HUMBERTO MENEGHIN
Embalados pela popularidade do Yoga, publicitários, propagandistas e marketeiros descobriram mais um filão: vincular a imagem de alguns produtos ao Yoga. A ciência da comunicação, o meio e a mensagem vêem o Yoga como mais uma nova e boa oportunidade para promover e vender produtos, mas nem sempre são eficazes em realizarem o liame entre o Yoga e o produto que se pretendem vender.
A maioria dos criadores da mídia sabem que o Yoga veio da Índia, que proporciona relaxamento ao corpo físico, reduz o estresse, que as pessoas que o praticam são esbeltas, ativas e além de tudo são zen.
Ao receberem a conta do cliente, o pessoal da criação realiza um brainstorm, ou seja, uma tempestade cerebral para linkar o produto ao tema a ser trabalhado e chegam à conclusão que devem vender a idéia do Yoga aos consumidores de uma forma que os convença que irão ter uma radiante melhora na qualidade de vida. Mas, o que significa ter uma radiante melhora na qualidade de vida?
Será que o consumidor em si para ter um bom acréscimo a sua qualidade de vida deverá atribuir isso ao produto o qual vinculam ao conceito Yoga? Ou será que seria mais válido ao incauto consumidor procurar um espaço de Yoga e iniciar-se na prática e estudo da filosofia? Ora, não podemos acreditar que o produto em si propagado desta maneira, verdadeiramente venha acrescentar qualquer tipo de benefício que somente podemos colher através da sincera dedicação ao Yoga. Não bastasse isso, criadores procuram impregnar-nos com aquela sensação de paz que o produto pode oferecer.
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Imagine você um anúncio de uma barra de cereal onde uma jovem aparentemente yogini, em padmasana, segura em uma das mãos, entre o mudra, a referida barrinha de cereal e o slogan em si expresse algo que para estar em paz basta apenas você consumir esta barrinha, porque depois tudo virá. Outro exemplo do emprego do Yoga e do yogi pela mídia é o caso de um banco estampar em um banner, nas agências, a figura de um cliente executando asana após ter aberto sua conta.
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O que tem a ver a prática de asana com o fato de alguém abrir uma conta em uma instituição bancária? Será que o criador quis passar a imagem de que seus clientes são pessoas equilibradas, confiáveis e que não dão calote? Quem bem é do meio yogue poderá achar destoante usar o conceito do Yoga para conquistar um cliente, não é? Além disso, muitos de origem mais simples, aposentados em fila, sequer entenderão a mensagem e acharão que o cara estampado no anúncio, em asana, está doido.
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Hoje em dia, vemos tantos outros produtos vinculados ao conceito Yoga que chegam aos consumidores através de anúncios supostamente bem bolados, que propagam a venda de vitaminas, cereais, comidas light, produtos de beleza, veículos, seguros, dentre outros. Estes advertisements voltados ao Yoga e ao yogi são exageradamente mais difundidos nos Estados Unidos da América.
Caminhando pelo Times Square, em NYC, você pode encontrar um painel de alguém meditando, mas, como meditar em meio de tanta confusão, buzinas e tumultos? Sabemos que é possível, mas muitos não. Ainda pelos Estados Unidos, um amigo me contou ter visto um anúncio de vodka com uma garrafa fazendo uma invertida. Em uma primeira vista, isto pode parecer bem criativo, mas sabemos ser impossível. Será que além de executar a invertida a tal garrafa vai fazer o mantra Om quando for aberta? Diante deste exemplo, você acha justo relacionar o Yoga e o yogi com a venda de bebidas alcoólicas?
Pois é, infelizmente, de quando em quando, você encontra por aí, até em nosso país, mesmo que de uma forma sutil esta descabível relação. Uma relação equivocada entre e o Yoga/yogi e o produto etílico, que só vem demonstrar por parte de alguns profissionais da comunicação uma grande ignorância sobre o fito primordial do Yoga, que é moksha.
Criadores desavisados ligam o conceito do Yoga e do yogi a produtos que não condizem com a pura realidade do cerne yogue. Jamais poderíamos pensar em vincular o Yoga e o praticante com a propagação de bebidas alcoólicas, o que contraria todos os princípios desta querida filosofia e do próprio equilíbrio do ser-yogi.
Como alguém poderá iniciar a prática do Yoga após o consumo de uma bebida que não é benéfica ao corpo, mente e espírito? Como poderá colocar em prática todos os yamas e niyamas estando em um estado de desequilíbrio? Você já parou para refletir sobre isso?
Não bastasse isso, deselegante e desrespeitoso com a classe dos verdadeiros praticantes e professores de Yoga propagar que o uso de determinado produto irá trazer mais benefícios ao consumidor do que os benefícios provindos de uma prática de Yoga. Veja que o produto em si é descartável, sem vida própria, não pensa, não executa asanas e nem possui inteligência ativa para o estudo do Yoga, jamais podendo estar a um patamar acima do(a) praticante e também de quem ensina.
Raríssimas são as exceções em que vemos comunicadores ligarem o Yoga construtivamente à imagem de um produto. Talvez, um exemplo positivo disto seja a campanha de um empreendimento imobiliário em que vinculam a imagem de uma jovem esguia praticando asana para demonstrarem a existência de um espaço para práticas de yoga e meditação no empreendimento. Outro bom exemplo possa ser o vínculo de uma praticante bem magra a alguma marca de yogawear e assim por diante.
Diante deste real cenário, não quero dizer que publicitários e propagandistas não possam vincular o Yoga a produtos que pretendam promover, mas, sobretudo, que este liame seja feito de uma forma consciente, positiva e sadia, caso contrário o público alvo da campanha, que pode ser composto na sua maioria por yogis consumidores, boicotem o produto e a propaganda só produzirá efeito contrário, trazendo prejuízos à indústria.
Em suma, yogis e yoginis devem estar conscientes e alertas quanto ao uso indevido do Yoga em propagandas e até mesmo programas de televisão desprovidos de conteúdo construtivo, pois assim estarão contribuindo para que o Yoga não perca a sua identidade.
Harih Om!
Otimo artigo.
ResponderExcluirobrigado!
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