20 de agosto de 2017

YOGAEMVOGA ENTREVISTA – ANDREA PALMA




HUMBERTO J. MENEGHIN



YVVocê é uma das professoras mais capacitadas, no Brasil, em Ashtanga Vinyasa Yoga. Como e quando surgiu essa paixão pelo Yoga, em especial pelo Ashtanga, a ponto de você se dedicar de corpo e alma à prática e se tornar professora? Você acha que o Ashtanga é viável a qualquer pessoa que queira praticar ou há certas restrições? Será que a própria prática em si “já seleciona” quem irá se dar bem e continuar para as outras séries?


ANDREA – Minha relação com o Yoga começou na Califórnia em 1999 quando passando pela Santa Monica Boulevard indo para casa todos os dias via uma fila de pessoas que dava a volta no quarteirão, todos tinham um tapetinho enrolado debaixo do braço. Curiosa que sou, decidi ir lá, olhar e subi as escadas pra ver o que atraia tanto a atenção de tanta gente.

Lá estava um homem bonitão, cheio de vitalidade, um sorriso sincero e um olhar profundo conduzindo uma aula para umas 80 pessoas dentro desta sala de dança. E o que também me chamou muito a atenção foi uma caixa azul que tinha na entrada escrito “Donation” (doação).

Era o Bryan Kest, um grande professor de Yoga e ali fiquei por 3 anos praticando Power Yoga.

Depois disso conheci a Shiva Rea e mergulhei num Vinyasa Flow, descobrindo o que era o fluir da Respiração com o Movimento, mas, alguma compreensão me faltava ...  foi quando o Ashtanga Vinyasa Yoga se apresentou na minha vida e tudo fez sentido dentro de mim., desde a primeira aula.

Eu sinto que o Ashtanga Yoga é uma prática que pode ser praticada por qualquer pessoa, com tanto que seja adaptada à idade, condição física, mental e emocional de cada um. Restrições devem ser respeitadas e adaptadas. Existem várias maneiras de se olhar para esta prática.

O que seria “de dar bem”?

Se o objetivo for saúde, expandir sua respiração, acalmar sua mente, ganhar flexibilidade e força no seu corpo, maior capacidade de foco e outros inúmeros benefícios que esta prática traz com certeza você vai se dar bem”.
Se o foco for colocado em qual série você vai conseguir chegar, quais posturas vou ser capaz de fazer, aí há uma seleção natural, como tudo na vida.
Mesmo as posturas fundamentais têm camadas a serem descobertas que não cessam de nos surpreender.








YVUm bom professor apto e competente em ensinar e conduzir uma das séries do Ashtanga Vinyasa Yoga com segurança não se faz do dia para a noite, pois isso demanda muita dedicação, tempo, estudo e prática. No entanto, há certos (as) “professores (as)” que podem até executar alguns ásanas difíceis, mas na verdade não têm a aptidão adequada para conduzir uma prática segura e eficiente aos alunos que se iniciam; e, com isso, muita gente inexperiente e desavisada acaba não tendo sucesso com a prática, abandonando de vez o Yoga. O que você acha desta situação? Como o (a) aluno (a) praticante de primeira viagem pode identificar aquele “professor (a)” que na verdade não está tão bem preparado assim para ensinar? E, que dicas você pode passar para aqueles que se identificam com o Ashtanga Vinyasa Yoga e querem a todo custo iniciar com seriedade e comprometimento a prática? Ter uma disciplina germânica é recomendável ou é exagero?


ANDREA –  Se informar, perguntar, ler sobre o assunto, isso tudo ajuda muito.

O dicernimento é uma qualidade muito importante para qualquer escolha e decisão a ser tomada em nossa vida, especialmente para escolher um professor, alguém que irá te instruir sobre uma Filosofia, um Estudo do Eu, pois o Yoga vai além da Prática no tapete.

A procura de uma Escola com um trabalho sério, que siga a Tradição, com professores que estejam vivendo a experiência do que ensinam, sendo sempre  pesquisadores e eternamente aprendizes.

Cada um tem uma maneira de lidar com a disciplina, só não pode gerar uma rigidez.

Li uma vez um significado para Disciplina que me fez muito sentido, “Ser discípulo de si mesmo “, suavizou muito minha relação com a própria.








YVPathabi Jois, considerado o pai do Ashtanga Vinyasa Yoga tem duas frases muito conhecidas e difundidas: “99% prática e 1% teoria” e “Pratique e tudo virá”. Você concorda completamente com essas premissas? Ou, poder-se-ia estudar um pouco mais a parte teórica? E, além de proporcionar um melhor condicionamento físico e tônus muscular, quais são os outros frutos que virão àquele que praticar?


ANDREA –  Compreendendo o que ele queria dizer com estas frases, faz muito sentido, e, não levá-las ao pé da letra é parte do ensinamento também.
O aprofundamento na Prática, desperta em cada um o interesse, o questionamento sobre a Natureza do Ser, sobre o Absoluto, esta relação deles sobre nossa mente e seu funcionamento, sobre estados de quietude e silêncio entre tantos outros aspectos fascinantes do autoconhecimento.

E, com este interesse, buscamos um Estudo que nos traga uma compreensão e sentido à tudo que vem se apresentando em nossas experiências.

Tantos frutos colhemos com uma pratica dedicada e constante, por um longo período de tempo ...








Flexibilidade e força física.
Alinhamento, oxigenação dos músculos, lubrificação articular, parte fisiológica saudável (digestão, assimilação, intestinos felizes)
Parte hormonal equilibrada, menstruação regulada, pouca TPM, bom fluxo.
Sono muito bom
Expansão da Respiração, pulmões com maior capacidade respiratória.
Sensação de Fluxo de energia (Prana) percorrendo o corpo como um todo, liberando obstruções, dores musculares, etc...
Mente focada, capacidade de concentração ampliada.
Paz profunda, Felicidade sem motivo, bem estar.
Mente se acalma e foca no que realmente importa.

Percebo que os pensamentos ficam de pano de fundo e não tomam conta de mim.
Insights chegam quando há o silenciar, aquietar dos movimentos mentais.
Uma cura profunda acontece em vários níveis!!!










YVAntes de se entregar à prática e ao estudo do Yoga, Ayurveda e Vedanta, você  se dedicou às Artes Marciais e é faixa preta em Hapkido. Será que isso ajudou o seu corpo aceitar com maior facilidade e fluidez os ásanas que se praticam no Ashtanga? O que você acha de alguns professores americanos que abandonaram o Ashtanga Vinyasa Yoga para criar o próprio estilo de Yoga?


ANDREA – Sempre me interessei por esportes que envolvem movimento e fluidez. Por isso escolhi dançar ballet e fazer uma arte marcial que trabalha com a harmonização do CHI.

Com certeza meus anos nas Artes Marciais me trouxeram disciplina, foco e um trabalho corporal profundo, e acima de tudo abriram as portas para o questionamento sobre a Vida.
Sinto que o Ashtanga Yoga chegou pra mim por ter como base a Arte do Vinyasa, por ter a Respiração como guia.

Com estes anos todos de prática, continuo com desafios e limitações físicas, mentais que ao invés de me impedirem ou me fazerem desistir, me incentivam a me aprofundar nesse Caminho mágico, sem fim que é o Yoga.

É tudo Hatha Yoga!!!
Se fugir disso se transforma em outra coisa.








YVQuem casa quer casa. Você está “casada” com Ashtanga há um bom tempo e atualmente você tem o próprio espaço, a Casa Rosa, no bairro de Pinheiros, em São Paulo/SP que é especializada em aulas de Ashtanga Vinyasa Yoga. Qual é a missão da sua Casa? Além da prática de Ashtanga, existem outras atividades que são ou serão desenvolvidas na Casa Rosa a médio e a longo prazo?


ANDREA – Posso dizer que tenho o Yoga como uma das Ferramentas de Autoconhecimento que vem norteando minha vida e meus questionamentos, me trazendo muito acolhimento e sentido em momentos difíceis e alegria e liberdade no meu viver.

A Casa Rosa é uma Escola, um lugar seguro de encontros, de busca, de expressão através da Prática de Ashtanga Vinyasa, de Aulas de Filosofia, de Terapias Corporais, de Estudo, Roda de Tambores, Cursos de Meditação, Alimentação Saudável e surpresas que venham a aparecer com esta qualidade de Unidade, Criatividade e não Separação, de Yoga!









YVComo você vê a prática do Yoga aqui no Brasil, de um modo geral? Será que se algum jogador de futebol famoso, cantor sertanejo universitário e aquela celebridade da novela começar a praticar ásanas e aparecer na mídia a prática pode cair no gosto popular e a procura crescer ou a prática comprometida e contínua ainda é privilégio de poucos?


ANDREA – Lógico que a mídia atrai as pessoas a experimentarem a atividade que seus ídolos fazem.

Já é um bom começo!

Daí pra frente, vai do impacto que esta atividade tem em relação ao praticante.

O bichinho do Yoga pode te picar ou não, isso vai de cada um.
Quando este “ Presente “que é o Yoga com sua Tradição e Ensinamentos chega até nós, quem estava esperando por sentido na vida já abraça esta oportunidade e mergulha.

Outras pessoas tomam mais tempo ou não se sentem tocados por isso, pois o caminho delas seja por outra via.
Sinto que o comprometimento vem dependendo do tamanho da sua necessidade!!!








YVQuem está mais próximo de você sabe que além do Yoga você também se dedica ao estudo e a prática do Xamanismo. Como, quando e por que motivo surgiu esse interesse? Você tem sangue indígena correndo nas suas veias ou a atração pelo Xamanismo está no espírito?


ANDREA – Xamanismo anda na moda como o Yoga.
Cresci na fazenda, cavalgando, no mato, cachoeiras sentindo a força da Natureza, os animais, as mudanças de estação e a Mãe Terra abundante sempre nos presenteando com seus frutos e alimentos.

Essa sempre foi minha maneira de conexão, minha espiritualidade se assim posso dizer. Sonhava com índios a cavalo com suas roupas de couro com franjas, suas penas de águia, fogueira, cerimonias e rituais ...
Quando decidi que queria morar fora do Brasil para estudar Cinema, escolhi a Califórnia, pois estaria perto dos índios Mexicanos e Americanos.

E assim foi, uma intenção de coração colocada pro Universo e quando me vi era parte da Ghost Dance (Dança dos Espíritos), dos Sweatlodges (Tendas do Suor ) e Rituais feitos na Reserva dos índios do sul e do norte da Califórnia.
Este Caminho é do Coração e está comigo até hoje, muito me ensinou e ensina. Suar juntos, rezar, acender um fogo, sentar em círculo, ouvir os anciões, os animais, honrar a Mãe Terra e Todas as Nossas Relações.








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