HUMBERTO J. MENEGHIN
Você se
lembra quando pediram a sua caneta emprestada? Outro dia, no mês passado, no
trabalho ou no aeroporto? Como você reagiu a esse empréstimo? Tem gente que até
coloca uma fita adesiva colorida ou escreve o nome na caneta para marcar a
posse de um objeto feito de plástico, simples de ser substituído e até barato.
No entanto, o modo como você reage ao empréstimo casual da sua caneta pode
revelar muito sobre o seu grau de apego e desapego em relação as coisas
materiais e até pessoais.
Você acabou de preencher um formulário com a
sua caneta, uma que pegou de brinde de um hotel onde se hospedou e então alguém lhe pede a caneta emprestada, por
um momento, para também preencher o formulário.
Absolutamente
você analisa a aparência da pessoa por
milésimos de segundos e aí decide emprestar a caneta que nem de marca
famosa é, mas, retém a tampa pois
disseram que se você retém a tampinha da caneta a probabilidade de ela ser
devolvida é maior do que se ela estiver junto.
Emprestada
a caneta, você se pergunta por que
motivo a pessoa não traz a sua própria caneta ao invés de incomodar os outros
com um empréstimo? Mas, a caneta é barata, substituível e se a levarem
embora, mesmo que o proprietário se zangue com isso, poderá comprar outra, sem
contar que em casa tem muitas.
Tentando
não olhar para aquela pessoa que ainda
está com a caneta emprestada, você nota que ela está demorando muito mais tempo
do que você para preencher o mesmo formulário; então, finalmente a pessoa devolve a caneta, agradece, a tampa é
recolocada e um certo alívio toma conta de você.
No
entanto, se você emprestou a caneta e
entre a entrega e a devolução da mesma você não se preocupou nenhum pouco se ela
seria devolvida ou não, isso é um bom sinal de que você é uma pessoa desapegada,
desprendida dos objetos pessoais, materiais e que até pode dar o seu próprio
casaco para proteger alguém que passa frio na rua.
Mas, do
outro lado, se você ficou vigiando
aquele para quem emprestou a caneta, esperando ansiosamente pela devolução,
você está ainda muito apegado às coisas materiais.
No
entanto, se adicionado a isso você sinceramente
refletiu sobre o apego que você ainda tem por uma simples caneta que pegou de
brinde num quarto de hotel, você já pode se considerar alguém que está começando
a exercitar o Yama aparigraha, a prática da não-possessividade, que está bem explicado no Yogasūtra de Patañjali, ensinamento que tem por objetivo a
transposição de uma vida que ainda está centrada na identificação com o ego para
ser direcionada ao autoconhecimento, para no momento certo se libertar.
Aparigraha é um valor muito importante do Yoga, que ao pé da letra tem como significado: graha que é agarrar, segurar, pari que significa de todos os lados e
a vogal inicial a que confere a negativa ao contexto da palavra.
Destarte, o ideal é não ter
mais do que se é necessário, não acumular em excesso e até não depender e
muito menos sentir-se tão preso à posse de uma simples caneta, a outros objetos
que parecem ser mais importantes e valiosos, a pessoas, a situações do passado
e ao dinheiro, dentre outros.
No entanto, isso é
trabalhoso de se conquistar, mas não impossível; e pouco a pouco o
praticante que estuda, reflete e se auto observa chegará lá. E, a caneta será emprestada sem a exigência
da devolução.
Harih Om!
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