11 de março de 2014

MINHA AMIGA PRATICA YOGA, EU TAMBÉM! – PARTE VINTE QUATRO






HUMBERTO MENEGHIN


Alice Walda me ajudou bastante durante toda a manhã e mesmo assim eu não acreditava que ela realmente quisesse puxar meu tapete. Faltando dez minutos para uma da tarde, ela saiu para almoçar junto com Marinice, aquela secretária de língua afiada que sabia da vida de todos ali do escritório. Sem fome, fiquei ali frente à tela do meu computador olhando para a figura pacífica da minha mestra Indianira Shanti Ma, o que me levou a abrir ao acaso uma das páginas de seu livro “Sabedoria Expressa” que me trouxe a seguinte mensagem:


“A felicidade depende só de ti. Se os que estão a tua volta por vezes tentam desviar-te do caminho, a tua Luz tenderá a perder a intensidade do brilhar. Para readquirir novamente esse teu brilhar conscientiza que tu és um Ser que não precisa da aprovação alheia para os deveres que a vida te pede.”


Então, subitamente ouvi um estalo e meu computador apagou. Tela escura, tentei reiniciar, mas de nada adiantou. Liguei para o Dárcio que entendia de assuntos ligados à informática e depois de mexer em alguns fios em baixo da minha mesa, tudo voltou ao normal.







Mesmo que não sentisse muita fome sai para pelo menos comer um lanche e em poucos minutos já estava na padaria da chilena. Pedi um sanduíche só com queijo quente e um suco de laranja.


Enquanto aguardava, uma mulher que já beirava os sessenta, alta, cabelo todo branco e mau cuidado sentou-se ao meu lado no balcão, dizendo: “Que calor é esse! Tá demais, isso! Não sei onde vamos parar!”


Concordei com ela e logo que meu lanche veio, a mulher de cabelo branco pediu um salgado e também um suco. Puxando mais conversa, resolveu perguntar meu nome, onde eu trabalhava, qual era a minha idade e se tinha feito faculdade.


Notando que essa mulher parecia ser gente boa, dei as informações; mas logo depois foi ela quem desatou a falar sobre a sua vida: “Trabalhei vinte oito anos no banco ... vinte oito anos... a gente não vê resultado em trabalho de banco ... fiquei com depressão e você sabe que tem muitos bancários deprimidos? ... Fui uma delas, mas graças a Deus me livrei da depressão ... a gente tem que pensar positivo ... agora eu estou reformando a minha casa, tudo novo, sou aposentada, fiz Direito, passei a advogar, tenho umas causas, sabe? Minha vida era tão vazia, mas dei a volta por cima. Tô fazendo Yoga, entro em alfa; foi a Yoga que me puxou da depressão ...








Perguntei onde ela estava praticando Yoga, não revelando que também praticava. Com um sorriso meio amarelo, ela disse: “Com uma professora muito boa que mora na Vila Industrial. Eu e duas amigas fazemos Yoga com ela, numa salinha que ela tem nos fundos da casa dela, duas vezes na semana. A Lili é uma graça, dinâmica, agitada, mas de uma paz que você não acredita. Quer por que quer que a gente atinja o samadhi. Ela vai pra Índia, sabe? Eu e a minha amiga estamos pensando seriamente em ir. Já dei o meu nome pra ela.


Enquanto terminava meu lanche, a senhora de cabelo branco devorou o salgado de uma só vez e logo em seguida tomou o suco num gole só, evaporando-o rapidamente do copo.






“Justo! Você tem que fazer uma Yoga com a gente, moça. Mas a minha aula é no meio da tarde ... Você quer o telefone da Lili? Eu posso te passar .” E sem esperar resposta aquela mulher retirou um caderninho da bolsa de couro bem judiada, pegou um daqueles guardanapos fornecidos pela padaria cujo papel era fino e lá anotou o celular da Lili, aquela professora estranha que eu já sabia quem era.


E quando me estendeu o guardanapo com o número, disse: “Anotei meu celular também. Vera Lúcia, Dra. Vera Lúcia.” Com um brilho nos olhos e acompanhado de um sorriso apagado completou: “ Desculpa de ter enchido o seu saco. Tenho que ir na prefeitura acertar umas pendências, IPTU atrasado, sabe?”


Harih Om

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