HUMBERTO MENEGHIN
Kika lixava as unhas na recepção enquanto
Lili, a “professora” que havia nos dado aquela aula estranha andava de um lado
para o outro falando com alguém ao celular. Enfaticamente a palavra “entendi”
era repetida diversas vezes até que ao notar a nossa presença Lili se debandou
para fora, deu marcha-ré no carro e se foi. Não faltaram reclamações nos ouvidos
de Kika sobre a forma como Lili havia conduzido a prática e muitos exigiam que
ela fosse trocada por outro ou outra professora.“– Vou ver o que posso fazer,
preciso falar com a Telma, a dona do espaço.” E num tom áspero de voz e
indicador em riste, Soraia a mulher do Edson disse: “Pois fale, por que se não
eu e meu marido vamos parar com o Yoga!” “Faço dela as minhas palavras!” – reforçou um outro alguém no mesmo tom ríspido de voz.
Mas, nem todos tinham achado a prática da
Lili tão ruim assim: “Não concordo com vocês. Amei, quero mais, adorei a aula
da Lili!”– bradou Neuzinha, aquela minha amiga que tinha passado um período
árido e depressivo na sua vida e graças ao Yoga, segundo ela, sentia-se outra.
“Me tooo !” – respondeu Amanda a
professora de Inglês que havia dado um show
a parte cantando uma canção de Roxette.
Fomos todos embora e eu como sempre
peguei carona com a Simone que também levava a Kika com a gente. No caminho,
Kika confessou: “Lili é amiga de infância da Telma, quase parentes, acho
difícil que ela pare de ministrar aulas de Yoga no espaço. E como agravante,
encontrar um professor ou professora apto para dar boas aulas de Yoga para
ganhar o que pagam, hoje em dia, está muito difícil. Tem me aparecido cada uma
... que a Lili acabou sendo a melhor opção.
Simone perguntou sobre o nosso antigo
professor que era excelente e conforme constava tinha ido para Índia sem data
certa para voltar e nem havia se despedido. Em resposta Kika disse
que a Telma, que era a dona do espaço, havia mudado a política de pagamento de
hora-aula aos profissionais que atuavam na sua seara nivelando-os a profissionais
que prestavam serviços em outros lugares, ou seja, havia diminuído a
participação e assim o valor pago aos professores tinha sofrido um decréscimo.
Então, perguntei se a Lili havia feito
algum curso de Formação específico para professores de Yoga. Em resposta Kika disse:
“Sabe que eu não sei! Foi a Telma quem acertou tudo.
É, muitos podem achar que para se
ministrar uma boa aula de ásanas de
Yoga não é necessário participar de um curso de Formação específico para esse
fim, que alguém que pratica por conta e gosta pode perfeitamente dar aulas a
seu modo e que ainda um professor de educação física que também não tenha uma
formação específica em Yoga pode dar aulas sem problemas. “– Há certos
professores que são autodidatas e o Yoga está no sangue. Entendeu?” – anotou
Simone. – Mas, nem por isso dispensam o estudo, entendeu?
Foi então que quando passávamos pela
avenida Norte-Sul, os olhos da Simone brilharam ao ver aquele grande M amarelo
num painel que subliminarmente lembrava batatinhas fritas douradas. Sem muito
pensar, ela fez o contorno e entrou no estacionamento daquela conhecida
lanchonete e nos disse: – Bateu uma fome! Estou faminta, ninguém me segura! Sou
capaz de devorar dois hambuguers de
uma só vez!
Como estávamos de carona, contra a nossa
vontade, também entramos na lanchonete; mas, na verdade, parecia que eu e a
Kika estávamos tentadas a comprar alguma coisa; pelo menos aquelas batatinhas
fritas douradas ... Simone logo correu para o caixa e já fez o pedido.
Sem querer meus ouvidos logo captaram uma
voz conhecida e tentando decifrar de quem poderia ser, essa voz repetia a
palavra “entendi” com firmeza enquanto falava com alguém. E, pela minha
esquerda, meus olhos souberam quem era essa pessoa:
Lili, a “professora” que
tinha acabado de nos dar aquela aula de Yoga, sentada numa mesa individual de
canto de janela degustando um farto hamburguer
enquanto continuava falando a palavra “entendi” seguidamente ao celular.
Harih
Om!
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