2 de abril de 2017

TESTE: DESAPEGUE-SE DA CANETA




HUMBERTO J. MENEGHIN


Você se lembra quando pediram a sua caneta emprestada? Outro dia, no mês passado, no trabalho ou no aeroporto? Como você reagiu a esse empréstimo? Tem gente que até coloca uma fita adesiva colorida ou escreve o nome na caneta para marcar a posse de um objeto feito de plástico, simples de ser substituído e até barato. No entanto, o modo como você reage ao empréstimo casual da sua caneta pode revelar muito sobre o seu grau de apego e desapego em relação as coisas materiais e até pessoais.



Você acabou de preencher um formulário com a sua caneta, uma que pegou de brinde de um hotel onde se hospedou e então alguém lhe pede a caneta emprestada, por um momento, para também preencher o formulário.


Absolutamente você analisa a aparência da pessoa por milésimos de segundos e aí decide emprestar a caneta que nem de marca famosa é, mas, retém a tampa pois disseram que se você retém a tampinha da caneta a probabilidade de ela ser devolvida é maior do que se ela estiver junto.


Emprestada a caneta, você se pergunta por que motivo a pessoa não traz a sua própria caneta ao invés de incomodar os outros com um empréstimo? Mas, a caneta é barata, substituível e se a levarem embora, mesmo que o proprietário se zangue com isso, poderá comprar outra, sem contar que em casa tem muitas.


Tentando não olhar para aquela pessoa que ainda está com a caneta emprestada, você nota que ela está demorando muito mais tempo do que você para preencher o mesmo formulário; então, finalmente a pessoa devolve a caneta, agradece, a tampa é recolocada e um certo alívio toma conta de você.


No entanto, se você emprestou a caneta e entre a entrega e a devolução da mesma você não se preocupou nenhum pouco se ela seria devolvida ou não, isso é um bom sinal de que você é uma pessoa desapegada, desprendida dos objetos pessoais, materiais e que até pode dar o seu próprio casaco para proteger alguém que passa frio na rua.


Mas, do outro lado, se você ficou vigiando aquele para quem emprestou a caneta, esperando ansiosamente pela devolução, você está ainda muito apegado às coisas materiais.


No entanto, se adicionado a isso você sinceramente refletiu sobre o apego que você ainda tem por uma simples caneta que pegou de brinde num quarto de hotel, você já pode se considerar alguém que está começando a exercitar o Yama aparigraha, a prática da não-possessividade, que está bem explicado no Yogasūtra de Patañjali, ensinamento que tem por objetivo a transposição de uma vida que ainda está centrada na identificação com o ego para ser direcionada ao autoconhecimento, para no momento certo se libertar.


Aparigraha é um valor muito importante do Yoga, que ao pé da letra tem como significado: graha que é agarrar, segurar, pari que significa de todos os lados e a vogal inicial a que confere a negativa ao contexto da palavra.


Destarte, o ideal é não ter mais do que se é necessário, não acumular em excesso e até não depender e muito menos sentir-se tão preso à posse de uma simples caneta, a outros objetos que parecem ser mais importantes e valiosos, a pessoas, a situações do passado e ao dinheiro, dentre outros.


No entanto, isso é trabalhoso de se conquistar, mas não impossível; e pouco a pouco o praticante que estuda, reflete e se auto observa chegará lá. E, a caneta será emprestada sem a exigência da devolução.

Harih Om!



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