HUMBERTO J. MENEGHIN
YV
– Há pouco tempo, em 2015/2016, você
retornou a Mysore, Índia, para atuar novamente como assistente de Sharath Jois,
no Shala. Como foi essa experiência
desta vez? Isso significa que Mysore tornou-se o seu segundo Lar?
DANY – Estive em Mysore em dezembro/2015 e janeiro/2016 pela
quarta vez e me inscrevi para ser assistente do Sharath novamente. Com certeza
desta vez eu estava mais à vontade pois eu já sabia como era o esquema da assistência
e como o Sharath gosta de trabalhar. A
sintonia com ele foi maior, senti também que ele teve mais confiança e
segurança na minha forma de ensinar e conduzir os ajustes. Para mim sempre
é uma experiência maravilhosa estar ao seu lado ajustando alunos do mundo
inteiro, cada uma dentro das suas dificuldades, com corpos, mentes e culturas
diferentes, mas compartilhando a mesma energia no Shala. É lindo de ver!
Com certeza Mysore se tornou meu segundo lar.
YV
– Em Mysore, você ainda teve a
oportunidade de ver Amma. Muitas pessoas que recebem um abraço desta Guru,
sentem-se muito bem, leves, noutro patamar energético. Como foi esse seu
encontro com Amma?
DANY – A Amma tem um Ashram
em Mysore e costuma estar lá no mês de fevereiro. Na minha primeira viagem a
Mysore tive o privilégio de poder vê-la e receber seu abraço. A energia e a
presença dela são muito fortes. O abraço foi muito rápido, não posso dizer que
senti algo, mas o momento foi muito especial. Depois do abraço os estrangeiros
foram convidados a ficar no palco ao seu
lado e isso foi muito gratificante.
YV
– Disciplina, muita dedicação e
persistência são requisitos para quem quer se empenhar na concretização de um
objetivo e até de um sonho. Você acha que pelo fato de alguém começar a
praticar Ashtanga Vinyasa Yoga com regularidade consegue tornar-se mais
determinado a tornar seus objetivos em realidade? Por que será que muitos
empreendedores, pessoas bem-sucedidas, CEOS, e até os que trabalham no mercado
financeiro em Wall Street, sem falar
de algumas celebridades, adoram praticar Ashtanga? É o segredo do sucesso?
DANY – Como Sharath Jois diz, para
praticar Ashtanga precisa de 3 letras D: disciplina, determinação e devoção. A
prática é o espelho da vida. Se você é determinado no seu sadhana (disciplina espiritual), com certeza levará esta atitude
para seu dia-a-dia. Ouvi de um professor e achei muito interessante que os ásanas do Ashtanga fazem parte da
prática de Tapas, que é o terceiro dos Nyamas
(observâncias internas). Através da
respiração e dos ásanas ativamos o fogo
interno, essa chama que acende nos impulsiona a ir além e de encontro com os
nosso objetivos.
YV
– Há mais de um ano você inaugurou o seu Shala, no Leblon, Rio de Janeiro.
Diante dos inúmeros workshops que
você ministra pelo Brasil e até fora do país, como você consegue conciliar a
administração da sua escola e as práticas que lá oferece? Continua valendo não
praticar durante as Luas Nova e Cheia? Ou muita gente pode ainda não ligar a
mínima para isso e vamos a prática porque é o que interessa?
DANY – Inaugurei meu Shala a exatamente há 1 ano atrás e estou
muito feliz de poder concretizar meu trabalho no Rio de Janeiro como professora
autorizada no método. A rotina é tranquila e consigo administrar bem as aulas durante a semana e os Workshops de final de semana.
Naturalmente quando tenho workshop
emendo uma semana na outra, non stop!
Ufa! Mas é muito bom, não tenho o que reclamar.
O Shala segue a tradição do método como e ensinado em Mysore, por isso não
tem aula nos dias de lua cheia e de lua nova. Procuro passar a mesma tradição para os meus alunos pois acho muito
importante seguir a linhagem e os ensinamentos dos mestres.
YV
– Aerial Yoga, AcroYoga são algumas das
variações que apareceram ultimamente em relação ao modo de realizar ásanas. Esses estilos também são
acessíveis àqueles que praticam Ashtanga Vinyasa Yoga ou é preto no branco, ou
seja, quem pratica Ashtanga não deve praticar nada que não esteja nas séries e
nem mesmo uma prática menos dinâmica? Do oposto, há muitos que são adeptos do
Hatha Yoga Tradicional e não se identificam com o AYV; no entanto, certas
pessoas fazem questão de tecerem críticas nada construtivas ao Ashtanga. Como
os Ashtangis devem lidar com esses comentários inoportunos? Ignorar e continuar
no caminho da prática é a melhor solução?
DANY – Não tenho o que falar das novas linhas de Yoga, pois nunca
pratiquei, mas penso que cada um tem o
livre arbítrio de buscar o seu caminho. Acho importante seguir uma escola e
um mestre que tenha o embasamento na sua tradição, o “parampara” que é o ensinamento passado de mestre a discípulo, o
ensinamento puro; da fonte. Nos dias de hoje temos cada vez mais opções e
modalidades, mas o ideal seria escolher
um caminho e acreditar nele. A nossa mente já tem tantas distrações... e o
Yoga existe para estabilizá-la e não para deixá-la mais confusa. Como
Sharath disse numa conferencia: Quando você esta doente, procure somente um médico
e acredite nele, se você procurar 3 médicos, cada um vai falar uma coisa e você
vai ficar maluco... kkkk
Felizmente
sou bem resolvida com a minha vida e com minha prática de Ashtanga que vai
muito além de fazer ásanas, pois isso e apenas uma parte. Praticar Ashtanga significa praticar os
oito passos e o primeiro e o segundo passo falam da ética e do comportamento de
um Yogi. Sendo assim, não é nada ético
falar mal e criticar sem conhecer o método de verdade... por isso não ligo para
que os outros dizem.
YV
– Muitos praticantes só vêm descobrir o Yoga após os cinquenta anos de
idade. Em pouco tempo se apaixonam e passam a se tornar muito
comprometidos com a prática e seus ensinamentos. Ok, começar a praticar
Ashtanga Vinyasa Yoga aos cinquenta ou a prática não é mais acessível a essas
pessoas por o corpo já não ser o mesmo de um praticante que tem vinte e cinco?
DANY – A pratica de Ashtanga é para todos os tipos de pessoas e de
diferentes idades, então uma pessoa de
mais de 50 anos será muito bem vinda! Com certeza ela não terá mais um
corpo de 25 anos , mas terá muita maturidade para entender que a prática vai
muito além de fazer ásanas. Se ela
pode respirar, ela pode praticar! A série vai sendo ensinada aos poucos de
acordo com as possibilidades do aluno e adaptar sempre que for necessário. Se
ela não consegue saltar, ela pode caminhar, se ela não consegue fazer a postura
de lótus, ela pode cruzar as pernas em sukhasana
(postura fácil) e esta tudo bem! Pela minha experiência como professora,
tenho visto alunos mais velhos com muita energia e que progridem rapidamente.
YV
– Neste ano de 2016 vamos ter a Olimpíadas
no Rio de Janeiro; na Índia já consideram o Yoga como esporte e ainda há
campeonatos de ásanas, tanto lá como
em outros países. Você acha que a tendência é inserirem de vez o Yoga, melhor
dizendo, ásanas, nos Jogos Olímpicos
e torná-lo oficialmente um esporte? Ou isso não combina nenhum pouco com que a
prática nos traz?
DANY – Não consigo ver o Yoga como esporte... Para
mim é uma filosofia de vida. Mesmo em relação aos ásanas. Os ásanas não são
feitos para competição, são feitos para uma busca interna e cada um tem sua trajetória
dentro deste caminho.
YV
– O professor ou professora capacitada
em conduzir práticas de AVY aplica ajustes enquanto os alunos estão realizando
as posturas. Ajustes são realmente necessários ou podem deixar de serem
feitos? E o que fazer quando um
praticante deixa claro que não quer ser tocado, ajustado, durante uma prática?
DANY – Os ajustes são muito importantes dentro da prática de
Ashtanga. O ajuste pode ser de várias
maneiras: pode ser tocado ou até falado, pode ser mais forte ou mais sutil.
O objetivo do ajuste é orientar o aluno, mas ele não precisa ser feito toda
hora. Se um aluno não quer ser tocado, acho importante respeitar, mas geralmente
isso acaba mudando com o tempo pois o aluno vai confiando e acreditando no seu
professor. Quando existe esta troca, o
ajuste se torna uma benção.
YV
– Mesmo que um professor ou professora
de Yoga tenha praticado muito AVY durante anos e não tenha ido várias vezes a
Mysore para certificar-se, mas ministra boas aulas, você acha que isso é
válido? Ou, esse professor ou professora, na verdade, precisaria ir direto a
fonte para realmente se tornar capacitado?
DANY – Todo professor precisa de um professor. Eu mesma ja
ensinava antes de ir para Mysore e ser autorizada, mas tinha meu professor no
Brasil, o Matthew, que seguia as tradições do método. O mais importante para ensinar é antes de tudo ter comprometimento com
a sua prática e com os ensinamentos recebidos direto da fonte.
YV
– Zico é o seu pet, um cão esperto que muitas vezes está ao seu lado em sua casa
quando você está praticando. Revele para nós: O Zico se comporta bem quando
está com você ou ele não tem parada e algumas vezes você tem que pedir que ele
fique quieto? Vendo você praticar, o que
você acha que o Zico diria se pudesse falar?
DANY – Ah o Zico! Relutei muito para ter um animal de estimação,
mas acabei me apaixonando... Quando o Zico era bem pequeno ele
atrapalhava minha prática, mas hoje em dia ele já entende e respeita.
Geralmente ele dorme, porque minha prática e muito longa, mas quando ele
acorda, ele fica na pontinha do mat
me observando...eu imagino que ele deve
ficar preocupado e me achar meio maluca algumas vezes... kkkk
YV
– Sendo uma praticante e professora comprometida,
lídima e de sucesso, naturalmente você tem muitos seguidores nas redes sociais.
Então quer dizer que a Dany Sá é uma pessoa bem acessível e que ninguém deve
temê-la por conseguir realizar algumas posturas que são trabalhosas? E, quais são
os destaques da sua agenda para este ano de 2016?
DANY – Estar nas redes sociais ajuda muito a propagar meu
trabalho, mas tudo que eu posto, faz parte da minha realidade. O número de
seguidores acontece por uma consequência, só isso! Sou uma praticante de Ashtanga comprometida sim, mas igual a todos e
estou neste caminho aprendendo e compartilhando experiências. Os ásanas
mais avançados fazem parte do meu processo pessoal, então não tem o que temer! Neste
ano de 2016 irei pela primeira vez ensinar na China e será um novo desafio
profissional.
Fotos: acervo pessoal de Dany Sá.
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