HUMBERTO MENEGHIN
YV – Você
acabou de participar do retiro sobre Vedanta com a Glória Arieira, o que vocês estudaram?
TF – Estudamos
os quatro mahavakyas: tav tvam
asi, prajnanam brahma, ayam atma brahma e aham brahma asmi.
Estas grandes afirmações (mahavakyas) são os pilares do estudo de
Vedanta, segundo a tradição que eu sigo. Falar sobre eles sem o contexto
correto seria banalizar um assunto lindo e sagrado, por isso, sugiro aos que se
interessarem que procure uma bibliografia séria ou um professor e aprenda com
alguém que aprendeu com um mestre. Nesta tradição, o ensinamento é passado oralmente, um método conhecido como "parampara".
Estudamos também o décimo terceiro capítulo da Bhagavad Gita, que é sobre
os valores, ou seja, fundamental para o tempo em que vivemos, onde os valores
são cada vez mais relativos... Além de sânscrito, canto védico, simbolismo, aulas de Hatha Yoga e uma troca maravilhosa entre os quase setenta alunos que desfrutaram comigo dessa semana incrível em Itatiaia, no Rio de Janeiro. Esta semana de Vedanta em julho já está reservada em meu calendário todos os anos, assim como o Módulo 3 em Mariscal, com o Pedro Kupfer, que acontece sempre em Novembro.
Este ano, acrescentei mais uma professora ao meu curriculum: a Lia Diskin, da Associação Palas Athena, que dá um curso maravilhoso sobre práticas meditativas. Assim, sinto-me alimentada e inspirada pelo resto do ano. Pretendo voltar o mais rápido possível a Índia e estudar com o Swami Dayananda!
Este ano, acrescentei mais uma professora ao meu curriculum: a Lia Diskin, da Associação Palas Athena, que dá um curso maravilhoso sobre práticas meditativas. Assim, sinto-me alimentada e inspirada pelo resto do ano. Pretendo voltar o mais rápido possível a Índia e estudar com o Swami Dayananda!
YV – Como o
aprofundamento no estudo do Vedanta pode influenciar a vida de uma forma
significativa?
TF – A
partir do momento que realizamos que já somos a felicidade que buscamos lá
fora, a vida fica muito mais leve e simples!
Claro que para se chegar a esta cognição, há um longo processo, diferente para cada um de nós, mas é libertador conhecer e fazer parte de uma tradição que te diz que você já é completo e que não precisa buscar a paz nas experiências, porque você já é paz!!!
YV – É
essencial que os professores de Yoga também se dediquem ao estudo do Vedanta
paralelamente a prática e ao ensino de ásanas ou isso pode ser
dispensável?
TF – Depende
de que tipo de professor você quiser ser.
Se quiser se dedicar apenas ao lado
fisico do Yoga e isso fizer sentido, tudo bem. Para mim, não fez. Ficou
faltando.
Se a pessoa é mais devocional e prefere
cantar mantras, tudo bem também.
Se prefere arregaçar as mangas e fazer seva (serviço devocional) para mudar o mundo, melhor ainda.
Se prefere arregaçar as mangas e fazer seva (serviço devocional) para mudar o mundo, melhor ainda.
Não importa a forma que a pessoa
escolha para se relacionar com o Yoga. Importante é estar alinhado ao que é
dhármico!
Não adianta o cara ser um grande erudito, um brahmane, e ter atitudes que possam ferir o dharma.
YV – Escrever é
um dom que algumas pessoas têm. Você escreveu dois livros: Dos Escombros de Pagu e Selvagem como o Vento, além de vários artigos sobre Yoga. O que a Tereza Freire escritora está
escrevendo no momento? E, o que está lendo?
TF – Organizando
um livro sobre Yoga, baseado nos textos que escrevi pro site www.yoga.pro.br editado pelo Pedro Kupfer. Escrevendo uma trilogia para
adolescentes.
E lendo muito e sempre!!!
O Coração do Yoga, do Desikashar.
Vedantic Meditation, de David Frawley.
O valor dos Valores, de Swami Dayananda
Saraswati.
Tenho sempre ao lado a Bhagavad Gita,
traduzida pela Gloria Arieira e o Yoga Prático, do Pedro Kupfer.
YV – Algumas
pessoas podem lembrar da Tereza Freire atriz, a que participou de vários
comerciais na TV e agora reconhecer a sua voz nas locuções de alguns deles.
Você acha que o Yoga também te dá um suporte a mais no momento em que está
trabalhando diretamente com a mídia?
TF – Yoga
mudou completamente a minha vida!
Devo muito a meu professor Pedro
Kupfer, que me abriu os olhos.
Depois, segui meu próprio caminho, procurando o conhecimento que me faz mais sentido.
Quando trabalho como atriz, locutora ou
apresentadora, uso as técnicas de meditação e pranayamas pra me manter mais
focada e canto mantras! Muito e todo dia!
YV – Grande
parte de seu tempo tem sido dedicado a Casa Crudo, uma pousada muito especial,
localizada no meio da mata Atlântica. Quais são as novidades deste projeto?
TF – Esse é
o projeto da minha vida!
Ali, eu crio um mundo ideal,
reflorestando e preservando os dois alqueires de mata Atlântica ciliar,
cuidando dos animais e, principalmente, aprendendo muito com as estações.
Nunca pensei que a natureza fosse tão
sábia e generosa...
Tive uma vida acadêmica, fiz mestrado,
e descubro que meu maior mestre é a natureza!
Este lugar é um sonho realizado de um
lugar para dividir com família e amigos e plantar verduras de forma orgânica,
fazer mudas de plantas nativas, cozinhar com os amigos, trocar saberes e
experiências.
O local foi todo construído com
material de demolição: pisos, portas, janelas, etc...
Fazemos compostagem, reciclamos lixo,
bebemos água da nascente.
Enfim, um paraíso que agora pode ser
compartilhado com nossos amigos e amigos dos amigos!
É um lugar onde posso introduzir o Yoga
a pessoas que nunca praticaram antes. Tento plantar a semente e a pessoa decide
se vai continuar a regar ou não.
YV – Como
surgiu o seu interesse pela Culinária e com quem você vem aprendendo a elaborar
os pratos que os convidados da Casa Crudo degustam?
TF – O
prazer da cozinha veio com a necessidade de servir coisas gostosas aos meus
convidados e não ter que depender de uma cozinheira.
Meu marido e eu adoramos cozinhar juntos, fazemos isso todas as noites em nossa casa em São Paulo.
Minha inspiração é totalmente vegetariana, e nos chefs que conseguiram fazer da alimentação sem violência, uma arte!!!
YV – Qual é o
seu ásana favorito e qual é o outro que precisa ser mais praticado para
se tornar fácil?
TF – Amo
janusirsasana, halasana, pascimotanasana e sarvangasana, porque todos aliviam
muito minhas dores nas costas e deveria praticar mais Navasana pra fortalecer o
abdômen.
YV – Quais são
os desafios que você se depara ao ministrar uma aula de Yoga?
TF – Saber
exatamente o que os alunos estão precisando naquele momento.
Muitas vezes, preparamos uma aula perfeita para um determinado dia, temperatura, lua, e quando entramos na sala, percebemos que os alunos estão precisando de outra coisa.
Ter esse foco, essa sensibilidade e essa compaixão é sempre um desafio.
YV – Ayodhya vasi Ram, Ram, Ram,
Dasharatha anandana Ram (2x)
Pathita pavana janakí jívana, Síta mohana Ram. (2x)
Ouvir e cantar este
mantra num Kirtan te leva para Ayodhya? Por que a grande
identificação com ele?
TF – Identificação emocional, além
de ser um dos mantras mais lindos que conheço! Este era o mantra que minha turma de formação, que durou dois anos, mais gostava de cantar ... E toda vez que eu o canto, volto imediatamente aqueles dias maravilhosos em Mariscal. Fora que o Ramayana é uma obra muito linda ...
YV – A Índia
não foi mais visitada por você desde aqueles dias que esteve por lá filmando o
documentário “Caminhos do Yoga”. Como será a sua próxima jornada ao
subcontinente?
TF – Vai ser
uma volta ao mundo com meu marido. Vamos viajar juntos e eu certamente o
levarei em Risikesh, que foi onde comecei minha peregrinação espiritual na
Índia para gravar o documentário. Pretendo, no futuro, gravar outro documentário lá, com certeza! Será na hora que tiver que ser! Espero que não demore muito! Enquanto isso, sigo com meus estudos! Harih Om!!!
DA AMIZADE
TEREZA FREIRE
artigo publicado originalmente no www.yoga.pro.br
'A amizade cresce com o desejo que dela
temos, eleva-se, desenvolve-se e se amplia na frequentação, porque é de
essência espiritual e a sua prática apura a alma.' Montagne.
Sempre pensei que a impermanência
passasse longe da amizade. Que os amigos eram a nossa verdadeira família, a que
foi escolhida. A que viemos, a família de sangue, seriam relações que teriam
ficado por resolver, por isso laços tão fortes e indissolúveis.
Os amores seriam, assim como a família
de origem, os samskaras que viemos transmutar. Relações não resolvidas, dívidas
karmicas mesmo. Mas amigos não. Amigos seriam nossos irmãos de alma, nossos
parceiros por afinidade sincera e gratuita.
Relações que chegavam como presentes
por boas ações que tivéssemos cometido em outras vidas. Amigos seriam mérito.
Família seria missão! E essa leveza deliciosamente sustentável das amizades
seriam eternas.
Para mim, amigo sempre foi mais
importante do que amor. Aos amores, talvez eu entregasse minha voracidade,
entregava os sentidos e exigia reciprocidade. Aos amigos, eu dedicava a alma.
Amigo é relação construída, passo a passo, intimidade conquistada, confiança
provada, silêncios e sumiços cordialmente respeitados.
Sabemos que quando um amigo querido
some, é porque está bem e apaixonado. E tudo bem. Porque você sabe que dali a
pouco ele volta cheio de alegrias e tristezas pra contar. E a gente vai receber
com o mesmo carinho de sempre. Mesmo sabendo que assim que a dor passar, ele
some de novo...
Faz parte da amizade esta liberdade de
ir e vir. Pelo menos, assim eu pensava. Que implícito na amizade estava
um pacto de eternidade.
Perdi uma grande amiga num acidente de
carro. Na última vez que nos vimos, ela me disse: a gente se vê quando eu
voltar. E ela não voltou. E eu senti a maior dor da minha vida. E não fui me
despedir no seu enterro, porque sabia que sua alma não estava mais lá. Apenas o
corpo que a hospedava.
Até hoje me culpo, sei que ela teria
gostado de saber que eu estava presente na festa que lhe fizeram, mas sei que
esta amizade que permaneceu imaculada perdoaria todas as minhas faltas...
Porque era amor de raiz, daquele que se realiza na felicidade do outro e que
transcende qualquer formalidade.
Mas depois desta perda irreparável,
perdi dois amigos que simplesmente não quiseram mais ser meus amigos e fizeram
muita falta.
Aceitei, mas nunca compreendi.e a
impermanência da vida fez com que o que era desconsolo, virasse resignação,
memórias guardadas de um tempo que passou. No entanto, o amor permanece. Porque
já sabemos que a vida é rio, tudo está passando o tempo todo e aceitar essa
impermanência abre nosso coração para que nos vejamos no outro, estabelecendo
assim a empatia e aceitação dos fatos da vida como presentes divinos. Portanto
a falta que o amigo nos faz deve ser reconhecida e devemos crescer com essa
dor.
Sabemos que rios deságuam no mar e se
misturam no vasto oceano de possibilidades do vir a ser. Então, o amigo que
pode estar distante agora, daqui a pouco também chegará no mar e estaremos
juntos, seremos o mesmo mar, experimentando formas diferentes de nos relacionar...
'A amizade atinge a sua irradiação
total na maturidade da idade e do espírito.' Montagne .
No caminho espiritual, encontramos
muitos amigos. Pessoas que se irmanam em uma mesma busca e isso as torna mais
próximas do que outras que conhecemos há muitos anos. Sempre me inquietou esta
enorme familiaridade, essa sensação de déjà
vu com pessoas que mal
conhecemos.
Só posso crer que este é apenas um
re-encontro e que já éramos parte da mesma egrégora em outras vidas. Estes
re-encontros vem carregados de impermanencia em sua própria natureza e assim,
fica mais leve, sem cobranças, porque parece que sabemos que há uma 'liga'
maior que nos une. A liga do caminho espiritual, da busca de quem somos, da
compreensão de que somos um e a vitória do outro também é nossa.
'Na amizade a que me refiro, as almas
entrosam-se e se confundem em uma única alma, tão unidas uma a outra que não se
distinguem, não se lhes percebendo sequer a linha de demarcação.' Montagne.
Montagne escreve em seu lindo ensaio
sobre a amizade, porque ele amava incondicionalmente seu amigo Etienne de La
Boétie:
'Se insistirem para que eu diga porque
o amava, sinto que não o saberia expressar senão respondendo: porque era ele...
porque era eu'...
Aos amigos que encontro no caminho, dedico meu amor incondicional,
porque ele sou eu, e porque eu sou ele.
Namaste!
Tereza Freire foi atriz do Grupo
Ornitorrinco, participando das montagens: O Doente Imaginário e Sonho de uma
noite de verão, ambas dirigidas por Cacá Rosset. Dirigiu e apresentou a série
Diário de Viagem, na SESC TV. Publicou o livro Selvagem como o Vento, adaptado
para o teatro por Denise Stoklos, com Carolina Ferraz. Dirigiu o documentário
Caminhos do Yoga, sobre as peregrinações dos hindus. Dá aulas de Yoga e edita o
blog Yoganavida. É locutora de comerciais, documentários e do canal Max Prime,
da HBO. Atualmente, dá aulas, planta, colhe e cozinha no Crudo Casa Hotel, em
Salesópolis.
Delicadeza de alma, sintonia fina com os próprios sentimentos, leveza e clareza na escrita - apenas uns poucos dos seus muitos atributos, Tê. Leitura deliciosa, obrigada pelo presente!
ResponderExcluirAdorei! Estou mergulhada no mundo das crianças e exilada da vida com os amigos, mas suas palavras tão gostosas me fizeram ter mais pressa de encontrar você e meus outros queridos! Parabéns ao Humberto pela escolha e pela entrevista! Bjs, Greice
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