HUMBERTO MENEGHIN
A Claudinha me mostrou todo o apartamento
e eu fiquei satisfeita com o que vi. Meu futuro quarto era grande, com armário
embutido, dando para os fundos e o banheiro social era exclusivo para nós, pois
o Júnior que ocupava o quarto de empregada tinha o outro também só para ele.
Então, antes que fosse embora, a Claudinha me disse que tinha entrado em
contato com a Tati da agência de viagens e que já na próxima semana pagaria o sinal
da viagem à Índia, grupo da Lili. Ainda estava na dúvida se queria ou não ir,
mas depois de ver o roteiro, a vontade de viajar para Índia me pegou em cheio
que mandei uma mensagem pra Tati para garantir meu lugar.
O fim de semana passou tão rápido que
logo já estava no escritório, em plena segunda-feira pela manhã, trabalhando. De
repente notei Kátia Cristina e Ana Luiza chegarem juntas, dizendo um “bom dia”
sincronizado e rumarem para suas salas, enquanto a Claudinha se posicionava a
sua mesa.
Não deu quinze minutos para que Ana
Luiza, com quem a Claudinha começava a trabalhar, aparecesse e se sentasse na
ponta de uma mesa dizendo: “Metas são metas e devem ser cumpridas! Notei muitas
falhas imperdoáveis por aqui e não sou eu quem vai responder diretamente por
isso, entendeu? Fui bem clara?”
A mulher saiu de onde estava, pegou um
cafezinho na máquina e voltou para sua sala. Como eu não trabalhava diretamente
com ela, mas com a Kátia Cristina, entendi que o aviso tinha sido direto para a
Claudinha, que apreensiva, passou o resto do dia no seu canto trabalhando.
Após, o almoço, Júlia, minha estagiária, chegou
e orientei-a no necessário para ajudar-me. E, foi apenas às três e cinquenta da
tarde que minha nova chefa, Kátia Cristina, apareceu com um sorriso entre os
lábios dizendo: “Vocês querem parar um pouco e meditarem comigo?”
A Claudinha disse que não podia por causa
do grande volume de trabalho que tinha. Alice Walda, que ainda não tinha ido
pra Disney em férias, Marinice, eu e até
a Júlia seguimos com a Kátia Cristina para a sala de reuniões para meditarmos
com ela.
Mas, quando lá chegamos, demos de cara
com o Dr. Oriovaldo, que nos lançou um olhar surpreso por cima dos óculos de
leitura, perguntando: “A que devo a honra de suas presenças, minhas flores?”
Kátia Cristina respondeu-o dizendo que
pretendíamos usar a sala de reuniões para meditar, mas como ele ainda estava
por lá, procuraríamos outro lugar. Por nossa surpresa, o Dr. Oriovaldo que
estava acompanhado pela secretária, a Jaqueline, disse de volta: “Eu e a Jaque,
vamos ficar aqui para meditar com vocês, não é Jaque?”
Descalça, ajustando a saia e movimentando
os lábios para amaciar o batom, a Jaque concordou com o chefe e todos nós nos
sentamos em volta da mesa. Mas, antes que a Kátia Cristina pudesse abrir a
boca, o Dr. Ariovaldo disse de volta: “Vocês sabem que eu encontrei a minha
caneta shaffer, aquela que eu achava
que alguém tinha me roubado? Minto, foi a Jaque quem a encontrou ... Pois é, estava
caída dentro do carro da Jaque que noutro dia me deu uma carona e a caneta
ficou lá.”
E, continuando, emendou: “Vamos fazer um
sarau literário, aqui no escritório, na sexta feira. Leitura de poemas, trechos
de livros ... ideia da Jaque, um happy
hour cultural. Compareçam todas vocês, meninas. Estão intimadas. Entenderam?”–
sorriu ele acompanhado de todas nós, pois sendo ele um dos sócios do escritório
é claro que tudo o que dizia era imediatamente aceito e apreciado.
Katia Cristina percorreu os olhos por
volta da sala de reuniões, fitando cada um de nós por um breve momento para
depois ir dizendo: “Acomodem-se confortavelmente. Deixem-se levar pela
atmosfera do ambiente relaxando os braços, a pélvis, as pernas, as costas, o
tronco e a expressão do rosto. Baixinho soltem um leve suspiro e agora
respirem, apenas respirem, notem o ar que invade as suas narinas para depois ir
embora na exalação. A concentração está na respiração, deixando as cobranças, o
estresse, as mágoas irem embora. O plexo solar na altura da boca do estômago brilha
e brilha mais nos dando a força que necessitamos. Permaneçam em silêncio,
silêncio....”
E o celular de alguém tocou abruptamente,
interrompendo a meditação.
Harih
Om!
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