8 de abril de 2011

ESSA MONTANHA RUSSA CHAMADA SAMSARA




HUMBERTO MENEGHIN
artigo publicado originalmente no www.yoga.pro.br

 A maior montanha russa que se possa imaginar foi montada em um parque de diversões. Feita de metal consistente, perfeitamente bem arquitetada, com altos desníveis e descidas bruscas, sua grandiosidade é percebida ao longe pelo público que se aproxima e que não consegue esperar mais nenhum minuto para experimentá-la.




Outros, nem perto querem passar, pois sentem medo e acham que os que se predispõe a suportar seus altos e baixos são no mínimo fora do normal. Filas enormes se formam e finalmente aqueles que muito esperaram se acomodam em carros velozes que seguem continuamente pelo trilho dessa grande montanha russa cujo nome é samsara.
A respiração começa a mudar, os carros saem em um único impulso e rapidamente se aproximam do topo, provocando alegria e certa euforia àqueles que a este nível chegam. Gritos contumazes e expressões diversas são emitidas e aqueles que antes estavam lá em cima, subitamente são levados para baixo onde as sensações e emoções já não são mais as mesmas de quando lá em cima estavam. 




Levados a uma traiçoeira curva, alguns se sentem mal, pois preferiam ainda estar lá em cima, bem no alto, onde se sentiam mais felizes e seguros. Os carros passam por um túnel escuro e para infelicidade de outros, nada está bem, pois a escuridão amedronta e traz uma tremenda e temida insegurança.

Porém, sem que esperem, a luz se faz presente no final do túnel e as sensações começam a mudar, muito mais ainda quando o carro que os leva novamente se põe a subir, subir novamente até o topo, chegando ao nível mais alto daquela desafiadora montanha russa que se chama samsara.

A vista lá de cima é ampla e maravilhosa, a euforia, a confiança e a alegria retornam, mas em alguns vem acompanhadas pela ilusão, orgulho, egoísmo e daquela sensação de ser a pessoa mais importante do mundo. O carro para por um breve momento, lá em cima mesmo, a adrenalina está a toda e o Ser se sente pleno e renascido. Há uma curva e de repente todos descem por um curva inesperada no trilho!




E, se isso já não bastasse, mais à frente surge um enganoso loop que, por um ínfimo momento, traz uma nova e leve sensação de estar de volta ao topo. Mas, para o desespero dos incautos o carro cai para um dos lados e continua caindo, caindo...




A velocidade parece querer diminuir, o que não poderia jamais acontecer em um momento como aquele, pois estar no mais alto é o que importa. E, para acabar com a festa, aquele carro que correu pelo samsara  e que trouxe tantas e contraditórias sensações e emoções, ora agradáveis, ora desagradáveis, retorna para o mesmo ponto de partida.

Algumas pessoas, cambaleantes, abandonam a atração, outros mais entusiasmados retornam à fila para repetirem tudo de novo e outros que se sentem desconcertados não pensam jamais em retornar e pela frente encontram um palhaço, que em risos repete seguidamente: “É inevitável, é inevitável, é inevitável...”.

E a montanha russa, chamada samsara, continua a correr, repetindo os mesmos movimentos, de altos e baixos, de baixos e altos, girando no mesmo eixo, no mesmo círculo para retornar ao mesmo ponto, levando mais e mais seres que experimentam essas altas e baixas sensações e emoções procurando satisfazer todos seus mais íntimos desejos.




Desejos que se repetem, desejos que são superados e novos desejos que vem e que novamente se vão em um círculo constante e interminável de ações e reações, de causa e efeito, de karmas.

Muitos nem ao menos sabem o significado do que na verdade é samsara. Mas, analisando a etimologia da palavra sânscrita, temos que samsara que dizer “fluxo incessante”, de mortes e de renascimentos. Outro nome para essa peculiar situação que chamamos vida encarnada é kalachakra, a roda das reencarnações, da morte e do renascimento incessante, presente nos ensinamentos do budismo e do hinduísmo.




Aqueles que vivem exclusivamente para a realização dos desejos e das intermináveis sensações que ora resultam em dor, ora em prazer, pelo simples fato de se predisporem a experimentar o samsara, devem saber que, para dissipar a ignorância que permeia a identificação com o ego, existe felizmente o autoconhecimento.

O conhecimento que traz maior clareza e sabedoria ao Ser, para que, então, de uma forma equânime possamos lidar com as oscilações inevitavelmente trazidas pela roda do samsara.

Observar com cuidado as oscilações da mente, sair do automático, ter a consciência que um estado mental nasce, existe e depois cessa, dando lugar a um outro estado mental que também surge nasce, existe e cessa, contribui para que ao longo do tempo possamos diminuir os efeitos indesejados dessa roda que gira sem parar.

E, somente assim, pouco a pouco, as emoções destrutivas, limitações e karmas serão eliminados, despertando a consciência para momentos de clareza e compreensão de tudo o que o samsara nos apresenta.

E se porventura, você ainda estiver pelo parque de diversões e decidir experimentar as sensações de outra montanha russa, talvez no final poderá deixá-la se sentindo perfeitamente pleno e liberto de qualquer oscilação trazida pelos seus altos e baixos.

Harih Om!

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