5 de abril de 2011

ESTUDANDO O TATTAVBODHAH – O CONHECIMENTO DA VERDADE




HUMBERTO MENEGHIN
estudo publicado originalmente no www.yoga.pro.br


Considerado um livro importante para o entendimento do Vedanta, o Tattavbodhah, o conhecimento da verdade, uma obra de Sri Sankaracarya, traduzida e comentada por Gloria Arieira, publicada pelo Vidya Mandir, mostra-se essencial para o desenvolvimento interno do Ser.


O livro se inicia com uma saudação ao mestre, delineando o autor o objetivo da obra, para quem foi escrita e qualifica o estudante/aluno como mumuksu, aquele busca moksha, a liberação.







Diz que o conhecimento da verdade tratado no livro é sempre real, ilimitado e eterno e que com o entendimento e estudo o aluno colherá como fruto um sentimento de plenitude e de suficiência de si mesmo.









Dando início ao diálogo com o estudante, o professor discorre sobre o método de tattvaviveka, a indagação acerca da verdade, apontando quatro qualificações inerentes àqueles que buscam a liberação.


Essas qualificações por ele citadas são: a discriminação entre o eterno e o não eterno, desapego pelo desfrutar do resultado da ação neste mundo e no outro, o grupo de seis virtudes começando por sama e o desejo por liberação.


Sobre a discriminação entre o eterno e o não eterno, destaca a figura de Brahman, isto é, aquele que é grande, que vai além de qualquer dimensão e que além de eterno, é único, ilimitado e imutável. Do reverso, o não eterno, é aquilo que tem forma, é mutável, tem início e fim e limita-se no tempo, espaço e até mesmo no próprio objeto.


Respondendo ao aluno sobre o significado do desapego, o professor explica que desapego nada mais é do que a ausência de desejo por prazeres neste mundo e no céu, o que é uma conseqüência natural da discriminação. É o desapego em relação a todos os objetos e do prazer deles advindos, muito embora não haja nesse mundo uma pessoa que não tenha desejos, gostos e aversões, como bem destacado no comentário da tradutora.










Passando ao grupo das seis virtudes iniciando-se por sama, o professor as elenca ao aluno: sama, dama, uparama, titiksa, sraddha e samadhana.


Explanando uma a uma destas virtudes, inicia o sábio por sama


Sama, no puro sentido da palavra é o comando sobre a mente, que melhor explicado pela tradutora, significa calma e objetividade da mente para escolhermos nossas ações sem sermos comandados impulsivamente pelas emoções ou pelos gostos e aversões.


Dama, por sua vez, é o comando sobre os órgãos externos; divididos em dois grupos:



Órgãos de percepçãojnanendriyas: olhos, ouvidos, nariz, língua e pele.                          

Órgãos de açãokarmendriyas: fala, mãos, pés, ânus e órgão genital.


Sobre a terceira virtude, uparama, o professor diz ao aluno ser uparama o cumprimento dos próprios deveres, segundo o qual devemos agir de acordo como o nosso dharma.


Perguntando o aluno sobre a quarta virtude, titiksa, o professor responde que titiksa é a capacidade de aceitar os opostos, por exemplo, a aceitação de calor e frio, prazer e dor.


Indagando o aluno sobre sraddha, a quinta virtude, tem como resposta que sraddha é a confiança nas palavras do mestre e de Vedanta. Ao passo que a sexta virtude, samadhana, o professor esclarece ser o estado de alerta da mente, concentrando-a em um único assunto com interesse e naturalidade.


Após haver citado as seis virtudes o sábio discorre sobre a última qualificação: o desejo ardente por liberação, mumuksutvam. E pelo simples fato de mumuksutvam existir, as demais qualificações se desenvolvem, levando aquele que busca por liberação tornar-se um mumuksu adhikari, um buscador qualificado para a indagação da verdade.








Questionando o estudante sobre o significado de tattva-viveka, a indagação acerca da verdade, adiciona o professor que Atma, o Ser, é real e que tudo o mais, diferente deste, é aparente (mithya).


O aluno, então, pergunta sobre a definição de Atma, o Ser; e, tem como resposta, que Atma, o Ser,é aquele que é distinto dos corpos denso, sutil e causal, aquele que transcende as cinco bainhas, que é testemunha dos três estados de experiência e cuja natureza é existência, consciência e felicidade.


Querendo maiores explicações, o estudante pede ao professor que explique sobre o corpo denso e obtém como resposta que o corpo denso é composto dos cinco mahabhutas, os elementos fundamentais densificados, (que se submeteram a uma divisão pentâmera e combinação mútua, nascido de boas ações do passado, sede das experiências de prazer, dor, etc., sujeito a seis modificações: “existe, nasce, cresce, se transforma, decai e morre”.




Mahabhutas:

Akasa – espaço
Vayu – ar
Agni – fogo
Apah – água
Prthivi – terra



Consoante comentário da tradutora, esses cinco elementos existem primeiro no estado sutil, depois eles se combinam entre si e se condensam num estado denso. No estado sutil eles não têm forma concreta, não estão manifestos, portanto, não podem ser percebidos pelos nossos órgãos de percepção. Já na sua forma densa, esses elementos podem ser percebidos pelos nossos sentidos e são eles que formam nosso corpo denso (sthula sarira).


Passando a discorrer sobre o corpo sutil, o professor diz ser ele composto dos cinco mahabhutas, os quais ainda não passaram pelo processo de densificação, nascido das boas ações do passado, instrumental na aquisição de experiências de prazer, dor, etc., constituído de dezessete partes: os cinco órgãos de percepção, os cinco órgãos de ação, os cinco pranas, a mente e o intelecto.
Elencando os cinco pranas, os temos com as suas respectivas funções:




PRANAS

FUNÇÕES

   Prana

absorção
  Samana
digestão
Vyana
circulação
Udana
liberação de energia
Apana
eliminação




Em relação aos cinco órgãos de percepção jnanendriyas, o sábio apresenta os objetos/experiências e as deidades a eles correspondentes:



ÓRGÃOS DE PERCEPÇÃO

OBJETO/EXPERIÊNCIA

DEIDADE

ouvido
som
Espaço
pele
tato
Ar
olho
forma e cor
Sol
língua
paladar
Água
nariz
cheiro

   Asvins




Já no que diz respeito aos cinco órgãos de ação – karmendriyas, o professor os apresenta da seguinte forma:




ÓRGÃOS DE AÇÃO

FUNÇÃO

DEIDADE

fala
falar
Fogo
mãos
segurar objetos

     Indra

pés
locomoção
Visnu
ânus
eliminação das impurezas
Mrtyu
genitais
prazer
Prajapati



Continuando a explicar sobre o que Atma não é, o autor expõe o conhecimento a respeito do corpo causal. O corpo causal, cuja natureza é a ignorância, que por sua vez é inexplicável e sem começo, é a causa dos outros dois corpos; é a ignorância de sua própria natureza real, sua forma é livre de dualidade.


Nas pertinentes palavras da tradutora: O corpo causal é basicamente a ignorância. E a principal ignorância é relacionada ao eu, Atma. (...) O fim da ignorância de si mesmo é moksha, a liberação desta ignorância.(...) O corpo causal é como uma semente, que carrega a informação sobre a árvore. Sendo grande ou pequena, a semente carrega em potencial uma árvore inteira. Quando encontra as situações adequadas (terra, água, nutrientes), a semente brota e dá origem à árvore. Assim também o corpo causal carrega a informação de todas as nossas tendências em termos de ações, capacidades, emoções.Coisas que você já fez e repetiu várias vezes.(...) O corpo causal é também a causa dos outros dois corpos, e determina o tipo de corpo denso e sutil com o qual nascemos.(...)







Na seqüência, o professor passa a elucidar o aluno sobre os três estados de experiência – o acordado, o sonho e o sono profundo, explica o professor: O estado acordado é aquele no qual são conhecidos objetos como som,etc., pelos órgãos de percepção, como o ouvido, etc. O “eu”, quando identificado com o corpo denso, é chamado de visva. O sonho, por sua vez, é aquele mundo que, durante o sono, é projetado das impressões nascidas daquilo que foi visto ou ouvido no estado acordado. O “eu”, quando identificado com o corpo sutil, é denominado taijasa. A respeito do estado de sono profundo, replicou o professor: “Eu não sei nada”. Sono profundo com felicidade foi experimentado por mim”. Isto é o estado de sono profundo. O “eu” quando identificado com o corpo causal é denominado Prajna.


Dando continuidade às indagações sobre o que Atma, não é, o aprendiz posta outra questão:

Quais são as cinco bainhas?




Annamayah

bainha do alimento
O corpo denso, que nasce da essência do alimento, cresce da essência do alimento e retorna à terra, que é da natureza do alimento, é a bainha do alimento.

Pranamayo

bainha do prana
As cinco funções fisiológicas como o prana,etc.,(prana, apana, samana, vyana,udana), e os cinco órgãos (de ação) como a fala,etc., formam a bainha do prana.

Manomayo

bainha da mente
A mente (manah) e os cinco órgãos de percepção juntos constituem a bainha da mente.

Vijnanamaya

bainha do intelecto
O intelecto (buddhi) e os cinco órgãos de percepção juntos constituem a bainha do intelecto.

Anandamayasceti

bainha da felicidade
Na forma do corpo causal, a bainha de felicidade constituída da qualidade sattva (porém, neste caso) impuro, está estabelecida na ignorância, e junto com as modificações mentais, como priya,etc.



Em prestimoso comentário da tradutora: O corpo denso, tem relacionado a ele, uma bainha. O corpo sutil tem três, e o corpo causal uma. A bainha é aquilo que encobre o “eu” e faz você ter uma experiência diferente de si mesmo, diferente do que verdadeiramente é.(...) Atma é além dos três corpos, além das cinco bainhas, e testemunha dos três estados de experiência, é consciência pura, livre dos objetos, livre de limitação. Você se identifica com o corpo, com a mente, com a ignorância, mas sua natureza essencial é pura consciência.



Então, completa o sábio: Assim como a pulseira, o brinco, a casa, etc., conhecidos como meus, são diferentes de mim (isto é, daquele que os conhece), assim também as cinco bainhas, etc., conhecidas como minhas, são diferentes de mim, Meu corpo, meus pranas, minha mente, meu intelecto e minha ignorância (cada um per si) não é o eu, o atma.









Por sua vez, o estudante retruca: Então, o que é atma?


E, prontamente, responde o professor: Sua natureza é sat, cit, ananda; existência, consciência e plenitude. E, individualmente o sábio explica cada uma delas:


Aquilo que existe nos três períodos de tempo é sat, existência
(cit) É a natureza essencial de toda forma de conhecimento.
(ananda, plenitude) É a natureza da alegria.


Então, conclui o educador sobre o método de tattva viveka, o discernimento sobre a verdade: Assim você deve conhecer a você mesmo como sendo da natureza de existência, consciência, plenitude.


Dando continuidade ao estudo sobre o conhecimento da verdade, o sábio passa a abordar sobre o método de criação dos vinte e quatro fatores.



A importante anotação da tradutora diz que: (...) Brahman é a causa deste universo (...) Ele é responsável pela criação, porém sem sofrer qualquer transformação.Para produzir a criação, para torná-la possível, há um poder chamado Maya, que significa aquela que produz o impossível. Associado a este poder, Brahman é chamado de Isvara



As características de Maya são três: sattva, rajas e tamas. Sendo Sattva a capacidade de conhecer por questionamento, discriminação, pesquisa. Rajas, ação, impulso, paixão; e Tamas, inércia, ausência de clareza e de impulso para a ação, preguiça.


Explica o sábio que daquele (Brahman com Maya) nasce o espaço; do fogo, a água e da água, a terra. E, então, passa a melhor especificar:








do
ASPECTO

SATTVA


do
ELEMENTO


resulta
ÓRGÃO DE PERCEPÇÃO

Espaço
ouvido (som)
Ar
pele (sentir)
Fogo
olho (visão)
Água
língua (sabor)
Terra
nariz (cheiro)




E do aspecto sattva total destes cinco elementos (espaço, ar, fogo, água e terra) nascem os instrumentos internos: manas(mente), buddhi(intelecto), ahankara(ego), citta(memória). Sendo que a volição e oscilação constituem a natureza da mente; a determinação é a natureza do intelecto; o criador do conceito “eu” é o ego e o que faz lembrar é a memória. Adiciona o professor, que a deidade que preside a mente é a Lua, a que governa o intelecto é Brahma, a do ego é Rudra e da memória é Vasudeva.


Examinando o aspecto rajas dos cinco elementos, o sábio discrimina-os:








do
ASPECTO

RAJAS


do
ELEMENTO


resulta
ÓRGÃO DE AÇÃO

Espaço
fala
Ar
mãos
Fogo
pés
Água
ânus
Terra
genital




E do aspecto total de rajas destes cinco elementos (espaço, ar, fogo, água e terra) nascem os cinco pranas (prana, samana, vyana, udana, apana).


E do aspecto tamas destes cinco elementos (espaço, ar, fogo, água e terra) são derivados elementos densos, que passaram por um processo quíntuplo (pancikaranam), tais quais assim se distribuem: Cada parte tamas destes cinco elementos sutis se dividem em duas partes iguais. Deixando de lado uma das metades de cada um, a outra (metade) é dividida em quatro partes iguais. Desse grupo de quatro partes cada parte é distribuída para os outros quatro elementos. Dessa maneira é o processo de densificação.


Destes cinco elementos, que passaram pelo processo de densificação, nasce o corpo denso. Assim é a identidade entre o corpo individual (pinda) e o corpo total (brahmanda); completa o sábio.




do ASPECTO TAMAS
PROCESSO DE DENSIFICAÇÃO – CINCO ELEMENTOS
nasce CORPO DENSO

ESPAÇO
AR
FOGO
ÁGUA
TERRA

AR
ESPAÇO
FOGO
ÁGUA
TERRA

FOGO
ESPAÇO
AR
ÁGUA
TERRA

ÁGUA
ESPAÇO
AR
FOGO
TERRA

TERRA
ESPAÇO
AR
FOGO
ÁGUA




Ainda, acrescenta o sábio que:

Aquele que se identifica com o corpo denso, chamado de jiva, é um reflexo de Brahman (de Consciência). Esse jiva, por causa de ignorância, considera Isvara como separado de si mesmo.


Atma (a Consciência), com o condicionamento de ignorância, é chamado jiva (o indivíduo).


Atma (a Consciência), com o condicionamento de maya (a ignorância total), é chamado Isvara.


Dessa maneira, enquanto permanecer a noção de diferença entre jiva e Isvara por causa da diferença dos condicionamentos, até então o samsara caracterizado por nascimento, morte, etc., não é eliminado.











Em comentário elucidativo da tradutora, temos que: A diferença entre jiva e Isvara está apenas no foco de nossa visão. Quando o entendimento correto acontece, me vejo como Consciência, livre de limitação e completo. Não preciso de nenhum objeto para me fazer feliz, sou a fonte de toda felicidade. Enquanto não há essa visão, corro atrás de mim mesmo, tentando alcançar algo que já sou. Isso é o samsara, os acontecimentos entre o nascimento e a morte e as emoções correspondentes: alegrias, tristezas, desejos, buscas, frustrações, conquistas. Samsara não é a vida em si, mas nossa interpretação errada de nós mesmos e do mundo. O sábio não vive no samsara, ele usufrui dos momentos, os aceita como eles se apresentam, sabendo que o momento ruim vai um dia acabar assim como o momento bom. O sábio encara as situações com objetividade, mas ele não deixa de sentir, de entristecer-se e alegrar-se. Tem uma visão clara de si mesmo como não diferente ou separado do todo Isvara.










Por esta razão, a visão de diferença entre jiva e Isvara não deve ser aceita, diz o professor.


Em comentário, a tradutora complementa: Jiva e Isvara assim como a onda e oceano não são diferentes, são essencialmente iguais. Quando, erroneamente, nos vemos separados de Isvara, não reconhecemos que existe além de nossos poderes uma ordem maior, que controla o espetáculo do universo. É verdade que somos parte desse espetáculo e temos um certo livre arbítrio, mas é Isvara que, na forma das leis universais, tudo governa. Temos o livre arbítrio de escolhermos e praticarmos uma ação, mas o fruto dessa ação vem de Isvara. Portanto, o mestre nos diz para não nos entregarmos à aparente separação entre os dois porque existe uma verdade maior que tem que ser descoberta.


Em continuidade, o sábio expõe: Como pode haver a visão de não-diferença entre jiva e Isvara, como é declarado na frase de ensinamento “tat tvam asi” (você é aquele), os dois possuindo características opostas; jiva possui um ego e conhecimento limitado; Isvara é livre de ego e possui todo o conhecimento.


(...) Assim como onda está incluída no oceano, e ambos são água, portanto não diferentes, assim também jiva está incluído em Isvara, e ambos são Brahman, a pura consciência; elucida a tradutora.


Segue o sábio ensinando: Quanto a esta questão, o problema se mostra não existente. O significado imediato da palavra tvam (tu) é aquele que se identifica com os corpos denso e sutil. O significado implicado da palavra tvam (tu) é pura Consciência, livre de upadhis (condicionamentos), aquela que é alcançada no estado de samadhi.


Em comentário, a tradutora adiciona: (...) Até um tanto a palavra explica, a partir dali o entendimento se dá devido ao ambiente de entendimento que foi criado. Essa é a tradição de ensinamento. E é por isso que não podemos estudar os Vedas através da leitura, pois ela só nos dá o significado imediato das palavras. Precisamos do professor para nos guiar e transmitir o significado secundário das palavras faladas e escritas. E para que essa transmissão se dê, precisamos criar um ambiente comum de entendimento com essa pessoa.(...)







E, continua o professor:


Da mesma maneira, o significado imediato da palavra tat (aquele) é Isvara, que é caracterizado por todo conhecimento dentre outras (características).


O significado implicado da palavra tat (aquele) é pura Consciência livre de upadhis (condicionamentos)


Desta maneira, não há possibilidade de contradição na não diferença entre jiva e Isvara quanto à natureza de Consciência.


E desta maneira, por meio de frases de Vedanta e do ensinamento do mestre, aqueles em quem nasce o conhecimento de Brahman estes são jivanmuktas (vivendo são liberados).


Então, comenta a tradutora: A liberação é um entendimento decorrente de um processo de estudo e não de uma experiência momentânea. É necessário um conhecimento de si mesmo já completo e pleno, e não a conquista da plenitude através de um esforço ou outro processo qualquer.


E, então surge uma pergunta:


Quem é chamado jivanmukta, liberados enquanto vivendo?


Jiva é aquele que vive, enquanto jivan quer dizer “vivendo”, e mukta é liberado. Portanto, o chamado jivanmukta é aquele que, vivendo, está livre do sentimento de limitação. Esta pessoa tem um corpo e vive como qualquer outra pessoa, mas está livre do desejo de ser feliz através das situações e dos objetos externos, pois descobriu a plenitude em si mesmo. Esta pessoa pode continuar levando sua vida de sempre, não precisa virar um renunciante ou se afastar do mundo. A diferença está apenas na sua visão de si mesmo e do mundo. Esclarece a tradutora neste valioso comentário.


E o professor, ainda expõe: Assim como se tem a conclusão firme: “eu sou o corpo”, “sou homem”, “sou brahmin”, “sou sudra”; da mesma maneira, aquele que tem o conhecimento direto e firme: “eu não sou brahmin”, “não sou sudra”, “não sou homem”, mas “eu sou pura Consciência”, “sou o Eu de tudo”, “sou a luz (por causa da qual tudo é conhecido)”, “sou da natureza de existência-consciência-pleniude”, “ sou livre de vínculos, este é o jivanmukta. Ele se torna totalmente livre da prisão de todos os karmas, através do conhecimento imediato (expresso na frase)  “eu sou de fato Brahman”.









Ao abordar sobre os tipos de Karma, responde o professor:


Para a pergunta: Quantos tipos de karma existem? Eis a resposta: Existem três tipos: agami karma, sancita karma, prarabdha karma.
Considerando estes karmas como resultado das ações temos que:



Agami karma – são aquelas ações escolhidas e executadas pelo Ser; é destruído por meio de conhecimento e quando alcançado o autoconhecimento, o karma vai para os outros.


Sancita Karma – é aquele que está na forma de semente para inúmeros nascimentos futuros, sendo que os efeitos futuros são alcançados de ações anteriores. É o acúmulo de karma das vidas passadas, eivado de tendências e facilidades inerente ao Ser. Destruído pelo conhecimento firme: “eu sou Brahman”, terminando quando o Ser descobre sua identidade absoluta e livre.


Prarabdha Karmadecorre do Sancita karma, dá origem ao corpo, proporciona felicidade e sofrimento; aquele que é destruído pelas experiências e termina quando a vida se cumpre.


E, então, conclui o professor:










E, àqueles que elogiam, adoram, respeitam a pessoa que tem o conhecimento da verdade, vai o resultado de boas ações feitas nesta vida, por esta pessoa (que tem conhecimento).


Àqueles que falam mal, detestam, atormentam o sábio, vai o resultado de ações de natureza negativa, que não podem ser assim descritas, feitas pelo sábio nesta vida.


E, então, aquele que conhece a si mesmo, tendo atravessado o samsara (a vida de limitações e sofrimentos), aqui mesmo atinge Brahman, que é a plenitude.


A sruti diz: “aquele que conhece a si mesmo vai além de toda infelicidade”.


E a smrti diz: deixe o corpo em Kasi (lugar considerado sagrado) ou na casa de um comedor de cachorro (pessoa não muito respeitada), quando adquire conhecimento, a pessoa é liberada, é completamente livre de qualquer desejo.










E, por fim, comenta a tradutora: (...) A pessoa que tem conhecimento de sua natureza livre de limitação atravessa o samsara e vai além de uma vida de altos e baixos na qual se identifica como sukhi e duhkhi, feliz e infeliz, e descobre um preenchimento aqui mesmo nesta vida, uma satisfação básica que a liberta de todos os desejos. O meio para a libertação do sentir-se infeliz e limitado é o conhecimento de si mesmo.(...) É dito, então, que uma vez tendo alcançado a libertação final através do autoconhecimento, a pessoa não nascerá de novo e, portanto, não importa onde ela morrerá. Ela já alcançou nesta vida o objetivo mais alto da existência humana.





Iti tattvabodhaprakaranam samaptam|









Tattavbodhah, o conhecimento da verdade, de Sri Sankaracarya, um livro tão importante que não deve ser relegado por aqueles que se predispõem a conhecer mais sobre si mesmo e compreender o Vedanta, pois estarão abrindo trilhas marcantes em suas mentes.

Harih Om!

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