Holística, humaniversidade.com.br,
tenho um canal recém
inaugurado no You Tube, Juju Priyah,
ensino gratuitamente pelo
instagram, às terças 9hrs, desde março e pretendo seguir assim,
@jujupriyahyoga.
Confira as
entrevistas anteriores de Juliana Araujo, nestes links!
YOGA EM VOGA ENTREVISTA – JULIANA ARAÚJO, “JUJU PRIYAH”
YOGA EM VOGA ENTREVISTA – JULIANA ARAÚJO, JUJU PRIYAH –
2º PARTE
HUMBERTO J. MENEGHIN
é praticante e professor de Yoga em Campinas/São Paulo, Brazil. Tem Formação em Yoga com Pedro Kupfer e estuda Vedanta com Glória Arieira.
é praticante e professor de Yoga em Campinas/São Paulo, Brazil. Tem Formação em Yoga com Pedro Kupfer e estuda Vedanta com Glória Arieira.
Especializou-sem em Yoga Terapia Hormonal para a Menopausa e Problemas Hormonais com Dinah Rodrigues e também Yoga Terapia Hormonal para Diabetes e Hormônios Masculinos.
Para o site www.yoga.pro.br escreveu
vários artigos e traduziu textos sobre Vedanta de autoria de Sri Swami
Dayananda Saraswati com quem já teve o privilégio de estudar nos Vedanta
Camps em Rishikesh-Índia.
Participou do Teacher
Training de Ashtanga Vinyasa Yoga – Primeira Série – com
David Swenson, em Austin, Texas, USA.
Foi colunista do website da
revista Yoga Journal Brasil. Já estudou e praticou com
professores de Yoga americanos em seis
conferências da Yoga Journal Live New York. Edita
e escreve para o blog Yogaemvoga.
MARQUE
PRÁTICAS & WORKSHOPS DE YOGA: humbertomeneghin@yahoo.com.br
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