13 de fevereiro de 2012

MINHA AMIGA PRATICA YOGA, EU TAMBÉM! – PARTE SETE



HUMBERTO MENEGHIN


Quando o ano começou fomos surpreendidas com uma notícia bombástica no escritório: uma nova sócia foi admitida e conforme buchichos soubemos que ela é uma pessoa muito difícil de se conviver. A Claudinha disse para não colocarmos a carroça na frente dos bois, pois um amigo dela, que já trabalhou com a tal mulher, disse que no fundo ela é uma boa pessoa, mesmo que seja muito exigente com os que com ela trabalham e extremamente viciada em trabalho.




Seu nome era Valquíria; muito bem apessoada e demasiadamente elegante, trajava um terninho preto bem confeccionado e usava muitas jóias, jóias de primeira qualidade: vários anéis pelos dedos, uma pulseira de ouro maciço com pedras semi-preciosas e brincos, tudo dentro da mais perfeita elegância.

Na casa dos cinqüenta, bem penteada, possuía a testa grande e os olhos amendoados. Logo que nos foi apresentada pelo chefe, solicitou que alguém fosse buscar uma caixa com suas coisas em seu carro; e, então, eu fui a escolhida.




Quando a mulher me deu as chaves do veículo notei pelo chaveiro que se tratava de uma Mercedes, que chique! Nunca havia sequer colocado os pés num carro desses. Então, fui até a garagem, no subsolo e localizei a mercedes da mulher, da cor prata, estacionada numa vaga, bem ao fundo. Acionei o chaveio e o carro se abriu. Suas coisas estavam mesmo numa caixa no banco traseiro e dentro percebi que havia algumas pastas, livros, cds de Frank Sinatra, outros de jazz e MPB e ainda um tapetinho para pratica de Yoga da cor verde limão. Será que ela é uma praticante assídua? Não me pareceu, mesmo passando a imagem de estar em ótima forma.

Enfim, voltei para o escritório e quando deixei a caixa na sala dela, Valquíria me perguntou o que aquele tapete de Yoga estava fazendo ali junto com as suas coisas. Eu, então, disse que ele já estava lá; e, num ímpeto ela me ordenou de volta para jogar fora aquela “porcaria” e ainda reclamou do café, pedindo uma nova garrafa com um bem feito.


Voltando para minha mesa, imediatamente pedi para prepararem um café caprichado para a madame e decidi não jogar fora aquele mat, deixando-o ao lado da minha mesa. A Claudinha se aproximou e me disse que Valquíria havia convocado uma reunião para ao começo da tarde, após o almoço; que ela e o chefe iriam anunciar algumas mudanças. Mudanças?! Que mudanças seriam essas? Não gosto disso! De mudanças.

Fomos almoçar e durante o almoço comentei com a Claudinha que havia encontrado um mat junto com as coisas de Valquíria, dentro daquela caixa e que ela me pediu que jogasse fora. Juro que não entendi isso e, então, a Claudinha deduziu que ela deveria ter praticado Yoga por algum tempo e não ter gostado; só poderia ser isso.

Voltamos para o escritório e por nossa surpresa, a nova sócia estava sentada na minha mesa, falando ao celular com alguém. Quando nos viu, apontou o indicador para aquele tapetinho que eu não tinha jogado fora.

Entendendo a mensagem, imediatamente peguei o mat e com grande dó joguei-o numa lixeira, enquanto Valquíria se levantava e retornava para sua sala ainda falando ao celular.

Fiquei muito intrigada por encontrá-la ali na minha mesa durante a minha ausência. Será que ela havia mexido em alguma coisa? Aparentemente, não. Mas, deve ter dado uma olhada, com certeza. Então, notei a menina da limpeza recolhendo o lixo, pegando o mat e separando-o, dizendo que iria levar para casa aquela passadeira que tinham jogado fora.

A tarde passava e aquela reunião onde seriam anunciadas as “mudanças” já acontecia a mais de uma hora na sala de Valquíria. Então, quando faltavam vinte minutos para o expediente terminar, a Claudinha, o chefe e mais uma outra pessoa do alto escalão deixaram a sala da nova sócia, quase todos dando risadas.  Sem querer meus olhos estacionaram sobre aquele livro de capa vermelha que a Simone havia emprestado para a Claudinha, que estava sobre a mesa dela: “The problem is you, the solution is you”, aquele livro que haviam insistido para que lesse a tradução disponível no site www.yoga.pro.br , mas que ainda não li. Então, notei a Claudinha, acomodar-se ao meu lado e contar sobre o teor da reunião.


Ouvia atentamente, concluindo que a nova sócia certamente estava lá para cobrar produção e mais eficiência de todos. Então, notei a Claudinha silenciar-se e depois dizer, meio sem jeito, que Valquíria iria trazer uma nova funcionária para trabalhar na empresa e que essa nova funcionária iria ocupar o meu lugar.

Fiquei estarrecida com isso! Como alguém poderia fazer uma coisa dessas comigo! Uma funcionária exemplar e muito dedicada que jamais merecia ser rebaixada! Pensei em falar com o chefe e até mesmo com Valquíria, mas a Claudinha disse que isso não iria adiantar, porque já haviam decidido, pois a nova funcionária já iria começar no dia seguinte. Então, ainda fiquei sabendo que iriam me mudar para ouro andar, para um departamento horrível onde poucos gostavam de trabalhar.


O expediente acabou e mesmo tendo aula de Yoga, em poucos minutos, havia perdido totalmente a vontade de praticar. Sentia-me muito para baixo, desanimada e cheia de raiva, com o que haviam feito comigo no escritório.  A Claudinha tentou me reanimar, me elogiando, dizendo que eu era uma ótima funcionária, mas isso não bastava. Insistiu para que fosse com ela para a prática de Yoga, pois iria fazer bem para mim. Contudo, não aceitei e fui para casa chorar; para mim, nesse dia não teve aula de Yoga.

Harih OM! 

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