HUMBERTO J. MENEGHIN
“Vamos descer para o kirtan, Flor Amada?”, me disse Lili.
Descemos e fomos para o salão principal do mosteiro que estava lotado. Vera
Lúcia nos fez um sinal para ocuparmos um lugar que ela guardava pra nós, logo à
frente. A Simone e a Keilane também apareceram, mas eu não estava vendo a
Claudinha em nenhum lugar. Muita gente falava alto e ria e isso estava me
irritando tanto !!! Que retiro é esse ???
Mais fazem barulho do que silenciam! Então, Tércio Natércio Couto, a
Silmara e aquele sujeito baixo e calvo apareceram.
Enquanto Tércio afinava o instrumento de corda que trazia
e o outro sujeito teclava aleatoriamente uma espécie de acordeão, Silmara, toda
loura e imponente, pegou o microfone e começou a falar: “Eu quero agradecer
a vocês, minhas amadas, meus amados, a presença nesse retiro. Amamos, eu e o
Tércio e o Nenê”.– disse apontando para aquele homem calvo e baixo no
acordeão– “Nosso retiro sempre lota, faz sucesso. Acreditam que
deixamos de atender cerca de trinta pessoas da lista de espera porque não teve
nenhuma desistência!!! Vamos ter que procurar um local maior para o nosso “Yoga
do Ser”!
“Pois que bem, minhas lindas, meus lindos; daqui a
pouco vamos ter o Kirtan, depois vamos todos nanar, dormirmos para
acordarmos bem cedo para a prática de Yoga ao ar livre que eu vou ministrar às
seis da manhã. Amadinhos, depois do café, aqui neste mesmo lugar, o Tércio
amado vai começar as preleções. Muitas surpresas virão ... até hoje à noite,
gente linda, na madrugada vamos meditar lá fora nas estrelas, no Universo,
isso é opcional e vamos estar lá fora a qualquer hora ... meditando. Apareçam
se quiserem.” – Silmara olhou para o Tércio
que enviou um sorriso a todos, pegando o microfone, dizendo: “Ganesha
brilha, Ganesha tráz, Ganesha faz, Ganesha Om namoh!” Vamos galera linda!!!
Esse é o refrão.
“Ganesha brilha, Ganesha tráz, Ganesha faz, Ganesha
Om namoh!”
Namoh namah! Ganesha lá!
Namoh namah! Ganesha lá!
Namoh namah! Ganesha
lá!”
E todos nós começamos a cantar junto com eles, com
o Tércio, a Silmara e o Nenê; nos embalando nessa letra saudando Ganesha como
se nos entregássemos a tudo.
Nem percebi a hora passar, pois só paramos às nove
e meia da noite. E antes que saíssemos, Silmara pegou o microfone de novo e
disse: “Boa noite, meus anjos! Quem vai dormir que descanse bem e se
acordarem no meio da madrugada estaremos lá fora meditando com as estrelas.
Ah, o CD do Tércio vai estar ali em pré-venda, meus amores. Procurem o
Nenê!”
Lili se levantou rapidamente e foi até o Tércio que ainda dedilhava o violão e junto a ele fez
um self. E quando estávamos retornando para o quarto no andar de
cima, me surpreendi com a presença de uma pessoa da minha convivência diária: Era
a Júlia, a minha estagiária lá do escritório, em companhia de uma senhora
mais velha, que fiquei sabendo ser a sua avó. Então soube que estavam de saída,
que não dormiriam por lá, pois iriam dormir em sua casa em Campinas, para
amanhã estarem de volta. Boa idéia essa que não havia cogitado, uma vez que de
Vinhedo a Campinas não se levava muito tempo. Mas como o negócio já tinha sido
feito e pago, iríamos dormir por lá mesmo.
Quando chegamos em nosso quarto, notei a
Claudinha já recolhida em sua cama, dormindo. O que será que tinha acontecido
com ela? Não quis acordá-la para perguntar isso. Então, todas nós fomos
dormir. Lili disse que iria acordar na madrugada para meditar lá fora
como haviam dito; eu já não estava a fim.
A noite corria silenciosa e até que eu tinha pego no sono, mas, de repente, comecei
ouvir alguém falar, falar e falar sem parar: “ O Márcio tá aí? Cadê o Márcio?
Chama o Márcio pra mim que eu quero falar com o Márcio. Chama o Márcio !!!” Então, fiquei sabendo que a Vera Lúcia, que
dividia o quarto com a gente falava enquanto dormia e continuava a querer que chamássemos o
Márcio. Quem seria esse Márcio?
“Cala essa boca!” disse Lili em voz
mais alta que podia. E a Vera Lúcia insistia em chamar o Márcio! “O Márcio tá
aí? Cadê o Márcio? Chama o Márcio pra mim que eu quero falar com ele. Chama
o Márcio !!!”
Harih OM!
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