HUMBERTO MENEGHIN
YV –
2000 foi o ano em que você começou a se dedicar à prática do Yoga. Antes disso,
você já havia percebido ou recebido alguns indícios que esse seria o caminho a
seguir? Você acha que algumas pessoas que se entusiasmam à primeira vista pelo
Yoga podem acidentalmente seguir por vias equivocadas e a partir daí nunca mais
querer saber ou ouvir falar sobre esse assunto? Durante o trajeto, alguma vez
você já pensou em desistir, seja de praticar, estudar ou ministrar aulas como
professora de Yoga? A tradutora e interprete cedeu lugar definitivamente à
Yogini devotada?
ANA PAULA
– Eu nunca imaginei que seguiria um caminho como o do Yoga, exatamente porque
nem sabia o que era antes de passar na frente de uma escola e decidir entrar.
Creio que cada um entra no Yoga por um motivo ou nenhum, e conheço pessoas que
se decepcionaram com muitas coisas e nunca mais quiseram saber do Yoga, porém,
é sempre o caminho de cada um com seus próprios desafios. Assim como eles eu também
tive meus desafios e continuarei tendo-os. Apesar das dificuldades nunca pensei
em parar de praticar, já duvidei se deveria estar dando aulas, principalmente
quando ouvia muito que eu não deveria estar dando aula porque não era muito
flexível e outras vezes, por questões financeiras. Por isso, já faz uns anos
que faço outras coisas também para balancear a vida, porque afinal, tenho
contas para pagar. A tradutora e intérprete nunca tomou o lugar da Yogini,
assim como nada nunca irá tomar, porque o Yoga está em mim e por isso, sempre
estará em tudo que eu faço. Não precisa estar ligado ao Yoga para eu estar
praticando Yoga. Então, em tudo que eu faço, seja tradução, seja um alimento,
seja com o círculo de mulheres, seja acompanhar o parto, sempre o Yoga vem
junto. Não temos mais como nos dissociar.
YV –
Quem é a Mãe Divina e o que é o Sagrado Feminino? Como surgiu a ideia de se
criar o Devi Shala Circulo de
Mulheres? Qual a finalidade, o propósito, de um Círculo de Mulheres? Que
assuntos, práticas e estudos são realizados? O que a mulher interessada
pode esperar e colher para a sua vida ao participar dos encontros? Um Círculo
para Homens daria certo?
ANA PAULA
– Mãe Divina, o maravilhoso aspecto feminino do Todo. A grande força de onde
tudo veio e para onde tudo voltará. Reconhecer que somos parte dessa grande
expressão e criação do feminino, faz com que reconheçamos que tudo, inclusive
nós, somos sagradas. Voltar-se a uma vida, onde o centro é o Sagrado, é abrir
as portas para encontrar e fortalecer nossas forças e poderes, shakti, e
desenvolvê-las. Viver o Sagrado Feminino, é honrar à Mãe e suas diversas
manifestações, inclusive a Natureza, é empoderar-se e ser protagonista da sua
vida, ou seja, a heroína da sua própria história. Honrando seus ciclos e sua feminilidade. Um Círculo de
Mulheres é um lugar que se torna um templo sagrado, onde juntas podemos
trabalhar e desenvolver a escuta ativa do coração e abrir nossos ventres para
os poderes da Grande Mãe e retomar os poderes antes perdidos ou até então desconhecidos. É caminhar
juntas pelos caminhos das ancestrais e pelos Mistérios do Sagrado Feminino, em
busca da nossa Soberania e poder Intuitivo. Um tecer de arquétipos, poderes, danças, cantos, trocas, olhares, mãos
dadas, rodas e giros. Um lugar que se torna sagrado, pois o propósito é puro e
sagrado. Olhos nos olhos, coração com coração, ventre pulsando o ventre da
Terra. As mulheres podem esperar vivências de cura, resgate, estudos,
redescobertas, autoconhecimento, discernimento, poderes, mistérios, sagrado e
sacralização. Um círculo de mulheres permite que descubramos quem somos e
resgatar as ferramentas que irão nos ajudar a nos expressar e viver de forma
plena e íntegra com nossa Essência.
Uma viagem de retorno para casa. Uma cura pessoal e coletiva. O Ser essencial. O Ser autentico dentro de cada uma de nós. O Círculo de Mulheres é para a cura de todos. Do feminino dentro de cada um: homens e mulheres. Porém, creio que um círculo de homens seria super necessário também. Todos nós precisamos voltar ao sagrado.
Uma viagem de retorno para casa. Uma cura pessoal e coletiva. O Ser essencial. O Ser autentico dentro de cada uma de nós. O Círculo de Mulheres é para a cura de todos. Do feminino dentro de cada um: homens e mulheres. Porém, creio que um círculo de homens seria super necessário também. Todos nós precisamos voltar ao sagrado.
YV –
Quais são as ferramentas que uma boa Terapeuta Holística especializada em
mulheres, gestantes e pós-parto utiliza para que a terapia flua de uma forma
eficaz no sentido de trazer resultados positivos a quem se propõe? Para ser
Doula tem que ter vocação? Quais as qualidades necessárias para alguém assumir
com seriedade o papel de Doula? O Parto Humanizado está na moda ou sempre
existiu e só agora é que estão dando mais importância? Quais são as suas
recomendações para uma grávida de primeira viagem?
ANA PAULA
– O meu foco no meu trabalho será sempre o Yoga. Ao redor, como complementação,
trago à terapia floral, aromaterapia, fitoterapia, massagem e o reike, e claro,
a sabedoria oracular e as deusas. Com relação ao trabalho de Doula, creio que
além de vocação e preparar-se para, deve-se ter o poder da empatia, respeito e
compreensão, além de ser observadora o suficiente para perceber o que cada
mulher precisa em um momento tão sagrado e especial que é o parto. É o olhar
atento, combinado com a empatia e saber o que se pode fazer para ajudá-la. Para
atuar como doula profissionalmente, é necessário passar por uma formação. O
parto humanizado nada mais é do que um atendimento com respeito ao ser humano
que está ali, passando por um momento delicado, forte e único. Cada parto é
único para aquela mulher e seu bebê, mesmo que o médico já tenha feito mil
partos. Toda pessoa deve ser tratada com respeito e atenção, de humano para
humano, e não como uma máquina de produção em série. A proposta, além de tudo
isso, é devolver o protagonismo do parto à mulher, ao invés de deixá-lo nas
mãos dos médicos, como está agora em nosso cenário brasileiro. Por isso, sempre
indico para todas as mulheres grávidas que me procuram ou alunas que
engravidam, para se informarem muito, irem aos encontros de casais grávidos e
se realmente desejam um parto normal, irem procurar um médico ou parteira que
vá de fato honrar essa vontade e desejo da mulher de parir.
YV –
Quem é seu amigo sabe que você é uma grande devota de Amma e ainda cultua
muitas Deusas e também Deuses do panteão Hindu. Nessa linha de raciocínio, o
que Ammaji significa para você além de uma grande Mestra? Com quais Deidades
Hindus você mais se identifica? Alguma ou algumas delas já ajudaram você num
momento que precisou? De que forma isso aconteceu?
ANA PAULA
–A Ammaji significa para mim uma divisão de águas. Quem me conhece há mais
tempo sabe que não segurava bebê nem por reza brava! rs. Após ter passado
aqueles dias no Rio de Janeiro trabalhando de forma voluntária na visita da
Amma e receber vários abraços dela (que honra!), minha vida mudou! Cai de
cabeça no mundo da gestação, do parto e do milagre e benção que é ver uma vida
chegar ao mundo, uma família se formar. Acompanhar um rito de passagem tão
importante para todos os envolvidos. Ali, foi só o ponto de partida à volta ao
Sagrado Feminino. Eu respeito e honro todas as divindades hindus que estão
vivas dentro de mim em meu coração. Identifico-me especialmente com a tríade
Parvati/Durga/Kali, Saraswati e Lakshmi, e claro, amado Shiva! Sinceramente,
não posso dizer que ouve um dia na minha vida onde essas forças não me
ajudaram. Em muitas vezes ficou muito claro, em outras eu posso não ter dado o
devido valor ou notado. Mas, sempre estiveram ali por mim. Sempre. Vou
compartilhar um momento que foi muito difícil para toda minha família, quando
minha avó passou para o outro plano. Lembro de ter passado a madrugada toda
acordada, na sala do apartamento, com meu avô deitado no sofá, recém-operado do
coração e sofrendo muito, minha mãe no chão e eu fiquei a madrugada toda
cantando o Maha Mrityunjaya Mantra e foi só assim que meu avô conseguia dormir
e acalmar-se. Fiz isso em silêncio, sem que ninguém soubesse. Porque de fato,
não precisam. Tudo funciona, mesmo que seja discretamente. As forças vem nos
ajudar, sempre. É só permitirmos, e claro, confiarmos! Eu confio!
YV –
Não se brinca com Kali ou ela não liga? Nossa Senhora Aparecida e Iemanjá tem
lugar no seu coração? E sobre Ganesha; será mesmo que ele remove os obstáculos
mais difíceis ou o devoto somente irá se inspirar com a sua força para que na
verdade aja e ele mesmo remova o obstáculo?
ANA PAULA
–Kali é uma força muito poderosa, e deveria haver um preparo interior para
acessar a força dela, afinal, Kali é a yoga shakti, a nossa mãe
espiritual, cujo útero e força nos leva além das dualidades, apegos e por isso
pode parecer tão terrível e assustadora. E na maioria das vezes, não estamos de
verdade preparados para desapegar e abrir mão do que é necessário para nosso
crescimento interior. Kali é uma grande força transformadora, uma grande
mestra! Eu amo! Assim também é Ganesha. Que não somente remove os obstáculos,
mas outras vezes, pode colocá-los em nossas vidas se estivermos indo para o
caminho errado. Essas duas forças, sabem, em maior ou menos grau, o que é
melhor para nós. Mas, nem sempre estamos prontos para encarar! Por isso tantos
veem apenas Kali como uma deusa feia e assustadora, porque na verdade,
assustador é, deparar-se com nossa sombras e limitações e ter que abrir mão
delas, tornando-se responsável pelas suas escolhas e autorrealização. Não é
fácil renascer na eternidade interior. Todas as forças que são manifestações do
divino tem espaço em meu coração. No meu altar não tem somente divindades hindus,
tem Iemanjá, Nossa Senhora Aparecida, Afrodite, Hera, Brighid, Gaia, Ísis,
Tauret e São Francisco de Assis, que são as forças que mais estão presentes em
meus ritos e orações diárias. E respondendo a sua primeira pergunta, não
deveríamos brincar com nenhuma força, especialmente aquelas que pouco
conhecemos, sem preparação e sem respeito.
YV –
Você se formou em Hatha Yoga com Pedro Kupfer, Yoga Nidra com a francesa
Micheline Flak e participou de outra formação de Yoga com Camila Reitz e de um
curso de aperfeiçoamento em Yoga no Núcleo de Estudos de Yoga Natarája. Não
parando por aí, você é Reikiana, Aromaterapeuta, especializada em Yoga para
Gestantes, Baby Yoga, Shantala e tem Formação Profissional em
Parto Ativo níveis I e III com Janet Balaskas. De que forma esses cursos
contribuíram na sua formação como professora de Yoga e Terapêutica Holística? O
que ainda está faltando para você estudar?
ANA PAULA
– Tudo é válido e tudo vem para somar. Eu agradeço a absolutamente todas as
pessoas que me ensinaram ao longo da caminhada, que ainda tem muito chão pela
frente! Eu sou o que sou, por causa de cada um deles. Um pedaço de cada
professor e ensinamento está dentro de mim, na minha prática e na minha fala.
Assim como contribuíram para uma vida ainda melhor. Praticamente tudo que eu
aprendi, eu uso no meu dia a dia. Principalmente o Yoga, a Aromaterapia, os
Florais de Bach, as Ervas e o Reike. Se eu pudesse estudaria tudo! Mas, não
dá...rs. Ano que vem, vou continuar a formação com a Janet Balaskas, para mim falta
o módulo II, já fiz o I e o III, e teremos mais um encontro ano que vem, para
quem já vem estudando com ela para aprofundamento. Ela é sensacional! Grande
ícone do Parto Ativo e Yoga para Gestantes. Por enquanto, essa é a única
certeza para o ano que vem...mas, ainda desejo fazer formação em Dança
Circular, para trazer isso para dentro das vivência do Círculo de Mulheres.
YV –
De que maneira o misticismo está presente na sua vida? Você se considera
supersticiosa? Consulta os astros e as cartas do tarot quando pode ou isso não é tão importante assim? Qual seria
uma dica para afastar as energias que não são boas? Sal grosso funciona? Existe
algum ou alguns mantras que você mais aprecia entoar? E, o que é meditação IAM?
ANA PAULA
– Eu sou pisciana, minha vida é um grande mistério! rsrs....E sim, faz parte da
minha vida todas as tradições que podem nos ajudar de alguma forma, e isso
engobla o uso de tarot e sabedoria oracular, com todo o respeito que elas
merecem! São ótimos para nos ajudar a ver o que está logo a nossa frente e a
entender o que está profundamente dentro de nós, mas ainda não está consciente
e portanto não conseguimos ver. São símbolos que nos ajudam na caminhada! Com
relação às dicas para afastar o que não é "bom", o que mais falo é
que devemos sempre nos mantermos protegidas e não entrar na sintonia dessas
energias, ou seja, não nutri-las. Eu uso muito ervas e aromaterapia para manter
os ambientes limpos: como o Olíbano, que tem uma vibração tão elevada e boa,
que afasta qualquer energia desqualificada e negativa, assim como banhos como:
arruda, guiné, alecrim, sálvia e lavanda. Poderosas aliadas! Sal grosso pode e
deve sempre entrar no balaio. Assim como nós entramos em suas águas no mar! Eu
passo praticamente o dia todo entoando mantras. Tem alguns que eu faço sempre,
pois são forças e poderes que eu preciso trabalhar mais. O Mantra Yoga é minha
prática constante e diária, assim como o trabalho interno com as Deusas,
seguindo o Tantra. Minha sadhana
diária! O IAM é uma técnica de meditação, que se considera uma iniciação,
transmitidos por discípulos ou instrutores autorizados pela Amma, e é uma
técnica Integrada de Meditação Amrita, combinação de Yoga, pranayama
e meditação, que requer somente 30 minutos diários de prática.
YV –
Na sua opinião, quem são as pessoas inspiradoras nesse mundo que vale a pena
parar para ouvir, ler um livro que foi por uma delas escrito ou até mesmo
participar de uma palestra ou encontro? A partir de que momento uma pessoa
considerada “Mestre” deixa a desejar, ou seja, começa a demonstrar aquilo que
não aparenta ser?
ANA PAULA
– Eu sou inspirada por muitas pessoas! Porém, vou compartilhar aqueles que
estão ultimamente ao lado da minha cama. Marianne Williamson que escreve com
base no UCEM, do qual eu sou praticante e seguidora; UCEM que estou sempre
relendo e colocando em prática; a maravilhosa Clarissa Pinkola Estés, que
sempre tem muita coisa boa a dizer; Mirella Faur, que é minha inspiração e base
para os meus Círculos de Mulheres e uma anciã maravilhosa no caminho da Deusa;
Shambavi Chopra, entre muitas outras coisas; Bhagavad Gita, sempre quero ouvir
o que Krishna tem a dizer! Eu sou uma devoradora de livros e sabedorias de
todos os dias. Estou sempre lendo! Principalmente as grandes mentes e vidas
inspiradoras de antigamente, como Yogananda.
YV –
No mundo moderno a Depressão, a Síndrome do Pânico e outros distúrbios
representam grandes obstáculos para quem convive com eles. Além da ajuda de
psicólogos e psiquiatras, como o Yoga e as Terapias Holísticas podem auxiliar
as pessoas que passam por provações deste tipo?
ANA PAULA
– Olha só, escrevi um artigo há muitos anos atrás sobre Síndrome do Pânico, e
até hoje recebo muitos emails de pessoas que leram e passam pela mesma coisa, e
sempre fico impressionada! É muita gente! Sem dúvida alguma, as terapias são de
grande auxílio e dão o suporte energético e espiritual que a pessoa precisa
para entender porque criou internamente esses distúrbios, conseguir resolvê-los
internamente, e voltar ao seu Ser. Além de ajudá-las a passar por um momento de
provação e dificuldade. Sempre vem forte um dizer do Dr. Bach (dos Florais de
Bach), que a saúde depende de estarmos em harmonia com a nossa alma. E quando
esse distúrbios e doenças aparecem, creio que é um ótimo momento para nos
perguntarmos: O que eu preciso fazer que não estou fazendo? O que esta doença
está querendo me dizer?
YV –
Você ainda não foi para a Índia e, além disso, tem um grande desejo de visitar
o Egito. Que lugares nesses dois países você acha serem indispensáveis para se
conhecer in loco? Existe alguma
previsão deste objetivo acontecer?
ANA PAULA
– Por mim, ficava só viajando conhecendo as culturas e as pessoas e indo
visitar lugares sagrados para cada tradição. O Egito sempre esteve presente em
minha vida desde pequena quando colecionava tudo que encontrava. Hoje, voltou
com força total com a Ísis. Meu sonho é ir lá e ver tudo. Assim, como desejo ir
à Índia para estar com a Ammaji e visitar todos os templos das deusas da minha
devoção mais profunda! Por enquanto, infelizmente, não tenho previsão de ir a
nenhum desses lugares ou outros, que eu desejaria, como a Irlanda e a Grécia e
outros que carregam uma cultura linda e locais sagrados que um dia foram
voltados ao culto da Deusa.
YV –
Como anda a sua agenda profissional e quais
workshops/cursos você está desenvolvendo neste momento para oferecer às
pessoas interessadas?
ANA PAULA
– Minha agenda profissional está muito focada no trabalho com as mulheres, com
os Círculos quinzenais, de quintas-feiras e sextas-feiras, no Maha 108, em São
Paulo, e cursos co-relacionados como: A Jornada do Sagrado Feminino pelas
deusas hindus; O Despertar da Curandeira Interior; Ciranda das Flores
(Aromaterapia, Fitoterapia e Florais) que estou em parceria com a Sandra
Prem; a Jornada da Heroína pelos Arcanos Maiores, em parceria com a amiga Edgy;
Tantra e Yoga para as Mulheres, em parceria com a amiga Dani. Fora isso, estou
auxiliando na coordenação da Formação em Yoga e Meditação no Maha 108, com a
amiga Simone Morillo. Eu diminui o número de aulas e lugares onde ministrava
Yoga, para poder me concentrar nos cursos e nos círculos, mas também no
trabalho como editora de texto e conteúdo do portal Yogaway e blog, que será
lançado ainda esse ano, trazendo as práticas de saúde e bem-estar, como o Yoga,
para todas as pessoas, por preços mais acessíveis, para que todos tenham a
possibilidade, como eu tive, de conhecer e praticar essa sabedoria milenar tão
maravilhosa, que engrandece nossa vida de tal forma, que não é justo, não
compartilhar e não querer que todos também experimentem o que eu experimento
diariamente!
O AGORA ETERNO E A SÍNDROME DO PÂNICO
artigo
publicado originalmente no www.yoga.pro.br
Passado,
presente e futuro se cruzam e se perdem em nuvens negras de medo e
temporalidade. A Síndrome do Pânico é mais uma, das tantas, patologias
modernas. Não importa que idade você tenha ou quão zen você seja, qualquer um
de nós pode ser mais uma de suas vítimas.
Não me lembro
o ano exato em que tudo começou, pois como todo início, não dei muita bola para
o que meu corpo me mostrava. Deixei o rio fluir e chegou um momento em que este
transbordou. Nesse transbordar vi toda minha vida rodar a minha volta e eu, no
epicentro, incapaz de reagir. Passei um ano indo de médico em médico, e
realizando todos os tipos de exames, sem que nenhum pudesse diagnosticar o que
havia de errado comigo. Até que um neurologista resolveu me prescrever um
remédio, de tarja preta, contra ansiedade. Não tomei. Isso não era o bastante
para mim. Queria entender o que estava de errado e não apenas tampar o sol com
a peneira.
Como acredito
muito nas terapias integrativas ou alternativas, fui buscar auxílio na
homeopatia. Fiz um tratamento de um ano e me senti relativamente melhor. Até
que um dia, descobri que nada havia melhorado. Fui num show no estádio do
Pacaembu (sim! Professor de Yoga também vai a show!) com uns amigos, e num
determinado momento, eles se afastaram e eu fiquei sozinha. O desespero foi aos
poucos pegando meu pé, depois minha perna, meu estômago e quando vi, ele se
enrolara por todo meu corpo, como uma jibóia paralisando sua presa para o
jantar.
Eu estava à
mercê das minhas projeções. Estava totalmente identificada com meus
sentimentos, com as sensações e projeções de um passado e de um futuro. O Agora
não existia mais. No auge de meu desespero, me direcionei para a enfermaria, e
fiquei lá, ao lado, só para o caso do pior acontecer. Pegava meu celular, e a
cada um minuto, ligava para meu pai. Pedia socorro. Tinha a nítida certeza de
que iria morrer. Não sabia exatamente do que ou como, mas sabia que iria
morrer.
Sentia
tontura, sentia fraqueza, sentia minhas mãos geladas e me visão fraquejava.
Estava mais uma vez a mercê da Síndrome do Pânico. Não tinha controle nenhum
sobre mim e estava distante do meu Ser, identificada com meu Ego e minhas
fragilidades. Acreditava ser o medo, ser o corpo e ser a solidão. Quem já
passou por isso, sabe como ficamos impotentes perante tudo. Como uma marionete.
No meu caso, a crise só passava quando estava em companhia de alguém. Aquela
falsa sensação de segurança que buscamos no outro. Mas que não é real. É
impermanente. Depois desse dia decidi que não podia mais viver assim. Não
queria ser mais uma marionete, queria ser Inteira. Completa de mim.
Voltei-me
então para o tratamento ortomolecular e para a prática de yoga. Não me voltei
para os ásanas, mas sim,
para a prática de pránáyáma e meditação. Fiz de cada momento uma
oportunidade de parar e me observar na ação. Se estava conversando com alguém,
tentava realmente estar ali, ouvindo e sentindo a companhia da pessoa. Se
estava assistindo televisão ou lendo um livro, mergulhava fundo e desligava as
percepções do exterior. Respirava profundo. Na inspiração mentalizava: estou aqui.
Na expiração mentalizava: está tudo bem. Eu não sou essas sensações de meu
corpo, não há motivo para ter medo.
Todos nós
vamos morrer um dia, e se hoje for esse dia, está tudo bem também. Não preciso
temer. O passado não me importa, pois não posso modificá-lo. O futuro não me
interessa, pois é incerto. A única coisa que me importa é este momento. Somente
neste momento eu posso agir. Somente o Agora é eterno. O tempo é uma criação
humana. Quando nos damos conta disso, paramos de correr contra o relógio, o que
só aumenta a ansiedade, e passamos a nos entregar para a única verdade. O Agora
eterno, atemporal.
Assim, eu
abraçava e acolhia a minha fragilidade, aceitando-a por completo. Parei de me
culpar ou me julgar por ser uma professora de yoga, e não ter controle sobre
mim. Aceitei-me como um ser encarnado e, portanto, repleta de limitações e
suscetível de erro. Aceitei a minha limitação, ao mesmo tempo, em que me
distanciava dessas emoções negativas e do Ego. Concentrando-me somente no
Agora.
Anos se passaram
e minha prática ainda continua. Um passo de cada vez, firme e incerto, sem
saber se voltarei a cair de novo. Mas estou tranqüila e feliz. Sei que o Ego é
algo criado por nós, e sei também, que o Ser é a única realidade eterna. E que
este é paz, amor, felicidade e saúde perfeita. Confio no Yoga e no que ele pode
nos oferecer. Pois graças ao yoga e a minha família e amigos que encontrei a
minha força interna, para lutar e reassumir o espaço, antes do Ego. O Yoga
fortalece o nosso senso de integração entre mente-corpo-espírito, e retira,
pouco a pouco, todos os véus que obscuram nossa visão do Ser. Meu coração se
abriu para a realidade e poder de presença do Agora Eterno. E se por algum
motivo eu me esqueço disso, tenho sempre em mente o seguinte mantra, Aham Prema (Eu sou Amor), respiro fundo e sinto
que não existe nada além do momento presente. E nas sábias palavras do querido
professor Hermógenes: Aceito. Confio. Entrego. Agradeço.
Espero que
todos aqueles que lutam contra a Síndrome do Pânico possam se conectar com sua
força interna e ver além das emoções sufocantes. Ir além.Gate Gate. Há
muito no Presente de belo e todo o poder de cura se encontra dentro de nós. Não
importa aonde você busque auxílio nesse momento de dificuldade, mas não deixe
de lutar. Pois o poço tem mola, e quando a gente salta, o Ser brilha e preenche
todo o espaço. Tornamos-nos plenitude e quebramos as amarras do Ego, abrindo os
braços para saudar e brincar com a vida, onde tudo se torna plenitude, dentro e
fora. Lembre-se que você não é suas projeções, é o Ser, a Consciência Divina.
Tente se lembrar mais disso, ao invés de sempre se esquecer.
Om shanti Om
prema!
ANA PAULA
MALAGUETA – Professora de Yoga e Terapeuta Holística especializada
em mulheres, gestantes e pós-parto. Ed. Perinatal e Doula, e reikiana.
Facilitadora do Círculo de Mulheres e cursos para Mulheres e o Sagrado, Devi
Shala. Editora de texto e conteúdo do portal e blog Yogaway.com.
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