HUMBERTO MENEGHIN
“Endireite a coluna, Fofolete! Você está
torta! Assim não há samadhi que venha
aqui na minha sangha, entendeu?” ouvi
Lili dizer em voz alta perto do meu ouvido, me assustando, mas depois, percebi
minha respiração começar a se acalmar, querendo deixar de pensar na chamada de
atenção que essa professora me deu e ainda por ter me apelidado de Fofolete. Minutos
depois, talvez cinco, a luz da sala se ascendeu abruptamente com a Lili
dizendo: “Acabou, meu povo, o samadhi
acabou, mas lá na Índia dura mais ... na beira do Ganges, meus amores, vocês
comigo lá na nossa peregrinação ... Procurem
a Tati da Cambuí Travel Trips Viagens,
reservem seus lugares. Vamos pra a Índia! Amooo!!!” – pausou para depois
emendar: “Façamos o OM, povo meu! O mantra sagrado que vai te abençoar. OOMOMMMOMMM
OMMMOMMMOMMM!”
Enquanto todos se preparavam para sair,
notei Lili ir até Neuzinha e dizer de forma incisiva: “Na minha sangha atrasos não são tolerados e quem
se atrasa entra na minha lista negra, entendeu? Pra sair dessa lista, minha
linda, você vai ter que fazer agora, aqui na minha frente, dez saudações ao Sol,
entendeu? Pode começar, Neuzinha, anda logo que eu preciso ir embora para minha
casa, entendeu? Rapidinho, anda!”
Submissa, Neuzinha em seu tapete começou
a saudar o Sol como podia, enquanto Lili se colocava à porta de entrada da sala
para se despedir de um a um dos que com ela tiveram a coragem de praticar
naquela noite. Com um sorriso largo, ela abraçava a todos reforçando para
seguirem-na no Instagram, no FB, para
que fossem peregrinar com ela na Índia.
Então, sem querer, ouvi-a dizer algo que
me chamou muito a atenção e que definitivamente brotou-me uma imensa vontade de
ir para a Índia com ela. Foi isso que a ouvi dizer para Simone: “Minha mestra,
Indianira Shanti Ma, está montando um ashram
em Rishikesh, quem for comigo para o Subcontinente passará alguns dias nesse ashram ... celebrando, cantando, fazendo
pujas, fazendo mantras e tudo o mais ...”
Os olhos da Simone brilharam e quando
estávamos tomando chá na recepção do espaço, antes de irmos, ela disse
firmemente que iria procurar a Tati da agência de viagens para fazer a sua
reserva para a Índia, que jamais perderia essa oportunidade de estar com a
nossa mestra Indianira Shanti Ma, em seu ashram,
na beira do Ganges. “Você vai comigo, não vai, linda? No ashram da nossa amada mestra ...”– perguntou-me Simone; mas antes
que eu desse uma resposta, foi a Claudinha quem falou: “ Estou tentada. Sempre
tive vontade de ir pra Índia. Vou ligar pra Tati, amanhã mesmo.”
Imersa nesse mesmo desejo, resolvi não
dizer nada ainda. Então, fomos embora, eu, a Simone e a Claudinha, direto para
a Romana, porque a Claudinha queria falar comigo em particular.
Apesar da companhia inesperada da Simone,
ocupamos uma mesa perto da janela e como de costume aquela confeitaria da
cidade estava lotada oferecendo um buffet
de sopas. Numa mesa do outro lado, mais a frente, Simone acenou para alguém que
em pouco trouxe consigo a cuia com sopa e ocupou a cadeira vaga na nossa mesa.
O que era para ser uma conversa só entre
eu e a Claudinha, além da Simone, agora contava com a presença da Gaby, da Gaby
Ruiva, como era conhecida. Então, fiquei sabendo que a Gaby Ruiva organizava
retiros para um professor de Yoga bem conhecido: o Tércio Natércio Couto. Que
no próximo feriadão estariam num mosteiro na cidade de Vinhedo e queria por que
queria que nós todas fossemos nesse retiro cujo tema era: “Yoga do Ser. Até
quando aquilo que é real, real não é?”
Fiquei na dúvida, pois para participar
desse retiro cada um teria que desembolsar oitocentos reais, incluindo
alimentação, cama em dormitório e as práticas. Valor esse que em duas vezes se
tornava em oitocentos e cinquenta reais. No entanto, a Gaby Ruiva, logo que
terminou a sopa, antes de ir embora, deixou o contato, dizendo que poderia até
dar um jeitinho de conseguir um bom desconto se nós três confirmássemos a
presença no retiro, o quanto antes.
Quando Simone foi ao toalete, a Claudinha
me disse que na próxima semana iria retornar ao escritório para trabalhar, que
a licença que havia tirado era pelo estresse causado pelo excesso de trabalho
no escritório e pela grande pressão por parte da Walquiria. Que ainda estaria
pensando em procurar emprego noutro lugar, num ambiente mais lídimo sem
sabotagens e pressões insanas.
Concordei com ela, que ultimamente estava
sendo muito duro e cansativo trabalhar lá no escritório, mas que mesmo assim
estava fazendo o que podia, achando que a Walquiria não estava me pressionando
tanto assim. Falei que a Marinice era falsa, leva e traz, uma pessoa em quem
não se podia confiar. E que a Alice Walda estaria querendo pegar o meu lugar.
A Claudinha concordou comigo e mudando de
assunto me disse: “Você gostaria de morar lá em casa? No meu apartamento? Vagou
um quarto; a Vanessa mudou-se, foi morar com o namorado e agora só ficamos eu,
a Keilane e o Júnior. Precisamos de mais uma pessoa para dividir o aluguel e as
despesas. Topa?
Keilane e Júnior? Quem são eles? –
resolvi perguntar antes de responder. E a Claudinha me disse: “A Keilane é
comissária de bordo da Azul, vive viajando pra cima e pra baixo, mas está
baseada aqui em Campinas. O Júnior é o meu primo e trabalha como vendedor numa
butique lá no Iguatemi, nas horas vagas é fotógrafo. Ele dorme no quarto que
seria para empregada, que por sinal é bem grande. Sabe aquele tipo de
apartamento de prédio feito nos anos setenta, ali na General Osório, quase
perto do Centro de Convivência? Vou adorar se você vier morar com a gente!
Harih
Om!
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