10 de novembro de 2013

YOGA EM VOGA ENTREVISTA – IZILDA BRAGA





HUMBERTO MENEGHIN


YV – Poucos sabem, mas além de você ter se formado em Educação Física, também é formada em Letras pela PUCC. E, anos mais tarde, se especializou em Yoga participando do Curso de Pós Graduação – FMU/SP com o professor Marcos Rojo. Diante dessa trajetória o que mudou na vida da Izilda estudante, de forma significativa, para se dedicar exclusivamente a ministrar aulas de Yoga? Foi uma mudança da água para o vinho ou nem tanto, pois dentro de você já existia uma inclinação favorável para o Yoga que na verdade despertou no momento certo?


IZILDA – A mudança, ocorreu de forma gradativa com atividades distintas em paralelo (mundo corporativo onde atuava no período comercial e no noturno ministrando aulas de Yoga). Porém, após 2 anos de afastamento forçado das atividades como secretaria, devido ao desenvolvimento de uma LER (ou DORT), pude com a ajuda da prática do Yoga, vivenciar e aplicar  em minha vida um desejo há muito tempo cultivado em me dedicar somente as aulas. A mudança, posso afirmar, foi um renascimento em todos os aspectos! Acredito sim, ter se manifestado no momento mais oportuno e necessário.






YV – Em complemento aos estudos do Curso de Pós Graduação – FMU/SP, você participou de vários outros cursos envolvendo meditação, técnicas de relaxamento e concentração, ajustes, correções e alinhamento dos ásanas, dentre outros. Numa sala onde há cerca de dez alunos que participam de uma prática de Yoga, notando que um ou mais praticantes executam uma postura que não esteja completamente correta, será que a maioria dos professores/professoras de Yoga deste Brasil tomam a iniciativa de ajustá-los na posição adequada ou isso acaba passando batido? Você acha que numa sala de prática onde a iluminação é reduzida para trazer um acolhimento maior a quem está lá acaba mais atrapalhando do que ajudando o professor na hora de ajustar um aluno? Em alguns países nórdicos o tocar não é costume e algumas escolas até usam cartões tipo “SIM, por favor ajuste-me” e outro com o dizer ‘NÃO, obrigado”. Aqui no Brasil “o não me toque” prevalece ou é quase inexistente e ajustar o aluno praticante ocorre de uma forma natural e a maioria aprecia?


IZILDA – Com relação aos "ajustes", acredito que dependa muito do conhecimento não só técnico, mas também da própria prática pessoal e sensibilidade do Instrutor, para que possa distinguir e ajudar o aluno não a executar um ásana de maneira "perfeita" visualmente, mas para que ele adquira meios de através do seu corpo, utilizar uma postura para entrar em contato consigo próprio, conhecendo seus limites, despertando caminhos para que possa trabalhar de maneira harmoniosa uma melhor consciência do seu todo, aflorando suas qualidades e aprendendo a equilibrar sentimentos que impeçam sua estabilidade interior. A intensidade da luz deveria ser agradável ao ponto de permitir uma diminuição da possível excitação já existente em abundância nos demais ambientes externos.  O "toque" ainda é algo que deve ser executado com cuidado, tato e muito respeito, caso as orientações verbais ou visuais demonstradas pelo Instrutor não tenham sido aparentemente compreendidas pelo praticante.


YV – Já faz alguns anos que você ministra práticas de ásanas de Yoga na Companhia Atlhética de Campinas e ainda é Personal Yoga Instructor, com alunos e alunas particulares. Muitos podem alimentar a ideia que praticar Yoga numa academia de ginástica a prática tende a ser malhação propriamente dita. No entanto, sabemos que existem exceções e para quem a conhece e pratica com você percebe que sua aula é focada no Yoga puro e simples. Você acha que os frequentadores de academias de ginástica de um modo geral apreciam a prática do Yoga tradicional ou alguns, na verdade, o que querem é perder calorias? Será que ainda tem gente que confunde Yoga com Ginástica? E, para o leigo, o que você diria no sentido de desfazer esse tipo de equívoco?






IZILDA – Este conceito tem se modificado com o passar do tempo e posso observar que alguns alunos de academias após vivenciarem a prática, não só apreciam como acabam se aprofundando e dedicando mais a proposta do Yoga. Dentro de uma academia, existem muitas maneiras e outras modalidades mais "rápidas e eficazes" para quem busca apenas "perder calorias" ou uma "ginástica para se tornar mais flexível".

 No Yoga procuramos focar em uma revisão de valores, com uma proposta de mudança de hábitos e estilo de vida, que visam diminuir e administrar o nível de estresse através da respiração, exercícios de relaxamento, meditação, concentração e dos ásanas.


YV – Cada praticante tem um corpo diferente. Alguns têm maior flexibilidade, outros nem tanto e outros ainda sentem dores nos joelhos, nas costas, no pescoço e até mesmo possuem algum tipo de limitação na saúde. Você participou da Formação no Método de Reeducação do Movimento criado pelo professor Ivaldo Bertazzo. Como a prática do Yoga aliado a esse método que reeduca o movimento pode auxiliar os praticantes a desenvolverem uma consciência corporal que os permita se sentirem renovados e quem sabe livres de suas limitações físicas? Será que o Bertazzo buscou muitas informações e conceitos do Yoga para criar esse Método?


IZILDA – O Método desenvolvido pelo professor Bertazzo é de grande valia para o ser humano, que é fruto das suas experiências, pesquisas e muito estudo e seriedade com técnicas de dança e percepção corporal das diversas culturas vivenciadas por ele, que como o Yoga, desenvolve meios e oferece ferramentas para que cada individuo possa educar o corpo e transformar gestos como manifestações pessoais mais equilibradas, saudável com harmonia e consciência.


YV – Yoga com Kurunthas é um tipo de prática que você também se especializou e pelo visto há muitos praticantes que adoram praticar com o auxílio das cordas/tiras presas à parede. A prática de ásanas utilizando kurunthas facilita a vida do praticante ao executar as posturas que achava impossível de realizar? Quais são as vantagens de se praticar utilizando Kurunthas?

IZILDA – Sim, facilita e reeduca. Mesmo aquelas com maior limitação ou rigidez postural, com o auxilio das faixas ou cordas ajudam o praticante iniciante nas posturas mais complexas e é uma excelente ferramenta para o aluno mais experiente na conscientização das ações internas dos ásanas.


YV – O Hot Yoga de Bikram, com muitos praticantes nos Estados Unidos, que é praticada numa sala cuja temperatura é muito elevada está se instalando no Brasil. Será que esse tipo de prática vai atrair muita gente ou em médio prazo poderá se tornar algo passageiro?

IZILDA – A todo momento, novas "modalidades" são lançadas no mundo ocidental e existe o público que  sempre "busca" a "novidade do momento"... alguns poderão ou não permanecer no método, até que  novas modalidades possam despertar outros desafios e experiências ou aprofunde seus conhecimentos, amadurecendo sua prática buscando a proposta real do Yoga. Se o praticante dentro desta modalidade, no seu momento de vida atual, conseguir enfrentar seus limites com consciência e respeito, acho que futuramente poderá descobrir ou buscar conhecer e se interessar por uma prática mais tradicional, onde ele possa canalizar esta "energia fisica" para um maior entendimento de si próprio aliando saúde e bem estar.






YV – Yoga e Religião estão entrelaçados ou Yoga é uma coisa e Religião é outra? Será que ainda tem gente que pensa que se praticar Yoga estará indo contra os princípios religiosos que adota e segue? Algum praticante alguma vez já disse a você: “Vou parar com o Yoga porque a minha Religião não permite”. Será que existem por aí alguns espaços de Yoga que extrapolando os limites do bom senso alimentam a equivocada ideia de se equipararem a um lugar de práticas religiosas ao invés de focarem na prática e no estudo de Yoga? Como o praticante e o professor podem lidar com essa situação da melhor maneira?

IZILDA – São distintas. Ainda hoje, após o "boom" inicial do Yoga, ainda há muita confusão por parte de algumas pessoas. Já tive sim experiências em que as pessoas se sentiram confrontadas e deixaram de praticar.

 Infelizmente, em qualquer lugar do mundo, poderá haver uma distorção na essência desta filosofia, pois o yoga requer a constância do estudo, questionamento, amadurecimento e prática destes ensinamentos em nosso cotidiano para sempre. O melhor caminho? bom senso...reflexão e muito estudo!






YV – A devoção a algumas deidades do Hinduísmo é demonstrada claramente por algumas pessoas que se dedicam, se aprofundam e estudam Yoga e Vedanta. Você é devota de alguma Deusa ou Deus do Hindu? Será que a Desatadora de Nós poderia ser comparada a Ganesha que remove os obstáculos de quem nele acredita e venera ou cada um deles atua em vertentes completamente distintas?

IZILDA – O Hinduísmo é riquíssimo em símbolos e significados contidos em suas imagens com suas diferentes posturas, cores, gestos, atributos e ornamentos que nos revelam a natureza da divindade, uma vez que dentro desta tradição, as imagens falam também através das escrituras (Ágamas - manuais práticos de adoração aos deuses, fornecendo elaborado detalhes sobre cosmologia e outros detalhes).






Tenho sim um grande respeito e devoção por Ganesha , não só pelo atributo mais conhecido (removedor de obstáculos), mas também por sua inteligência e poder de discernimento, força e capacidade intelectual que se manifestam na habilidade de discernir entre o real e o imaginário, escutar e adquirir conhecimento... mas gosto também de Khrisna Gopala - todos tem algo que nos cativam ou necessitamos melhorar...

Já a comparação com a religião católica, acho distante - Um chamamos deus, NSra figura feminina, mãe sagrada de Jesus  (apesar da maioria das pessoas generalizar em "removedores de obstáculo"). Creio que todos são importantes, pois são os "veículos" utilizados para que possamos estreitar a ligação com a divindade que cada um escolhe para este fim.






YV – Como e quando surgiu essa sua paixão por cavalos?  Há algo de especial em lidar com eles que no fundo acaba por lhe trazer uma sensação de Paz? O que uma pessoa comum pode aprender com os equinos que não se aprende com os outros animais de estimação? Há um pouco de Yoga nessa relação?

IZILDA – Já veio no DNA. A sensação em conviver e compartilhar momentos com eles é para mim muito gratificante. Força e fragilidade, rustidez e doçura, nobreza sem arrogância, humildade, liberdade, amizade sem inveja, beleza sem vaidade...  e mais uma enorme série de atributos que a todo momento me encanta, educa, sensibiliza, ensina e me faz reverenciar a divindade que neles encontro. Toda forma de criação tem sua beleza. Minha égua me ensina incansávelmente a frase de "Alois Podhjsky" - "Para dominar uma criatura viva, em primeiro lugar e acima de tudo, é preciso dominar a si mesmo" - Isto para mim é Yoga ...





YV – Você largou tudo pelo Yoga? Você acha que se “mata um leão a cada dia” para um professor ou professora de Yoga conquistar o seu espaço no sentido de ter um bom número de alunos para ministrar aulas e com isso viver uma vida satisfatoriamente boa? O que você pensa dos profissionais que colocam o dinheiro em primeiro lugar ao invés da paixão por ensinar?

IZILDA – Não larguei tudo... mas mudei tudo e encontrei muito mais do que imaginava! O Yoga me realiza como pessoa, me desafia muito como alma, me questiona, ensina e sinaliza a todo o instante que ainda tenho muito a aprender e compreender.

Hoje além das aulas de Yoga, dou aulas de alongamento e anti-stress, por trabalhar em uma academia e ser uma Educadora de Atividade Física, é gratificante poder conciliar outras atividades que como qualquer outra profissão, exige atualização, disciplina e dedicação para mantermos os alunos em um período onde tudo é focado apenas na novidade.

Quando realizamos um trabalho com o qual nos identificamos e amamos, as dificuldades serão trabalhadas de maneira construtiva e poderão nos guiar para novos caminhos e escolhas, mas visando sempre nossa paz interior.






YV – Para você o que significa a famosa frase de autoria do Professor Hermógenes: “Eu entrego, eu aceito, eu confio e agradeço”. Por em prática este preceito é difícil ou para aqueles que estão envolvidos com a prática e o estudo do Yoga isso é tirado de letra com facilidade? O que é vivenciar um estado de Yoga?

IZILDA – Esta frase para mim é um mantra... Dependendo de cada situação empregada, um ou mais componentes dela  são difíceis praticar! Mas sempre nos trarão uma centelha de luz, conforto, e de imediato, diminuímos em muito o tamanho do nosso problema ou desafio enfrentado. É um balsamo sagrado.





IZILDA MARIA SILVA BRAGA – atualmente atua como Instrutora de Yoga e Orientadora de Atividade Física na academia Cia Athletica - Unidade Campinas.
Formada em Educação Fisica PUCCampinas (com especializações em ginastica holistica, treinamento funcional, Expressão corporal, Reeducação do Movimento e outras técnicas de bem estar e saude)

Iniciou sua pratica no Instituto Isvara de Campinas onde atuou como Instrutora e colaboradora no curso de Formação de Professores.
Formação e pós Graduação em Yoga com Professor Marcos Rojo (FMU-USP, reconhecido pelo Consulado Geral da India)

Demais especializações em outras linhas de yoga (Iyengar, Dynamic Yoga, Raja Yoga, Asthanga, Kuruntha, Sattva Yoga, Reposição Hormonal, Asanas para Patologias coluna, ombro, punho, joelho, Ajustes de Ásanas, Meditação Tantrica, Linha de energia e Ajustes Sutis, com vivencias em workshops e retiros de Yoga e Meditação).

Personal Yoga Training

Um comentário:

  1. Parabéns!
    Excelente entrevista com a professora, mestra, amiga, querida Izilda! Palavras equilibradas, neutras e profundas de esclarecimento. Muito obrigada por todos os ensinamentos sempre _/\_ Muita paz e muita luz!

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